Resumos STs e SPGs
RESUMOS 2019 - ISSN 2176-8064
Adalberto de Salles Lima (UnB) ST43
A Violência entre o Sanitário e o Jurídico: o caso do Homicídio no Brasil e o Desaparecimento Forçado no México
As reflexões propostas pelo artigo é parte da pesquisa de doutorado em curso. O objetivo é analisar como as estatísticas oficiais da violência através do homicídio no Brasil e o desaparecimento forçado no México nos últimos anos transitam entre o sanitário e o jurídico. A metodologia se baseia no método qualitativo, uma vez que as taxas de mortes violentas nos dois países indicam necessidades de aprofundar a realidade investigada. Os instrumentos da pesquisa são documentos oficiais elaborados pelo Estado brasileiro e mexicano e documentos produzidos basicamente por organizamos internacionais. No jurídico, a relação entre a morte violenta e as circunstâncias da ação ilegal direciona a categoria homicídio pautar-se na causa relacional. Por um lado, a produção da morte violenta subsidia o homicídio. O sanitário precisa do corpo morto para validar o fenômeno. A potencial morte violenta pelo desaparecimento forçado segue a lógica de pautar-se na causa relacional para definição da natureza do crime. Diferente do homicídio pelo sanitário, desaparecimento forçado fundamenta-se no jurídico, através do corpo potencialmente vivo
Adebal de Andrade júnior (UFRJ) ST21
Patrimônio como meio para estruturar o social
Este artigo aborda como o patrimônio pode ser um meio de produção de modos de autoconsciência individual e coletiva. Nessa perspectiva, o patrimônio enquadra grupos sociais e pessoas, pode mesmo controlá-los, na medida em que determina quem são e como devem agir socialmente. Para desenvolver meu argumento analiso a patrimonialização de estruturas arquitetônicas na cidade de Pompéu/MG, destacando como o patrimônio, nesse contexto, encontra-se em oposição à memória social.
Adriana Cattai Pismel (UNICAMP) SPG13
Atuando contra, com e como o Estado: uma revisão bibliográfica da agenda de pesquisa de participação e políticas públicas
Apresentamos um balanço bibliográfico dos trabalhos realizados dentro da agenda de pesquisa de participação e políticas públicas – formada na intersecção dos estudos de políticas públicas, participação e movimentos sociais para investigar as interações realizadas entre atores sociais e estatais na produção e execução de políticas públicas a partir dos anos 2000. O objetivo é mapear essa produção para identificar os temas que mais receberam atenção dessa literatura e seus principais achados, bem como apontar as lacunas ainda existentes. O levantamento bibliográfico está em andamento e contemplará trabalhos publicados nos repositórios da CAPES, BDTD e Scielo, entre 2000 e 2018. Análises preliminares apontam que a literatura avançou significativamente no que se refere à influência dos atores sociais na produção de políticas públicas, como mostram os estudos sobre ativismo institucional e repertórios de interação usados por atores sociais para pautar a agenda pública e participar da produção de política pública. Contudo, ainda são poucos os trabalhos que fazem o caminho inverso de analisar como a interação entre Estado e sociedade civil na política pública impacta os atores sociais.
Adriano Nervo Codato (UFPR), Mariana Arcos Lorencetti (UFPR), Maiane Aldlin Bittencourt (UFPR) ST01
Política da ciência na ciência da política: um estudo sobre a internacionalização da literatura sobre mulheres na América Latina
O paper analisa a literatura sobre mulheres na política institucional na América Latina. O nosso objetivo é compreender o processo de circulação de ideias e de autores e a internacionalização de paradigmas nessa subárea de estudos políticos. Para isso, trabalhamos com 51 artigos publicados entre 2002 e 2019 nos periódicos científicos mais produtivos sobre o tema da biblioteca SciELO, disponíveis na base Web of Science. Os artigos serão analisados a partir de quatro índices bibliométricos: grau de internacionalização de artigos com coautoria internacional; índice de afinidade, que avalia a relação assimétrica entre países; intensidade da colaboração internacional; e amplitude da colaboração internacional, que estipula o total de países estrangeiros representados em uma publicação. Espera-se, com essas medidas, mapear o processo de importação/exportação de ideias e circulação de conhecimento a fim de entender a política da ciência subjacente à Ciência da Política da região.
Adriano Santos Godoy (UNICAMP) SPG26
O nacionalismo católico materializado no antibarroco
A Basílica Nacional de Nossa Senhora Aparecida está em construção contínua desde 1954, sem prazo para finalização, com novas empreitadas sendo anunciadas a cada ano. A minha tese em andamento aborda a construção desta igreja, com foco empírico entre os anos 2000 e 2017, tendo como base metodológica a proposta defendida pela “religião material”. Na presente proposta, explorarei como duas categorias que embasam a construção - nacionalismo e catolicismo – são produzidas através de um referencial declaradamente antibarroco. Seja para o arquiteto original como o último artista contratado, aquela igreja continuamente pensada para ser um símbolo da nação não encontra no barroco a sua forma de expressão. Com referências estéticas no neoclássico e no bizantino, o argumento dos envolvidos é que essas formas de expressão são mais propícias tanto para experiência religiosa dos devotos como para expressão de uma brasilidade. Assim, na proposta deste simpósio de pesquisas, explorarei como esses referenciais antibarrocos são materializados naquele templo e os modos pelos quais são responsáveis em e propor uma experiência religiosa dissonante daquela predominante no santuário.
Ailton Laurentino Caris Fagundes (USP) ST31
Contra o futebol moderno: ethos e poder (e contestação) entre as barras argentinas
Em torno do futebol formam-se grupos que constroem identidades e relações de sociabilidade com regras próprias; nascem construções morais, costumes, hábitos, valores e crenças sob as quais o modo de demonstrar os sentimentos pelo clube será direcionado e recompensado com diferentes níveis de status ou capital simbólico. A torcida seria uma espécie de guardiões do ethos clubístico. Em Buenos Aires, os conflitos de interesses entre torcedores, dirigentes e autoridades criam campos opostos de interesses, opondo torcedores àqueles que visam um espetáculo administrado como empresa. Criam-se então dois caminhos para o embate: a ligação das barras com grupos políticos que possam fortalece-las e o embate contra el fútbol moderno e suas instituições. Este trabalho discute as noções de identidade e valores que conferem honra, glória e poder aos torcedores e como elas são utilizadas contra as tentativas de modernização. Buscamos mostrar como, em defesa do ethos, torcedores de três clubes atuam coletivamente nas suas barras ou nas torcidas antifascistas. Trata-se de um projeto que envolve pesquisa de campo e documental e entrevistas com membros e lideranças de torcidas.
Alcione Sousa de Meneses (UFCG), Ramonildes Alves Gomes (UFCG) ST32
Escolarização e ambientalização: repercussões da ação pública na reinvenção do rural
O artigo se acosta no debate acerca da emergência das novas ruralidades a partir da incorporação cultural e política de elementos externos ao espaço rural. A análise centra-se em dois processos concomitantes a partir da década de 1990 no território Transamazônica-Xingu: a ambientalização das estratégias da ação coletiva representativas dos agricultores, dado os constrangimentos legais postos por políticas públicas para a consecução de recursos; e a escolarização diferenciada proposta por esta ação coletiva destinada a jovens agricultores. Diante das mudanças sociais evidenciadas, questionamos sobre quais expressões de ruralidades emergiram desse processo? Quais as características empíricas de um novo rural se fazem presentes no contexto do mundo urbano envolvente? Os dados quantitativos e qualitativos resultantes da pesquisa feita com egressos da escola Casa Familiar Rural, formados entre 1994 e 1997, apontam a reinvenção da identidade dos mesmos, que se autodefinem agricultores profissionais; bem como de suas práticas socioprodutivas no que concerne à vivência dos espaços rurais e urbanos, formas de gestão da propriedade rural e da terra orientadas por uma ética.
Aldo Antonio de Azevedo (UnB) ST29
Reprodução social e cultural no campo esportivo infantil: reflexões sobre o evento de futebol infantil - Go Cup
O objeto do presente paper é refletir sobre o processo de reprodução social e cultural no esporte, a partir de um estudo exploratório do megaevento de futebol infantil chamado Go Cup, realizado na cidade de Aparecida, em Goiânia, em abril de 2019. Nos termos de Bourdieu,a partir da analogia entre o campo social ou de poder com o espaço do campo de futebol, a reprodução se opera no universo infantil, tendo como referência os mesmos padrões do esporte profissional. Nesse cenário, agentes com interesses específicos (olheiros), a serviço das categorias de base de grandes clubes do futebol do Brasil e do exterior, disputam os pequenos talentos, considerando critérios técnicos, inteligência tática e porte físico. Nas disputas, tais agentes ocupam os espaços dos jogos para captar as jóias ou pequenas mercadorias, que futuramente poderão se inserir na lógica do capital, da produção de resultados e de lucros de distinção, especialmente econômicos.
Alessandra Dale Giacomin Terra (UFF), Andreza A. Franco Câmara (UFF), Napoleão Miranda (UFF) SPG01
A mobilização social e aparente resignação dos atingidos pelo Desastre de Mariana no Município de Governador Valadares (MG): uma reflexão sobre Capital Social e Empoderamento em Conflitos de Água
O presente artigo pretende problematizar sobre a mobilização dos atingidos do Desastre Tecnológico de Mariana em Governador Valadares (MG), em especial pretende-se refletir sobre como a maior parte da população urbana deste município tem apresentando uma conduta de aparente resignação e conformismo em um contexto emblemático de insegurança hídrica. Nota-se um processo de burocratização do conflito ambiental, que passa a ser discutido e gerido no âmbito de agrupamentos técnicos, onde as decisões ganham o manto da tecnicidade e neutralidade, afastando a participação popular. Porém a carência de arenas públicas não é o suficiente para entender a desmobilização dos atingidos, razão pela qual se buscou a categoria de capital social. A metodologia qualitativa empregada consiste em revisão de literatura, análise de dados, entrevistas com atores locais, como membros dos MAB, da Associação de Areeiros, e do Sindicato de Trabalhadores Rurais e participação de audiência pública e reunião da Câmara Técnica de Saúde do CIF. Acredita-se que este estudo de caso pode ser exponencial para se refletir sobre as barreiras a mobilização social e empoderamento, em especial em casos de conflitos de água
Alessandra de Andrade Rinaldi (UFRRJ) ST34
O ideal e o real: a parentalidade adotiva e as experiências dos adotantes no Rio de Janeiro
O objetivo desse texto é compreender as razões que levam pessoas e casais a adoção no Brasil a partir de reflexões sobre práticas adotivas na cidade do Rio de Janeiro. A ideia é refletir sobre o percurso trilhado para encontrar a criança, as expectativas em face da criança idealizada, assim como as experiências vividas com a chegada dessas meninas e meninos. Para tanto produzi uma interlocução com esses pais adotivos a partir de pesquisa etnográfica em Grupos de Apoio à Adoção (GAA) com sede no município do Rio de Janeiro.
Alessandra Teixeira (UFABC), Alice Quintela Lopes Oliveira (UFABC) ST43
O “outro do outro”: Papeis de gênero e performatividades corporais nas prisões femininas
Este paper pretende discutir os resultados preliminares de uma pesquisa sobre performatividades de gênero no contexto de prisões femininas na cidade de São Paulo, indagando em que medida as imposições de papeis de gênero, socialmente distribuídos aos corpos das mulheres encarceradas, impactam em categorias como "loucura", "estabilidade", "desordem" e "controle" dentro do ambiente prisional feminino. No mesmo sentido, questiona-se até que ponto a própria categoria espacial "prisão feminina" opera e é operada a partir dessas imposições. Serão recompostas trajetórias buscando reconhecer as técnicas, mecanismos e dispositivos de poder que trabalham no sentido do reforço do papel da mulher em suas múltiplas sujeições, ao mesmo tempo que atuam na construção de seu "contraponto", visto como o "outro" desta mulher, sua antítese, que lhe confere equilíbrio e tranquilidade para viver no cárcere, já que não dispõe destes atributos de feminilidade. Esse "outro", a mulher que performa masculinidade, mas que ainda se identifica no gênero feminino, pode operar no reforço e não na subversão dos papeis de gênero, e do poder disciplinar que incide nos corpos de mulheres em prisão.
Alessandro Ricardo Pinto Campos (UFPA) ST15
“Faz um filme com a gente, pra gente mostrar para os parentes”: A cultura do povo Ka’apor acionada pelo cinema
Durante uma de minhas estadas em campo enquanto desenvolvia minha pesquisa de doutoramento em Antropologia - acerca das histórias de guerra do povo Ka'apor - na aldeia Axinguirendá no estado do Maranhão região nordeste do Brasil, realizei uma pequena Mostra de Cinema que durou três noites. A partir dos filmes exibidos, todos com temática indígenas e/ou produzidos por estes, a cultura e o orgulho deste povo foi fortemente acionada pelas imagens projetadas quando lideranças da aldeia me propõem a produção de um pequeno filme a partir do roteiro inteiramente elaborado por eles: ida a roça, cozimento de mandiocaba, disputa de arco e flecha no mamão verde, pinturas corporais feitas com urucum, danças e cantos. Coisas que não faziam há tempos, motivos e vontades recrudescidas a partir da visualização dos filmes produzidos por parentes de outras etnias e culturas. A potencialidade do audiovisual é exposta e evidenciada nesta interessante experiência inspirada pela Antropologia Compartilhada de Jean Rouch e pelo projeto Vídeo nas Aldeias, de Vincent Carelli. Palavras-chaves: Povo Ka’apor; Cultura indígena; Cinema; Antropologia Compartilhada; Jean Rouch.
Alessandro Tokumoto (UFPR), Eric Gil Dantas (UFPR), Renato Monseff Perissinotto (UFPR) ST12
Mensurando o insulamento burocrático no BNDES
O presente trabalho tem como objetivo a construção de um modelo de análise capaz de mensurar o insulamento burocrático e a aplicação deste modelo no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), tido como caso exemplar na literatura brasileira sobre insulamento burocrático. Entendemos por insulamento burocrático a condição de autonomia do núcleo técnico do Estado contra as interferências externas, onde nos interessam tanto a relação do BNDES com a esfera política, quanto sua relação com empresas do mundo privado. O modelo abarcará duas dimensões, a da autonomia e a do nível de expertise dos diretores e presidentes do BNDES. Para chegar às variáveis necessárias utilizaremos duas metodologias distintas: a análise prosopográfica e a análise do desenho institucional do Banco. Nosso recorte cronológico será de 1995 a 2018, passando por governos que utilizaram de forma muito distinta o BNDES. Com isto esperamos analisar a variação das duas dimensões ao longo dos diferentes governos, percebendo mudanças ora na autonomia – ora diante do empresariado, ora diante do Executivo – ora na expertise destes dirigentes.
Alex Guedes Brum (FGV-RJ) ST30
As políticas de vinculação do Brasil e do México para suas comunidades no exterior
A questão do impacto da migração internacional sobre o desenvolvimento dos países de origem tem sido alvo de atenção crescente nas últimas três décadas. Numerosos países de emigração têm estabelecido políticas públicas com o objetivo de mobilizar o potencial da emigração e das comunidades emigradas no sentido de contribuírem para os processos internos de desenvolvimento. Tendo como recorte temporal o período pós-Guerra Fria, esta pesquisa tem como objetivo analisar comparativamente as políticas de vinculação do Brasil e do México para suas comunidades no exterior. Para tanto, utiliza-se principalmente o modelo de análise de Levitt e De la Dehesa, que identifica os diferentes tipos de política de vinculação que países de origem estabelecem para seus emigrantes. Como resultados parciais, verificou-se que o México se encontra, comparativamente ao Brasil, em uma situação mais consolidada de políticas de vinculação para suas comunidades emigradas em função do histórico mais antigo de emigração e devido ao peso social e político que o fenômeno migratório tem para o país.
Alexandra Dias Ferraz Tedesco (UFTM) SPG02
A Argentina na periferia do tempo: uma abordagem transnacional da história das ciências sociais.
Esta comunicação se propõe a observar a emergência de um projeto intelectual específico, a sociologia científica, na Argentina da década de 1950, a partir de uma perspectiva transnacional. A proposta é acompanhar as tentativas de inserção da sociologia argentina no cenário internacional da disciplina, notadamente a partir do esforço de Gino Germani. Nesse sentido, a hipótese a ser observada é que esse esforço de internacionalização incide tanto sobre os conteúdos das teses quanto sobre a estrutura institucional da produção do conhecimento e, paralelamente, sobre a preponderância de determinados tipos de atitude intelectual. Assim, as tradições francesa, alemã e norte-americana são observadas, em sua dimensão conflitiva, pelo observatório pontual da sociologia argentina. Trata-se, assim, de uma análise da intersecção entre esfera pública e privada no campo intelectual argentino, através da qual se supõe possível trazer à tona as dinâmicas de circulação intelectual e a tradução (em múltiplos sentidos), para o contexto argentino, das disputas globais acerca do lugar da sociologia nos enfrentamentos disciplinares e na relação com os espaços extra-universitários.
Alexandre Almeida Barbalho (UECE) ST17
O “caso weffort”: um caso de convergência entre trajetórias políticas e intelectuais
Em meados de dezembro de 1994, o cientista político e um dos fundadores do PT, Francisco Weffort, foi anunciado por Fernando Henrique Cardoso (FHC), recém-eleito presidente da República pelo PSDB, como futuro ministro da Cultura. O acontecimento provocou surpresa nos domínios político, midiático e cultural, sendo denominado de forma irônica pela imprensa como “caso Weffort”. O que se propõe neste artigo, primeira sistematização de uma pesquisa em andamento sobre a política cultural nos governos FHC, é analisar o referido “caso” pressupondo que ele fornece elementos para se entender como se deram as relações entre Estado e cultura no Brasil no período de 1995 a 2002. Levanta-se a hipótese de que tal fato foi possibilitado antes pelos pontos de contato entre as trajetórias (1) de Weffort e de FHC e (2) do PT e do PSDB, esta, na realidade, aventada pelo cientista político. Para análise de (1), recorre-se aos processos de conformação dos capitais intelectual e político dos agentes de modo a identificar momentos comuns entre ambos; e para (2), se recorrerá ao que está previsto como política para à cultura nos planos de governo das candidaturas petista e psdbista em 1994.
Alexandre de Souza (UFRRJ) SPG11
Investimentos Chineses na América Latina no século XXI: divisão internacional do trabalho e impactos locais
Este trabalho aborda o panorama atual sobre a política dos investimentos globais chineses no século XXI . O lugar da China no sistema mundial, os mecanismos nacionais estabelecidos pelo governo chinês que orientam a inserção internacional do país e a forma que a política de investimentos globais combina as esferas do nacional e do global são alguns dos temas abordados neste trabalho. Em nossa hipótese, a participação dos investimentos chineses no cenário global é uma via de mão dupla: ao mesmo tempo em que produz tensionamento geopolítico com as potências ocidentais, ela também reforça o status quo ao reproduzir práticas desiguais da ordem global vigente como a mobilidade do capital industrial e a desorganização dos trabalhadores enquanto classe. Para isso, se analisa a divisão internacional do trabalho, isto é, a rota e as caraterísticas da performance setorial do investimento de saída chinês ao redor mundo. O resultado deste estudo sugere que em termos setoriais há uma alteração na estrutura do investimento externo da China, que antes priorizava o setor de metais, e, desde 2011, esta prioridade se tornou o setor de energia, sobretudo, no continente latino-americano.
Alexandre Queiroz Guimaraes (EG) ST12
Desenvolvimentismo, Empresários e a Economia Política dos Governos Lula e Dilma Rousseff
O objetivo do artigo é entender algumas decisões críticas de política econômica adotadas no período 2003 a 2014. Em particular, pretende-se explorar a coexistência de abordagens ortodoxas e desenvolvimentistas dentro dos governos, procurando avaliar o papel desempenhado pelas ideias e também pelos interesses. Atenção especial é dada à organização do setor industrial e à sua relação com o governo, desde a primeira mobilização industrialista com Lula até a inflexão do governo Rousseff em 2013. Grande atenção é também dada às altas taxas de juros e à incapacidade em baixá-las, o que se considera especialmente importante em face de seus efeitos negativos sobre as finanças públicas, sobre o investimento e sobre a distribuição de renda. Em outras palavras, o objetivo geral é construir uma análise de economia política dos governos do PT (2003-2014), com o objetivo de entender decisões e estratégias críticas para os resultados desses governos, avaliando o papel das ideias, dos interesses, dos constrangimentos internacionais e da institucionalização do sistema partidário, entre outras variáveis institucionais, para explicar os resultados.
Aline de Sá Cotrim (FGV) ST01
Entre Tóquio e São Paulo: Seiichi Izumi, Hiroshi Saito e os estudos sociológicos sobre a imigração japonesa no Brasil na década de 1950
Na década de 1950, os estudos sobre japoneses ganham destaque tanto na academia brasileira, em especial pelas pesquisas do sociólogo Hiroshi Saito (1919-1983), como no exterior, com as preocupações do contexto pós-guerra. Saito era um imigrante japonês, e foi aluno e professor na Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo (ELSP), onde foi orientando do sociólogo norte-americano, da Escola de Chicago, Donald Pierson (1900-1995). A preocupação de organizações como a UNESCO em identificar e solucionar possíveis situações de conflito estava em concordância com as de Saito, que participa de boa parte destas pesquisas como assistente do sociólogo japonês Seiichi Izumi (1915-1970), com quem inclusive publica textos e livros. Ainda nessa esteira, por conta da presença de pesquisadores japoneses na ELSP, Saito organiza o evento I Painel Nipo-Brasileiro, em 1956. Esse contato com Izumi, introduz Saito na academia japonesa, e o influencia a realizar o seu doutorado em seu país natal no final da década de 1950, quando também faz pesquisas de campo, ministra aulas e publica um texto a partir da experiência de contato com a sociologia japonesa.
Aline Suelen Pires (UFSCar), Edvaldo Carvalho Alves (UFPB) ST42
A dinâmica espacial do trabalho digital: uma comparação do setor de produção de software em São Carlos-SP e João Pessoa-PB
Temos vivenciado, nas últimas décadas, importantes transformações no mundo do trabalho, marcadas pela flexibilização, desregulamentação, revolução tecnológica e globalização, com novos arranjos temporais e espaciais da produção. A área de Tecnologia da Informação (TI) pode ser considerada paradigmática de um capitalismo dito cognitivo e globalizado, visto que provê tecnologias que possibilitam o trabalho flexibilizado e disperso espacialmente, e é precursora em termos de inovações gerenciais e formas de organização do trabalho de seus profissionais. Nossa proposta é analisar se e em que medida o local é um fator que impacta a dinâmica da produção e as relações de trabalho em TI, a partir da comparação do setor de produção de software em duas regiões, São Carlos-SP e João Pessoa-PB. Essas localidades, social e geograficamente distintas, protagonizaram políticas de inovação tecnológica nos anos 1980, com a instalação dos primeiros parques tecnológicos no país. A pesquisa, inserida em um projeto mais amplo sobre trabalho e globalização periférica no Brasil, baseia-se em entrevistas com trabalhadores e empreendedores e visitas a empresas, centros tecnológicos e espaços de inovação.
Allan Wine Santos Barbosa (UFSCar) SPG26
Mediunidade como mediação e materialidade no espiritismo kardecista
Este texto se propõe a analisar a noção de mediunidade e o papel do médium enquanto agente religioso no modo como o espiritismo kardecista organiza a experiência da espiritualidade. Para tanto, relaciono meu trabalho etnográfico realizado num centro espírita do interior de São Paulo com as recentes discussões sobre mediação e materialidade na antropologia da religião. Mais especificamente, a proposta é explorar as possibilidades analíticas que a "virada material" oferece ao estudo do espiritismo, especialmente quanto à compreensão da mediunidade como tecnologia de contato e instanciação do plano espiritual na experiência concreta das pessoas. Como as sessões mediúnicas (e ocorrências cotidianas) constroem a essa instanciação? Quais são as particularidades da aplicação da noção de mediação num contexto em que aquilo que media não é apenas um suporte material, mas um sujeito cuja agência é produzida no contato entre seres materiais e imateriais? Quais as preocupações levantadas pelos espíritas sobre a dificuldade de produzir um contato autêntico e verdadeiro com o mundo espiritual através de seus corpos? Este artigo visa propor algumas hipóteses e reflexões acerca de tais questões.
Aloysio Castelo de Carvalho (UFF) ST14
Origens do SNI: Escola Superior de Guerra
Criado em 1964, o SNI foi gestado no âmbito da ESG no final da década de 50, quando a CIA se tornou o modelo de um novo serviço de inteligência no Brasil, mais de acordo com as circunstâncias da Guerra Fria. Propostas para reorganizar o sistema de informações foram formuladas e estudadas pelos militares da ESG até a criação do SNI e no decorrer do regime autoritário de 1964.O modelo de inteligência da ESG incorporou as concepções que valorizavam uma estrutura de informações centralizadas como base para as decisões governamentais e formulação das políticas de segurança nacional. Adotou as concepções sobre o modo de produzir informações através do processamento de informes e considerou o SNI o órgão coordenador da Comunidade de Informações e integrante do Conselho de Segurança Nacional. Após 1964, a ESG dedicou atenção às demandas do SNI. Reativou os Cursos de Informações em 1965 com a finalidade de dar continuidade às reflexões sobre as estruturas dos serviços de inteligência, formar ideologicamente os agentes de informações e prepará-los para as operações repressivas. A ESG e o SNI identificam-se na questão da segurança nacional em termos de doutrina, planejamento e atuação operacional.
Álvaro Bianchi (UNICAMP) ST28
A tradução esquecida: João Camilo de Oliveira Torres e a história conservadora das ideias políticas no Brasil
A obra de João Camilo de Oliveira Torres não comparece nas exposições canônicas sobre a historiografia do pensamento político brasileiro. Apesar disso, ela foi objeto de uma renovada atenção nos últimos anos e recebeu novas edições. Esse movimento editorial é sintoma de um renascimento conservador no Brasil. Mas mesmo no contexto desse renascimento chama a atenção a revalorização de um autor tão sui generis como João Camilo. A hipótese que aqui é apresentada é que as razões para tal deveriam ser procuradas não nas ideias singulares de João Camilo – o monarquismo democrático, o conservadorismo solidarista, o catolicismo reformador, etc – e sim naquela narrativa historiográfica que constrói a partir da publicação de O positivismo no Brasil. Foi nessa narrativa historiográfica que João Camilo traduziu o pensamento conservador europeu e, em certo sentido, nacionalizou-o, conferindo-lhe força e eficácia. Deste modo, o caráter contraditório daquelas ideias singulares que parecem conciliar elementos antitéticos pode ser considerado o efeito dessa tradução do pensamento conservador à realidade brasileira.
Amanda Jardim da Silva Rezende (UFMG) SPG07
Do inusitado à subversão: A escrita acadêmica de uma liderança xakriabá como resistência
Esse trabalho objetiva tecer considerações sobre a trajetória acadêmica e produção intelectual de Célia Xakriabá, notória liderança do movimento indígena brasileiro. Célia graduou-se na licenciatura indígena Fiei/UFMG, tornou-se mestre pelo MESPT/UnB e atualmente cursa o doutorado em Antropologia pela UFMG. Em sua trajetória, a liderança acionou epistemes e recursos linguísticos próprios do regime de conhecimento xakriabá em seus trabalhos acadêmicos. Sua escrita acadêmica, orientada por elementos encontrados majoritariamente na oralidade xakriabá, como o português xakriabá e as Loas, com alguma resistência é entendida como escrita científica. Tal escrita não está prevista na gramática acadêmica ocidental já que recorre a frases longas, a repetição de ideias, a discordâncias verbais e de gênero, ao uso de pronomes que transitam na primeira pessoa do singular e do plural e a uma poética para se fazer inteligível. O inusitado da presença indígena traz consigo outras formas de produção de escritas, de conhecimentos, de resistência. Acredito que uma das contribuições intelectuais de Célia está em subverter a ordem hegemônica da escrita entendida como acadêmica.
Amaro Silveira Grassi (FGV-RJ) ST10
As redes sociais nas eleições de 2018: uma análise da participação na web e seu impacto no sistema político
O artigo tem como objetivo desenvolver uma análise do debate público nas redes sociais durante as eleições presidenciais de 2018, a partir de dados coletados ao longo do primeiro turno no Facebook, Twitter, YouTube e Instagram, no âmbito da Sala de Democracia Digital #observa2018, um projeto desenvolvido pela FGV DAPP. A hipótese orientadora dos esforços empreendidos foi a de que o debate na “esfera pública interconectada” desempenhou papel central no framing da agenda pública que orientou as estratégias dos candidatos à Presidência, tanto no seu conteúdo (temas norteadores do debate no ambiente digital) como na sua forma (meios utilizados pelas estratégias eleitorais), representando uma ampliação da participação política. Adicionalmente, considera-se que a centralidade adquirida pelas redes sociais no processo político-eleitoral tornou-se um reflexo da acentuada crise de legitimidade das instituições do sistema representativo, sobretudo os partidos políticos, alcançando a condição de espaço privilegiado para contornar os canais tradicionais da disputa eleitoral.
Amurabi Pereira de Oliveira (UFSC) ST01
Da Bahia ao Rio de Janeiro, do Rio de Janeiro a Louisiana: Arthur Ramos e sua atuação nos Estados Unidos
Arthur Ramos (1903-1949) foi um dos mais proeminentes antropólogos brasileiros da primeira metade do século XX, sendo um dos responsáveis pelo processo de institucionalização da antropologia no Brasil. Embora amplamente conhecido por seu trabalho na Universidade do Brasil e na Sociedade Brasileira de Antropologia e Etnologia, seu trabalho no Departamento de Sociologia na Universidade Estadual de Louisiana nos Estados Unidos ainda é pouco debatido entre os antropólogos brasileiros. O presente trabalho tem como objetivo analisar o trabalho de Arthur Ramos como professor nos Estados Unidos, examinando cartas, anotações e programas para o curso sobre "Raças e Culturas no Brasil", dando destaque também à rede de relações que tornou possível a circulação internacional de Ramos naquele momento.
Ana Carolina de Sousa Castro (IESP-UERJ) SPG23
Em busca da legalidade: a atuação dos advogados no comitê jurídico da Associação Brasileira do Agronegócio
O presente trabalho objetiva trazer contribuições para as reflexões acerca das relações entre elites agrárias e o Estado e seu impacto nos contextos rurais brasileiros, num cenário de modernização da agricultura e de expansão do agronegócio. Especificamente, pretendo compreender como setores da elite agrária têm (contra) mobilizado o direito em torno de três pontos específicos: ordenamento territorial e disputas em torno da terra; questões relacionadas ao trabalho, especialmente no que toca ao trabalho escravo e flexibilização de leis trabalhistas no campo; e políticas ambientais e seus marcos regulatórios. E, assim, compreender essa dimensão de estratégia dos atores sociais dominantes no controle da terra e dos corpos que nela habitam. Para tanto, analisaremos, num primeiro momento, artigos publicados pelos advogados que integram o comitê jurídico da ABAG para acompanhar o processo de criação e legitimição jurídicas dos interesses da associação.
Ana Claudia Moreira Cardoso (UFJF), Ana Carolina Estorani Polessa da Silva (UFJF) ST42
Trabalhos mediados pelas plataformas digitais: compartilhamento ou subordinação?
O mundo do trabalho passa por um processo de reestruturação global e o nascimento da sociedade informacional, explicitando um novo modelo de produção industrial e de serviço, levantando diversas indagações sobre a quantidade e a qualidade dos empregos. Considerando que não existe um determinismo tecnológico, o objetivo deste artigo é analisar em que medida as novas tecnologias da informação e comunicação estão sendo utilizadas e como orientam as formas contemporâneas de organização e gestão do labor, tendo como foco os trabalhadores em plataformas digitais. Para este estudo está sendo realizada uma pesquisa teórica em diálogo com informações de entidades internacionais sobre o emprego (Eurofound, Etui e OIT), em diálogo com pesquisas brasileiras. Já é possível dizer que, de fato, há um novo tipo de organização da produção e dos serviços que, em vez de fundamentar novos modelos de sociedade, reproduz, mesmo que sob novo parâmetros, as bases de exploração do trabalho. Uma exploração que se baseia num discurso de autonomia e liberdade, mas que resulta em vivências, por parte dos trabalhadores, de insegurança, instabilidade, falta de autonomia e precariedade.
Ana Cláudia Rodrigues da Silva (UFPE) ST35
Evitando contatos: políticas públicas para mitigação de incidentes entre humanos e tubarões em Recife/PE/Brasil.
As relações entre humanos e animais estão sendo ressignificadas nas ciências sociais a partir de marcadores importantes como sociabilidades multiespécies, agência animal, direito animal e ecologias. As praias de Recife e Região Metropolitana há décadas são palco de contatos indesejados entre humanos e tubarões, culminando em mortes de esportistas e banhistas. Para mitigar os incidentes foram criadas políticas públicas estaduais como a criação do Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (CEMIT), proibições de esportes náuticos como o surf e alocações de placas informativas. Este trabalho visa refletir os efeitos dessas políticas no uso das praias e, principalmente, na imagem criada sobre os tubarões. Tratando-se de um animal selvagem, como os humanos moradores de uma grande cidade se relacionam com a presença dos tubarões nas praias?
Ana Paula Evangelista de Almeida (UFJF) ST05
Dinamização e a manutenção do modo de viver no meio rural: um estudo na região da Zona da Mata-MG através da ação de mulheres.
A proposta deste trabalho é propiciar discussões sociológicas sobre a atuação da mulher como integrante fundamental no processo sócio produtivo da agricultura familiar e da pecuária leiteira da região da Zona da Mata-MG. O intuito é investigar as estratégias adotadas por elas para dinamizar a economia familiar no meio rural, tais como o cooperativismo/associativismo e participação em sindicatos, a luta pela garantia das políticas públicas, a pluriatividade, a diversificação da produção e a capacitação técnica (através do SENAR e EMATER) para a manutenção de modos de viver o/no meio rural, dado que nas últimas décadas o êxodo de famílias rurais para a cidade foi muito acentuada (RONSINI, 2004). Descreverei como se dá o acesso a terra, a participação social, física e prática destas mulheres em movimentos comunitários e associações locais, suas ações no dia a dia campestre e suas redes de relações produtivas, para além do trabalho doméstico, dando assim visibilidade a estes atores sociais como agentes de um novo e complexo modo de viver no meio rural (SCHNEIDER, 2010).
Ana Paula Salej Gomes (FGV-RJ), Marina Alves Amorim (FJP), Letícia Godinho de Souza (FJP) ST05
Mulheres do Campo de Minas Gerais: a busca da superação da invisibilidade
Quem são as mulheres do campo de Minas Gerais? Quais são os contornos das trajetórias de vida, de lutas e de trabalho com a terra dessas mulheres? Como esses contornos se configuram? O Projeto de Pesquisa aqui apresentado se propôs a enfrentar tais questões, procurando elucidá-las com base nas trajetórias de 12 mulheres do campo de Minas Gerais. O estudo se pautou em pesquisa de campo orientada pela metodologia de história oral e na análise de dados realizada a partir do mapeamento das estatísticas e dados de registro disponíveis no nível federal e estadual. O estudo focou as trajetórias de vida, de lutas e de trabalho com a terra das trabalhadoras rurais visando reconstruí-las e analisá-las, tendo em vista, a visibilização da realidade das mulheres do campo e de sua contribuição econômica. As análises quantitativas e qualitativas foram são agregadas no sentido de gerar um retrato mais completo desse grupo social e de evidenciar as lacunas existentes em algumas políticas públicas. Dentre os elementos identificados destaca-se a importância da participação social no processo de empoderamento e de construção da autonomia dessas mulheres
Anaís Medeiros Passos (USP) ST14
Atores Racionais: O Jogo de Interesses entre Militares e Políticos na Segurança Pública
Nos últimos anos, houve um significativo aumento do emprego de militares latino-americanos em tarefas que cabem, tradicionalmente, às polícias estaduais. Essa opção é enquadrada, pelos tomadores de decisão, como a última opção da qual a sociedade dispõe para enfrentar a ameaça do crime organizado. Inspirado em um capítulo da minha tese de doutorado e, em contraste com esta retórica, eu proponho analisar a "política" (politics) que acarreta no processo de normalização do papel dos militares como provedores secundários de segurança. Analisando dados eleitorais e a evolução dos gastos militares, o presente trabalho oferece uma narrativa analítica sobre o comportamento de comandantes militares e políticos envolvidos no processo decisório de autorização das operações militares na segurança pública no Brasil e no México. Em última instância, o trabalho oferecerá um quadro teórico para analisar como políticos eleitos de maneira democrática e agindo racionalmente contribuem para a manutenção das prerrogativas militares que foram herdadas durante a transição ou alternância de regime político.
Ananda Luz Ferreira (UFSB), Herbert Toledo Martins (UFSB) ST16
Infâncias Beiradeiras: como é ser criança à beira da BR-101?
Apresenta-se aqui uma pesquisa sobre crianças Beiradeiras, isto é, crianças que vivem entre as cercas das fazendas e as faixas de terras pertencentes à União, às margens do acostamento da BR-101, no município de Teixeira de Freitas, BA. O objetivo do estudo é compreender o contexto socioeconômico dessas famílias e, sobretudo, as infâncias Beiradeiras. A pesquisa se apoia teoricamente na sociologia da infância que reconhece a criança como uma cidadã que tem direitos e interfere diretamente no seu ambiente. Do ponto de vista metodológico, a análise baseia-se nos dados socioeconômicos extraídos da aplicação de questionários nas moradias de oitenta e quatro famílias, com o intuito de quantitativamente traçar um perfil dessa população, logo das crianças também. A segunda etapa da pesquisa recai sobre a pesquisa qualitativa a partir de entrevistas individuais e coletivas e observação, com o protagonismo da criança. O resultado da investigação aponta para compreensão de como é viver na beira da BR-101, a partir das narrativas das crianças.
Ananda M. King (USP) ST18
Racismo na cooperação médica humanitária internacional: uma perspectiva do profissional expatriado.
Pretende-se desenvolver uma crítica em relação a aspectos do trabalho humanitário em saúde, permitindo enriquecer o debate sobre intervenções humanitárias em determinantes sociais da saúde. Esse projeto questionará a forma como os serviços de saúde são entregues às populações locais e quais impactos causam/podem causar sobre as pessoas ditas beneficiárias dos mesmos. Considera-se aqui um componente racial e hierárquico que não deve ser ignorado. As motivações do trabalhador humanitário e o impacto de seu trabalho na cooperação humanitária em saúde são de interesse, por meio de análises das percepções do “local” (que recebe) e do “estrangeiro” (que entrega), enfocando no que esses profissionais entendem como sendo mais adequado àqueles que estão em situações de risco de saúde. A escolha é motivada pelo excesso de atenção sobre as pessoas que recebem o serviço de saúde, o que reforça suas condições de extrema vulnerabilidade. Deste fato parecem se beneficiar as organizações humanitárias para atraírem mais doadores, utilizando com frequência um modo de comunicação aparentemente surdo (pessoas brancas como salvadoras e pessoas negras necessitando de salvação).
Ananda Winter Marques (UFMG) SPG14
Do Chachawarmi à Despatriarcalização do Estado: Paridade de Gênero como horizonte de sentidos móveis na Bolívia.
O estudo se direciona à aprovação de leis de paridade de gênero na Bolívia. Partindo dos dados mapeados pelo Inter-Parliamentary Union que posicionam o país em terceiro lugar no que se refere ao percentual de mulheres no parlamento e das leis aprovadas na Bolívia que versam sobre a paridade e alternância de gênero, investigo quais foram os sentidos atrelados à paridade. A procura pelos significados da paridade de gênero na Bolívia conduz-me não só ao encontro de sentidos móveis, mas também a uma relação imbricada dos mesmos com a construção institucional da paridade de gênero. Assim, proponho neste artigo uma análise da contínua ressignificação da paridade ancorada nas mudanças institucionais e na articulação das principais agentes políticas envolvidas, entendendo que há uma relação entre as estratégias para fazer a paridade valer institucionalmente e o seu conteúdo subjetivo. O estudo perpassa tensões suscitadas pelos encontros entre concepções liberais, feministas clássicas e decoloniais e especificidades das simbologias andinas, apontando para a transformação da paridade de gênero em uma temática abrangente, fundamental no contexto de ampliação democrática vivido pela Bolívia.
Anderson Alexandre Ferreira (UEL) ST43
Território, violência, gangues e juventude: o caso dos homicídios em Cambé/PR
O intuito desde estudo foi compreender a dinâmica de uma série de homicídios registrados na Região Norte de Cambé/PR (periferia da cidade), no norte paranaense, entre os anos de 2001-2008. A partir de uma abordagem qualitativa, atentou-se para as articulações e para as motivações de conflitos que tiveram como desfecho a morte. Sustentei que a principal explicação para a elevada taxa de vitimização entre os jovens cambeenses foi os conflitos entre as gangues (ou “bancas”), cujos grupos são formados por aproximadamente trinta membros, predominantemente jovens do sexo masculino, que se ligam a uma multiplicidade de contendas de origens variadas. A abordagem é de cunho etnográfico, viabilizada em grande medida pela proximidade do pesquisador com os eventos que objetivou compreender. Isso possibilitou o acesso aos participantes dos conflitos, de forma que as entrevistas foram semiestruturadas e oferecem profundidade. No quadro geral da dinâmica, 73 dos 77 homicídios registrados estão direta ou indiretamente ligados aos conflitos de gangues, representando 82% do total. Se iniciaram no ano de 2001, se agravaram entre os anos de 2003-2006, e apresentaram rastros de morte até o ano de 2016.
Anderson Rodrigues Teixeira (PUC-Rio) ST02
“Bolar no santo é uma vontade das energias, espiritual puro!”: repensando a pessoa e o transe no noviciado dos candomblés
Nesta comunicação, apresento algumas reflexões sobre a experiência de “transe bruto” vivenciada por muitos postulantes à iniciação ritual em terreiros de candomblé. Assim, analiso a categoria “bolar” – expressão usada por tais religiosos em referência ao tipo de transe pré-iniciático – como orientadora da compreensão de uma noção de pessoa singular nestas coletividades. Além do que, a partir das proposições epistêmicas próprias dos grupos estudados, problematizo a noção de “escolha”, no tocante ao movimento de adesão às religiosidades de Matriz Africana. A presente argumentação é um desdobramento do trabalho etnográfico que realizo desde 2012, em terreiros de candomblé no Rio de Janeiro, lançando mão de vivências, observações e entrevistas. Acompanhando as trajetórias de diversos noviços e revisitando as considerações de Roger Bastide sobre o fenômeno do “santo bruto”, concluo que, mesmo antes do processo de “feitura de santo”, os sujeitos envolvidos encontram-se imersos numa noção-outra de pessoa. Portanto, o transe místico incipiente (ou “bruto”) denuncia o protagonismo das potências cósmicas na construção das trajetórias das pessoas nestas religiosidades.
Andre Luiz Mendes Oliveira (Ufscar), Julio Cesar Donadone (Ufscar), Mario Sacomano Neto (Ufscar) ST40
A transformação de um campo e suas concepções de controle: o caso de uma Santa Casa
Esta pesquisa investiga uma Santa Casa sob uma abordagem sociológica relacional com o auxílio das teorias de campo trabalhada por Pierre Bourdieu, de Campo de Ação Estratégica e de Concepções de Controle desenvolvidas por Neil Fligstein. O método adotado na pesquisa, de caráter qualitativo, apresenta um estudo de caso único envolvendo uma pesquisa documental aliada a uma pesquisa de campo. Os dados obtidos foram analisados considerando quatro categorias: Agentes, Estado, Recursos Financeiros e Setor. Também é apresentada uma breve análise histórica das Santas Casas, a fim de compreender os princípios que deram origem às estas instituições, e sua relação com a caridade cristã, filantropia da nobreza portuguesa e a importância das Irmandades e Confrarias na Idade Média, nas sociedades portuguesas e brasileira no período colonial. Delimita-se um breve histórico do sistema público de saúde brasileiro e dos planos de saúde privados. Os fatos relevantes da história da Santa Casa foram divididos em seis fases para a análise das categorias de estudo selecionadas e demonstrando as transformações deste Campo de Ação Estratégica e de suas Concepções de Controle.
Andreia Sousa de Jesus (UNESP), Guilherme Rocha Sartori (UNESP) ST36
Uma análise conjuntural da criminalização das periferias em Uberlândia, Minas Gerais
O trabalho analisa o racismo institucional a partir dos fatores que levam os agentes de segurança pública a criminalizar os espaços periféricos da cidade de Uberlândia-MG. Investigou-se as circunstâncias, do ponto de vista estrutural, da criminalização dos indivíduos habitantes das periferias, a partir da observação de como se consolidam as políticas públicas de habitação e de segurança pública nesses territórios. As políticas são motivadas pela construção ideológica de que as periferias são espaços criminogênicos. Os fatores cor da pele e local de origem condicionam ações sistematizadas de vigilância e tratamentos diferenciados pelos órgãos estatais em relação a população. O intuito da pesquisa foi verificar como essas práticas, apesar das intenções em minimizar a falta de acesso à moradia, por exemplo, estão permeadas por ações discriminatórias, legitimando considerar que na atuação institucional, o racismo, tantas vezes negado é, de fato, percebido. Nesse contexto, a raça permanece como categoria primordial de identificação dos sujeitos, determinando ações discricionárias dos agentes de segurança pública.
André Luiz Vieira Dias (UFG) ST06
Os efeitos da escolaridade sobre o engajamento cívico e político dos brasileiros
O objetivo deste artigo é analisar o efeito da escolaridade sobre o engajamento cívico e político dos brasileiros no período de 2000 a 2015. A partir dos dados obtidos pelo survey Latinobarometro, observamos a evolução da influência da escolaridade – isolada e controlada por outras variáveis cognitivas, posicionais e socioeconômicas – sobre cinco variáveis dependentes relativas à participação política. Por se tratarem de variáveis categóricas, recorremos aos modelos de regressões multinomiais logística e probit no sentido de averiguar os efeitos da escolaridade ao longo dos anos no Brasil. A principal hipótese é de que, diferente do efeito ocasionado sobre a cidadania nas democracias avançadas, fatores contextuais fazem com que a escolaridade exerça menor influência sobre o interesse por política e o engajamento cívico e político no Brasil. Apesar da forte correlação e da causalidade positiva, os dados apontam para um declínio da influência da escolaridade sobre o interesse por política e de outras variáveis relativas à participação política no Brasil. Neste sentido, o desafio lançado se volta à exploração dos contextos sócio-políticos que possam explicar este fenômeno.
André Peralta Grillo (UNIOESTE) ST25
Arte, cultura, trabalho e música: notas para a construção de um programa de sociologia da música
O objetivo deste trabalho é pensar um programa de pesquisa de sociologia da música a partir da abordagem, desenvolvida em minha tese de doutorado, de uma sociologia do trabalho com arte e cultura, voltada no caso ao estudo da produção (gestão) cultural no Brasil contemporâneo, com foco no produtor de eventos da chamada “música independente”, mas cujo arcabouço teórico pretende-se ser útil a estudos em geral sobre arte e cultura centrados nessas atividades como trabalho. Visando então ir além de uma atividade específica, e voltando-se ao trabalho com música como um todo, a ideia é incorporar a essa base as contribuições da sociologia da arte contemporânea, consolidadas em um programa de pesquisa que leve em conta as diferentes dimensões da realização artística (recepção, mediação, produção e as obras em si, como exposto por Heinich), assim como as contribuições específicas da sociologia da música, especialmente a contemporânea, como a perspectiva pragmática, desenvolvida por A. Hennion no caso da música, e sua critica às limitações do que chamam “sociologia da dominação” de Bourdieu para o estudo das dinâmicas e interações específicas dos mundos da arte.
André Ricardo de Souza (UFSCAR) ST37
As organizações cristãs de abrangência nacional em face da questão dos refugiados
Refugiados constituem um problema social de crescente importância no mundo contemporâneo, algo que atinge também os países latino-americanos. Dentre estes, o Brasil tem sido procurado por oriundos de diferentes territórios africanos, assim como de Haiti, Bolívia, Síria e, mais recentemente, Venezuela. Organizações religiosas prestam auxílio a pessoas com este perfil e o fazem procurando combinar esforços, quando possível, com o poder público e demais entidades. Dentre elas, no cenário do país, bem como de vários outros, tradicionalmente se destaca a Cáritas Brasileira, que é o organismo católico por excelência designado para a assistência a segmentos com grande vulnerabilidade social. Outro órgão nacional que atua junto com a Cáritas no enfrentamento do problema dos refugiados é o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs - CONIC. Composto por cinco denominações protestantes históricas, além da Igreja Católica, o CONIC se dedica a atividades ecumênicas, incluindo as de auxílio a estrangeiros vindos ao Brasil em duras condições. O texto aborda o modo como ambas as organizações atuam em tal frente, a despeito dos entraves do atual governo, e as questões envolvidas no trabalho delas
André Ricardo do Passo Magnelli (AH), Alberto Luis Cordeiro de Farias (IESP-UERJ) ST17
Um esclarecimento incontornável: os intelectuais nas democracias em mutação
Os intelectuais se tornam mais uma vez um problema. Os questionamentos sobre sua relevância devem suscitar não apenas a defesa de um lugar legítimo, mas também a autorreflexão sobre o que a intelligentsia é e faz. Se alguns veem os "intelectuais" como um fardo do qual se livrar, é importante assumir que se está diante de um problema clássico sobre o qual refletir: para que intelectuais na democracia? O trabalho constrói uma reflexão em 3 passos: primeiro, será feito um diagnóstico sobre o estado do "pensamento crítico", vendo-se um movimento perverso de fragmentação social e de negatividade crítica; segundo, partindo de estudos sobre os intelectuais (Mannheim, Habermas, Caillé, Gauchet, Rosanvallon etc.), defende-se a necessidade de uma intelectualidade que, conectando teoria e prática, assuma perspectivas universalistas, se oriente para o esclarecimento público e se comprometa com uma lucidez democrática que pense "o político"; por último, volta-se para a reconstrução da importância da sociologia na "democratização da cultura", reivindicando-se não apenas a retomada da pretensão dos clássicos, mas também a reinvenção das práticas diante dos desafios da democracia em mutação.
Ana Paula de Moraes Teixeira (CEP/FDC), André Rodrigues de Almeida (CEP/FDC), Fábio Facchinetti Freire (CEP/FDC) ST14
Qual é o perfil do militar ao ingressar nas Escolas de Formação de Sargento do Exército?
O presente trabalho tem como finalidade realizar um levantamento sobre o perfil do cidadão ao ingressar nas Escolas de Formação de carreira do Exército Brasileiro. Para tanto, propõe-se a analisar como está ocorrendo o processo de Formação dos Sargentos, contrastando a expectativa do militar formado com o perfil ingressante. A partir de instrumentos de apuração de dados e entrevistas, verficar-se-á qual o reflexo para a formação, considerando a procedência dos cidadãos, e que possuem perfil completamente diferentes, objetivando entender melhor o desafio frente aos cidadãos que chegam à Força. Objetiva, ainda, analisar o desenvolvimento de habilidades frente à Educação Militar, no processo da construção da "identidade militar" dos praças recém-formados. A verificação dos dados coletados dará prioridade a uma análise qualitativa dos indicadores escolhidos para apuração do perfil, bem como a análise das perspectivas e dificuldades deles em virtude da diversidade de origens. Analisará questionários de ex discentes tal que seja possível dimensionar o quantum essa distinção (de perfis) pode influenciar na formação. Palavras-chave: sargentos; formação; carreira; Exército Brasileiro
Andréa Lopes da Costa Vieira (UNIRIO), Jéssica Maria de Vasconcellos Santana Hipolito (UNIRIO) ST36
E quando a ação afirmativa não alcança? Sobre exclusão e autoexclusão para o acesso ao ensino superior
Este trabalho reflete os resultados da pesquisa "Ação Afirmativa e Ensino Superior: Os Impactos dos processos de educação sobre perspectivas de Seleção Acesso e Inclusão". Nesta proposta, defende-se que os obstáculos para o acesso ao ensino superior não se referem exclusivamente aos elementos usualmente considerados tais como instituição de formação, capital cultural dos pais, elementos socioeconômicos, entre outros; mas, dizem respeito também à elaboração de um sentimento de autoexclusão e/ou ao desconhecimento acerca do significado social do ensino superior – produzidos por jovens estudantes, ainda ao longo do Ensino Médio – que impactaria na elaboração de percepções sobre o Ensino Superior, sobre o significado das Ações Afirmativas, e, consequentemente sobre a compreensão acerca das possibilidades de acesso e inclusão. Para tanto, este trabalho será subsidiado pela análise das percepções de alunos negros do ensino médio de uma escola estadual, localizada na Zona Oeste do Rio de Janeiro, sobre os processos educacionais e familiares nos quais estão inseridos e seus impactos para a projeção de inclusão ou de ascensão social através da entrada no ensino superior.
Angela Maria de Sousa Lima (UEL), Ileizi Fiorelli Silva (UEL) ST16
Caracterização sociológica das juventudes no ensino médio: pesquisas acadêmicas que indicam políticas públicas
Intenciona-se apresentar o processo de elaboração/aplicação dos questionários, os resultados quantitativos gerais e os primeiros trabalhos científicos produzidos a partir da pesquisa realizada pelos colaboradores do Lenpes (Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de Sociologia) e do Projeto de Pesquisa: Juventudes no Ensino Médio: um Estudo Sociológico em Escolas Públicas da Região de Londrina, da UEL, com o apoio do Obeduc-Pibid, entre 2015 e 2016, junto às oito escolas públicas, localizadas em Londrina e Rolândia, mostrando a relevância metodológica da caracterização sociológica das juventudes e das suas percepções acerca de diferentes fenômenos sociais, assim como as contribuições desses dados na atualização dos Projetos Político Pedagógicos, no aprimoramento dos planos de aula de Sociologia e na confecção de trabalhos por licenciandos, egressos, pós-graduandos, professores da UEL e das escolas públicas da região. Do mesmo modo, objetiva-se indicar, através das análises dos retornos dos estudantes, que políticas públicas educacionais precisam ser aprimoradas e democratizadas para responder às demandas e expectativas dessas juventudes.
Angela Randolpho Paiva (PUC-Rio), Taísa de Oliveira Amendola Sanches (PUC-Rio) ST24
O tempo nos movimentos
As escolas interpretativas dos movimentos sociais criaram, ao longo dos anos, categorias que têm no tempo uma chave fundamental: as oportunidades políticas, repertórios de ação, ciclos de confronto. Apesar de todos pressuporem a ideia da temporalidade, ela é especificamente pouco explorada. Este artigo se propõe a investigar como a categoria tempo pode ser utilizada na análise dos movimentos sociais, a partir de uma revisão da bibliografia e da conexão de trabalhos já desenvolvidos acerca de dois movimentos sociais contemporâneos – o Movimento Negro Unificado e o Movimento dos Trabalhadores sem Teto. Nos propomos a pensar nos tempos relativos aos movimentos sociais como forma de trazer uma chave analítica que consiga abarcar tanto as regularidades unificadas num continuum de tempo externo aos movimentos, relativo às oportunidades políticas, como também os ciclos internos aos movimentos, que incluem subjetividades de seus participantes e o processo de construção de identidade coletiva.
Angelo Remedio Neto (UERJ) ST17
Reformismo radical e revolução proletária: modernização e mudança social na obra de Astrojildo Pereira e Virgínio Santa Rosa no início da década de 1930
Este artigo estuda as perspectivas de pensamento político brasileiro que poderiam ser considerados as raízes de suas das principais correntes políticas do Brasil na República de 1946, quais sejam, o trabalhismo e o comunismo. Para isto, analisa-se a obra de Astrojildo Pereira e Virginio Santa Rosa durante a década de 1930. Se ambos os autores estão preocupados com uma democratização efetiva da sociedade após o fim do Regime Oligárquico, e colocam como problema central para o desenvolvimento nacional limites impostos pelo imperialismo, a saída política é distinta. Enquanto para Astrojildo estão maduras as condições revolucionárias do país, devendo-se dar cabo uma revolução proletária, que daria início a uma nova etapa de nosso desenvolvimento, para Santa Rosa, faz-se necessário um longo período de reformas sociais profundas a fim de mudar a estrutura da sociedade brasileiro. Se para Pereira há uma forte perspectiva cosmopolita de acreditar ser o fim do capitalismo e, consequentemente, do imperialismo, a única maneira de mudar o rumo do desenvolvimento brasileiro, Santa Rosa inicia uma perspectiva nacionalista de esquerda.
Anna Carolina Venturini (CEBRAP) ST36
Por que Programas de Pós-Graduação são resistentes à criação de ações afirmativas?
A partir da literatura de negação de agenda (Cobb e Ross, 1997), o artigo analisa a questão dos programas de pós-graduação acadêmicos de universidades públicas que não aprovaram ações afirmativas em seus processos seletivos para compreender o(s) porquê(s) da não criação dessas políticas. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com membros da equipe de coordenação (atuais ou passados) de programas das 9 áreas do conhecimento, os quais foram escolhidos por meio do método de amostragem aleatória aplicado sobre a lista de programas de cada área. Os dados coletados comprovam a hipótese inicial de que o argumento da meritocracia é ainda mais forte nas discussões sobre ações afirmativas para pós-graduação, visto que este nível educacional é considerado um espaço de excelência no qual apenas os mais qualificados devem ingressar. Também fica evidente a preocupação com a excelência acadêmica e a avaliação da CAPES. Programas de áreas do conhecimento tidas como mais duras apresentam argumentos no sentido de que as desigualdades no Brasil são sociais e não raciais, de modo que não seria adequado considerar a raça dos candidatos.
Antonádia Monteiro Borges (UnB) ST13
Os desprezíveis são os outros
Estamos cientes e bastante acostumados às criticas ao populismo, ao clientelismo. Mais do que assentadas sobre a heurística irrefutável dos fenômenos, tais manifestações antagônicas fundam-se num esteio moral, segundo o qual alguns têm discernimento e outros não, sendo os últimos, no melhor dos casos, vitimas de um sistema espúrio. Quanto a ser espúrio o sistema, não resta a menor dúvida. A questão, no entanto, deveria dizer respeito ao movimento de ilusionismo que permite ao crítico colocar-se fora do quadro. Pensemos no que impedimos quando nos dedicamos à diferença, quando ficamos parados na fronteira, em cima do muro, como um guarda de aduana, reiterando a pertinência dos conceitos de alteridade e de reconhecimento, assentindo com a ficção (no mal sentido do termo) de que no futuro não precisaremos de tais conceitos. A perversão desse argumento talvez responda minimamente pelo terror que estamos vivendo.
Antonio Claudio Engelke Menezes Teixeira (UERJ) ST17
A solidariedade antes da crítica. Relativismo, moralismo e honestidade intelectual
O presente trabalho busca examinar como dois expedientes cada vez mais caros a intelectuais brasileiros acirra a polarização do debate político e contribui para borrar a distinção entre intelectuais e militantes. De um lado, a rejeição da ideia de universalidade, e a consequente exigência de assunção do próprio particularismo como condição primeira da honestidade intelectual; de outro, o crescente grau de moralização do debate político, expresso sobretudo na tendência a atribuir intencionalidades escusas a argumentos ou posições adversárias. Ambos os expedientes tornam rarefeita a atmosfera da crítica: o relativismo, ao transformar narcisismo cognitivo em suposto lastro da honestidade intelectual; o moralismo, ao impedir o reconhecimento de erros honestos. Como alternativa a tal estreitamento da atividade intelectual, o trabalho recorre à obra do crítico palestino Edward Said. Em nossa leitura, Said atualiza a distinção weberiana entre convicção e responsabilidade à luz de seu humanismo politicamente engajado, oferecendo um exemplo de perspectiva contra-hegemônica que, calcada em rigor intelectual, não se deixa reduzir à militância.
Antonio Jorge Fonseca Sanches de Almeida (UFBA) ST30
As relações China-Brasil em leitura comparada nos governos de Lula-Dilma, Temer e Bolsonaro
O objeto deste artigo é a presença chinesa no Brasil, numa perspectiva comparada, durante os governos de Lula da Silva, Dilma Rousseff, Michel Temer e início do governo Jair Bolsonaro. Desde 1978, quando iniciou seu processo de reformas econômicas, a China caminhou em direção a uma economia capitalista, se tornou a segunda economia mundial e vem assumindo uma posição de desafiante global da hegemonia dos EUA. O avanço chinês chegou na América Latina e no Brasil onde, há vários anos, é o principal parceiro comercial. Recentemente, passou a ser também o maior exportador de capitais e líder das aquisições, sendo um parceiro que diversifica a nossa dependência, mas a mantém. Os resultados colhidos apontam para um progressivo aumento das relações econômicas do Brasil com a China durante os governos petistas e sua ampliação e aprofundamento durante o governo Temer. Nos primeiros meses do Governo Bolsonaro, apesar do discurso ideológico anti-China do novo presidente, os interesses materiais dos grandes grupos empresariais brasileiros parecem se impor no sentido da manutenção de uma relação pragmática.
Antonio Mendes da Costa Braga (UNESP) ST23
Muito mais que uma questão jurídica: impactos dos status legais de imigrante e de cidadão em famílias de brasileiros nos Estados Unidos
Nos Estados Unidos um imigrante e seus descendentes pode ser um cidadão (por ter nascido nos EUA, ser filho de norte-americano ou ter conseguido naturalização), ter um Green Card, ter um dos vários tipos de vistos de permanência ou pode estar vivendo neste país sem uma autorização legal (não-documentado, “ilegal”). O fluxo imigratório de brasileiros para os EUA teve início na década de 80. Hoje já são mais de um milhão de imigrantes brasileiros vivendo nos EUA. Soma-se a esse número os filhos (segunda geração) e netos (terceira geração) de imigrantes brasileiros. São famílias cuja perspectiva de retorno ao Brasil tornaram-se remotas. Muitas delas tendo de enfrentar o desafio de conviverem com as diferenças dos status jurídico de seus membros: pais não documentados, filhos ou irmãos que são cidadãos de nascença, irmãos com cidadania com irmãos não documentados, dreamers (DACA)... O presente artigo busca analisar e discutir esta questão: -Como as barreiras jurídicas de acesso à permeância ou à cidadania impactam em famílias de imigrante brasileiros nos EUA na medida em as diferenças de status legal é uma realidade entre os seus membros?
Antônio João Galvão de Souza (IFPR) ST21
O urucum, a argila e o jenipapo: considerações sobre o acervo etnográfico Iny Karajá do Museu Paranaense e do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE/UFPR)
Apresento aqui resultados parciais de uma pesquisa sobre as relações entre etnologia indígena e acervos quando iniciei uma aproximação com as reservas técnicas do Museu Paranaense e do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE/UFPR) ambos em Curitiba - PR. A partir de uma fundamentação teórica situada entre a antropologia e a museologia e tendo por método a observação participante da qual resultam minhas etnografias, meu objetivo é o de compartilhar os desdobramentos de um estudo recente sobre a trajetória de constituição de um acervo etnográfico produzido por indígenas Iny Karajá que habitam aldeias às margens do Rio Araguaia entre Goiás, Tocantins e Mato Grosso. Trata-se das coleções constituídas nos anos 1950 pelo Professor José Loureiro Fernandes com cerca de 300 peças que atualmente estão nas reservas técnicas desses museus. Minha hipótese é a de que o trabalho de constituição de acervos etnográficos constitui-se hoje em práxis fundamental para acompanhar as transformações por que passam tais coleções não apenas no que tange às transformações visíveis em suas dimensões plásticas, mas também às mudanças sociais que revelam as heranças dos Karajá ao longo do tempo e do espaço.
Aramis Luis Silva (UNIFESP) ST38
A construção da homossexualidade em Uganda para além do realismo etnográfico
Esta apresentação visa circunstanciar como uma pesquisa de campo realizada em Uganda em dezembro de 2018 impacta e remodela o plano de investigação que lhe deu forma e seus sentidos iniciais. Em linhas gerais, trata-se, numa primeira dimensão, de revisitar e reafirmar em novos termos a crítica ao realismo etnográfico. Na sequência, dando prosseguimento à proposição analítica de Arjun Appadurai, registramos o caminho que no leva a assumir, daqui para frente, a imaginação e as imaginações em torno da homossexualidade neste país africano como o veio principal da nossa análise, cientes que ainda vale o desafio lançado no final do século passado para a etnografia: que ela nos faça ver as relações entre imaginações e a vida social.
Arthur Leonardo Costa Novo (UFRN) ST34
Micropolíticas do cotidiano em família na transição de pessoas transexuais: notas sobre negociações de gênero nas relações entre parentes
Esse trabalho tem por objetivo discutir as estratégias de familiares de pessoas trans para conviver com a transição de gênero do parente, apontando quais são as formas e os limites para a assimilação daquele que transiciona como membro do grupo de homens ou mulheres da família, ou ainda como alguém que transita por ambos. Analisarei em que medida este assume ou busca assumir no grupo familiar posição de parente e relações correspondentes ao gênero “transicionado” e como os familiares respondem a essas práticas, configurando possibilidades e limites simbólicos nas interações cotidianas a partir da linguagem, da reorganização de espaços na casa, da distribuição de tarefas e responsabilidades e do acesso à participação em determinadas atividades onde tradicionalmente há a separação por gênero. A pesquisa resulta de etnografia realizada com famílias de pessoas trans de João Pessoa/PB e Recife/PE com quem convivi em diferentes situações, entre abril de 2018 e junho de 2019, além de entrevistas em profundidade com pessoas trans e familiares de pessoas trans que se dispuseram a compartilhar suas histórias de transição de gênero.
Artur Fragoso de Albuquerque Perrusi (UFPE) ST41
Três formas de dominação em Marx: interpelação, coerção e fetiche
A exposição seria exercício de teoria social aplicada ao tema da dominação em Marx. Argumentaremos que podemos inferir analiticamente três formas de dominação de sua obra: a interpelação, a coerção e o fetiche. A interpelação abarcaria a discussão sobre ideologia, especialmente sobre a noção de falsa consciência. Defenderemos que implica modelo de imposição cultural, logo, enquadramento inconsciente da dominação, exigindo debate com a psicologia. Argumentaremos que a coerção, como forma de dominação, não necessita da noção de ideologia, nem mesmo de referências psicológicas, para ser inteligível. A coerção seria propriedade objetiva de algumas situações sociais. Limita e estrutura a ação, logo, o campo geral das escolhas. Como exemplo, discutiremos a noção de propriedade e a de mercado de trabalho em Marx. Por último, discutiremos a noção marxiana de fetiche. Argumentaremos que Marx desloca o fetiche, como problema ideológico e da consciência, para as práticas sociais. Analisaremos assim o fetiche da mercadoria, recuperando a noção de reificação e, igualmente, defendendo que perfaz outra forma de dominação – forma especial de enquadramento prático e objetivo
Arturo Benito Hartmann Pacheco (UNESP/UNICAMP/PUC-SP) ST18
O processo: a produção globalizada de violência na Palestina desde Oslo
A pesquisa propõe-se a entender como a comunidade internacional se acoplou ao confronto entre palestinos e israelenses a partir das dinâmicas e termos desenvolvidos nos Acordos de paz de Oslo, participando assim da produção da violência no território. Para tal, será feito o uso de abordagens que possam oferecer caminhos para explicar a nova configuração política em Palestina/Israel, levando em consideração a multitude de fatores que mudaram a relação de poder e, consequentemente, a estruturação da violência, na interação de palestinos e israelenses. O estudo trabalhará com a suposição de que há duas dinâmicas impulsionadoras na sua relação com a produção de violência na Palestina. De um lado, uma nova ordem institucional privada passou a agir por meio da ideia de governança, por meio de prescrições econômicas e lógicas de ajuda humanitária. Por outro, há uma abordagem intervencionista renovada dos EUA baseada, entre outras coisas, em um laço já existente com Israel, mas que, a partir 1990, se insere em um novo contexto. Desse modo, o processo acabou por colocar em curso a consolidação de uma governança global sobre o território.
Asher Grochowalski Brum Pereira (UFMS), Juliane Cristina Helanski Cardoso (UNIOESTE) SPG17
Gestão dos corpos e da sexualidade das mulheres cis: etnografia virtual das jovens que fizeram uso da pílula anticoncepcional
Paul Beatriz Preciado, em Testo Junkie, afirma que o uso da pílula anticoncepcional faz parte da gestão dos corpos e da subjetividade sexual das mulheres cis no contexto sexopolítico e farmacopornográfico do século XXI. Partindo dessa premissa, nosso objetivo é analisar como o uso desse hormônio sintético pode controlar os corpos e produzir subjetividades sexuais em mulheres cis jovens. Nossa hipótese é que o ato de deixar de usar a pílula anticoncepcional surge como "contraconduta" dentro do regime protocolar de autoadministração de fármacos. Nossa análise demonstrou que essas mulheres pararam de tomar a pílula anticoncepcional como forma de se contrapor ao protocolo farmacológico, produzindo novas subjetividades expressas pelas narrativas que descrevem melhoras na saúde, bem-estar, aumento do desejo sexual e a sensação de estar no comando do próprio corpo. Nossa pesquisa foi realizada com o método da etnografia virtual. Optamos por olhar para as narrativas das mulheres jovens que pararam de fazer uso desse medicamento e que narraram suas experiências no youtube, ferramenta que permitiu a expansão da contestação ao uso de contraceptivos hormonais.
Barbara Cristina Soares Santos (USP) SPG30
Pensando a teoria crítica do reconhecimento em perspectiva: uma discussão sobre identidades, espacialidade e subversão política
Teóricos críticos como Honneth, Habermas e Fraser sofreram grande influência de Hegel para desenvolver uma teoria do reconhecimento que abarcasse a origem e a superação da dominação do seu tempo presente. Nesse debate, a formação do reconhecimento recíproco e intersubjetivo seria fundamental para a realização da autonomia dos sujeitos, de modo que se essas relações recíprocas são perdidas, os indivíduos passariam por uma situação de desrespeito e rompimento de sua identidade. Franz Fanon, teórico atualmente disputado pela teoria crítica, também realizou essa fundamentação teórica sobre o reconhecimento, mas com um olhar não-europeu emtermos político-espaciais, e por isso, trouxe complexidades sobre o conceito de reconhecimento que tendem a contribuir direta e efetivamente na superação de dominações intrínsecas a projetos imperialistas que bloqueiam a liberdade de comunidades que foram colonizadas, e portanto, fazem do reconhecimento não apenas uma falta ou um erro, mas um impedimento de ser reconhecido. Diante disso, busca-se relacionar reconhecimento da teoria crítica com o fanoniana, intentando mostrar a necessidade de Fanon estar presente nesse debate.
Bárbara Luna de Araújo (UFPB) SPG24
Movimentos de reafricanização nos terreiros de candomblé – Um estudo comparativo entre Recife/PE e João Pessoa/PB
Prandi (1991) enxerga a reafricanização como um religamento do candomblé com a África contemporânea em um processo que envolve a negação do sincretismo com o catolicismo, a adoção de um aprendizado que não seja necessariamente oral e uma mudança ritual e doutrinária no próprio culto. É objetivo deste trabalho investigar como se constrói o processo de reafricanização do candomblé na cidade do Recife/PE e de João Pessoa/PB a partir dos terreiros Ilê Axé Obá Aganju e Ilê Tata do Axé. A pesquisa de cunho qualitativo foi realizada através de entrevistas semiestruturadas, além de observação participante. Os resultados obtidos apontam para uma série de transformações que os candomblés vêm passando diante das quais os líderes religiosos estão buscando a construção de uma identidade negra e a ocupação das esferas públicas locais e nacionais, com o intuito de dar visibilidade e legitimação aos seus cultos. A reafricanização seria, portanto, uma estratégia política de marcação de diferenças que, por sua vez, não se apresenta de forma consensual entre os adeptos. Referências: PRANDI, R. Os candomblés de São Paulo: a velha magia na metrópole nova. São Paulo: Hucitec/Edusp, 1991.
Beatriz Pereira dos Santos (UERJ), Ramón Chaves Gomes (UFRRJ) ST03
Reconhecimento e informalidade: as relações na organização dos trabalhadores camelôs na cidade do Rio de Janeiro
Os anos 1990 foram marcados por processos de globalização sob hegemonia do neoliberalismo, quando se acentuaram processos de internacionalização, com concentração de capital e questionamentos do estado de bem estar social. As medidas aprovadas no sentido de flexibilização de direitos trabalhistas na década de 1990 e nos anos seguintes não foram retiradas do arcabouço de possibilidades para gestão de mão de obra. Em 2017, uma extensa reforma trabalhista foi aprovada, ampliando formas de contratação que não passam pelo vínculo de emprego tradicional. Em 2018, em um cenário de crise de representação política, econômica e institucional, foi eleito um presidente da extrema direita. A informalidade e alta rotatividade que há muito são marcas constitutivas do mercado de trabalho brasileiro vem se aprofundando na crise, em especial no setor do comércio ambulante. O objetivo desta pesquisa será investigar, por meio de entrevistas em profundidade, como a informalidade impacta a forma de organização dos trabalhadores camelôs na cidade do Rio de Janeiro, a forma como se veem e se inserem coletivamente, como se dão as dinâmicas de reconhecimento e como e em que arenas reivindicam seus direitos.
Bernardo Fonseca Machado (UFG) ST13
Corpos que se vendem: o valor atribuído ao trabalho de atrizes e atores
Os corpos de atrizes e atores são elementos indissociáveis da cena e, por isso, assumem um valor tanto estético quanto monetário. Em minha pesquisa de doutorado, realizei pesquisa de campo em duas escolas de teatro – uma em São Paulo e outra em Nova York. Acompanhei a disciplina de “audição” a qual ensinava a importância de dominar as etiquetas de trabalho. Era urgente tomar ciência a respeito da posição que cada ator/atriz poderia ocupar no “mercado” de peças. Esta apresentação discutirá o reiterado emprego de um vocabulário econômico para tratar de artistas da cena. Em diversas ocasiões de campo, professores/as e estudantes tratavam a si próprios como “mercadorias” com potencial de venda. Estou particularmente interessado em responder as seguintes perguntas: O que estava à venda nas transações que envolviam atrizes e atores? Esses corpos ganham valor sob quais contextos? Quais corpos têm mais valor e trazem mais lucro? Minha aposta reside na compreensão esse campo permite uma entrada singular para etnografar relações no capitalismo. Afinal, nota-se como os corpos de intérpretes – suas marcas de fisicalidade – e suas emoções ganham possibilidade de rentabilidade econômica.
Bernardo León de Almeida Cezar Ortellado (UFPR) SPG11
Crescimento econômico nas décadas de 50 a 70, expansão industrial e o papel dos empresários na estratégia de desenvolvimento
Este trabalho investiga quais seriam as causas do crescimento econômico no Brasil nas décadas de 50, 60 e 70, época áurea de incremento da produção de riqueza no país, com ênfase para os diversos períodos distintos que a caracterizam, desde a implementação do Plano de Metas no governo JK, a recessão de 1965 e 66, e a retomada a partir de 1968, aprofundada nos anos seguintes. Busca, ademais, analisar os arranjos sociais e econômicos que o possibilitaram e a correlação entre a política e a economia como possível fator explicativo do desenrolar dos acontecimentos no período.
Betina Warmling Barros (UFRGS) SPG32
Os homicídios de Porto Alegre entre os anos de 2016 e 2018: as novas formas de matar no contexto de um capitalismo gore
A pesquisa analisa a violência letal operacionalizada a partir de esquartejamentos, decapitações e chacinas produzidas nos conflitos entre facções na cidade de Porto Alegre. O estudo visa compreender as razões do uso dessas novas formas de matar ocorridas no contexto da "reconfiguração" do tráfico de drogas local, a partir do ano de 2016. Busca-se na teoria de Valencia a respeito do capitalismo gore, o aporte teórico necessário para a compreensão das práticas de extrema violência por sujeitos vinculados ao narcotráfico. Para a análise, recorreu-se a três principais fontes de pesquisa: notícias dos jornais locais a respeito da chamada guerra no tráfico, entrevistas com atores do sistema de justiça e vídeos publicados no site YouTube pelos próprios sujeitos do conflito. Em conjunto, esse corpus analítico possibilitou localizar o uso da violência extrema como estratégia de produção de capital econômico, o qual varia de acordo com as configurações estruturais do mercado, conforme se observa, no caso de Porto Alegre, nas polarizações entre Balas na Cara e Antibalas, nos anos de 2016 e 2017, e na disputa entre Balas e Manos ocorrida no interior do estado, a partir de 2018.
Bezaliel Alves Oliveira Junior (UFMA) ST37
Religião e política: As estratégias de inserção e reinserção das Assembleias de Deus na política brasileira (1986 – 2018).
O presente artigo decorre da intenção de investigar a inserção e a reinserção das igrejas pentecostais (AD´s) no cenário político brasileiro, e suas estratégias de ressignificação dos valores do pentecostalismo clássico. A pesquisa leva em consideração o contexto das eleições para a Assembleia nacional Constituinte de 1986, onde serão investigadas as estratégias utilizadas pelas Assembleias de Deus para eleger seus representantes, fazendo uma análise comparativa com o contexto histórico e social das eleições de 2018. A priori, parte-se da concepção de que, certa forma, os mesmos discursos adotados nas eleições de 1986 contra o aborto, as ameaças do comunismo, os ataques à família tradicional, o homossexualismo e a liberação sexual, bem como os riscos para as igrejas evangélicas foram reproduzidos nas eleições de 2018.
Bianca Gomes da Silva Muylaert Monteiro de Castro (UENF), Shirlena Campos de Souza Amaral (UENF), Geraldo Marcio Timoteo (UENF) ST03
A política de cotas como mecanismo de democratização ao ensino superior para pessoas com deficiência e seus efeitos: análise sobre acesso e permanência de estudantes na UENF no período de 2003 a 2016
O presente estudo analisou a Política de Cotas para pessoas com deficiência na UENF e seus efeitos, no lapso temporal de 2003 a 2016, considerando o primeiro aparato legal, a Lei nº 4.151/2003, instituída com o fim de garantir a inserção de estudantes com deficiência nas Universidades Estaduais do Rio de Janeiro. Trata-se de uma pesquisa qualiquantitativa, por meio da qual verificou-se que no lapso temporal de 2004 a 2010 houve ínfima inserção de discentes com deficiência ingressos por cotas na UENF, cujas alterações nesse quadro iniciaram-se a partir de 2011, com a utilização do ENEM/SISU como forma de processo seletivo aos cursos de graduação presenciais da UENF, permitindo efeitos positivos. A permanência, até o ano de 2010, foi proporcional ao número ínfimo de discentes com deficiência que acessaram à universidade. Por sua vez, a partir de 2011 ocorreu uma inversão, em que o índice de permanência se tornou mínimo em relação à majoração do acesso deste segmento. Concluiu-se que as cotas proporcionaram o acesso, não obstante, ao conseguirem o ingresso na universidade, discentes com deficiência enfrentam outro desafio: carência de condições para a conclusão do curso.
Bibiana Martins dos Santos (PUCRS) SPG11
Beneficiários e cidadãos? análise da cobertura da imprensa sobre o asignación universal por hijo para protección social (Argentina) e o programa Bolsa Família (Brasil)
O trabalho investiga o status de cidadania veiculado pelo campo jornalístico sobre os beneficiários do Programa Bolsa Família (Brasil) e o Asignación Universal por Hijo para Protección Social (Argentina). A pesquisa tem em vista as distinções entre as sociedades argentina e brasileira diante das lutas por direitos sociais e a concepção de cidadania em cada país. Sendo assim, o objetivo geral da pesquisa é avaliar se as particularidades de cada sociedade pautam o cenário da cidadania e proteção social nos dois contextos atuais. Os objetos de análise são periódicos tradicionais que ocupam uma posição conservadora e dominante no campo jornalístico de cada país. Assim, a pesquisa avalia a história da formação social, econômica e políticas das duas nações e do contexto latino-americano, a criação e funcionamento dos programas de transferência monetária e, por fim, a percepção da imprensa jornalística. A metodologia utilizada é a Análise de Conteúdo com a técnica de análise temática para verificar os editoriais, notícias e features d’O Estado de São Paulo entre 2003 à 2017 e o La Nación entre 2009 à 2017, estes recortes temporais correspondem a criação de cada programa social.
Breno Pacheco Leandro (UFPR), Patrícia Sene de Almeida (PUCPR) ST26
Conexão eleitoral: revisão sistemática e análise bibliométrica
Esta pesquisa tem como objetivo investigar a produção acadêmica acerca da conexão eleitoral, caracterizada como a dinâmica em que a arena legislativa influencia a arena eleitoral para assegurar votos e reeleição. Por meio de análise bibliométrica e revisão sistemática da literatura será averiguada a construção do conceito de conexão eleitoral ao longo do tempo. Através de buscas na base indexadora Scopus, métricas da produção científica sobre o conceito serão identificadas e analisadas por meio de softwares para construir mapas de redes e organizar dados textuais de modo a garantir a replicabilidade do estudo e diminuição de seu viés teórico. Identificou-se que (r1) existem três clusters de autores que se relacionam entre si e entre outros: i) Weingast, ii) Cox, iii) Mayhew; (r2) a obra mais citada é “Congress: Electoral Connection” (1974) de Mayhew, seguida de outras obras de Carey e Shugart (1995); Cain, Ferejohn e Fiorina (1987); Downs (1957) e Arnold (1992). (r3) as palavras-chaves mais utilizadas na literatura são pork barrel e electoral connection.
Bruna Brito Prata Ferreira (UFPR) ST10
As formas democráticas de exclusão: consequências de um elitismo político e o ativismo judicial
A Constituição Federal é fomentadora por meio das regras quanto aos poderes e as suas respectivas institucionalizações, não tanto do liberalismo, mas sim, das próprias elites políticas? As formas representativas eleitorais demonstram na realidade a falta de representação da cidadania, justiça e participação de grupos minoritários na política como fora prescrito por Schumpeter nas formas da democracia procedimental, que decorreram no ativismo judicial mais preponderante no Brasil? São essas as hipóteses a serem desvendadas nesse trabalho, em forma de dispêndio teórico.
Bruna Camilo de Souza Lima e Silva (PUC-Minas) SPG30
Teorias democráticas contemporâneas: uma análise teórica e feminista
Com os movimentos feministas e a construção de suas teorias políticas, passamos a discutir com mais frequência sobre a pluralidade de sujeitos sociais, individuais, coletivos e, consequentemente, a democracia. Para entendermos o conceito de democracia e sua complexidade, será realizado um estudo teórico das correntes canônicas contemporâneas da teoria da democracia. Iniciando pela corrente elitista, percorreremos pela teoria pluralista democrática até chegarmos nas correntes deliberacionista e participativa. A partir de uma perspectiva feminista, este trabalho irá analisar a existência, ou não, do debate sobre a participação das mulheres nessas teorias. Os feminismos têm sido importantes para críticas à ciência política, capazes de construir novas teorias políticas, inclusive teorias democráticas. Os estudos feministas contribuem para a construção da democracia através de suas perspectivas, além de evidenciar a posição estrutural das mulheres e visualizar a vulnerabilidade em que elas se encontram.
Bruna Damasceno Mota Uchoa (UFPel), Etiene Villela Marroni (UFPel) SPG31
A securitização do narcotráfico na Colômbia: implicações para a cooperação entre Brasil e Colômbia no combate ao tráfico de drogas na Amazônia
O tráfico de drogas no contexto pós-Guerra Fria na América Latina ganhou destaque na agenda de segurança dos Estados da região, sendo securitizado por muitos deles. A presente pesquisa parte do pressuposto de que a origem da securitização do tema se dá através de discursos e ações proibicionistas advindos dos Estados Unidos, de Convenções e Organizações Internacionais, que no pós-Guerra Fria tiveram como foco os países produtores de drogas ilícitas, sendo o Plano Colômbia parte de sua “guerra às drogas”. Assim, o objetivo central é analisar se o Plano Colômbia influenciou a cooperação entre Brasil e Colômbia no combate ao tráfico de drogas na região amazônica principalmente devido a presença militar dos EUA nesta região. Utiliza-se como marco teórico a teoria da securitização da Escola de Copenhague. Para isso a pesquisa está divida além da introdução e conclusão da seguinte forma: apresentação da teoria da securitização; da politização à securitização do tráfico de drogas: o Plano Colômbia; o combate ao tráfico de drogas no Brasil e; o histórico e análise da cooperação entre Brasil e Colômbia no combate ao tráfico de drogas de 1981 a 2010.
Bruna Della Torre de Carvalho Lima (USP) ST41
Indústria cultural e ascensão da extrema-direita – notas sobre a atualidade da teoria crítica
Esta comunicação tem como objetivo apresentar uma releitura do conceito de “indústria cultural” aliado com o diagnóstico de Theodor W. Adorno a respeito da propaganda fascista em países democráticos tendo em vista dois elementos presentes na ascensão da extrema-direita contemporânea no mundo todo: a sua mobilização pelas redes e mídias sociais e o seu discurso vazio e enganoso que tem sido chamado pelo senso-comum de “pós-verdade”. Trata-se de uma reflexão teórica a respeito da atualidade do conceito de “indústria cultural” e dos processos sociológicos e psicológicos que estão presentes na adesão aos líderes de orientação autoritária. A ideia é discutir como as redes sociais e a internet podem ser pensadas como uma nova apresentação da “indústria cultural” enquanto sistema e comentar como seu funcionamento envolve processos inconscientes e afetivos dos quais decorrem a perda de potência performativa da linguagem e da verdade ligada à argumentação racional. Finalmente, trata-se de defender a assemblage entre teoria social e psicanálise para entender esses fenômenos contemporâneos.
Bruna dos Santos Bolda (UFSC) ST41
Os níveis de análise da estrutura conceitual da sociologia compreensiva de Max Weber: uma solução alternativa para a questão micro/macro
Estudos hodiernos sobre o método weberiano, especialmente aqueles vinculados à Universidade de Heidelberg, intensificaram as críticas aos defensores unilaterais de Weber como o "pai" do individualismo metodológico. Em consonância com esse esforço teórico, objetiva-se analisar a estrutura conceitual de Soziologischen Grundbegriffen a fim de demonstrar suas respectivas contribuições para uma abordagem não reducionista. Recorre-se ao esquema macro/micro/macro de Gert Albert a partir do qual encontra-se ferramentas para afirmar que Weber inicia sua teoria com a compreensão do sentido da ação social (nível micro). Ao agregar a capacidade de auto ajuste mútuo das ações ele ascende à relação social (nível macro). No ápice de sua macro-teoria, Weber concebe estruturas tomadas subjetivamente como um dever: as ordens sociais. Quando essas têm a participação regulamentada, há a formação de uma organização social (nível macro). Com base nessa análise exegética, argumenta-se que o autor soluciona o problema dos níveis de análise com uma posição individualista moderada. Contemporaneamente essa abordagem é revisitada por macro-teorias – como o neoinstitucionalismo de Lepsius.
Bruna dos Santos Galicho (USP) SPG27
“Assédio sexual público”, quem está falando? A dinâmica racial nas experiências das mulheres periféricas em trânsito
Este trabalho parte da produção relativamente recente da categoria "assédio sexual" por movimentos auto declarados feministas – que reivindicam direitos sexuais e acesso à cidade – e da elaboração de políticas públicas em resposta a tais reivindicações. Tal ponto de partida é então contraposto às experiências e deslocamentos das mulheres periféricas de São Paulo, cuja sexualidade é atravessada por categorias de diferenciação como gênero, raça e classe social. Dessa maneira, parte-se da tentativa de tensionar fronteiras dos significados de violência, além de trazer à tona disputas narrativas encobertas por discursos que tratam como homogêneos diferentes corpos e subjetividades. Dentro desta perspectiva, a noção de diferença como experiência torna-se chave para compreender os modos de dar sentido não só ao que está sendo chamado de "assédio", mas ao corpo.
Bruno Konder Comparato (UNIFESP) ST43
Policiamento de manifestações, princípios e desafios a partir da comparação entre duas realidades: São Paulo e Belfast
Esta comunicação trata dos resultados iniciais de uma pesquisa comparativa entre os modelos de policiamento de São Paulo e Belfast no que diz respeito ao policiamento de manifestações. A Irlanda do Norte foi o palco de grande brutalidade policial durante os conflitos de 1968 a 1998, enquanto que no Brasil parece não haver diferenças sensíveis entre os períodos ditatoriais e democráticos no que diz respeito à violência policial. Enquanto a Irlanda do Norte realizou uma importante reforma da polícia, no Brasil as polícias continuam a se guiar pelos mesmos princípios de quando foram criadas: a desconfiança com relação a manifestantes. Embora as possibilidades e condições de existência de uma polícia democrática ainda sejam um enigma a ser desvendado, algumas práticas melhoraram de forma significativa a relação entre policiais e cidadãos na Irlanda do Norte. A maneira pela qual os protestos são acompanhados ou reprimidos pela polícia constituem um bom indício da qualidade da democracia e do respeito pelos direitos humanos numa dada sociedade.
Bruno Naomassa Hayashi (USP) SPG24
Japoneses nas relações raciais brasileiras
Neste trabalho, desejo investigar as metamorfoses sofridas nas fronteiras raciais brasileiras considerando o ponto de vista de sua população de ascendência japonesa. Partindo das hipóteses teóricas de Andreas Wimmer acerca do processo de estabilização e transformações das fronteiras étnicas, analiso a trajetória dos japoneses do início da imigração ao Brasil em 1908 – sua chegada como um grupo com fronteiras raciais (amarelo) e étnico-nacionais (japoneses) muito bem delimitadas – até a forma mais rarefeita com que estas fronteiras aparecem hoje. Esta análise, além de permitir um olhar mais cuidadoso sobre este grupo e sobre seu lugar nas relações raciais brasileiras, ajudará também a desenvolver aspectos ainda pouco aprofundados no modelo teórico de Wimmer. Destaco para este trabalho, especialmente, a relação entre as assim chamadas fronteiras étnicas e a classe social, a distinção entre raça e etnicidade, e o processo de estabilização e mudança das fronteiras que o autor apenas desenvolve enquanto um conjunto de hipóteses, sem oferecer nenhum caso empírico para testá-las.
Bruno Washington Nichols (UFPR), Nilton Cesar Monastier Kleina (UFPR), Djiovanni Jonas França Marioto (UFPR) ST04
Análise da produção científica brasileira sobre o youtube no campo de internet & política
Criado em 2005, o YouTube se tornou uma das redes sociais online mais utilizadas no mundo. Assim, o objetivo desta pesquisa consiste em mapear a forma pela qual esta rede digital está sendo analisada, tendo como foco as especificidades de distribuição temporal e regional da produção brasileira de artigos e papers situados no campo da Internet & Política, no período de 2005 a 2018, indexados ao Google Scholar. A revisão sistemática foi escolhida como estratégia metodológica devido aos seus parâmetros e protocolos de análise que permitem revisar a produção feita sobre a rede neste campo científico. Em levantamento prévio, detectou-se que a produção do conhecimento sobre o YouTube no Brasil apresenta regularidade ao longo dos anos e que a região Sul se destaca como polo de pesquisa nesta seara. Palavras-chave: YouTube; Internet & Política; Revisão Sistemática.
Caio Cardoso de Moraes (UEL), Cleber da Silva Lopes (UEL) SPG13
O lobby na regulação da segurança privada no Brasil
A participação de grupos de interesse na produção de políticas públicas tem sido pouco estudada no Brasil. Este trabalho pretende contribuir para o preenchimento dessa lacuna por meio do estudo dos atores estatais e não estatais que participaram entre 2000 e 2018 do processo político para alterar a Lei que regula o setor de segurança privada no Brasil. Quais os principais atores interessados na alteração da regulação da segurança privada? Como esses atores se relacionam em uma rede de política pública da segurança privada? Quais interesses e estratégias de representação de interesses estão presentes nessa rede? Quais resultados foram alcançados? Nossa análise mostra que a política da segurança privada é influenciada por uma comunidade de políticas públicas coesa que foi bem-sucedida em resistir a mudanças indesejadas na política regulatória, mas que enfrentou dificuldades para alterar a regulação de acordo com os seus interesses. O trabalho também considera o impacto do arranjo institucional de representação de interesses e das características do próprio sistema político brasileiro nas estratégias de atuação dos atores envolvidos e nos resultados políticos alcançados.
Caio do Amaral Mader (USP) ST37
Escrevendo em papeis, justapondo margens institucionais: as interfaces entre Estado e Igreja a partir de uma etnografia de documentos.
Neste trabalho, reflito sobre minha pesquisa de mestrado, em fase conclusiva, sobre as relações entre a Pastoral Carcerária (PCr) - instituição ligada à Igreja Católica dedicada à defesa dos direitos humanos de encarcerados(as) em linha abolicionista-penal - e Hospitais de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (HCTP) do estado de São Paulo. Como híbridos de hospital e prisão, os HCTPs confinam por tempo indeterminado pessoas consideradas portadoras de transtornos mentais que tenham cometido práticas entendidas como crimes. Diferentemente da pena, a medida de segurança exarada não dispõe de prazo máximo, dependendo de laudo psiquiátrico de cessação de periculosidade para desinternação. Colocar-se-á em perspectiva os desafios do contato entre as duas instituições, com foco nas dificuldades de apreensão etnográfica, já que a etnografia está assentada em meu trabalho enquanto agente voluntário da PCr. Como transformar a experiência de assistência humanitário-religiosa numa etnografia, discutir a polissemia da noção de "violência", suas diferentes (i)legibilidades, bem como os contrassensos desse ativismo em suas implicações institucionais é meu principal intento de discussão.
Caíque Cunha Bellato (PUC-Rio) ST17
La sal de la tierra: participação política e social dos evangélicos no Uruguai
O fenômeno religioso voltou a ter presença pública no Uruguai. Um século após o período conhecido como Primeiro Batllismo, marcado pela radicalização do processo de laicização da sociedade uruguaia, são os evangélicos e não os católicos os que agora disputam com o Estado a primazia na influência exercida sobre a sociedade e sobre a formulação de uma agenda pública. Animada a participar da política parlamentária em reação à chamada agenda de direitos – é dizer, a regulamentação do aborto, do consumo de maconha, e também do casamento entre pessoas do mesmo sexo – parte da liderança evangélica uruguaia realizou uma substancial mudança de paradigma ao decidir influenciar a sociedade a partir de sua compreensão cristã de mundo e ao abandonar a perspectiva laicista que restringia ao âmbito privado a atuação religiosa. Este artigo, fruto de pesquisa empírica realizada no Uruguai entre novembro de 2018 e abril de 2019, apresenta essa liderança evangélica, bem como seu campo de atuação, e propõe uma reflexão sobre os dilemas que sua prática política suscitam na democracia mais estável da América Latina.
Camila Camargo Ferreira (UFSCar) ST38
Gênero e sexualidade em disputa: a capilaridade dos discursos antigênero no Brasil contemporâneo
A proposta deste artigo é discutir, a partir de uma pesquisa qualitativa baseada na análise documental, a emergência de um fenômeno político e discursivo recente no contexto brasileiro: as regulações morais e jurídicas que se desdobram a partir da luta contra a chamada "ideologia de gênero". O foco de análise é a tramitação do Projeto de Lei Escola Sem Partido no Congresso Nacional. Buscar-se-á observar os discursos que permeiam/compõem as proposições de lei voltadas à regulação moral-jurídica das diretrizes curriculares nacionais. O intuito é investigar os regimes de poder-saber que movimentam o combate à chamada "ideologia de gênero" afim de captar a capilaridade dessas narrativas discursivas no debate público. Percebe-se que os discursos são atravessados por temores sociais diversos com relação ao questionamento das verdades elaboras no interior dos dispositivos da sexualidade produtoras das normas binárias de gênero. Será demonstrado também que as ansiedades sociais em torno dessa categoria política podem ser lidas como expressões contemporâneas de disputas mais amplas pela delimitação das fronteiras do aceitável e do patológico no campo das relações de gênero e sexualidade.
Camila Carolina Hildebrand Galetti (UnB), Hélio Roberto De Francischi Chagas (UNICAMP) SPG09
A cidade como ponto de vista epistemológico: uma tentativa de (re)construção do utopismo a partir de Henri Lefebvre
O presente trabalho parte de um esforço de leitura do legado da obra de Henri Lefebvre, que pretende apontar não para ausência, mas para subvalorização da dimensão do utopismo nos desdobramentos dos autores lefebvrianos, ou para os quais seu trabalho apareceria como referencial. Nosso esforço se coloca como forma de pensar a cidade como ponto de partida epistemológico; Intrinsecamente orientado por uma posição radicalizada na necessidade de transformação das formas de se habitar o espaço. Partindo de um contexto de disputa de hegemonias e reconfigurações do espaço, da precariedade da circulação, temos a cidade como ponto de reflexão material e simbólico. No esforço de reafirmar a importância da radicalidade de Lefebvre como forma de vislumbrar uma transformação concreta na concretude da vida cotidiana. Isso nos permitirá compreender os dilemas e perspectivas das diversas experiências como o Movimento Passe Livre, o Ocupe Estelita, dentre outras formas de resistência que estariam intrinsecamente orientado por uma posição radicalizada na urgência de se ampliar o horizonte de transformação para linha do possível, sem restringi-lo a sobredeterminação do real no momento presente.
Camila Cunha Moreno (UnB) ST13
Agronegócio 4.0 - transformação digital da agricultura e as dinâmicas contemporâneas de expropriação
A partir de uma etnografia realizada em uma feira do agronegócio procuramos esboçar as novas dinâmicas que surgem quando o pacote tecnológico da fazenda digital "aterra" sobre os territórios, ilustrando como o uso de algoritmos e Big Data engendra profundas reconfigurações das dinâmicas de controle e das relações de poder. A transformação digital é uma força abrangente que vem reformulando realidades materiais e reorganizando relações sociais em todo o mundo. Identificada com a Quarta Revolução Industrial (4IR), a fase atual do capitalismo seria caracterizada por uma gama de tecnologias que estão fundindo os mundos físico, biológico e digital. Sob este processo macro, a agricultura e a produção de alimentos vêm sendo integradas à Indústria 4.0 em um novo paradigma para a expansão do agronegócio. À medida que as tecnologias digitais são "acopladas" a processos produtivos em áreas rurais e contextos agrários, as dinâmicas de digitalização vem rapidamente mediando uma série de práticas sociais e forjando novas subjetividades em relação ao trabalho no campo.
Camila Fernandes (UFJF) ST38
“Elas fazem filhos demais”. A ideologia da gravidez planejada frente a violência de Estado nos territórios populares.
Este trabalho discute de que modo a matabilidade dirigida a alguns territórios de periferia encontra seu lastro na ideia de uma sexualidade e procriação feminina intensiva, materializada na ideia de que mulheres pobres "fazem filhos demais". A discussão se constrói a partir da articulação de marcadores sociais da diferença, junto aos contextos de mortes ocorridos em favelas da Cidade do Rio de Janeiro. A partir da discussão acumulada na tese de doutorado, localizo a crença na "gravidez planejada" como uma política sexual que orienta um campo de ações estatais. Discuto uma série de constrangimentos relativos a gestão da sexualidade e reprodução das mulheres que habitam os territórios de favela. Com base nestas indicações, recupero algumas representações racializadas em torno da sexualidade de mulheres pobres, acompanhando como estas imagens são atualizadas cotidianamente no discurso popular e nas administrações de Estado. Finalmente, pretendo demonstrar como a produção destes discursos colabora para a reprodução do "racismo de Estado", através da reiteração de imagens femininas racializadas que são acionadas para produzir "corpos matáveis".
Camila Maria Risso Sales (UNIFAP) SPG25
Brazil’s Bolsonaro: os primeiros 100 dias do governo segundo o jornal The New York Times
Trata-se de investigação acerca da imagem do Brasil na imprensa estrangeira, mais precisamente sobre os primeiros cem dias do governo de Jair Bolsonaro no The New York Times. O objetivo do artigo é analisar os textos publicados no jornal procurando elementos importantes para a construção da imagem do país, a partir de uma literatura que trata da relação entre os novos populismos, entendidos como uma abordagem ideológica e discursiva e o papel da mídia. Compreendemos que não se tratam de lógicas opostas, mas de um processo integrado de produção de conteúdo em que há circularidade na forma de interação entre a mídia e a política. A metodologia utilizada foi a análise de conteúdo qualitativa e o corpus foi formado a partir da busca de palavras-chave nos títulos dos artigos publicados entre 1º de janeiro e 10 de abril de 2019. Todos os textos foram lidos, fichados e categorizados quanto à forma de interação e ao conteúdo. Compondo a mídia tradicional, o jornal tende a privilegiar a interação direita, valorizando os canais consagrados como fontes, entretanto também repercute o conteúdo produzido pelos próprios agentes políticos em canais alternativos como as redes sociais.
Camila Pierobon (CEBRAP) ST39
Infraestruturas clandestinas: poderes locais, controles corporais e disputas legais
A histórica distribuição desigual das infraestruturas no Rio de Janeiro constituiu diferentes precariedades nas formas de habitar a cidade. Dentre elas, o fornecimento de água potável atinge diferencialmente as populações pobres. Sob uma aparente centralização das infraestruturas no âmbito da administração estatal, há uma crescente batalha por seu controle que se associa aos poderes locais em permanente disputa. Deste modo, a precariedade do abastecimento de água se conecta à guerra movida por grupos masculinos armados que buscam controlar territórios na cidade. Neste artigo, analisarei uma situação de conflitos em torno da água potável no centro do Rio de Janeiro, quando agentes do tráfico de drogas fizeram uma obra clandestina de infraestrutura que desviou água dos moradores de uma ocupação popular. Na disputa para não perderem o acesso à água, as mulheres teceram redes de apoio que envolveram na mesma trama: agentes do estado, traficantes de drogas, advogados e uma antropóloga. Ao descrever a batalha pela água potável analisarei como ameaças específicas sobre os corpos femininos impediram que os moradores acionassem os dispositivos legais e as formas legítimas de negociação.
Camila Silva Nicácio (UFMG) ST37
Intolerância religiosa no Estado de Minas Gerais: análise de registros de ocorrências junto à Polícia Civil
Este trabalho restitui os resultados de uma pesquisa empírica sobre o tratamento jurídico das demandas sobre intolerância religiosa em Minas Gerais, recebidas pelos órgãos de Polícia civil entre 2013 e 2017. Baseada em uma abordagem de campo, a pesquisa valeu-se de procedimentos múltiplos de investigação. Seu objetivo foi identificar a construção do discurso sobre intolerância religiosa por parte dos demandantes, bem como a maneira pela qual tais demandas são tratadas pelo sistema judiciário. A análise do tratamento institucional das questões ligadas à intolerância religiosa demonstrou que os agentes da justiça, sobretudo os que operam em delegacias de polícia, desempenham um papel de mediadores entre os cidadãos e o direito, em um contexto de crescente juridicização e judiciarização das relações sociais. Compreendida como um tipo de tradução, a mediação ali estabelecida conhece, no entanto, alguns impasses. Minha hipótese foi a de que tais impasses podem contribuir para reforçar as dinâmicas de marginalização de algumas religiões, notadamente as que gozam de menos prestígio social, desvelando a intolerância religiosa como uma das dimensões do racismo ainda persistente no Brasil.
Camilla Quesada Tavares (UFMA), Michele Goulart Massuchin (UFPR) ST22
Mulheres candidatas nas eleições de 2018: uma análise do discurso veiculado nos programas eleitorais para governo do estado
Este paper propõe analisar como candidatas aos governos estaduais se apresentaram nas eleições de 2018 por meio do Horário Gratuito Político Eleitoral (HGPE), veiculado ao longo da campanha. O objetivo é identificar como sete candidatas a cargos majoritários construíram a campanha televisiva a partir das temáticas exploradas, das estratégias discursivas utilizadas, da presença de apelo, das características de apresentação, dentre outros elementos. Busca-se analisar os dados à luz das discussões elencadas pela literatura – nacional e internacional – sobre os entraves e problemas que perpassam as candidaturas. Para tanto foram selecionadas: Cida Borghetti (PP-PR), Márcia Tiburi (PT-RJ), Fátima Bezerra (PT-RN), Roseana Sarney (MDB-MA), Eliana Pedrosa (PROS-DF), Suely Campos (PP-RR) e Marina Silva (REDE - Brasil), cada uma representando uma região brasileira. Para atingir os objetivos proposto é feita uma análise de conteúdo quantitativa dos 74 programas, baseado em um livro de códigos que visa identificar características da candidatura feminina.
Camilo Braz (UFG) ST38
Transmasculinidades na mídia brasileira contemporânea: (in)visibilidades, resistências e ambivalências
Uma reportagem do Fantástico, da Rede Globo, de fevereiro de 2019, noticiava a morte de Lourival Bezerra de Sá, aos 78 anos, em Campo Grande. Intitulada "Justiça investiga origens de homem que não pode ser enterrado", dizia que "socorristas levaram seu corpo para o serviço de verificação de óbito. E, então, a surpresa: o homem era na verdade uma mulher". Tal reportagem é exemplar do quanto a mídia, contemporaneamente, faz parte do dispositivo da sexualidade, tal como formulado por Michel Foucault. E evidencia a ânsia pela busca de uma verdade enviesada, marcada por expectativas heteronormativas e cisnormativas em torno dos corpos, que violentam sua intimidade, os escrutinam, os desnudam, reduzindo-os a uma dimensão puramente biológica. Trago esta reportagem como a intenção de anunciar os objetivos deste trabalho: abordar antropologicamente o processo contemporâneo de profusão discursiva sobre o tema das transmasculinidades na mídia brasileira, para apontar possíveis ambivalências em torno da (re)produção de repertórios simbólicos em torno dele.
Carine Lima dos Passos (UENF) ST03
A Quase Ausência de Pessoas Negras nos Altos Cargos do Mundo Corporativo
A pesquisa analisa a presença de pessoas negras em grandes cargos do mundo corporativo através de dados secundários levantados a partir de publicações de grandes Institutos e outras pesquisas. A literatura jornalística voltada para o mundo corporativo também é um instrumento de investigação a fim de obter informações atuais a respeito do tema da diversidade entre as lideranças das grandes empresas. O trabalho está organizado sob alguns aspectos: a análise, das estruturas sob a qual está assentada a elite que compõe as grandes empresas, as relações sócio históricas que interferem no campo de relações das pessoas negras no ambiente organizacional e o reconhecimento social finalizando com informações empíricas que nos ajudem a entender este cenário.
Carla Beatriz Rosário dos Santos (UFMG) SPG01
Representação de mulheres e instituições participativas: capacidade inclusiva dos conselhos de políticas públicas brasileiros
A realidade política institucional brasileira é da condição de sub-representação feminina. As instituições participativas surgem enquanto alternativa ao modelo tradicional de tomada de decisão, modelo este que tem se mostrado insuficiente quanto à representatividade segundo dados de sub-representação de determinados grupos, sobretudo, mulheres. O objetivo deste trabalho mapear a presença de mulheres nos conselhos municipais, estaduais e nacionais da cidade de Belo Horizonte, do estado de Minas Gerais e do Brasil. Os resultados apontam para a (1) influência da área de política pública para maior ou menor presença; (2) esfera governamental, em que quanto maior o nível de governo, maior serão os custos da participação das mulheres, visto que estas acumulam jornadas de trabalho que mesclam o público e o privado; e (3) representação em titularidade ou suplência, maior ou menor. Os conselhos se apresentam mais porosos à participação das mulheres. A escala governamental parece custar mais caro para as mulheres representantes da sociedade civil. Apontam para a necessidade de aprofundamento de estudos qualitativos que averigue a qualidade participativa segundo políticas para as mulheres.
Carla Cristina Vreche (UNICAMP) SPG10
Enquadrando pautas de mobilização: a tortura nas campanhas da Anistia Internacional
O presente trabalho tem como objetivo elucidar as campanhas de combate à tortura da ONG Anistia Internacional. Busca analisar a construção da pauta dentro da organização e seu respectivo enquadramento, assim como a mobilização internacional de atividades que tiveram como base a condenação e denúncia dessa prática. Considera a elaboração da Campanha para a Abolição da Tortura uma virada na atuação da organização, a qual influenciou seu processo de institucionalização e reforçou o papel central desempenhado pela Anistia entre as organizações de direitos humanos, sendo essa pauta reiteradamente adotada pela entidade. Além da revisão bibliográfica, são analisados diversos documentos e relatórios da organização, que permitem identificar a função normativa da entidade e sua relevância para a criação de um consenso em torno do termo e sua respectiva condenação internacional.
Carla Maria Sousa Carvalho Vasconvelos (UFPE) SPG07
Por trás do desempenho: a trajetória dos estudantes cotistas no IFPE Olinda
Este trabalho analisa a trajetória acadêmica dos estudantes cotistas do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE) - campus Olinda. A partir dos dados de acesso a programas de auxílio financeiro e de participação em programas técnico–científicos, testaremos a hipótese de que, em média, cotistas têm mais acesso a programas de auxílio financeiro do que a programas meritocráticos. Além disso, testaremos as seguintes hipóteses: cotistas evadem menos e apresentam menor tempo de integralização no curso. O desenho de pesquisa combina estatística descritiva e análise de sobrevivência para analisar dados administrativos longitudinais (2015-2018). Para melhor compreender o problema, realizaremos entrevistas semiestruturadas com estudantes e setores envolvidos. Os resultados esperados são: 1. Há uma baixa participação dos cotistas nos programas meritocráticos; 2. A taxa de evasão entre esse público é menor quando comparada aos não-cotistas. As conclusões desta pesquisa têm o potencial de facilitar o entendimento sobre os efeitos e limitações da política de cotas, podendo contribuir com a elaboração de políticas públicas desenhadas para reduzir a evasão e melhorar o desempenho dos estudantes.
Carlos Augusto da Silva Souza (UFPA) ST16
Participação e representação dos jovens na política local: uma avaliação das candidaturas para as Câmaras de Vereadores nos municípios brasileiros
O Tribunal Superior Eleitoral, amparado no Estatuto da Juventude, considera jovem aquela parcela de candidatos na faixa etária entre 18 a 29 e a legislação eleitoral define a idade de 18 anos para que uma pessoa possa concorrer ao cargo de Vereador e 21 anos para os cargos de Prefeito e Vice-prefeito. Do ponto de vista demográfico a proporção de jovens na faixa etária entre 18 a 29 anos corresponde a 19,9% da população total (IBGE/2017). Entretanto, a proporção de jovens não reflete sua incorporação na esfera política, pois os dados da eleição de 2016 indicam que apenas 7,8% do total de vereadores eleitos estavam nesta faixa etária. É justamente a eleição de vereadores jovens que esta pesquisa procurará investigar. Nela pretende-se analisar a participação da juventude na esfera dos legislativos municipais, a partir da relação entre a eleição de jovens e características socioeconômicas, políticas e demográficas presente nas municipalidades. Pretende-se verificar se determinadas características socioeconômicas que identificam a esfera local interferem (ou não) na incorporação da juventude no processo político.
Carlos Augusto Vidotto (UFF) ST12
A “Carta ao Povo Brasileiro”: sob a dominação financeira, mas ainda aquém dessa hegemonia (2003-14)
A "Carta ao Povo Brasileiro" foi um compromisso unilateral que cimentou a coalizão ampliada responsável pela vitória da candidatura Lula, na eleição presidencial de 2002. Seu conteúdo teria balizado a condução das políticas econômica e social brasileiras até 2014. Esse balizamento se detecta no fracasso das tentativas de romper o vínculo dessas políticas com a dominação financeira: de um lado, ir além da dominação e instaurar uma hegemonia financeira, com o programa de austeridade prolongada, em 2005; de outro, reverter a dominação financeira, com a nova matriz econômica, em 2012. Sob a hipótese de que esses fracassos iluminam a vigência daquele compromisso tanto quanto as políticas de fato implementadas, o artigo detém-se no exame do surgimento da Carta, seu conteúdo básico, sua afirmação inicial pela condução da política econômica e a tentativa de ajuste fiscal estrutural, ou austeridade prolongada, no triênio 2003 a 2005.
Carlos Eduardo Amaral de Paiva (UFMT) ST25
A soul music no Brasil: contracultura negra e luta por reconhecimento nos aos 1970
Esse trabalho analisa a produção sonora da chamada soul music brasileira, articulando este gênero musical à emergência de uma contracultura negra no Brasil da década de 1970. O trabalho foca a produção dos cantores/compositores Jorge Ben e Tim Maia, que em suas canções apresentam uma fusão da soul music norte americana com gêneros nacionais. Os arranjos musicais de suas composições combinam gêneros nacionais como o samba e o baião com arranjos da soul music e funk norte americano. No que se refere à temática, as canções se aproximam de uma perspectiva negra e internacional denominada por Paul Gilroy como contracultura negra. Esta aproximação trouxe um questionamento da ideologia da mestiçagem e acompanhou um momento de transformação das formas de representatividade negra no Brasil. Nossa hipótese é que este gênero, que surge no processo de mundialização cultural pelo qual passava o país, é representativo de uma estrutura de sentimentos negra. Esta estrutura de sentimentos emergente expressou a aproximação das manifestações culturais negras à negritude internacional e um afastamento da ideologia nacional popular que oferecia respaldo à música popular brasileira até então.
Carlos Federico Domínguez Avila (UNIEURO) ST10
Democracias em crise, ascensão de autoritarismos competitivos e implicações para América Latina: a Terceira Onda de reversa em perspectiva
Após trinta anos gloriosos de avanços democráticos 1978-2018, a assim chamada Terceira Onda de Huntington parece ter chegado ao fim no continente. Ao menos desde 2009, percebe-se uma persistente declinação do regime político democrático em numerosos países. A crise na qualidade das democracias latino-americanas está correlacionada a irregulares interrupções de mandatos, à corrupção, ao clientelismo/populismo, à insegurança pública, à deslegitimação de instituições, e à desafeição cidadã. O impacto dessas tendências negativas foi particularmente evidente nas dimensões do Estado de Direito, Igualdade/Solidariedade e Responsividade. Nesse contexto, a presente comunicação explora a crise democrática no continente, e propõe a construção de um modelo dependência da trajetória ("path dependence") que permita uma correlação analítica entre aqueles problemas e o impacto geral da ascensão do autoritarismo competitivo. Também, procura-se compreender melhor o como e por que esses fenômenos acabam afetando e deteriorando a qualidade da democracia existente no Brasil e outros países latino-americanos.
Carlos Henrique Aguiar Serra (UFF), Luís Antônio Francisco de Souza (UNESP) ST11
Guerra às drogas no Brasil contemporâneo: proibicionismo, punitivismo e militarização da segurança pública
Pretende-se refletir sobre a política de guerra às drogas no Brasil contemporâneo. Esta guerra às drogas, que expõe de forma contundente a letalidade do estado, imbrica-se ao punitivismo e à militarização da segurança pública no Brasil. Parte-se da premissa de que a sociedade brasileira desenvolveu um dispositivo jurídico-penal, punitivista e militarizado, que reforça a distribuição desigual de poder, considerando as variações nos padrões históricos da delimitação entre legal e ilegal. Assim sendo, busca-se explorar a conexão entre as diversas estratégias de punição e a face mais perversa do que se convencionou chamar de “guerra às drogas” em seus efeitos deletérios. Para pensar o quadro mais amplo desta problemática, considera-se a tese da militarização da segurança pública como forma de gestão biopolítica.
Carlos Henrique Moraes dos Santos (UFF) ST42
Neoliberalismo no Sul Fluminense: Relações trabalhistas e sindicais em meio à nova razão do mundo
Essa pesquisa busca analisar o modo como os trabalhadores contemporâneos se relacionam com seus empregadores e com o sindicato em meio a dinâmicas e relações sociais marcadas pelos efeitos do neoliberalismo, efeitos que se estendem para além do campo puramente econômico. A racionalidade que guia as suas ações e práticas está pautada no neoliberalismo, numa lógica marcada pela intensificação da competição entre sujeitos, se manifestando na medida em que eles se veem isolados, obrigados a lidar com as demandas que surgirem contando apenas com as suas possibilidades individuais. Tal característica apresenta um enorme desafio aos sindicatos, uma vez que este se vê obrigado a desenvolver estratégias capazes de lidar com as dificuldades provocadas pelo Estado neoliberal ao mesmo tempo em que busca mobilizar sujeitos cujas preocupações estão voltadas para o âmbito individual. Através de entrevistas com membros do Sindicato Metalúrgico do Sul Fluminense (SMSF) e de operários, esse trabalho busca apontar indícios das dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores e pelos sindicatos, ao mesmo tempo em que aponta algumas das soluções encontradas para atenuar esses problemas.
Carolina Bonomi de Menezes Guerra (UNICAMP) SPG14
“Prostituta também é mulher”: tensões, disputas e articulações entre os feminismos e o putafeminismo sobre a regulamentação da prostituição.
O presente artigo é fruto da dissertação de mestrado em que buscou-se investigar os trânsitos políticos do movimento organizado das trabalhadoras sexuais empreendidos em seus 30 anos de história, buscando analisar os sentidos mobilizados por essas atoras sobre política, engajamento, reivindicação, organização política, direitos sociais, trabalho e prostituição. Partindo de uma etnografia multisituada - por meio da etnografia de eventos - essa pesquisa buscou mapear as sujeiras das organizações que compõem o movimento organizado e suas conexões, suas reivindicações, suas formas organizacionais e seus instrumentos de ação coletiva. Para esse trabalho, propõe-se a analisar uma das reivindicações do movimento organizado de trabalhadoras sexuais: a regulamentação da prostituição. Esse tema se tornou um aglutinador de diversas demandas tais como, autonomia ao corpo, direito à maternidade, violência contra as mulheres e a construção do putafeminismo. Interessa-se analisar as táticas e os engajamentos que são produzidos a partir das discussões, bem como as concepções que orientam o fazer político das mulheres que integram o movimento, atentando-se na produção de categorias e conceitos.
Carolina Castellitti (UFF) ST34
Sobre famílias que voam, maternidades desapegadas e mulheres com asas: gênero, conjugalidade e parentesco na carreira de comissária de bordo na Varig
Que tipo de arranjos familiares são acionados por mulheres que se dedicam à carreira de comissária de bordo? Se considerarmos a dificuldade de conciliar os chamados “projeto profissional” e “projeto familiar”, frequentemente evocada por mulheres de camadas médias inseridas em diferentes setores do mercado de trabalho formal e informal, que modulações ativa esse conflito numa ocupação sem um ordenamento espaço-temporal fixo? Que sentidos assume a profissão, o casamento e a maternidade quando o emprego sonhado incorpora traços de uma instituição total? Que arranjos de sentimentos, obrigações e moralidades são acionados e narrados? Este trabalho, produto de minha tese de doutorado em antropologia social, procura levantar reflexões sobre família, gênero e sexualidade em um universo que, embora visto como subversor, possui fortes balizas morais. A partir de uma etnografia realizada com mulheres que dedicaram grande parte de suas vidas profissionais a uma importante companhia de aviação brasileira, contribui para o estudo dos processos de individualização feminina em contextos urbanos contemporâneos.
Carolina Pereira Lins Mesquita (UFRJ) ST37
O me too e as decisões: Diário e diálogos sobre a sexualidade em João de Deus
O Me too remete ao movimento popularizado em 2017, quando a imprensa dos EUA publicou acusações de assédio sexual de atrizes contra Weinstein. A identificação com o me too não se limita ao delito e ao fato de romper com o silêncio. Alude ao ambiente profissional no qual ocorreu. O objeto do paper é o crime sexual do qual fui vítima, durante a pesquisa de campo em Abadiânia, GO, por João de Deus, personagem central objeto da minha tese defendida no PPGSD/UFF. O objetivo, além de narrar o ocorrido, é lançar interpretações analíticas e reflexões teóricas relativas ao delito, às pesquisas e ao papel da mulher pesquisadora neste contexto. Sem pretensões de apresentar verdades. Antes disto, para apresentar análises sobre relações de gênero e de sexualidade na Casa de Dom Inácio, local em que o médium prestava atendimentos antes de ser preso, diante da acusação de abusos por mais de 300 mulheres. Trato das relações de gênero, ainda que criminalizadas, consideradas como tais aquelas em que não há consentimento. Permearam as reflexões as performances, as articulações relacionais e dinâmicas do masculino e do feminino, não me furtando na apreciação de minhas próprias e das emoções sentidas.
Carolina Santos Hilal de Albuquerque (UFRJ), Monica Machado Cardoso (UFRJ) SPG06
O abuso sexual no espaço público: ensaio sobre a campanha digital #primeiroassedio
Este trabalho tem o objetivo de provocar uma reflexão acerca do papel do testemunho no sofrimento humano, especialmente em situações de abuso e/ou assédio sexual, a partir da análise da mobilização gerada pelo uso da hashtag #primeiroassedio. Para isso, são utilizadas duas metodologias distintas: debates teóricos sobre memória, testemunho e subjetividades (ARENDT, 1999; LEVI, 1988; RADSTONE, 2006), com base nos estudos sobre memórias mediadas no campo da antropologia digital (VAN DIJCK, 2008; MACHADO, 2017), e uma investigação empírica das representações sociais por meio de abordagem estrutural proposta por Jean Claude Abric (1994). Esta última tem por objetivo permitir uma análise empírica da mobilização digital #primeiroassedio, a partir do recorte de cinco postagens, datadas entre 2015 e 2016, que relatam casos de abuso/assédio sexual feminino cometido por familiares ou por pessoas muito próximas da vítima. Assim, pretende-se investigar os relatos online, para analisa-los à luz das teorias elencadas, com a finalidade de compreender os locais ético e simbólico do testemunho em contextos de violência sexual.
Carolina Stéphanie Rodrigues Gonçalves (UFSJ) ST34
Mães pela (a)d(i)versidade: "manipulação da informação social" por mães (heterossexuais) "informadas" sobre a homossexualidade de suas filhas e/ou filhos
O presente trabalho ocupa-se da "manipulação da informação social" (Goffman, 2004) pelas pessoas "informadas" (indivíduos que, segundo Goffman (2004), a princípio, não são estigmatizados socialmente, mas cuja situação especial de proximidade com o estigmatizado leva a se tornarem pessoas "compassivas" em relação a esse estigma). Especificamente, ocupar-nos-emos desse processo realizado por mães heterossexuais "informadas" sobre a homossexualidade de suas filhas e/ou filhos. O objetivo da investigação, então, é compreender e analisar como essas mães confeccionam seus próprios regimes de enunciabilidade quanto à homossexualidade de suas filhas e/ou filhos nos seus trânsitos sociais. Metodologicamente, servindo ao propósito de respondermos à seguinte pergunta: "como algumas mães, moradoras de uma cidade do interior do Estado de Minas Gerais, manipulam a informação social referente à homossexualidade de suas filhas e/ou filhos?", servir-nos-emos da prática da História Oral de Vida como concomitantemente um conjunto de procedimentos e uma fonte histórica do tempo presente.
Caroline Soares de Almeida (UFSC) ST29
Tramando redes: carreiras e circulação transnacional de futebolistas brasileiras
O panorama global que envolve o Futebol Feminino tem se transformado nos últimos anos. Os fluxos que orientam essas movimentações são efêmeros e dependem da manutenção das redes entre clubes, agentes e jogadoras de futebol. A partir de 2015, clubes e associações nacionais passaram a ampliar essas redes através do aumento nos quadros e nas competições dessa modalidade, em cumprimento ao artigo 23 do Estatuto da FIFA que obriga as confederações a promoverem ações em prol da igualdade de gênero no futebol. A proposta deste trabalho baseia-se no estudo etnográfico realizado a partir de um grupo de futebolistas de uma equipe do interior do estado de São Paulo, tendo como foco a análise dos fluxos que orientaram as movimentações dessas mulheres no panorama global no período de dois anos (2016/17). Para tanto, utilizo a concepção de Marilyn Strathern para pensar os alargamentos e as delimitações das redes de relações em que as jogadoras brasileiras estão inseridas. Ressalto, como elementos importantes na constituição dessa rede, os intermediários, as entidades regulamentadoras do futebol, o mediascape, os clubes e o ativismo de futebolistas.
Cauê Fraga Machado (UFRGS) ST02
Sobre ‘tudo que sempre existiu’: a re-existência quilombola da Serra do Evaristo/CE.
Em contraposição à ideia de que a ‘reminiscência quilombola’ está atrelada à ‘África’ e de que o étnico, nos processos de etnogênese, surge em geral do conflito entre diferentes grupos envolvendo interesses por recursos, o Povo do Evaristo se vale de outros equacionamentos para reativar a noção de quilombo como re-existência. Assim, os quilombolas da Serra do Evaristo/CE, definem e defendem sua existência a partir do que chamam de ‘provas’: i) o território que ocupam é um cemitério indígena e, ii) a permanência de tradições católicas ligadas a conformação da paisagem específica do quilombo. Participar do ser católico local, e remeter-se à descendência de indígenas, são, portanto, ‘prova que são quilombolas mesmo’. Essa articulação, pode ser feita a partir da noção nativa de que ‘tudo sempre existiu’, esse tudo fica por vezes ‘adormecido’ e pode ser ‘reacendido’ de acordo com diferentes acontecimentos. Nessa comunicação, pretendo estender tais ideias para além do contexto local, propondo um modo mais geral de pensar os ‘quilombos contemporâneos’, mediante noções como re-existência e reativação.
Cecília Bizerra Sousa (UFMG) ST22
Comunicação, direitos humanos e igualdade racial: experiências de mídia voltadas para a denúncia de violações de direitos humanos e enfrentamento ao racismo
Na imprensa brasileira, há pouquíssimas vozes especializadas em direitos humanos; menos ainda na reflexão e no debate da temática racial. Os grandes veículos geralmente não destacam profissionais para o assunto e, quando o fazem, é de forma enviesada e pouco profunda. Diante dessa ausência, vêm surgindo recentemente iniciativas de caráter independente, como a “Ponte Jornalismo”, organização formada por jornalistas independentes que tem como temas prioritários violência de estado, segurança pública, racismo e preconceito de gênero, e o "Alma Preta", agência de jornalismo, também de caráter independente, especializada na temática racial do Brasil. Assim, este artigo tem como objetivo reportar e analisar a experiência dos dois veículos, compreendendo os motivos e desafios de sua existência, bem como o contexto em que se insere o surgimento dessas iniciativas, que trazem em sua proposta não apenas o objetivo de explorar conteúdos pouco reverberados na mídia tradicional, mas também de experimentar novos processos e formatos de organizar a produção jornalística.
Celly Cook Inatomi (UNICAMP) ST19
A crítica possível ou a crítica necessária: o que faz a abordagem da mobilização do direito?
Diante do atual cenário de crise político-institucional no Brasil e em diversos países do mundo, é importante questionar as formas de mobilização que indivíduos, grupos e movimentos sociais tem utilizado para manter direitos já conquistados, lutar por novos direitos, ou transformar realidades sociais. Igualmente importante é questionar, agora no plano acadêmico, como se tem analisado essas mobilizações e como se tem olhado para o direito no cenário de crise, se como um instrumento possível de transformação social ou de opressão. Uma das abordagens mais recentes que tem nos ajudado nessa empreitada (porém não livre de críticas e desafios) é a abordagem da mobilização do direito, que tem por objetivo central compreender os diversos entendimentos e usos do direito por indivíduos, grupos e movimentos sociais, sustentando uma visão culturalista e ambivalente do direito, ou seja, de que ele serve tanto como instrumento de resistência quanto instrumento de opressão. Diante disso, o objetivo do paper é o de discutir como a mobilização do direito analisa o direito, de forma a pensar seu alcance teórico e os impactos políticos do tipo de crítica que os trabalhos no campo vêm desenvolvendo.
Cesar Kiraly (UFF) ST17
Ideias de Jeca Tatu: Monteiro Lobato como crítico de arte
Esta pesquisa concerne ao modo de percepção da crueldade política no livro Idéias de Jeca Tatu do Monteiro Lobato. A polaridade entre histrionia e intimismo serviria para pontuar os diferentes ânimos ao se falar do Brasil. Se, por um lado, o país precisa ser resolvido, de outro, ele carece é do entendimento obtido pela descrição. A intenção é tomar a política para além do Estado, mas sem a abandonar. A percepção impressionista da realidade, da experiência tida aqui, parece contar para a identificação da crueldade política aqui acontecida. Isso não impediria a existência de formas híbridas, mais acolhedoras ao quadro expandido da obra do Lobato. Ele espera, nesta fase inicial de sua obra, que o intimismo nos resolva os problemas, seja pela sociedade entendendo a si própria, de modo a vencer a sua dependência estrutural do Estado, ou pela produção de modos adequados de mostrar a nossa experiência. No Ideias, Lobato adota a estratégia de falar por este personagem conceitual, o Jeca. A dinâmica por ele escolhida é capaz de transfigurar a sua histrionia, em uma forma delicada de intimismo. Ao invés de falar em nome próprio, quem fala é o Jeca Tatu na qualidade de crítico de arte.
Célia da Graça Arribas (UFJF) ST37
Espiritismo, gênero e política: uma equação tensa
Proponho aqui uma reflexão sobre como algumas/uns intelectuais, médiuns e instituições espíritas têm articulado e (re)construído as visões espíritas sobre sexo, gênero e sexualidade, sobretudo num cenário político acirrado, cada vez mais conservador, que tem contribuído para a emergência de tensões e conflitos entre os/as espíritas. Compreendidas na esteira do contexto histórico de lutas pelo reconhecimento da diversidade sexual e de gênero e no entrecruzamento com os discursos e aparatos científicos e legais, as explicações espíritas vêm se adensado em termos de temas, posições, entendimentos e atores/atrizes, buscando responder às transformações culturais – principalmente por meio da linguagem dos direitos humanos –, ao mesmo tempo em que contribuem na reprodução das diferenciações de gênero e na hierarquização das sexualidades, típica do olhar tradicionalista.
Christian Edward Cyril Lynch (IESP-UERJ) ST28
Dilemas e limites do conservadorismo periférico: absolutismo ilustrado e liberalismo econômico na obra de José da Silva Lisboa, futuro Visconde de Cairu
As possibilidades e limites do conservadorismo ibero-americano encontram um momento exemplar no caso do Brasil joanino, em que a construção do Estado luso-brasileiro iniciada por dom João VI sofreu os constrangimentos decorrentes da aliança com a Grã-Bretanha contra Napoleão, que impunha, entre outras cláusulas, a de nação mais favorecida do ponto de vista alfandegário. A exigência de fazer o absolutismo ilustrado, no âmbito político, conviver com a defesa do liberalismo econômico encontrou sua obra paradigmática naquela de José da Silva Lisboa, futuro visconde de Cairu, que se tornou então o grande intelectual orgânico do regime joanino no Brasil. O modo como ele buscou conciliar fórmulas aparentemente contraditórias é exemplar dos dilemas ou ambiguidades do conservadorismo no contexto periférico do subcontinente.
Christina Gladys de Mingareli Nogueira (UFPE), Flávia Ferreira Pires (UFPB) ST16
Participação das crianças nos processos judiciais: reflexões antropológicas sobre sensibilidade jurídica
O trabalho aqui proposto visa contribuir com o campo de produção de conhecimento em relação ao diálogo crescente entre duas linhas de pesquisa e produção acadêmica da Antropologia: a Antropologia Jurídica e a Antropologia da Criança. A ideia é refletir criticamente acerca da noção de "Sensibilidade Jurídica", analisando como se processa o encontro, assimétrico e repleto de tensões, entre operadores da justiça e as crianças tuteladas pelo Estado, na cidade de João Pessoa, Paraíba. A ideia de estudo parte de experiências vividas também na condição de antropóloga de uma Organização Não Governamental (ONG) e atuando no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. Este trabalho, então, visa entender antropologicamente os efeitos socioculturais desse movimento a partir da ritualística das sessões, das narrativas e discursos produzidos, da investigação dos protocolos jurídicos, e da imersão no universo das crianças tuteladas. Desta forma, a etnografia das audiências tem sido uma estratégia de grande relevância no levantamento de dados, buscando compreender como ocorrem esses possíveis encontros entre agentes com posições sociais hierárquicas.
Cíntia Pinheiro Ribeiro de Souza (UFSC), Luís Felipe Guedes da Graça (UFSC) ST27
Competição intrapartidária nas eleições para a Câmara dos Deputados: em busca de respostas estratégicas dos partidos
Este artigo aborda o tema da competição intrapartidária nas eleições proporcionais de lista aberta. Embora a literatura espere que as regras eleitorais brasileiras incentivem a concorrência direta por votos entre correligionários, poucos são os esforços para mensurar os níveis dessa competição. Através de correlações de votos, por zonas eleitorais, discutimos os graus de sobreposição espacial das candidaturas nas eleições de 2014 e 2018. Encontramos variações nos níveis de competição intrapartidária que indicam diferentes estratégias de coordenação na seleção de candidatos. Essa variedade mostra que, além dos incentivos das regras eleitorais, as respostas estratégicas dos agentes a essas regras não devem ser negligenciadas ao tratar desse tema.
Claudia Cerqueira (CEBRAP) ST06
Brokerage Religioso, Resultado Político: Os Efeitos da Mobilização Eleitoral da Igreja Universal do Reino de Deus
Este trabalho investiga o poder de mobilização eleitoral da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) a partir do brokerage político realizado em seus templos. Apesar da crescente influência da religião nas democracias contemporâneas, ainda há poucos estudos sobre o tema. O número de católicos no Brasil vem diminuindo devido à rápida expansão do Pentecostalismo. Seu avanço demográfico reverbera em sua presença política. Assumindo que as igrejas são comunidades onde os membros interagem, afetando seu comportamento político, que as igrejas definem estrategicamente seus candidatos, e que os pastores atuam como brokers, argumento que as igrejas desempenham um papel fundamental na mobilização dos eleitores. Para testar o efeito dos pastores como brokers, investigo a influência eleitoral da IURD nos municípios de São Paulo e Rio de Janeiro. Uma base de dados inédita, contendo a geolocalização dos templos da IURD e dos locais de votação, foi utilizada para estimar o efeito do brokerage iurdiano no voteshare do PRB (2008 a 2018). Os resultados indicam que a presença da igreja influencia positivamente a votação do PRB, reforçando a ideia sobre a atuação das igrejas como agentes políticos.
Claudia Monteiro Fernandes (UFBA) ST36
Desigualdades raciais e de gênero entre docentes de ensino superior no Brasil: um debate sobre descolonialidade e reconhecimento
A proposta deste estudo é analisar a mudança recente no perfil de docentes universitários brasileiros tendo em conta o debate em torno das políticas públicas de ampliação do acesso à educação em geral e de ação afirmativa para ingresso na educação superior pública, e a importância da representatividade e do reconhecimento (HONNETH e FRASER, 2003) para que o acesso possa se tornar sinônimo de permanência e conclusão. A universidade brasileira reproduz um modelo tradicional de formação de elites, assim como profundas desigualdades raciais, de gênero e regionais historicamente construídas. A afirmação da identidade e respeito à diferença são resultados esperados com a maior presença de docentes negras e negros na educação superior no País. As mudanças simbólicas podem influenciar mudanças estruturais e epistemológicas no médio prazo. Serão utilizados dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD contínua/IBGE) e do Censo da Educação Superior do INEP/MEC, assim como o Índice de concentração educacional proposto por Hasenbalg (2005[1979]) para analisar as mudanças recentes, entre 2012 e 2017, no perfil racial e de gênero das/dos docentes das universidades brasileiras.
Claudio de Carvalho Silveira (UERJ) ST14
Considerações sobre o estudo das Forças Armadas no Brasil
O trabalho visa fazer um mapeamento inicial e apresentar algumas questões analíticas sobre o debate acadêmico e a institucionalização da área de segurança internacional e defesa no contexto brasileiro, enfocando a discussão sobre o estudo das Forças Armadas (FFAA) e suas relações com o Estado e a sociedade a partir do processo de democratização até os dias recentes. Neste sentido, concentra-se nas discussões sobre os diferentes momentos que representam a evolução e suas descontinuidades nas ciências sociais sobre conceitos e categorias para pensar a missão, preparo e emprego da FFAA nas suas atribuições tradicionais e nas novas atribuições no âmbito da realidade brasileira e latino-americana. Consideramos que este é um tipo de estudo relevante para reflexão histórica recente sobre os temas da política de defesa, política externa e política de segurança pública, no tocante ao dispositivo constitucional que justifica o uso de militares e para defesa da pátria, missões de paz e garantia da lei e da ordem.
Cláudio André de Souza (UNILAB) ST24
“Chegou a hora de protestar”: um estudo das manifestações ocorridas na Região Metropolitana de Salvador (2017-2019)
Esta pesquisa visa compreender os protestos na Região Metropolitana de Salvador (RMS) no período 2017-2019, totalizando cerca de 400 manifestações realizadas até maio deste ano. A pesquisa tem como objetivo discutir a natureza e o perfil dos protestos, seus principais atores políticos, demandas, relações com o espaço, assim como as interações envolvendo o sistema político (governos, instituições e partidos). O trabalho analisa um conjunto de reflexões sobre as teorias dos movimentos sociais, bem como a literatura interdisciplinar sobre protestos, partindo do pressuposto de que há uma centralidade do processo interacional entre movimentos sociais e o sistema político. A metodologia ancorada no mapeamento dos protestos ocorridos na RMS se deu através da cobertura da imprensa (jornais, sites, blogs), a presença nos protestos e o contato com lideranças políticas pelas redes sociais, sendo possível ter cada protesto como unidade de análise. Este “mapa interativo” dos ativismos presentes na capital baiana refuta a noção de “apatia” e passividade dos cidadãos comuns e aponta para um luta intensa por direitos, considerando que ainda vivemos uma disputa pela construção democrática no país.
Cláudio Roberto de Jesus (UFRN), Lindijane de Souza Bento Almeida (UFRN), Raquel Maria da Costa Silveira (UFRN) ST43
Crise do sistema prisional ou política de encarceramento? notas sobre a Segurança Pública no Rio Grande do Norte
O presente trabalho objetiva refletir sobre a atual política de segurança pública no Rio Grande do Norte, em especial, no que tange ao papel do Estado na efetivação dos direitos e garantias fundamentais da população encarcerada. Considerou-se o aprofundamento da crise do sistema prisional no estado e as mudanças decorrentes desta enquanto ações que devem ser efetivas para a redução da incidência delitiva e as transformações das dinâmicas e grupos criminosos que atuam no recorte estudado. Diante desse contexto, realiza-se uma análise da engenharia institucional da política e de seus efeitos sobre as dinâmicas delitivas. Durante a pesquisa, além da pesquisa documental e de entrevistas com os gestores, foram acompanhadas as audiências de custódia, observando-se as práticas, os atores envolvidos, as situações recorrentes e excepcionais. Foram realizados contatos com flagranteados e analisadas as suas reações frente ao poder instituído, bem como acerca da atuação dos agentes ligados ao poder público, tomando como referência o debate proposto por Foucault (1987) em relação ao poder e seu conjunto de mecanismos.
Cleiton Machado Maia (UERJ) ST39
A entrega de moções a cidadãos ciganos na Câmara Municipal do Rio de Janeiro: ciganos, religião, tradição e espaço público
No presente texto apresento uma cerimônia que homenageou cidadãos ciganos na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. O evento foi objeto de minha etnografia, análise e problematização. A cerimônia foi à entrega de moções a cinquenta e três cidadãos ciganos, sendo vinte e três ciganas e dezesseis ciganos, além de uma associação cigana, duas companhias de música e dança cigana e uma rádio cigana. É com essa etnografia, que pretendo analisar as redes acionadas por esses ciganos em suas performances e discursos, bem como as tensões ou controvérsias do cenário cigano que podem ser pensadas através da atuação desses ciganos nas homenagens a que estão envolvidos. Através da apresentação desse evento pretendo mostrar como as diferentes formas de representações ciganas na cidade estão atravessadas pelas suas mediações nas redes da cultura, política e religião. Evidencio no evento os homenageados são ciganos de alma, ciganos de espirito e poucos representantes entre os ciganos de etnia, quero demonstrar como se constitui diferentes formas (AVTAR, 2008) de ser cigano por meio de articulações locais diferentes daquelas presentadas na homenagem.
Cleyton Henrique Gerhardt (UFRJ), Lair Medeiros de Araújo (UFRGS) ST07
Na zona de sacrifício, a riqueza e o lixo: aterros, lixões, minas e suas alternativas infernais
O artigo trata dos conflitos e injustiças ambientais ligadas à mineração de rochas e implantação de um lixão/aterro em Santa Tecla, Gravataí/RS. O trabalho visa analisar as relações de poder e a atuação de empresas e poder público na condução de ambas as atividades. A partir de um enfoque etnográfico baseado em trabalho de campo e pesquisa documental, o estudo mostra como Santa Tecla insere-se num contexto de produção de “zonas de sacrifício” onde, a partir da imposição de "alternativas infernais" aos moradores, minas e lixo unem num mesmo local as duas pontas do processo de produção capitalista. Como resultado tem-se não só a baixa qualidade de vida, mas a produção deste rebaixamento, com a população exposta a explosões, poluição da água, doenças e o estigma de morar ao lado de um lixão e seus odores e chorumes lançados no ar, terra e rios. Já quem vive do lixo (catadores), nota-se a contradição de um Estado que primeiro cria uma situação limite para, após atrair quem vive às suas margens, atuar com violência excluindo-os do usufruto do que ele próprio gerou, mas que agora é visto como "perigoso" justamente para quem sua ação atraiu, os quais são tratados como “invasores”
Córa Hisae Monteiro da Silva Hagino (FCRB), Fabio José Kerche Nunes (FCRB) ST19
O Ministério Público na América Latina: autonomia e discricionariedade
O artigo discutirá o grau de independência do Ministério Público em diversos países da América Latina. O objetivo é avaliar se após períodos autoritários, esses órgãos, antes subordinados ao governo, ampliaram sua autonomia na democratização, como aconteceu no Brasil e na Itália. Apontaremos as diferenças e semelhanças institucionais destes órgãos, seus mecanismos de accountability e o grau da autonomia e da discricionariedade de facto e de jure de seus agentes. Nossa hipótese é a de que embora a autonomia seja prevista legalmente em países da AL (Argentina, Chile, México, Paraguai e Peru), mecanismos institucionais asseguram a possibilidade de ingerências políticas sobre esses órgãos. Ou seja, a independência é de jure, mas não necessariamente de facto. Nesse sentido, buscaremos apontar a partir da existência de determinados mecanismos institucionais (forma de indicação do procurador-geral, demissão, princípio da legalidade ou oportunidade etc.) a existência de uma gradação, sendo o Ministério Público brasileiro a promotoria mais independente da América Latina e os seus integrantes os que possuem maior grau de autonomia e discricionariedade dentre os pares latino americanos.
Cristhian Fernando Caje Rodriguez (UFSC) ST29
Alvorada do Remo: (Re)Pensando a Memória e a Identidade do Clube de Regatas Riachuelo a partir das narrativas imagéticas do seu Acervo Fotográfico.
Em Florianópolis, no ano de 1915, com a fundação do Clube Náutico Riachuelo, o Remo adquiriria sua característica de prática física salutar ao homem. Entre as transformações urbanas que ocorriam na cidade, que visavam higienizar e dar ares modernos aos seus habitantes, o Remo e sua prática seriam incentivados. Durante as regatas os remadores se tornavam verdadeiros heróis ao exibirem sua força, beleza e disciplina. Assim, esboçar a presença do Remo e as suas relações com um corpo, a cidade e com as elites políticas da capital catarinense, ao longo de um século, é um dos principais objetivos desta pesquisa. Para tal, analisamos o acervo fotográfico do Clube, que por motivos da comemoração do seu centenário, em 2015, passou por um processo de classificação, musealização e exposição das imagens. A narrativa imagética construída nos ajuda a pensar as transformações na identidade destes sujeitos e deste esporte, assim como, a partir da temporalização que as imagens fazem, podemos compreender como a memória emerge se tenciona, se fragmenta e se recria.
Cristiane Paião Macedo (UNICAMP) ST07
Histórias flutuantes: a vida depois das hidrelétricas do rio Madeira e da destruição do patrimônio cultural e ambiental em Porto Velho-RO
Em Histórias flutuantes reúno narrativas que atualizam os processos de formação do município de Porto Velho-RO e os debates que envolvem os seus patrimônios históricos, culturais e ambientais. O plano de fundo é a enchente que assolou a cidade e os seus arredores em 2013-2014, assim como o debate que envolve a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM), potencializado, sobretudo, pela recente construção de duas usinas hidrelétricas no rio Madeira: Santo Antônio e Jirau. O objetivo é analisar de que forma, com que sentidos e significados é pensada e (re)significada a questão da identidade cultural dos porto-velhenses, assim como os sentidos e significados simbólicos que atribuem aos seus patrimônios. Nesse sentido, a pesquisa se insere na trama das memórias e trajetórias de vida que flutuam no tempo e no espaço pelas águas do rio, pelos trilhos da EFMM e desembocam nas cachoeiras como espaços fantasmagóricos da paisagem, fortemente permeados pelos constrangimentos trazidos pelas chamadas grandes obras da Amazônia.
Cristiane Vilma de Melo (UFSCar) SPG33
Body modification: negociações acerca de uma estética ilícita
A pesquisa em tela buscou compreender como xs agentes das práticas de body modification entendem a ilegalidade atribuída a essa estética corporal. Partindo da constatação de que os corpos passam por processos de normalização tanto pelo discurso biomédico quanto pelo jurídico, evidenciei a percepção de modificadores e modificadxs com a proposta de uma sociologia do corpo modificado. Para tanto, foi realizada pesquisa de natureza qualitativa focalizando os eventos de suspensão corporal e entrevistas com os profissionais da modificação e seus adeptxs. Concluiu- se que os processos normalizadores delimitam, para além do aspecto de detenção de um saber, as existências e estéticas corporais passiveis de serem produzidas.
Cristiano Bento da Silva (UFPA), Sonia Maria Simoes Barbosa Magalhães Santos (UFPA) ST07
Memórias que não afundam: a interrelação entre dois Projetos de Grande Escala a partir de uma leitura ribeirinha
O presente trabalho analisa como as memórias a respeito da expropriação decorrente da construção da Usina Hidrelétrica de Tucuruí mediam a compreensão dos ribeirinhos/as da vila Santa Teresinha do Tauiri (município de Itupiranga, região sudeste do estado do Pará, Amazônia Oriental) acerca de outro Projeto de Grande Escala previsto para ser construído em seu território. Trata-se da hidrovia Araguaia – Tocantins, cuja efetivação requer a implosão de pedras (para os ribeirinhos são pontos de pesca) ao longo do curso do rio Tocantins. A análise se deu a partir de levantamentos bibliográficos sobre o tema da memória, de leituras conceituais acerca de povos e comunidades tradicionais e pesquisa de campo iniciada em outubro de 2017 e ainda em curso. Um aspecto em particular absorve a nossa atenção: as memórias da expropriação sofrida em decorrência da construção da barragem de Tucuruí, ainda estão em efervescência. Elas têm sido a base da forma como eles/elas leem os impactos da hidrovia em seu mundo, de como consideram que devam ser indenizados/as e da maneira como pensam o futuro no território, considerando o contexto presente.
Daniel Araujo de Azevedo (UFMG), Rafaelle Lopes Souza (UFMG) SPG32
A perspectiva das empresas na contratação de egressos do sistema prisional
Este artigo analisa a percepção e os desafios enfrentados pelas empresas que contrataram egressos do sistema prisional em Belo Horizonte-MG por meio do Projeto Regresso em Minas Gerais, executado em parceria com Minas Pela Paz e Programa de Inclusão Social de Egressos do Sistema Prisional (PRESPMG). Os resultados apontam que as maiores dificuldades enfrentadas pelas empresas se referem aos efeitos do restante do cumprimento pena, embora não haja diferença de tratamento entre egressos contratados via Projeto Regresso e demais funcionários segundo entrevistados.
Daniel Pereira Andrade (FGV-SP) ST09
Democracia e neoliberalismo híbrido no Brasil: rodadas e deslocamentos
Por meio do conceito de neoliberalismo híbrido (Ong, 2007;Peck, 2012), que reconhece governamentalidades heterogêneas em relações dinâmicas e variadas na construção singular dos Estados, discuto como as rodadas de neoliberalização no Brasil se relacionaram com a racionalidade política (social)democrática presente na Constituição de 1988 e em sua institucionalização. São três rodadas: 1) 1990-1998: desmonte parcial do Estado desenvolvimentista e reformas constitucionais para viabilizar a entrada da lógica neoliberal;2) 1998-2014: reforma gerencial do Estado e construção de fóruns de participação e políticas sociais híbridas;3) 2015-2019: governo pela crise, radicalização das reformas, ataque à democracia e às políticas sociais e ampliação da convergência do neoliberalismo com racionalidades autoritárias (reconhecendo que parte dessas lógicas autoritárias já estavam presentes na República Nova, como a guerra militar ao inimigo interno - drogas – aliada à lógica institucional eugenista de restrição à cidadania). Conclui-se que a relação entre neoliberalismo e democracia é múltipla, com "convergências perversas" (Dagnino, 2004), tensões, resistências, esvaziamentos e desmontes radicais
Daniel Sebastián Granda Henao (PUC Rio) SPG25
A guerra e a autonomia desde a perspectiva zapatista: uma compreensão outra da ‘segurança’
Neste trabalho apresento um resumo da minha tese de doutorado. Desde uma posição como acadêmico ativista decolonial, junto ao sentirpensar das comunidades em resistência em Chiapas, exploro os significados da guerra e a autonomia na vida política zapatista como um binômio que pode ajudar na compreensão do que pode significar a 'segurança'. Para realizar este trabalho dediquei seis meses em campo, na cidade de San Cristóbal de las Casas (Chiapas, México) onde pude realizar um trabalho de etnografia multisituada, acompanhando o movimento e as redes do neo-zapatismo. Em primeiro lugar, faço uma revisão da literatura abordando as disputas disciplinares sobre a categoria 'segurança', o significado e as práticas conexas dessa categoria analítica no campo das Relações Internacionais (RI). Prossigo detalhando as interpretações que as comunidades e as redes fazem sobre o tipo de guerra(s) que afrontam no seu dia após dia, assim como as propostas encarnadas para sair dessa(s) guerras pela prática da autonomia zapatista. Por último, reflito sobre os aprendizados dessa experiência ética-epistémica-política para falar sobre a 'segurança' em termos decoloniais.
Daniela Costanzo de Assis Pereira (USP) ST12
Os empreiteiros e o ensaio republicano de Dilma Rousseff
Este trabalho faz parte do esforço de um grupo para entender e analisar o deslocamento político do empresariado durante o governo Dilma Rousseff. Neste artigo, trabalhamos com o caso do setor das empreiteiras, argumentando que a ex-presidenta Dilma Rousseff implementou medidas republicanas que buscaram alterar características históricas e essenciais do setor, como o funcionamento em oligopólios e cartéis, o acesso a informações privilegiadas, a participação em licitações marcadas e o pagamento de propinas na Petrobras. A reação dos empreiteiros a essas medidas, antes do início da Operação Lava Jato, mostra que a imagem de Dilma entre os empresários pode ter sido afetada ainda antes do início da crise política em seu primeiro mandato. Para execução do trabalho analisamos as medidas do governo Dilma para o setor, os depoimentos dos empreiteiros fornecidos para a Operação Lava Jato e entrevistas com pessoas ligados ao setor.
Daniela Leandro Rezende (UFV), Camila Olídia Teixeira Oliveira (UFV), Luciana Beatriz Bastos Ávila (UFSB) ST37
Movimentos anti-gênero no Brasil contemporâneo: análise dos discursos de legisladores/as, 2014-2017
O trabalho tem como objeto os discursos legislativos sobre "ideologia de gênero". Como metodologia, utilizamos dados da plataforma GoogleTrends e a linguística de corpus. O recurso à plataforma GoogleTrends permitiu verificar os marcos de emergência de tais movimentos, que se deram durante os debates sobre os planos de educação (2015), tendo ganhado força também quando associados à vinda de Judith Butler (2017). Por meio da metodologia de linguística de corpus, analisamos 57 discursos sobre proferidos por deputados/as, 2014 e 2017. A investigação evidenciou três argumentos: rejeição à "ideologia de gênero"; defesa do sexo biológico e reforço do seu caráter "natural", associado à reprodução humana; preservação da família tradicional (ou "natural") e direitos das crianças (que estariam ameaçadas em arranjos familiares distintos). Destaca-se a convergência entre tais argumentos e o conteúdo de movimentos anti-gênero em outros países do mundo, bem como a estratégia de pânico moral, que associa a garantia de direitos de mulheres e populações LGBT à destruição da família e à consequente destruição da sociedade, o que evidencia o caráter transnacional de tais movimentos.
Daniela Rocha Drummond (UFPR), Carla Preciosa Braga Cerqueira (UM) ST22
A quarta onda do Movimento Feminista na imprensa portuguesa e brasileira
O jornalismo é local de debate de diversos temas e um campo legitimado na esfera pública. Tão importante como o agendamento das temáticas é o enquadramento que lhes é dado. Neste sentido, a pesquisa sobre a cobertura noticiosa do ativismo feminista é fundamental para a compreensão da relação pública do movimento com a sociedade, assim como para o entendimento da forma como suas pautas, atrizes, caminhos, ganhos passados e expectativas para o futuro são apresentados. Tanto mais, em um contexto internacional de ameaça às conquistas feministas, nomeadamente através de pautas conservadoras bem visíveis em contextos geográficos diversos como é o caso do Brasil e de Portugal. Nesta comunicação analisamos como se constroem atualmente as representações simbólicas do movimento feminista em dois jornais de referência destes países lusófonos: Público e Folha de São Paulo. Analisamos como as peças noticiosas que abordam datas marcantes, nomeadamente efemérides e temas que estão em pauta, podem funcionar como alavancas jornalísticas. Para tal, recorremos a uma pesquisa dos dois jornais em formato digital recorrendo à palavra-chave feminista.
Daniela Xavier Haj Mussi (USP) ST17
Antonio Gramsci nas interpretações do Brasil: hegemonia, democracia e revolução passiva
A comunicação tem por objetivo explorar os “usos” do pensamento de Antonio Gramsci por intérpretes da realidade brasileira a partir de meados dos anos 1960 até o início da década 2010. Trata-se de uma pesquisa de história do pensamento político voltada para o processo particular de utilização de expressões, noções e conceitos gramscianos (tais como hegemonia, revolução passiva, transformismo e nacional-popular) por intelectuais brasileiras/os em tentativas de explicar a formação e desenvolvimento nacional, as relações sociais, políticas e culturais por aqui estabelecidas, bem como os impasses de nossa democracia contemporânea.
Daniele Ribeiro Alves (UFC), Antonio Cristian Saraiva Paiva (UFC) ST37
Isabel Maria, a “santa protetora das mulheres espancadas”: narrativas de mulheres devotas e seus modos de vivenciar a violência doméstica no contexto do catolicismo popular.
Esta investigação discute como a questão da violência doméstica passa a ser assimilada em determinadas formas de devoção e de compreensão de santidade feminina na contemporaneidade, no nosso caso, no contexto do catolicismo popular. Nesse sentido, o presente estudo toma como recorte empírico Isabel Maria, que, em 1926, na cidade de Guaraciaba do Norte, no interior do Ceará, foi assassinada pelo marido, que ficou enciumado com o corte de cabelo da esposa, tornando-se "santa popular". Desse modo, tida, por longos anos, como "santa milagreira" passa a ser conhecida, na atualidade, como "santa protetora das mulheres espancadas". Metodologicamente, chamamos atenção para entender as narrativas biográficas de mulheres devotas e seus modos de vivenciar a violência doméstica, no ritual de devoção a personagem em questão. Observamos, contudo, que atos de agressão e/ou opressões sofridas parecem ser corporificado nos relatos de fé das devotas, assegurando a ideia de poder/submissão do feminino. Além disso, a prece é a suspensão do silêncio e a visibilidade da violência doméstica. Configurando-se, assim, uma "capacidade de agir", criada e recriada por relações de subordinação específica.
Danielle Ferreira Medeiro da Silva de Araújo (UFSB), Altemar Felberg (UFSB) ST16
Pluralidades e subjetividades na relação infância e trabalho: um olhar sobre a perspectiva indígena pataxó
O presente trabalho trata do tema infância e trabalho como uma construção social que se caracteriza por uma pluralidade de concepções de mundo. A observação dos valores diversos que envolvem a relação entre infância e trabalho têm sido evidenciadas na execução do Projeto Filhos da Terra – Diagnóstico do Trabalho Infantil no município de Porto Seguro – 2017 e 2018, executado pelo Instituto Mãe Terra e financiado pela Fundação Itaú Social. O Projeto Filhos da Terra tem como objetivo mapear os principais tipos de trabalho desempenhados por crianças e adolescentes no município, e tem abrangência na zona urbana, rural e indígena. A apresentação deste Projeto objetiva refletir como as populações indígenas Pataxó se posicionam sobre a temática e como constroem a noção de infância. Serão discutidos pontos sobre as pluralidades de infância e como a questão indígena se coloca como um ponto de complexidade quando diante de uma norma legal universal e proibitiva do trabalho infantil. A metodologia do trabalho baseia-se em pesquisa bibliográfica, com abordagem qualitativa, além dos dados institucionais e empíricos referentes ao projeto.
Danielle Tega (UNICAMP) ST09
Aborto legal: uma dívida das democracias
Este trabalho examina as relações entre democracia e desigualdades a partir de documentários dirigidos por cineastas ou grupos feministas do Brasil e da Argentina que apresentam a clandestinidade do aborto utilizando testemunhos de mulheres que o praticaram. Parte-se do pressuposto que tais filmes interpelam a democracia através de múltiplas camadas ao interseccionar relações de gênero, classe e étnico-raciais. Nesse sentido, possibilitam observar os diálogos entre feminismos e democracia a partir não apenas das lutas institucionais e jurídicas, mas especialmente de ações que ocorrem às margens e cujos impactos sociais e culturais são pouco explorados em pesquisas sobre o tema. Os documentários que fazem uso dos testemunhos evidenciam os limites das democracias ao colocar em cena que as práticas clandestinas não ficaram restritas às ditaduras; ao denunciar as desigualdades em relação às mulheres atingidas no tocante à classe e cor; ao romper fronteiras que dividem o público e o privado nas democracias representativas liberais; e ao expor corpos, sensações e emoções que desafiam a própria clandestinidade do aborto, produzindo novas formas estéticas e políticas sobre o vivido.
Danusa Marques (UnB) ST09
Carreiras Políticas e desigualdades no Brasil: elementos para uma crítica feminista do campo político
O objetivo deste trabalho é discutir os deslocamentos que a leitura feminista gera nas questões de pesquisa sobre as carreiras políticas, área de investigação que dialoga com campos distintos da Ciência Política (os estudos da sociologia política e do campo de instituições políticas, além de outras subáreas, como representação política e estudos sobre a democracia), e traz para o entendimento dos problemas de pesquisa, das metodologias e das próprias conclusões relacionadas ao objeto de estudo das carreiras. É um trabalho de análise da produção da área, com um objetivo reflexivo sobre a produção sobre carreiras que vem sendo desenvolvida nos últimos anos por meio de uma crítica feminista.
Dayse de Paula Marques da Silva (UERJ) ST34
Mudanças na legislação brasileira, gênero e ritmo cultural
O projeto de pesquisa Mercado de trabalho e políticas de gênero e etnia: em busca de um diálogo no campo dos direitos humanos, realizada na Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) tem como desdobramento o oferecimento de cursos de extensão para profissionais da área da assistência social na cidade do Rio de Janeiro. Os temas abordados nos cursos de curta duração são as políticas públicas de gênero e etnia por demanda da gestão em capacitar as equipes nestas políticas. Os programas da Política Nacional da Assistência Social (PNAS) têm uma estreita aproximação com a ação familiar. As iniciativas do Estado nesta perspectiva tendem a refletir as controvérsias que as mudanças na legislação brasileira referente a família e aos direitos sociais provocaram na opinião pública. Os papéis de gênero, os lugares dos atores no núcleo familiar têm sido impactados por novos valores e condutas. Muitos profissionais ainda vivem os impasses que as suas referências culturais provocam no atendimento diário de casos de violência doméstica, intra-familiar, de gênero, incluindo as demandas da diversidade sexual que surgem com mais frequência nos equipamentos.
Debora Maciel (UNIFESP) ST24
O confronto pela regulação do protesto entre arenas públicas e institucionais: coalizões lei e ordem e de direitos civis (2013-2016)
O paper analisa a formação de redes de direitos civis em reação à políticas de controle lei e ordem. Os estudos sobre ciclos de protesto e repressão abordam a interação entre movimentos sociais, protesto e Estado na chave das oportunidades e ameaças políticas. Ambos deixam à margem a investigação sobre a circulação de atores entre redes sociais e instituições políticas e judiciais, bem como as alianças entre atores não estatais e estatais. O argumento é o de que o efeito tiro pela culatra, gerado pela violência policial em junho de 2013, foi decisivo tanto para a massificação do protesto quanto para a expansão do conflito entre manifestantes e polícia nas ruas para as arenas pública e institucional. A disputa pela regulação do protesto tornou-se parte do ciclo de confronto 2013-2016 trazendo ao debate público brasileiro recente o problema público do controle do protesto nas democracias contemporâneas. Baseado na combinação de Análise de Evento de Protesto e de Redes, o paper apresenta o mapeamento de redes eventos-atores-arenas e os mecanismos relacionais de formação de coalizões que conectam política de protesto e política institucional.
Debora Messenberg Guimarães (UnB) ST09
Somos todos empreendedores? O neoliberalismo como modelo de subjetivação da direita brasileira
Desde de 2015 assistimos, no Brasil, ao recrudescimento de grandes manifestações de cunho ideológico conservador, alinhado ao que convencionalmente se define em termos políticos como pensamento de direita. A atuação desses manifestantes pautou-se em enquadramentos elaborados pelos formadores de opinião da direita brasileira, os quais são reconhecidos como emissores legitimados pelo meio social receptor, como agentes com grande competência interpretativa da realidade e acesso privilegiado às informações consideradas relevantes. Para fins deste trabalho, focar-se-á a discussão nos principais enquadramentos elaborados pelos mais influentes formadores de opinião dos manifestantes de direita brasileiros, no tocante às ideias-força relativas ao campo semântico “princípios neoliberais” e a sua reflexividade no discurso dos manifestantes de 2015. Os princípios neoliberais são referências econômica, política e moral a embasar o discurso dos formadores de opinião da direita e se reproduzem fartamente no discurso dos manifestantes de 2015. Indicam que o neoliberalismo não se apresenta apenas como uma política econômica, mas é, nas últimas décadas, a “razão de mundo” hegemônica.
Deiziane Pinheiro Aguiar (UFC), Irlena Maria Malheiros da Costa (UFC) ST16
A configuração socioespacial das guerras e suas fronteiras simbólicas: o ponto de vista das crianças do Serviluz (Fortaleza – CE)
Este paper analisa o processo de segmentação socioespacial de uma favela à beira-mar na perspectiva das crianças moradoras. Os problemas de violência e conflitualidade entre territorialidades inimigas ligadas a lutas de facções armadas afetam a vida social das crianças residentes de forma decisiva, influenciando os modos de existência delas e suas territorialidades infantis. Buscamos explorar as concepções imaginárias das crianças, bem como suas reflexões e relatos sobre como aprenderam a lidar com as guerras na favela e as relações de conflito que se espacializam, influenciam e manipulam suas experiências enquanto sujeitos em seus espaços de moradia e sociabilidade. A pesquisa foi realizada na favela Serviluz – Fortaleza, através de conversas informais, rodas de conversação, mas também por meio de técnicas mais lúdicas e atrativas para elas, por exemplo, desenhos livres e temáticos, e brincadeiras. Brincadeiras, interações e atributos construídos pelas crianças estão estreitamente ligados às práticas de segmentaridade dos adultos, numa rede de correlações, onde a brincadeira e a diversão se sobressaem diante das atribuições negativas das locações estigmatizadas onde elas se dão.
Delia Maria Dutra da Silveira Margalef (UDELAR - IPEA), Andre Rego Viana (IPEA) ST23
A midiatização das migrações internacionais e do refúgio no Brasil entre 2007 e 2018
A presente pesquisa – ainda em andamento no âmbito do IPEA, busca avançar na compreensão de como o discurso midiático configura e se apropria da presença dos migrantes e refugiados no Brasil durante a última década. Os meios de comunicação, como operadores de sentidos, estão presentes direta e indiretamente na tomada de decisões dos governos nas instancias micro e macrossociais. Eis a importância de entender o lugar de fala, isto é, o discurso e as operações discursivas propostas como agendamento. Portanto, a investigação se sustenta sobre dois movimentos metodológicos interligados e complementários: um orientado pela análise de conteúdo e outro pela análise de discurso, sempre desde uma perspectiva sociológica-compreensiva. Interessa destacar as relações entre os agentes do campo midiático e dos outros campos (econômico, político, jurídico …), porque nelas se configuram as estratégias e operadores discursivos dos quais se serve a mídia para construir tal informação. O campo midiático como função simbólica, informação e de agendamento sobre migração/refúgio.
Delmo de Oliveira Torres Arguelhes (UNIEURO) ST14
A urgência da leitura: Da guerra, de Carl von Clausewitz, no bloco de notas de Vladimir Lênin
A leitura da obra Da guerra (1832), de Carl von Clausewitz, feita por Vladmir Lênin em 1915. Durante o exílio na Suíça, Lênin leu, de forma agressiva e urgente, diversos autores para compreender o mundo à volta e como guia de ação. Uma das obras lidas foi justamente Da guerra. Os cadernos de Lênin sobre Clausewitz foram publicados em Paris (1945), logo após o fim do conflito. Assim, utilizando a hermenêutica de Hans-Georg Gadamer e das metodologias da História das Ideias, propomos uma leitura profunda tanto da compreensão atingida por Lênin, quanto da ressignificação feita por ele do texto clássico.
Denise Gomes Marinho (UERJ) ST15
Sobre a memória e suas imagens: marcha de mulheres negras na praia de Copacabana, Rio de Janeiro
O presente trabalho tem por finalidade refletir sobre o conjunto de imagens fotográficas geradas pela Marcha de Mulheres Negras na praia de Copacabana, zona sul, da cidade do Rio de Janeiro, a partir de 2016. O mar, o atlântico, as ondas invocam registros de memória marcados na ancestralidade e pela afro diáspora. Como os corpos negros se percebem e são percebidos, em uma estética que invoca os sentidos nos levando a novas narrativas visuais que vão além da estética. O registro fotográfico guarda memórias de episódios de um momento histórico e revela demandas sociais do lugar social que a mulher negra reivindica. Neste sentido, buscamos buscamos neste trabalho compreender duas questões: 1) em que medida a ocupação das mulheres negras nas ruas da cidade e de um determinado território nos permitem compreender a presença de pessoas negras não apenas como fotografados, mas construindo suas próprias imagens e 2) Quais são os impactos do conjunto/fluxo de imagem dessas mulheres na construção de novos campos de pesquisa? PALAVRA CHAVE: mulheres negras, copacabana, fotografia
Denise Moraes Pimenta (USP) ST33
"No Brasil, vocês têm cultura como a gente?": Desafios antropológicos frente a disputa de narrativas entre “o feminismo” e “a tradição” em torno das Sociedades Secretas das Mulheres (Bondo Society) na Serra Leoa
Recentemente, concluí meu doutoramento, trabalho etnográfico que focou nas narrativas femininas sobre a epidemia do ebola na Serra Leoa. Tendo vivido no país por 9 meses,transitei entre diversas comunidades e grupos de mulheres. Em busca das narrativas femininas sobre o ebola, deparei-me com dois grupos distintos de mulheres. Percebi atritos entre as serra-leonenses ativistas feministas e àquelas que defendem a tradição da circuncisão feminina dentro das chamadas "Sociedades Secretas das Mulheres". Por um lado, as ativistas "anti-Female Genital Mutilation" entendem a prática como uma agressão à mulher, colocando-a em vulnerabilidade; já as mulheres que são membros da "Bondo Society" defendem sua preservação na medida em que representa a tradição do país. A discussão é polêmica e coloca a própria antropologia em uma delicada situação. Tendo o relativismo cultural como um de seus sustentáculos, como se porta a disciplina antropológica diante do embate entre "a tradição" e "o feminismo"? Como lidar com a questão "cultura" versus "direitos humanos"?
Dercideo Soares Ferreira (UFG) ST25
A profissionalização de músicos eruditos: características e aspectos recorrentes a trajetória profissional de músicos clássicos
A profissionalização de músicos eruditos é um artigo que trata da profissionalização musical, mostrando características e aspectos recorrentes a trajetória de vida e profissional dos músicos clássicos. A metodologia de análise consiste no levantamento bibliográfico pertinente a temática dos músicos eruditos, com utilização de base de dados governamentais para analisar os postos de trabalho des/ocupados por esses trabalhadores, com o mapeamento dos dados sociodemográficos dos músicos eruditos que trabalham no Brasil. Ainda como fonte de análise é empregado o uso de 58 entrevistas de músicos eruditos brasileiros. Os músicos eruditos clássicos em geral na sua infância são influenciados ou por parentes próximos, que são músicos, ou pela igreja, ou por amigos. Em geral esses profissionais começam os estudos no campo da música entre os 4 a 8 anos, em sua grande maioria os profissionais da música erudita possuem formação de nível superior. É a universidade, o ensino superior, é para esses profissionais é um marco na vida que os tornam profissionais.
Desirèe Luíse Lopes Conceição (PUC-SP), Denis Augusto Carneiro Lobo (PUC-SP) ST04
Ódio e fake news como estratégia política no discurso de Bolsonaro nas redes sociais digitais
A comunicação por meio de redes digitais possibilita novos contatos entre governados e governantes. O presidente do Brasil, eleito em 2018, Jair Bolsonaro parece ter compreendido essa dinâmica e tem utilizado o Twitter como um canal oficial de comunicação com sua base eleitoral, imprensa e cidadãos em geral. Tanto as publicações realizadas por ele no Twitter como transmissões ao vivo em vídeo vão compor o objeto de análise desta pesquisa. Esta proposta de artigo tem por objetivo identificar nessas comunicações o ódio político, o discurso de ódio e as fake news, tendo em vista a postura incisiva do político durante a campanha eleitoral e em sua trajetória no Congresso Nacional. A metodologia consiste em uma composição da Análise de Conteúdo, para a categorização tipológica das publicações monitoradas, com a análise qualitativa da Análise Crítica do Discurso. Resultados preliminares apontam que houve presença de incitação ao ódio atrelada principalmente ao conteúdo da categoria Ideológico/Partidário (60%). Já as fake news foram localizadas em sua maioria nas comunicações do presidente sobre a Mídia (81%), compondo, assim, sua estratégia política por meio das redes sociais digitais.
Débora Zanini (UNICAMP), Daniela Xavier Haj Mussi (USP) ST24
Eles não! O confronto eleitoral feminino contra Trump e Bolsonaro
As instituições políticas democráticas enfrentam dificuldades profundas (Litsky e Ziblatt, 2018). Reconhecer as especificidades dos processos políticos no interior das democracias em crise nos leva ao exercício constante de elaboração de ferramentas para o estudo dos ciclos de protestos, movimentos e sujeitos políticos. O texto investiga dois ciclos de protestos oposicionistas realizados em contextos eleitorais recentes nos quais foi bem-sucedida a ascensão de candidatos neo-conservadores ao poder. Estuda, portanto, dois confrontos eleitorais, ambos encabeçados por mulheres, contra a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos (2016) e de Jair Bolsonaro no Brasil (2018). Para tal, analisa a trajetória destes protestos, nas ruas e nas redes sociais, destacando o papel destas últimas como terreno estratégico. Para condução da pesquisa, além da reconstrução da trajetória cronológica dos dois protestos nas ruas, foram analisadas as conversações públicas nas redes sociais dos protestos. O objetivo é explorar justamente os contornos da disputa simbólica protagonizada por mulheres nos dois contextos eleitorais.
Diego Madi Dias (USP), Júlio Assis Simoes (USP) ST38
Pessoas vivendo com antirretrovirais (PVARV): repensando mudanças na experiência geracional da epidemia HIV-aids.
Desde o advento das terapias antirretrovirais (TARV), organizações globais de saúde como a UNAIDS fazem circular poderosas narrativas de “fim da crise” da epidemia de HIV-aids, acompanhadas de estratégias de comunicação voltadas aos mais jovens para promover práticas morais, físicas e sociais de “viver positivamente”. Argumentamos que o acesso às TARV deve ser considerado como estruturante de uma nova experiência social relativa ao HIV e à aids. Uma vez que o HIV tem sua dinâmica de replicação interrompida pelas TARV, talvez faça mais sentido falar em pessoas vivendo com antirretrovirais (PVARV) de modo a ressaltar que o tratamento impõe uma “vivência terapêutica” que redefine o estado de urgência frente à epidemia. Tratamos de analisar a tendência de “comunicação positiva” em torno do HIV em relação ao cenário global de crescente biopolitização securitária nas estratégias de gestão da epidemia; e propomos uma agenda de problemas e desafios que possibilitem prover informações consistentes sobre a vida concreta no contexto da experiência com os fármacos – uma experiência recente que ainda não autoriza uma visão sobre a epidemia que esteja fundada no “fim do crise”.
Diogo Arruda Carneiro da Cunha (UFPE) ST28
Os fundamentos jurídicos e filosóficos do autoritarismo realeano: experiência, cultura e decisionismo.
Miguel Reale foi um dos juristas brasileiros mais importantes do século XX e um dos maiores representantes do pensamento conservador. Além de engajar-se nos grandes movimentos políticos e embates ideológicos do século passado, ele construiu, paralelamente, uma imponente obra política, jurídica e filosófica. A sua reflexão política é marcada pela temática da organização nacional e do “modelo político” que ele julgava mais adequando para o Brasil. Embora essa vertente do seu pensamento tenha evoluído entre os anos 1930 e o fim do regime militar, é possível identificar a permanência de alguns princípios: o antiliberalismo, o anticomunismo e a crença num modelo de regime autoritário. Dois tópicos serão examinados nessa comunicação. O primeiro é a evolução do seu pensamento político entre a fase integralista dos anos 1930 e o período do regime militar brasileiro. O segundo é como sua reflexão jurídica e filosófica fundamentaram seu autoritarismo político. Para isso, analisaremos três noções que são incontornáveis em sua obra: as de experiência, de cultura e a forma como ele se apropriou do decisionismo schmittiano.
Diogo Tavares de Miranda Ferreira (UFPR), Giovanna Castro da Cruz (UFPR), Ulisses Alves Arias (UFPR) ST27
Força dos partidos legislativos: disciplina e fragmentação partidária no brasil (1999-2018)
Há 20 anos o lançamento do texto seminal de Argelina Figueiredo e Fernando Limongi “Executivo-Legislativo na Nova Ordem Constitucional” trazia uma enorme contribuição para a compreensão da funcionalidade do desenho institucional brasileiro e uma das principais perguntas de pesquisa era: Afinal os partidos políticos brasileiros atuam de forma coesa e disciplinada no legislativo?
Douglas Mansur da Silva (FUFV) ST23
Migrações, deslocamentos e mobilidades: etnografias sobre trabalhadores e camponeses
O paper se propõe analisar a produção etnográfica contemporânea, em diálogo com textos clássicos, envolvendo populações do campo e da cidade em processo de mudança social decorrente de migrações e deslocamentos. Considera-se, portanto, que essas populações podem ser afetadas por processos sociais de diversas ordens, como políticas de desenvolvimento, conflitos territoriais e socioambientais, entre outros. Da mesma forma, os movimentos podem ser temporários ou de longa duração, motivados por arranjos de grupos ou famílias e redes sociais ou impingidos. Na seleção de monografias, a ênfase recairá em estudos sobre trabalhadores e camponeses. Também será utilizado material etnográfico coletado em outras duas pesquisas realizadas pelo proponente em diversas regiões de Minas Gerais, entre 2010 e 2017. O objetivo central da proposta é identificar as contribuições de estudos sobre campesinato e classes trabalhadoras para a abordagem dos processos de mudança social envolvendo migrações, deslocamentos e mobilidades, considerando-as face a relações de poder, circularidades e trânsitos entre fronteiras. O trabalho é decorrente de pesquisa em vigência, com financiamento da FAPEMIG.
Duilia Dalyana Ribeiro dos Santos (UFCG) SPG30
Democracia, suas possibilidades e óbices no Brasil: uma discussão à luz da Teoria Democrática Contemporânea.
Este estudo aborda as principais nuances da democracia brasileira, à luz da Teoria Democrática Contemporânea, resgatando as definições dos grandes expoentes: Joseph Schumpeter, Robert Dahl, Noberto Bobbio, Giovani Sartori, Leonardo Morlino, Guilhermo O'Donnell, entre outros estudiosos desta seara. A problematização do ensaio teórico discutirá a respeito das dimensões qualificadoras da democracia, levando em consideração a importância da accountability, concomitantemente, da responsividade dos governantes e do bom funcionamento das instituições para a construção de uma democracia com qualidade. Para isto, foram utilizados, como auxiliar empírico, os dados fornecidos pelo Latinobarômetro, The Economist Intelligence Unit's Democracy Index e Transparency internacional.
Ed Carlos de Sousa Guimarães (UNIFAP) ST35
Clarice animalista: a vez dos cães na literatura
A pesquisa consistiu em pensar as relações entre animalidades e humanidades nos escritos de Clarice Lispector. Foram selecionadas quatro tipos de narrativas da obra clariceana: conto, crônica, novela e romance. Também foi dada atenção à obra infantil da escritora. A partir de pesquisa bibliográfica investigou-se, de imediato, o lugar de outras alteridades na produção literária de Clarice. Adianta-se que a autora é uma animalista, pois a alteridade animal permeia os escritos clariceanos. Desse modo, perguntou-se: de que modo a alteridade canina é mobilizada nos textos de Lispector? Os cães literários de Clarice ocupam diversas posições: ora são alteridades que representam o luminoso e a redenção; ou, ao contrário, podem expressar a insignificância da vida, como em "A Hora da estrela"; ou, podem expressar um questionamento: os limites do humano. Clarice Lispector viola a rígida separação entre natureza e cultura, de modo que sua zooliteratura é uma potente crítica à razão ocidental.
Edilson Brasil de Sousa Júnior (UFC), Marcelo Tavares Natividade (UFC) ST34
Subjetividade, família e trajetórias religiosas: política e discursos de respeitabilidade em igrejas LGBT
Esta comunicação tem por objetivo apresentar, a partir do trabalho individual de cada um dos autores, uma reflexão sobre política e religião ao examinar as relações entre ativismo e vida religiosa em igrejas evangélicas LGBT, focalizando a produção de mensagens, conteúdos, discursos e teologias que difundem modelos de conduta e formas de apresentação pública. Discutiremos o modo como em congregações cristãs “inclusivas” tem sido produzidos nexos entre a agenda dos movimentos sociais e discursos religiosos, sendo o casamento igualitário e a defesa de modelos alternativos de família a matéria-prima do que se fala e do que se prega. Dialogaremos, a partir de material diverso, como tem sido construídas nessas igrejas certas formas de ação e de apresentação pública, além de relações positivas entre religião e diversidade sexual. Assim, mostraremos que os resultados trazidos para o debate indicam os laços entre formas de apresentação pública, a demanda por ampliação dos modelos familiares e o ethos religioso, incluindo a análise de como indivíduos, nesse ambiente, são constituídos como sujeitos do cristianismo, mas também como integrantes de famílias LGBT.
Eduardo Altheman Camargo Santos (USP) ST42
Empresários precários de si - sobre a nova feição do empreendedorismo precário da classe trabalhadora
O objetivo da apresentação é estabelecer uma ponte entre duas linhas de interpretação distintas para urdir uma análise teórica a respeito de uma feição marcante da classe trabalhadora contemporânea em nível global. A primeira linha é uma abordagem "objetiva" do neoliberalismo, que procura apreender essa formação social quando se trata de sua tendência generalizada de precarização do trabalho, dos padrões econômicos e da vida como um todo sob seu jugo. Tal abordagem baseia-se em vários pensadores marxistas que buscaram entender o que aconteceu nas últimas quatro décadas e meia de hegemonia neoliberal, como D. Harvey, G. Duménil e D. Lévy, R. Castel ou G. Standing. A segunda linha recorre às obras de M. Foucault, especialmente sua série de palestras intitulada O nascimento da biopolítica, a fim de compreender os contornos mais "subjetivos" do neoliberalismo, isto é, o surgimento de um ethos sui generis, que tem sido cunhado por muitos, como Ulrich Bröckling, P. Dardot e C. Laval, para não mencionar o próprio Foucault, como o "empreendedor de si mesmo". A ideia central é que ambos os predicados estão cada vez mais interligados na sociedade contemporânea e não podem ser dissociados.
Eduardo Alves Lazzari (USP), Mariana Falcão Chaise (USP) SPG11
Um Problema Capital: política tributária e desigualdade de renda no Brasil
Como rendimentos de capital são taxados no Brasil? Usando dados tributários, demonstramos que os brasileiros mais ricos se apropriam de uma quantia maior de rendimentos isentos que os mais ricos nos EUA, sobretudo em função de mudanças introduzidas pela Lei 9249/1995. O trabalho mostra a maneira como o PL 913/1995 – proposição que dá origem à lei –, tornou a tributação sobre o capital mais regressiva no Brasil. Argumenta também que as ideias que o embasaram não foram importadas irrefletidamente a partir de debates e de esquemas estadunidenses, conforme defendido por parte da literatura. Seu desenho era compatível com formulações teóricas desenvolvidas por FHC ainda nos anos 1960, que previam estratégias para a mitigação do subdesenvolvimento brasileiro, desconsiderando, porém, consequências para a desigualdade. Ao mesmo tempo, já que as preferências da Presidência não são automaticamente convertidas em lei, analisamos a tramitação do PL e demonstramos que nenhum ator político, à esquerda ou à direita, modificou os principais dispositivos regressivos do novo tratamento tributário dado ao capital, mantendo a forma original da proposta do Executivo quase inalterada.
Eduardo Georjão Fernandes (UFRGS) SPG19
Vigiando as ruas e as redes: a sofisticação de táticas policiais de controle a eventos de protesto em Porto Alegre (2013-2014).
Em 2013, protestos sociais de larga escala tomaram as ruas de diversas cidades do Brasil. No ano seguinte, a realização da Copa do Mundo consolidou uma série de investimentos na área da segurança pública, principalmente com tecnologias centradas no vigilantismo. A pesquisa busca explicar de que modo a incorporação de novas tecnologias de vigilância policial compõe e/ou transforma as táticas de controle e repressão a eventos de protesto a partir do caso do policiamento a eventos promovidos pelo Bloco de Lutas pelo Transporte Público entre 2013 e 2014 em Porto Alegre. Metodologicamente, a pesquisa parte da análise de eventos de protesto em um banco de dados composto por notícias dos jornais Zero Hora e Sul21; após, são analisadas entrevistas com agentes policiais que atuaram no policiamento a protestos no período analisado. Os resultados indicam o aumento da utilização de táticas de vigilância entre os anos de 2013 e 2014. Essa transformação tende a configurar dois processos: (a) antecipação, com a coleta massiva de dados sobre a realização futura de eventos de protestos; (b) invisibilização, com o uso de táticas policias menos visíveis se comparadas às táticas prevalentes em 2013.
Eduardo Guandalini Genaro (UFCG) ST24
Dos acordos cotidianos à negociação coletiva: ressignificações do acesso a terra pelos participantes das Ligas Camponesas na Paraíba (1954-1964)
O artigo analisa as ressignificações da moralidade do trabalho autônomo dos moradores que participaram das Ligas Camponesas na Paraíba entre 1954 e 1964, comparando os valores e símbolos mobilizados nos acordos cotidianos, que eram uma das formas de resistência cotidiana – como trabalhadas por James Scott -, e os formulados nas negociações coletivas, que eram parte do repertório de ação coletiva – como trabalhado por Charles Tilly - do movimento. O fito desta investigação foi o de observar as continuidades e descontinuidades entre estas duas formas de resistência, sendo que tomamos a hipótese de que os tensionamentos das relações entre moradores e grandes proprietários, realizados pelas formas cotidianas de resistência, teriam fundamentado os principais símbolos e valores adotados pelas Ligas. A pesquisa concluiu que a negociação coletiva reformulou a experiência do acordo cotidiano, mas expressando uma mudança nas narrativas dos moradores, visto que estes passaram a ver o acesso a terra como sendo possível através da contraposição aos grandes proprietários. O referencial teórico-metodológico utilizado é a Hermenêutica de Profundidade de J. B. Thompson.
Eduardo José Grin (FGV), Fernando Luiz Abrucio (FGV) ST26
Consórcios públicos intermunicipais no Brasil: capacidades estatais e controle social em nível municipal influenciam as decisões em favor do associativismo?
O artigo discute a literatura nacional sobre consórcios públicos intermunicipais no Brasil e os fatores que induzem a participação local. Para a literatura, gestão e controle social são dimensões chave no funcionamento dos consórcios, porém não avalia se esses fatores influem nas escolhas locais em prol do consorciamento. O trabalho analisa se há ou não essa compatibilidade entre a abordagem da literatura e os fatores indutores da entrada dos municípios em consórcios em saúde, educação e saneamento. Por meio de regressões logísticas se avalia se a dimensão gerencial (comando exclusivo da área e a existência de Plano e Fundo Municipal) e da dimensão de controle social (existência de conselho de política) influem nas escolhas locais. A pesquisa mostra uma variação entre as políticas em face de sua institucionalização em nível nacional: quanto mais homogênea sistemicamente, maior o impacto de variáveis externas de cunho socioeconômico. Conclui-se que não há suporte empírico para os argumentos da literatura: gestão importa só na educação e controle social só no saneamento, enquanto na saúde o que conta são variáveis socioeconômicas e de gasto público, mas não gestão e controle social.
Elaine Thais da Silva Lima (UFSC), Maria Soledad Etcheverry Orchard (UFSC) ST08
Acessibilidade e integração de pessoas com deficiência no serviço público: um estudo na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Este trabalho investiga a integração laboral de pessoas com deficiência no serviço público, a partir das experiências de trabalhadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Destaca-se a problemática da acessibilidade como um fator limitante para a inserção profissional, refletindo em questões relacionadas à organização do trabalho, bem como nas relações sociais que se estabelecem nesse ambiente. A relação deficiência-trabalho foi observada a partir dos dados coletados em entrevistas com 14 servidores Técnico-Administrativos em Educação (TAEs) da UFSC, com ingresso no período de 2008 a 2015, pela reserva de vagas para pessoas com deficiência em concursos públicos. A integração dos trabalhadores com deficiência no serviço público não depende exclusivamente da garantia do direito de igualdade de condições no acesso ao cargo, mas, também, de questões como acessibilidade e desenvolvimento profissional, que demandam políticas institucionais que atendam à pluralidade dos trabalhadores. Palavras-chave: Acessibilidade; Pessoas com Deficiência; Reserva de Vagas; Trabalho.
Elaini Cristina Gonzaga da Silva (CEBRAP) ST30
Instituições e Controle do Populismo em Política Externa: o caso de Brasil, EUA e Inglaterra
O objetivo deste resumo consiste em investigar a partir de perspectiva sociológica e com método da sociologia jurídica comparativista, no eixo doméstico, as instituições que foram mobilizadas por diferentes atores para conter o ímpeto de ocupantes do Executivo caracterizados por seu caráter populista frente a instituições multilaterais, levando em consideração as diferentes posições ocupadas pelos envolvidos no sistema global, com foco na análise de Brasil, EUA e Reino Unido. A proposta se contextualiza num cenário de : 1) expansão de regimes populistas que dependem de uma divisão entre o povo e o “não-povo”, concretizado na figura de inimigos externos e combate ao internacionalismo (Incisa, 1997, p. 982). Tais regimes podem se desenvolver em fascimos ao abrir mão da aparência de legalidade pelas urnas e usar a força abertamente, nascendo como fenômeno global (Finchelstein, 2017), o que ainda não se exclui como hipótese ; e 2) baixa regulação do poder do Estado que concede amplos poderes para o Executivo desde o Império (Ratton et al, 2006 ; Silva, Spécie, Vitale, 2010), de forma que o perfil de quem ocupa os cargos e suas práticas pode definir o caráter da política externa.
Eliane Alves da Silva (UFABC), Eliane Alves da Silva (UFABC) ST19
Quando os direitos estão em disputa: direito à moradia e instituições judiciais
A pesquisa discute o papel da Defensoria Pública do Estado de São Paulo (DPESP) nos conflitos fundiários urbanos. É possível sustentar que a Defensoria Pública emerge como um novo ator, capaz de negociar na arena política e propor acordos e parcerias institucionais, indo além de sua atuação em termos de judicialização das políticas públicas, no sentido de adoção de procedimentos judiciais para fazer cumprir e efetivar direitos estabelecidos? A pesquisa orienta-se pelo referencial teórico da judicialização das políticas sociais e conclui que o trabalho da Defensoria Paulista tem sido, sobretudo, o de afirmar o direito à moradia como direito social a ser promovido pelo Estado, indo além da discussão doutrinária que o coloca como mera norma programática e acenando, com isso, para a possibilidade de qualificar o direito à moradia para além da sua breve menção no artigo sexto da carta constitucional. A afirmação do direito à moradia se dá pela afirmação da relação intrínseca entre esse direito e a função social da propriedade, além dos direitos relacionados à posse.
Elias Martins (UFMT), Francisco Xavier Freire Rodrigues (UFMT) ST29
Os sujeitos do futebol em campo novo do Parecis- MT: muito além de jogar, ele serve para estreitar relações sociais
Às vésperas da Copa do Mundo de Futebol de 2018 o objetivo deste trabalho foi verificar em que medida o futebol irmanou estranhos de diferentes partes do país e contribuiu para o desenvolvimento de Campo Novo do Parecis a partir de sua constituição como cidade. A história oral foi o recurso utilizado através do encontro de um grupo focal com pessoas presentes a época de sua emancipação política, permitindo analisar que o futebol assume características de utilidade pública e fonte de lazer.
Elisa Guaraná de Castro (UFRRJ), Luiza Borges Dulci (UFRRJ), Daniel Cardoso de Andrade (UFRRJ) ST03
A Juventude no olho do furacão: Participação e representação política de juventude no Brasil
Ao se identificar como um jovem periférico, uma jovem lésbica, um jovem rural, uma jovem indígena, ou como um(a) jovem do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), do Movimento Brasil Livre (MBL), do Movimento Negro Unificado (MNU), do movimento estudantil ou de um partido político, os sujeitos acionam experiências, vivências e elementos de suas condições econômicas e sociais de vida, mas, também leituras da sociedade, formas de pertencimento e de atuação em uma dinâmica de interseccionalidade. O sentimento de rápidas mudanças e de persistências de desigualdades que vivenciamos no presente século, nos instiga a analisar o que aproxima as pessoas e as põe em movimento na disputa por ideias e rumos da sociedade. O artigo analisa as formas de organização, representação e ação política da juventude brasileira: organizações de juventude atuantes no Brasil de hoje, bem como das representações juvenis postulantes a cargos no parlamento. Investiga o perfil dos movimentos de juventude em toda a diversidade do espectro político e analisa o perfil dos jovens candidatos a deputados federais e estaduais e daqueles que foram eleitos para a Câmara Federal e para as Assembleias Estaduais.
Elisa Klüger (CEBRAP) ST01
Existiriam Chicago Boys brasileiros? Laços sociais, nexos institucionais e traduções de ideias na circulação entre o Brasil e a Escola de Chicago de Economia
Este artigo objetiva investigar os vínculos institucionais, nexos profissionais e fontes das ideias da equipe econômica do governo e Jair Bolsonaro, liderada por Paulo Guedes e indagar em que medida o grupo representaria um braço brasileiro das ideias da escola de Chicago de economia. Para tanto, são retraçadas as conexões que se estabeleceram entre Chicago e a América Latina e são apontadas as especificidades do caso brasileiro, sustentando que a inexistência de sólidos convênios evitou a formação de um grupo largo e coeso de discípulos brasileiros, como no caso dos Chicago boys chilenos. Não obstante, economistas formados em Chicago tiveram influência na conformação de segmentos do pensamento econômico e das escolas de economia brasileiras e aplicaram ideias nos governos dos quais participaram. A atual configuração da área econômica trata-se da mais larga transposição de economistas ligados a Chicago para o Estado brasileiro, sendo pertinente reconstruir os vínculos e ideias derivados desta circulação internacional e discutir implicações políticas de tais conexões. Para tanto, serão mobilizadas fontes biográficas secundárias e estudos sobre o espaço dos economistas no Brasil.
Elisete Schwade (UFRN) ST05
Antropologia, políticas públicas e educação: gênero e sexualidade em contextos de formação no PRONERA – Programa Nacional de Educação e Reforma Agrária.
Essa comunicação apresente resultados de projetos de pesquisa, bem como ações de ensino e extensão, desenvolvidas em espaços de interlocução que envolvem a minha atuação como pesquisadora e docente, em temáticas que envolvem processos formativos e movimentos sociais, com destaque para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST. Como recorte analítico, destaco escolarização, formação e seus reflexos no que se refere a referência a gênero e sexualidade, juventude e práticas educativas. Tendo em vista processos de pesquisa em assentamentos rurais e atuação como docente em cursos PRONERA, procuro discutir os impactos da escolarização no processo da consolidação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, com destaque para as referências a gênero e sexualidade. A reflexão contempla, assim, experiências de docência e pesquisas em cursos de escolarização direcionados para integrantes do MST e residentes em assentamento, no âmbito do PRONERA.
Emanuelle do Espírito Santo Alves do Nascimento (UFMA), Juarez Lopes de Carvalho Filho (UFMA) SPG06
Os efeitos das narrativas na classificação social de agentes estigmatizados como “loucos” no hospital psiquiátrico Nina Rodrigues.
O trabalho analisa a dinâmica interna do Hospital Psiquiátrico Nina Rodrigues na produção de narrativas classificatórias de agentes estigmatizados como "loucos". Postula-se que as transformações legais e institucionais, que ocorreram ao longo da história psiquiátrica do Maranhão abrindo espaço para o surgimento de clínicas privadas, não desestigmatizaram a "loucura" e nem os espaços destinados a esses agentes. Para tanto, foi fundamental colocar em perspectiva a história social do hospital a fim de compreender o peso de um processo histórico específico na produção social da loucura como um estigma. Durante o trabalho de campo buscamos conhecer as formas de tratamento dado aos internos do hospital, aplicado por diferentes funcionários e profissionais da saúde. Assim, demonstramos como os corpos e os diagnósticos que estes recebem acabam cristalizando algumas características corporais e comportamentais que identificam e pré-classificam determinados agentes como "loucos". Assim o monopólio legítimo do saber médico e suas narrativas sobre a "doença mental" pode ser interpretado como parte do mesmo processo que produz e reproduz a percepção da "doença mental" como um estigma.
Emanuelle Monteiro Torres (UFBA) ST17
Quase guardiania, conservadorismo e democracia no pensamento de Rui Barbosa, Oliveira Viana e Nestor Duarte: o político em questão
Propõe-se diálogos de Oliveira Viana com Rui Barbosa e Nestor Duarte, considerando as linhagens de pensamento com que as crenças dos três se afinam e as perspectivas de enquadramento estratégico do político, presentes em suas obras. Avaliamos como cada background importa em diferentes direcionamentos do agir político, conforme as noções dahlsianas de guardiania e quase guardiania. Busca-se compreender como vieses estratégicos decorrentes de um olhar de confiança ou desconfiança quanto à capacidade do demos de agir na esfera pública conduzem certas orientações políticas na democracia. Assim, Oliveira Viana e Rui Barbosa constroem uma ponte entre os idealismos orgânico e constitucional quando combinam visões de quase guardiania judicial. Já Nestor Duarte, valendo-se de um método conservador, olha, em parte, a política pelos óculos de Viana, mas lança-se a ela como um democrata que entende a participação como campo educativo do povo ao exercício político.
Emerson Ferreira Rocha (UnB), Sayonara de Amorim Gonçalves Leal (UnB) ST03
Vínculos sociais, pobreza e reconhecimento: um estudo a partir de entrevistas sobre trajetória de vida.
Esse trabalho traz um estudo empírico inspirado na teoria dos vínculos sociais. O material analisado consiste em entrevistas de trajetórias de vida realizadas no âmbito da pesquisa Radiografia do Brasil Contemporâneo – IPEA, 2016. O estudo se restringe a entrevistados com renda mensal igual ou inferior a um salário mínimo, com o objetivo de pôr em foco situações de vulnerabilidade, nas quais os vínculos com a família, com a comunidade, com o mercado e com o Estado de Direito sofrem forte estresse por condições objetivas desfavoráveis. O procedimento de pesquisa consiste na análise de conteúdo das entrevistas. As narrativas foram inspecionadas de modo a identificar quatro tipos de vínculos sociais: filiação, participação eletiva, participação orgânica ou cidadania. Os resultados mostram a ambivalente centralidade dos vínculos de participação orgânica. O trabalho é visto como a grande via para a autorrealização, que, de maneira geral, consiste na provisão do sustento da família. Por outro lado, contudo, são fortes as sensações de risco e de instabilidade, de ressentimento e de insegurança vinculadas ao trabalho.
Emerson Urizzi Cervi (UFPR), Felipe de Moraes Borba (Unirio) ST06
Quem se abstém no Brasil? Uma descrição do perfil socioeconômico dos eleitores ausentes no primeiro turno da eleição de 2018
A participação política é tradicionalmente considerada um elemento crucial para o funcionamento da democracia (Almond e Verba, 1963). Os cidadãos dispõem de inúmeras formas de participação, como assinar petições, se filiar a partidos políticos ou aderir a boicotes, protestos e manifestações. Nos sistemas representativos como o brasileiro, o voto em eleições acaba sendo a modalidade de participação política mais disseminada. O objetivo do texto é analisar de forma exploratória os dados de abstenção eleitoral no primeiro turno das eleições de 2018. Utilizamos dados oficias do TSE por município para cruzamentos por dois conjuntos de dados: individuais (sexo, idade e escolaridade) e agregados (região do país, tamanho do município e tipo de localidade). Nossa hipótese é que as variáveis individuais sofrem impacto das agregadas para a explicação da abstenção eleitoral no Brasil.
Emiliano Peggion de Carvalho (UFMT), Francisco Xavier Freire Rodrigues (UFMT) ST29
O uso político do esporte: o fascismo no interior da diretoria e o anti-fascismo na torcida organizada da Sociedade Esportiva Palmeira
Analisaremos o surgimento de um novo movimento fascista atual o qual têm se disseminado, já que as revoluções tecnológicas transformaram a forma com que a sociedade vê e participa das atividades do cotidiano, o que intensifica sua relação com diversas questões como a política, sendo o sujeito completamente alienado ao pensamento, e que nas últimas eleições surgiu com toda a sua força no Brasil, ocupando de forma intensa as mídias sociais e estando presente em diversos discursos recorrentes no cotidiano dos indivíduos e muito próximo por meio das tecnologias. Traremos à tona as manifestações da diretoria da Sociedade Esportiva Palmeiras a favor das articulações fascistas e seus antagonistas baseados na torcida organizada deste mesmo time, pretendendo-se desvelar de que forma essa "política" pode e é usada pelo esporte, mas ao mesmo tempo entender a reação de uma parcela desta em lutar contra. Utilizaremos como perspectiva teórica e metodológica o materialismo histórico-dialético, buscando realizar uma pesquisa bibliográfica vasta entre os principais autores acadêmicos, bem como realizando levantamento de publicações em mídias sociais. Palavras-chave: Esporte; Fascismo; Palmeiras.
Erica Anita Baptista (UFMG), Patricia G C Rossini (UoL), Vanessa Veiga de Oliveira (UFMG) ST22
Opinião pública no WhatsApp: (des)informação política
O cenário eleitoral brasileiro de 2018 colocou em relevo a circulação da informação política e o processo de formação da opinião pública, levando em conta, sobretudo, as notícias produzidas pela grande mídia e as fake news que atuaram fortemente na produção de conteúdos sobre as campanhas. Nesse contexto, também chamou a atenção a utilização dos sites de redes sociais (SRSs) e o serviço móvel de mensagens instantâneas WhatsApp como espaço de formação de preferências, de pequenos comitês de campanha e de polarização ideológica. Nossa proposta de estudo examina a dinâmica da discussão política no WhatsApp, em comparação com os SRSs, com foco nas relações entre a desinformação e a formação da opinião pública sobre a política, tendo em vista o cenário eleitoral de 2018 e suas reverberações pós-eleitorais. Para tanto, utilizamos dados da pesquisa nacional "WhatsApp como fonte de engajamento político e (des)informação no Brasil" (N = 1.600), considerando as questões relativas a: preferências políticas; informação política; interesse por política e eleições; satisfação com a democracia; posicionamento ideológico; e notícias falsas.
Erick Sousa de Sousa (UFPE) ST15
Mídias e Imagens étnicas: apontamentos e notas sobre a experiência de produção audiovisual com os Pitaguary
As práticas audiovisuais no contexto indígena do Nordeste brasileiro têm mobilizado para a produção antropológica, sobre as representações semântica dos grupos étnicos, novos arranjos de pesquisa e produção. Neste escrito buscamos apresentar os contextos de produção destas imagens, a partir da experiência compartilhada de visionamento dos filmes. Como se arranja esse contexto intenso de produção e circulação de “imagens étnicas” que se apresentaram nas últimas décadas? Tendo em vista que estes produtos fílmicos, elaboradas através de diferentes esferas de participação e envolvimento com os indígenas, nos indicam filiações discursivas que são significadas localmente através de outras agências interpretativas. Por este viés apresentamos a experiência de produção e pesquisa audiovisual com o Povo Pitaguary, no Ceará. Para aferirmos estas agências interpretativas, de modo metodológico desenvolvemos com pessoas do movimento da Juventude Indígena Pitaguary (GIPY) e lideranças tradicionais da Aldeia da Monguba experiências de visionamento de filmes produzidos no contexto local ao longo da história recente do movimento indígena.
Erika Costa Silva (UnB) ST36
Trajetória profissional de mulheres negras docentes na Universidade de Brasília: estratégias e resistências
O debate sobre as ações afirmativas para o ensino superior brasileiro datam o início do século XXI, em que destacava-se a sub-representação da população negra no quadro discente das universidades, principalmente das instituições públicas federais. A implementação da Lei nº. 12.711/2012 têm possibilitado a reparação das desigualdades raciais, porém estas desigualdades ainda permanecem no quadro docente. Ao considerarmos os aspectos das relações de gênero, as mulheres negras têm sido prejudicadas pelos efeitos das desigualdades de gênero e raça. Realizamos uma pesquisa qualitativa acerca da participação das mulheres negras como docentes na Universidade de Brasília. O objetivo consistiu em compreender as trajetórias de formação profissional das docentes, quais as estratégias e resistências empreendidas para consolidar-se na profissão. Através de entrevistas semiestruturadas com 12 docentes e com base nas teorias da crítica feminista e do feminismo negro, foi possível identificar os desafios e os mecanismos de superação do racismo e machismo presentes nas relações sociais de formação e no cotidiano profissional.
Erika Kubik da Costa Pinto (UFF) ST14
Violações aos Direitos Humanos no governo Geisel: O Superior Tribunal Militar e as denúncias de tortura
As relações estabelecidas entre a Justiça Militar e os presidentes militares durante a ditadura civil militar de 64 são fundamentais para a compreensão da permanência e da estabilidade do regime nos seus mais de vinte anos. O Superior Tribunal Militar prezou pela independência da Corte e dos seus ministros durante todo esse período, enfatizando de um lado a fidelidade aos "ideais revolucionários" e sedimentando um discurso contrário às investidas mais autoritárias do regime em direção dos direitos e garantias individuais. Neste contexto, o presidente Ernesto Geisel usou destas ambiguidades institucionais, que somadas a composição de escabinato do STM, poderia produzir um discurso legítimo e ao mesmo tempo dissonante à unidade militar exatamente pela natureza híbrida do tribunal. Considerando estes argumentos, o objetivo deste trabalho é analisar como questões envolvendo a tortura e desaparecimentos de presos políticos foi tratado pelo Tribunal e quais as alternativas que alguns ministros encontraram, dentro das limitações institucionais impostas pelo sistema jurídico, para investigar, punir e controlar os órgãos de segurança.
Etiene Villela Marroni (UFPel), Eurico de Lima Figueiredo (UFF), Alexandre Rocha Violante (UFF) ST14
Planejamento Espacial Marinho e Defesa Militar: conceitos e percepções a partir dos estudos de políticas integrativas nacionais nos processos de cooperação em segurança internacional
A proposta dessa pesquisa tem por objetivo contribuir para debates multidisciplinares, sob a perspectiva teórica do Planejamento Espacial Marinho nos estudos estratégicos. Para isso, serão revisados, de forma breve, conceitos sobre cooperação, defesa e segurança, em torno de políticas integrativas nacionais, como Política Nacional de Defesa, Estratégia Nacional de Defesa, Livro Branco de Defesa Nacional e a Política Nacional para Recursos do Mar. Dentro desse contexto, o objeto de análise visa, inicialmente, a interrelação da área dos estudos da defesa e segurança no Planejamento Espacial Marinho em relação a defesa militar. De forma particular, o que foi apresentado nesse estudo baseia-se na ampliação dos espaços de debate, com a perspectiva da criação de novos núcleos de pesquisa sobre a Defesa Nacional e suas questões transfronteiriças em relação ao Planejamento Espacial Marinho. Essa questão é relevante, pois incorpora novas dinâmicas regionais, somando à pluralidade de visões, temas, problemas e soluções entre civis e militares, universidade e a sociedade como um todo.
Euclides de Freitas Couto (UFSJ) ST29
A política diplomática brasileira e a Copa do Mundo de 2014: uma análise das práticas discursivas do Presidente Lula
A iniciativa desta comunicação tem como horizonte os desdobramentos políticos/econômicos decorrentes da política internacional brasileira nos anos que antecederam a Copa do Mundo FIFA de 2014. Analisamos as imbricações entre a atuação da diplomacia brasileira e a realização deste evento, entre os anos de 2007 e 2014. Para tanto, são cotejados os discursos oficiais proferidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao longo do período de promoção do megaevento esportivo. A intenção é a de desvelar as estratégias discursivas que visavam conferir legitimidade aos aportes públicos financiados pelo erário brasileiro, necessários à realização do megaevento esportivo no país. O exame dessa problemática justifica-se pelo fato de que a realização dos megaeventos esportivos, inicialmente tomados como potencializadores da economia pela política diplomática brasileira, contribuiu, em grande medida, para desgastar a própria imagem do PT na opinião pública nacional e, por extensão, do seu projeto político colocado em curso no país desde 2003.
Euzeneia Carlos (UFES) ST24
Consequências do movimento de direitos humanos na política pública: o papel dos mecanismos cognitivos e relacionais
Este estudo analisa os efeitos de movimentos sociais na política pública, especificamente do movimento de direitos humanos e sua influência na produção de programas de proteção e defesa dos direitos humanos. A pesquisa empírica investiga duas décadas (1990 e 2000) do movimento de direitos humanos no Espírito Santo, através de duas campanhas: (i) Campanha Contra a Impunidade e Corrupção; e (ii) Campanha Contra a Violência no Sistema Prisional. As campanhas são examinadas através de documentos e entrevistas com ativistas, por meio do rastreamento de processos ao longo do tempo. O estudo busca contribuir com a aferição das consequências do movimento social na política pública, endereçando as questões se e como movimentos importam para os resultados políticos. Enfatiza dois mecanismos que favorecem os resultados políticos do movimento social, o mecanismo cognitivo e o relacional: no primeiro, o papel da repressão do Estado e, no segundo, o papel da rede de ativismo em coalizão internacional nas consequências políticas de movimentos sociais.
Édison Luis Gastaldo (CEP/FDC) ST29
Projeto Torcedores: identidade, sociabilidade e violência em uma pesquisa etnográfica multissituada.
Neste trabalho se apresenta o processo de produção, pesquisa, realização e finalização dos produtos do "Projeto Torcedores: vida, paixão e morte no país do futebol". O projeto foi financiado pelo Ministério dos Esportes/CNPq e, entre 2013 e 2016, registrou 112 entrevistas em vídeo com torcedores e torcedoras de clubes de futebol de 13 Estados, em todas as regiões do Brasil. O projeto levou mais de três anos para ser montado e executado, e contou com o apoio de mais de 20 universidades e centros de pesquisa, e de mais de 100 pesquisadores/as de campo. Com o acervo reunido, resultou uma base de dados pesquisável aberta, com as 112 entrevistas completas, resultando em mais de 40 horas de vídeos editados. Com base neste material, foram produzidos um livro, uma exposição multimídia e um documentário de longa metragem ("Torcedores: vida, paixão e morte no país do futebol", de Édison Gastaldo, 2018, 60min.). Neste artigo, enfatizamos as dimensões de sociabilidade, identidade e violência destacadas nas entrevistas.
Fabiano da Silva Pereira (UFPA), Bruno de Castro Rubiatti (UFPA) SPG13
Sociedade e Legislativo em interação: as audiências públicas no processo informacional da produção de políticas públicas
Este artigo tem como proposta aprofundar o debate sobre a interação entre a sociedade civil e o Poder Legislativo no processo de produção das políticas públicas. Para isso, apresenta-se um estudo das 18 audiências públicas realizadas pela Comissão de Transparência e Governança Pública (CTG) do Senado brasileiro no período de 2016 a 2018, levando em consideração: a) a participação da sociedade civil nas audiências públicas; b) o tema das audiências; c) a natureza e atuação dos setores convidados (ONGs, Associações civis, Entidades, etc.); d) a participação da sociedade civil em relação a outros convidados (Representantes do Executivo, Empresarial, Judiciário, etc.). É importante mencionar que comissões exercem um importante papel no processo de produção das políticas públicas, uma vez que cabe a elas coletar e compartilhar informações de modo a reduzir custos e incertezas sobre as políticas demandadas. Trata-se, por fim, de discussões semeadas na pesquisa, em andamento, da dissertação de Mestrado intitulada “Fiscalização e Controle no Sistema de Comissões do Senado Federal brasileiro” no Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Pará (PPGCP/UFPA).
Fabiano Engelmann (UFRGS), Eduardo de Moura Menuzzi (UFRGS) ST01
Circulação internacional e (re)investimentos corporativos: elites jurídicas e movimentos anticorrupção nos anos 2000
Resumo O êxito das elites jurídicas na construção de posições de poder de Estado no Brasil coadunou-se com a legitimação de modelos de direito e cooperação internacional. Nesse quadro, enfocamos o caso representativo as conexões do Ministério Público brasileiro com o espaço internacional do "combate a corrupção" nos anos 2000. A pesquisa parte do mapeamento de documentos de cooperação e tenta reconstruir, através da análise de conteúdo desses documentos e da circulação no exterior dos procuradores da república, a trajetória e as implicações políticas e corporativas desse processo no Brasil dos anos 2000.
Fabio Jose Novaes de Senne (USP) ST04
Inclusão segregada: novas configurações das desigualdades digitais e panorama da literatura
O que explica a permanência de desigualdades marcantes no acesso e no uso da Internet? Predominam na literatura as abordagens que atribuem tais disparidades a fatores econômicos ou as que veem no ambiente digital a reprodução de características individuais pré-existentes no mundo off-line. Recentemente, vêm ganhando destaque estudos que se aprofundam sobre um nível meso, avaliando a inclusão digital segundo fatores como as características de determinadas comunidades ou territórios. Parte integrante de uma pesquisa de doutorado, o presente trabalho apresenta um estado da arte interdisciplinar sobre a origem e os efeitos da segregação territorial para as desigualdades digitais. Os resultados indicam uma nova tendência de mobilização de categorias tradicionais dos estudos urbanos – como redes sociais e efeito de vizinhança – para a análise da inclusão digital. A despeito da inovação metodológica, esforços empíricos ainda são limitados, e esbarram na escassez de dados desagregados. Entre as principais implicações do estudo está o reposicionamento teórico e metodológico do debate sobre a inclusão digital, incluindo o efeito localizado das políticas urbanas no território.
Fabio José Kerche Nunes (FCRB) ST10
Promotorias independentes e o combate à corrupção: o que o modelo norte-americano pode nos ensinar?
Nos Estados Unidos, os promotores federais são subordinados ao Departamento de Justiça. Este modelo limita a independência necessária em relação ao governo para se processar o presidente ou seus ministros, podendo gerar impunidade diante de denúncias de corrupção. A solução institucional encontrada é a indicação de alguém de fora do Estado para exercer o papel de promotor especial. O desenho institucional dessa promotoria, em termos de autonomia e discricionariedade, sofreu variações ao longo do século XX: o promotor especial norte-americano perdeu independência em relação ao governo, movimento oposto ao observado no Brasil. O Ministério Público brasileiro, desde 1988, vem numa crescente ampliação de autonomia e discricionariedade em um modelo pouco comum em perspectiva comparada. Por meio de uma abordagem institucionalista e baseada na comparação com outros desenhos de promotorias, o artigo irá destacar as razões que levaram os políticos dos Estados Unidos a reverem o grau de autonomia e discricionariedade desse promotor externo, as consequências dessas escolhas para a democracia e o que o debate sobre o tema pode lançar luzes para a questão da independência do MP no Brasil.
Fabio Nogueira de Oliveira (UNEB) ST36
Intelectuais negros e fotografia na Imprensa Negra Cubana (1912-1919)
Os jornais negros são empreendimentos culturais animados por homens e mulheres negros em que manifestam sua condição de elite intelectual que fala "em nome" dos negros e tem poder de representá-los junto às instituições culturais e políticas. O acervo dos jornais Juvenil (1912-1919) e Labor Nueva (1916) mostra uma forte presença de fotografias que falam das estratégias utilizadas por estes sujeitos. No início do século XX, Havana tornou-se centro dos projetos de modernização cultural e política que se refletiram em mudanças no espaço urbano, reformas culturais e educacionais. A fotografia como símbolo da modernidade não poderia ficar de fora e a imprensa negra registrou a formação de redes e o intercâmbio entre estes intelectuais negros (EDWARDS, 2003; GUIMARÃES, 2004, p. 271-284). Em Juvenil (1912-1919) e Labor Nueva (1916), dois dos principais jornais negros do período, a presença da fotografia se tornou recurso adicional a legitimação destes intelectuais ao se representarem como sujeitos em condições de ocupar posições destaque na política, nas artes e nas letras cubanas.
Fabiola Silva Gomes (UnB), Erik Baehre (Leiden University) ST13
Planos de saúde, busca por tratamento e conflitos na comercialização de serviços biomédicos: a saúde como mercadoria ou como direito fundamental constitucional?
O trabalho aborda casos de conflitos entre pacientes/beneficiários de planos de saúde e as chamadas operadoras de saúde no âmbito da Defensoria Pública do Distrito Federal (DPDF). A etnografia dos litígios judiciais para obter tratamentos médicos negados pelas operadoras revela uma discrepância nos sentidos atribuídos à saúde e aos cuidados biomédicos no contexto brasileiro: do lado dos pacientes tem-se a valorização da saúde como um direito fundamental garantido pela Constituição Federal e a expectativa de que a relação com o plano de saúde se daria sob a égide da dádiva (a despeito da relação de consumo estabelecida nos contratos) dado o caráter "sagrado" da saúde e do cuidado; do lado das operadoras tem-se o entendimento da saúde como mercadoria ou bem de mercado e a expectativa de que a relação, tida como puramente de consumo, leve em conta tão somente os contratos firmados (com suas especificações monetárias e de itens cobertos ou não) frustrando, portanto, as expectativas de prestações de natureza dadivosa dos pacientes.
Fabricio Monteiro Neves (UnB), Sayonara de Amorim Gonçalves Leal (UnB) ST41
Extensão, limite e conteúdo nos usos do “contexto” em sociologia
Neste trabalho, buscamos identificar e compreender o espaço da prática social, “o contexto”, dando ênfase a duas abordagens teóricas, a saber, os estudos sociais da ciência e da tecnologia e a sociologia pragmática. Estas abordagens iniciaram sua trajetória recente por volta da década de 80 e coincidiram na busca das dinâmicas de enraizamento do nível macro nas dinâmicas microssociológica. Tais escalas eram conjugadas nos processos que se desenvolviam de modo prático, em interações situadas, os quais criavam seus próprios limites, seus critérios de seleção, seus interesses, a extensão dos processos, duração, ou seja, que construíam seu próprio contexto. A partir de uma revisão bibliográfica que cruzou trabalhos centrais dessas duas áreas e exemplos empíricos dos autores, discutiremos três dimensões que julgamos mais importantes nos usos observados da ideia de “contexto”: sua extensão tempo-espacial, seu limite e conteúdo.
Fabrício Jesus Teixeira Neves (UFRRJ) ST14
Os militares e o processo de industrialização do Brasil (1930/1985).
Este trabalho foca no papel econômico dos militares na República brasileira entre 1930, início do processo de modernização do país, e 1985, quando terminou o período burocrático-militar. São abundantes as pesquisas relativas à atuação das Forças Armadas no processo político do País, mas é escassa ainda a literatura sobre a atuação da corporação castrense no desenvolvimento da industrialização brasileira no período em tela, 1930/1985. Encontra-se largo espaço na literatura referente ao desenvolvimento brasileiro as análises relativas à atuação dos empresários, dos sindicatos, das associações profissionais etc., pouco se levando em consideração a importância dos militares como propositores/executores do processo de desenvolvimento. No entanto, o papel dos militares no desenvolvimento de sociedades como a brasileira, tem sido da maior importância, não se podendo, em muitos aspectos, entender o processo de desenvolvimento nacional sem interveniência, ou mesmo preponderância, da ação dos militares. Não se trata de se supervalorizar o papel deles, mas de se entender como os militares interagem/expressam demandas da sociedade brasileira no âmbito da esfera econômica.
Fatima Cecchetto (FIOCRUZ) ST39
A construção social da categoria “envolvido”: Reflexões sobre juventudes de periferia, violências e controles.
O texto explora como a categoria “envolvido” tem sido mobilizada na distribuição seletiva de vigilância e punição de jovens de favelas no Rio de Janeiro. Discutem-se seus diversos acionamentos a serviço da regulação das trajetórias e percursos identitários, evidenciando a trama de rotulações que o termo põe em operação através dos deslizamentos entre as noções de “bandido e “vulnerável”. Analisa-se a presença de uma hierarquia moral que informa graus de “empreendedorismo” dos favelados e, por sua vez, os seus níveis de merecimento de terapias punitivas ou de “resgate social”. A reflexão aponta para uma ambição de tutela policial maximizada pela criminalização não só dos indivíduos, mas também de seus vínculos sociais. Partindo do trabalho etnográfico e entrevistas grupais com jovens de duas favelas cariocas, a reflexão acerca dos “envolvidos” trava um diálogo com as construções conceituais do desvio e da norma. Palavras- Chave: Juventude, violências, controle social, rotulação e desvio
Fábio Daniel da Silva Rios (UERJ) ST31
Nação Rubro-Negra: emoção e mercado entre sócios-torcedores do Flamengo
Neste trabalho, abordo o programa de sócios-torcedores do C.R. do Flamengo, tomado como referência para a reflexão sobre programas congêneres elaborados pelos demais clubes brasileiros. Analiso, mais precisamente, as principais motivações apresentadas pelos torcedores do clube para sua adesão ao programa Nação Rubro-Negra. Operando com uma lógica mercantil e empresarial, os programas de sócios-torcedores funcionam através da oferta de vantagens e benefícios aos torcedores, em troca do pagamento de uma mensalidade – sendo maiores os benefícios, quanto mais caros os planos contratados. Trata-se, portanto, de um novo modelo de associação, que contribuiria para o processo de comoditização do futebol e para a elitização e domesticação dos torcedores, convertidos agora em meros consumidores. Em minha tese de doutorado, contudo, realizei entrevistas qualitativas com torcedores do Flamengo, que mencionaram a vontade de ajudar o clube como principal motivação para terem se tornado sócios-torcedores, destacando assim a lógica da dádiva e dos afetos que se encontraria na base de sua relação com o clube, em oposição aos efeitos nocivos associados à lógica do mercado.
Fábio Fonseca Figueiredo (UFRN), Valéria Pereira Bastos (PUC-Rio) ST29
A formação profissional do jogador de futebol e sua inserção no mercado de trabalho no Rio Grande do Norte
O Brasil sediou os maiores megaeventos da atualidade, a Copa 2014 e Olimpíadas 2016. Os eventos alimentaram a expectativa catalisarem investimentos que se materializariam em legados para as cidades sedes. No âmbito futebolístico, a expectativa foi o da dinamização do setor, caracterizado majoritariamente pelo amadorismo e semiamadorismo nas condições de trabalho dos atletas profissionais fora das principais praças futebolísticas. Fundamentado por pesquisa bibliográfica e documental de fontes primárias e secundárias e entrevistas realizadas em 2013 e 2017, analisamos a inserção no mercado de trabalho de jogadores e ex-jogadores que não obtiveram êxito no futebol profissional no Rio Grande do Norte. Conforme resultados, o perfil educacional dos jovens que buscam a carreira futebolística é de baixa escolaridade e, devido as exigências da carreira, abandonam a escola e/ou fracassam já nas séries iniciais. Provem de famílias de baixa renda e vislumbram no futebol a alternativa de ascensão socioeconômica. O fracasso na tentativa de se profissionalizar faz que esses trabalhadores migrem para atividades que requerem baixa qualificação, caracterizando a inserção precária no mercado laboral.
Fábio Gama Soares Evangelista (UERJ) ST15
As festas populares e o seu papel na sociabilidade e identidade na Favela da Maré
Este estudo analisa as festas populares no Conjunto de Favelas da Maré (RJ) e suas relações com sociabilidade e identidade dos moradores da Maré na atualidade. Estamos estudando as seguintes festas: Festa Junina promovida pela Paróquia Nossa Senhora da Paz e o bloco de Carnaval Se Benze que Dá. O objetivo deste estudo é apresentar aspectos de identidade e sociabilidade dos moradores da Maré por meio das festas mencionadas. Como metodologia estamos realizando uma investigação etnográfica que consiste em: estudo de campo, entrevistas com os responsáveis pela organização das festas, realização de fotografias atuais das festas e estudo de fotografias já realizadas destas festas. Acreditamos que as festas são mantenedoras das tradições de uma comunidade e, ao mesmo tempo, produzem sociabilidade entre os membros do grupo. Um dos autores que comprova esta hipótese é Émile Durkheim em sua obra clássica As Formas Elementares da Vida Religiosa. Outras importantes referências para este trabalho são: o livro Fogo no Mato de Luiz Antonio Simas e Luiz Rufino e a tese de doutorado Festa à Brasileira: Significados do festejar no país que não é sério escrita por Rita Amaral.
Felipe Antonio Honorato (IESCAMP) ST23
Ocupação, exploração e gênero no Congo Belga: o caso da música popular congolesa em Léopoldville
Este trabalho discute, através de uma revisão bibliográfica, a música popular congolesa como um dos resultados de um processo de crioulização causado pelas escolhas do poder colonial para ocupação, exploração e espoliação do antigo Congo Belga (colônia do Estado belga entre 1906 e 1960, atual República Democrática do Congo - RDC), e o papel relevante que este gênero musical teve, dentro deste contexto colonial, para o empoderamento da mulher congolesa na cidade de Léopoldville, nome colonial de Kinshasa, hoje capital da RDC.
Felipe Bandeira Netto (UFPA) ST15
A imagem revela o observador: fotografar o nu – um ensaio fotográfico de nu masculino e provocações amadoras
A fotografia consegue aos poucos (re)construir partes da nossa realidade, e dentre as inúmeras formas de se expressar por meio das imagens, encontramos a fotografia do corpo nu, que enfrenta tabus mesmo que nossa sociedade seja uma consumidora voraz de pornografia. Somos uma sociedade que consome o nu do corpo quase que o tempo todo, sejam em sites, ou em redes sociais online, que naturalizaram o envio de “nudes”, mas ainda assim, condenamos o nu mas não o excluímos, o mantemos em “segredo”, para não ferir a moral e a natureza do pudor. Neste sentido, existe uma discussão pertinente e repleta de entendimentos falhos sobre a linha tênue que separa o que venha a ser artístico, do o que é entendido como pornográfico no que diz respeito ao corpo nu. Assim, a proposta ensaística deste texto não é buscar uma resposta para perguntas como “o que é o nu?”, “como a sociedade o vê?”, “porque não o “aceita”?”, “porque o proíbe?” e quaisquer que forem os questionamentos pertinentes no decorrer do texto, mas sim, fazer provocações neste sentido, e apresentar um ensaio fotográfico de nu amador. Lançar questionamentos neste vasto universo do corpo e do nu fotográfico não pornográfico.
Felipe Bellido Quarti Cruz (PUC-Rio) ST33
A relação entre o Atlântico negro e o movimento negro contemporâneo na formação de uma agenda afro-latino-americana sobre a discussão racial
Este trabalho procura discutir a questão racial a partir do pensamento afro-latino-americano. O objetivo desta análise é entender como se deu a relação entre o movimento negro contemporâneo no Brasil e o Atlântico negro (GILROY, 2001). Para tanto, fizemos um levantamento bibliográfico acerca do movimento negro brasileiro e a relação deste com intelectuais da África e da América. Com o objetivo de materializar o debate, produzimos uma análise acerca de dois pontos específicos: a discussão sobre ação afirmativa e suas experiências ao redor do mundo; e o vínculo entre figuras centrais da formação do movimento negro contemporâneo e militantes de outras partes do Atlântico.
Felipe Brito Macedo (UERJ/IESP), Marcia Rangel Candido (UERJ/IESP) ST01
Análise das assimetrias regionais da produção brasileira em Ciência Política e Sociologia a partir do sistema Qualis Capes
Recentes discussões sobre "dependência acadêmica" convergem elementos de bibliomentria e cientometria e da dependência intelectual das periferias em relação aos Centros hegemônicos da modernidade, pensamos as assimetrias internas como complementares às externas. O objetivo proposto é analisar disparidades geográfica e de gênero através dos periódicos catalogados pelo índice Qualis Capes nas duas áreas. Elaboramos nossa base atribuindo dados de gênero e estado de origem para os periódicos catalogados, além de mensurar proporção de gênero na autoria de artigos de A1 e B1-2 e a origem institucional do estrato A1. As revistas internacionais provenientes dos Centros globais representam mais de 70% dos estratos A1-2. Nacionalmente, há um eixo Centro-Sul, capitaneado por SP, RJ e RS, que congrega a maioria quantitativa da produção, além de quase a totalidade dos estratos superiores. Quanto ao gênero, há desproporção significativa em favor de autorias masculinas nos três primeiros estratos. Os resultados apresentados confirmam aspectos históricos da institucionalização destas áreas no Brasil articulados a própria formação e centralidade político-econômica de determinadas regiões.
Felipe Colla de Amorim (USP) ST01
Diálogos transnacionais: Alex Inkeles, Samuel Huntington e a institucionalização da ciência política brasileira
Inserido em uma pesquisa sobre o processo de institucionalização da ciência política brasileira nas décadas de 1960 e 1970, esta proposta de investigação se propõe a descrever a natureza da interlocução de dois cientistas sociais norte-americanos — Alex Inkeles e Samuel Huntington — com três dos pioneiros institutos de ciência política do país, no Rio de Janeiro (Iuperj), Belo Horizonte (DCP-UFMG) e Porto Alegre (UFRGS). Partindo da análise e da descrição de uma documentação inédita coletada em arquivos estrangeiros, procuraremos produzir um mapeamento dos eventos e das redes das quais participaram em conjunto com alguns dos pioneiros da ciência política brasileira: quais ideias, arcabouços teórico-metodológicos, desenhos institucionais de gestão de centros acadêmicos e estratégias de produção de pesquisas em ciência política foram privilegiadas a partir destes diálogos transnacionais.
Felipe Ferreira Vander Velden (UFSCar) ST35
Artefatos multiespécies: Histórias materiais das relações entre povos indígenas e animais exóticos no Brasil
Esta comunicação pretende abordar artefatos indígenas que constituem evidências materiais dos encontros entre povos indígenas e espécies animais introduzidas com a conquista. Mais especificamente, espera oferecer uma análise preliminar de certos objetos manufaturados que amalgamam partes de corpos de animais exógenos e de animais nativos. O que estes artefatos podem nos dizer da história das relações interespecíficas nos mundos indígenas, tomando-se diferentes tipos de animais (nativos e adventícios) e distintos tipos de humanos (índios e não índios)? Podemos tomar tais objetos como evidências tangíveis do encontro e da contaminação recíproca entre dois (ou mais) mundos distintos, humanos e não humanos? É possível investigar tais peças, seguindo as sugestões de Anna Tsing, como expressões materiais do Antropoceno? Tal discussão, de caráter provisório, busca chamar a atenção para um aspecto ainda pouco abordado pelos estudos das interações entre humanos e animais inaugurados com a virada animal, a saber, sua dimensão material, relativa aos objetos que, como outro tipo de não humano, conectam ou vinculam distintas espécies e expressam, aos seus modos, formas variadas de relação.
Felipe Lima Eduardo (UFMG) ST27
“Committed Brokers”: a dependência entre prefeitos e deputados no Brasil
A relação de comprometimento entre prefeitos e deputados, na dinâmica política brasileira, vai além do apoio durante as eleições. Apesar desta relação ser amplamente conhecida, ela ainda é pouco explorada pela literatura. Este trabalho busca mostrar que este comprometimento é importante no desenho representativo do país, dado que prefeitos trabalham como brokers dos deputados e, vice-versa, deputados trabalham como brokers dos prefeitos. Outro ponto a ser explorado, pelo trabalho, é o quanto que a dinâmica de comprometimento, entre esses dois atores políticos, pode ser considerada uma relação que ultrapassa os laços partidários ou não. Neste sentido, o trabalho explora pontos já encontrados por Avelino et. al. (2012), que demonstraram o quanto a eleição de prefeitos influencia o desempenho de candidatos a deputados, do mesmo partido, em eleições subsequentes. Mas, a partir de novas evidências, o artigo permite problematizar dois pontos: a importância de deputados serem apoiados por prefeitos bem avaliados e a disposição de prefeitos para apoiarem candidatos de outros partidos.
Felipe Nery Alves Pinto (UNICAMP) ST01
Emilio Willems entre três mundos: A influência da antropologia Norte-Americana
Esta comunicação faz parte de um projeto mais amplo que venho desenvolvendo em que acompanho o processo de consolidação da antropologia no Brasil a partir da obra e dos intercâmbios acadêmicos de um pesquisador central para a institucionalização da mesma: Emilio Willems. Sendo o primeiro professor a ocupar a cadeira de antropologia na USP e tendo ocupado posições de destaque nas Ciências Sociais do país, Willems teve um percurso ímpar no desenvolvimento da disciplina. No entanto, apesar de sua origem alemã e dos 18 anos em que esteve no Brasil, a influência norte-americana é marcante em Willems e pouco abordada. Quando se fala da trajetória do professor, essa curiosamente parece finalizar com sua partida para os EUA. Dessa forma, mostrar, a partir de um variado acervo documental que inclui uma autobiografia inédita do autor, não só a influência que a academia Norte-Americana teve nos estudos de Willems enquanto esteve no Brasil, mas o seu percurso institucional a partir de sua ida enquanto professor para os EUA, parece fundamental para repensar o estudo de sua trajetória na história da antropologia e os trânsitos entre Brasil e EUA.
Felipe Sussekind Viveiros de Castro (PUC-Rio), Fernando Patricio Ribeiro (PUC-Rio) ST35
A controvérsia socioambiental dos micos: espécies invasoras ou espécies companheiras?
Ao longo de décadas recentes, duas espécies de saguis (Callithrix jacchus e Callithrix penicillata), oriundos respectivamente de regiões da Caatinga e do Cerrado, colonizaram as áreas verdes da cidade do Rio de Janeiro (e de quase toda a região Sudeste), hibridizando entre si e ocupando nichos ecológicos variados. Trata-se de um caso singular que envolve adaptação ecológica e constituição de relações multiespécies. Os híbridos resultantes deste processo são tratados por alguns pesquisadores – primatólogos, ecólogos, entre outros – como pragas que devem ser controladas, por outros como espécies invasoras, por outros ainda como exemplos de surgimento de novas espécies, um fenômeno a ser estudado. Para os moradores das imediações de áreas verdes da cidade ou frequentadores de parques, por outro lado, são muitas vezes alimentados e vistos com simpatia, e até como símbolos do contato com a vida silvestre. O objetivo deste trabalho é mapear os processos de formação e constituição das comunidades híbridas em que os micos estão situados nos termos de uma controvérsia socioambiental.
Felícia Silva Picanço (UFRJ), Maira Covre-Sussai (UERJ) ST36
Papéis de gênero e divisão das tarefas domésticas segundo gênero e cor no Brasil: outros olhares sobre as desigualdades
O modelo tradicional de família vem perdendo espaço nas sociedades modernas, como já documentado por diversos estudos. Mas a adesão a tal modelo nunca foi uniforme. A vasta literatura sobre famílias negras nos EUA aponta que as mulheres negras são menos propensas que as mulheres brancas a oficializar o casamento, são menos dependentes dos seus cônjuges e, do ponto de vista das atitudes, homens e mulheres afro-americanas tendem a ser mais tolerantes com mães que trabalham e mais igualitários em relação aos papeis de gênero. Essa diferença ocorre em função dos constrangimentos socioeconômicos experimentados historicamente por este grupo social. E no Brasil? Esse artigo utiliza dados do survey Gênero e Família, realizado em 2016 no Brasil para analisar as i) percepções de papéis de gênero, ii) práticas de divisão do trabalho doméstico e iii) satisfação com a conciliação entre o trabalho reprodutivo e produtivo segundo gênero e raça. Para tal foram construídos a) três índices para medir as dimensões acima, b) análises da variação das médias dos índices por gênero e cor; c) análises de regressão para medir o efeito das variáveis sobre os índices.
Fernanda Bittencourt Ribeiro (PUCRS) ST16
Entre idas e vindas: etnografia numa casa de passagem para "crianças e adolescentes"
Neste trabalho, a noção de circulação de crianças será o ponto de partida para uma análise das dinâmicas cotidianas de trânsito de crianças e adolescentes em instituições de acolhimento. A partir de uma pesquisa etnográfica realizada ao longo de dois anos junto a uma Casa de passagem localizada na grande Porto Alegre, interroga-se como a prática de circulação figura atualmente em acolhimento institucional. Os residentes desta casa são meninos e meninas de até 18 anos de idade. Através da etnografia situada no cotidiano da instituição e da pesquisa em seus arquivos, coloca-se em perspectiva, o caráter "excepcional e provisório" atribuído à medida de acolhimento institucional e a permanência da mobilidade e da circulação como práticas inseridas no cotidiano de grupos populares. Em acordo com as abordagens que preconizam a capacidade de agência dos sujeitos designados crianças ou adolescentes, a análise focaliza, especialmente, seus modos de participação ativa nas dinâmicas de circulação. A partir deste interesse, destaca-se a recorrência das fugas (ou evasões) que configuram um modo de agência em permanente tensão com as regras institucionais e com os acordos firmados.
Fernanda Cimini Salles (UFMG), Débora Freire Cardoso (UFMG), Leticia de Souza Daibert (FLACSO Argentina) ST09
A captura silenciosa: como as elites econômicas reforçam o paradoxo de Robin Hood no sistema tributário brasileiro
Democracias possuem impulsos igualitários ao permitir que maiorias, em contexto de elevada desigualdade, votem à favor da tributação e redistribuição. Contudo, a experiência latino-americana desafia esse argumento, aproximando-se mais ao chamado paradoxo de Robin Hood: sociedades desiguais redistribuem menos que sociedades igualitárias. O artigo associa esse paradoxo ao mecanismo de captura política exercido pelas elites econômicas sobre as políticas tributárias, investigando os potenciais ganhos/perdas econômicos que decorrem dessa captura. Especificamente, analisa a viabilidade econômica e política de se realizarem alterações no sistema tributário brasileiro para aumentar a possibilidade de arrecadação de impostos sobre os mais ricos concomitantemente à adoção de políticas distributivas focalizadas nos mais pobres, por meio de simulação de equilíbrio geral computável. Os resultados da simulação sugerem ganhos econômicos caso fosse introduzida uma política dessa natureza. Já a análise política sugere que as elites econômicas beneficiaram-se da complexidade jurídica do sistema tributário para silenciosamente capturá-lo a seu favor em detrimento da maioria.
Fernanda Novaes Cruz (IESP-UERJ), Perla Alves Bento de Oliveira Costa (UFF) ST11
“Ganso” por todo lado: Análises sobre as representações dos usuários de drogas pelos policiais militares do Rio de Janeiro
O trabalho pretende abordar e explorar a categoria "ganso" vista sob dois vieses distintos, contudo entrelaçados. O termo adotado no cotidiano da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ) denota o estigma (GOFFMAN, 1980) em torno de pessoas que apresentam algum tipo de envolvimento com envolvimento com drogas ilícitas. O trabalho analisa o "ganso" a partir dos resultados encontrados nas observações participantes realizadas por Costa (2018) e Cruz (2019). Em um contexto, o "ganso" é aquele indivíduo que por se enquadrar em uma "sujeição criminal" relacionada às drogas, teme a presença da polícia. No outro, o "ganso" é o rótulo pejorativo atribuído aos policiais usuários de drogas. Em suma, se em um contexto a categoria "ganso" é utilizada para representar o "inimigo" em outro ela é utilizada para representar um "de dentro" usuário de drogas. Apesar da atribuição do mesmo nome, a gestão desse rótulo acontece de forma distinta em cada um dos grupos. As autoras pretendem enlaçar esses cenários, suas representações e desdobramentos.
Fernanda Verissimo Soule (UFSCAR) ST40
Reconfiguração de modelos de gestão: o caso das empresas familiares no Brasil
Pesquisas que investigam mudanças históricas nos modelos de gestão concentram-se em descrever modelos dominantes nos diferentes períodos do capitalismo. Esta pesquisa enfoca modelos que perderam legitimidade, mas que permanecem empiricamente relevantes. Analisam-se as reconfigurações dos modelos de empresa familiar relacionados às transformações das configurações ideológicas do capitalismo entre 1970 e 2018 no Brasil. A sociologia pragmática francesa é o principal referencial teórico-metodológico. Realizou-se uma análise do conteúdo de manuais sobre gestão de empresas familiares, conduzida com os softwares Prospero e NVivo. Também estão sendo realizadas entrevistas, análise de materiais com fins educativos e observação participante em eventos. A análise está estruturada em três períodos, com destaque à emergência das ideias de profissionalização, governança corporativa, holding e family office. O primeiro período é associado ao capitalismo industrial e trata da emergência da categoria empresa familiar no espaço da gestão. O segundo enfoca a influência da financeirização em categorias associadas a empresas familiares. Por último, analisa-se a influência do capitalismo conexionista.
Fernando Augusto de Souza Guimarães (UFSCar) ST37
Reencarnação e imortalidade do espírito: a normalização da homossexualidade na doutrina espírita
Partindo das tensões existentes na arena política com relação aos direitos sexuais e reprodutivos, esse trabalho busca analisar e discutir o modo pelo qual surge no espiritismo um discurso que normaliza e normatiza a homossexualidade. Tal discurso se embasa nas doutrinas da reencarnação e da imortalidade do espírito como fundamentais a compreensão da homossexualidade. A abordagem pretendida se faz por meio de pesquisa bibliográfica de obras espíritas sobre o tema, tomando por referência o trabalho de Francisco Cândido Xavier como precursor desse debate junto das produções de intelectuais espíritas contemporâneos, precisamente dois livros de Andrei Moreira: Homossexualidade sob a ótica do espírito imortal e Transexualidades sob a ótica do espírito imortal. Por consideração final se argumenta que o discurso espírita de normalização da homossexualidade pode ser considerado como resultante dos contextos de ampliação dos direitos de indivíduos LGBT.
Fernando Cardoso Lima Neto (PUC-Rio) ST17
Betinho e as ONGs: sociogênese de uma nova militância
A noção de sociogênese permite articular o plano macroestrutural de formação do campo das ONGs no Brasil ao plano biográfico de um dos seus principais atores, Herbert de Souza, conhecido popularmente como Betinho. Sustento que existe uma relação de forte correspondência entre esses dois planos. A biografia de Betinho sintetiza em um plano individual boa parte das transformações que estiveram subjacentes à emergência do campo das ONGs no Brasil: (i) a aproximação e o posterior afastamento entre religião e política, (ii) a diversificação das pautas e agendas de reivindicação e (iii) a reinvenção de laços de emoção com a política fora das arenas convencionais de representação. A trajetória de Betinho individualiza e imprime contornos carnais a transformações estruturais profundas na vida política nacional, tanto no que diz respeito a suas instituições quanto à cultura política. A formação do campo das ONGs foi um resultado não programado desse processo e possui relações umbilicais com a formação do ativismo político de Betinho.
Fernando de Barros Filgueiras (UFMG) ST04
Governança digital, desafios democráticos e os tempos de turbulência
Este paper examina a adoção de tecnologias de informação e comunicação (TIC) e as consequências da transformação digital para as estruturas de governança dos estados ocidentais contemporâneos. A governança digital resulta de processos de transformação digital em governos e democracia, gerando turbulências no ambiente institucional e em organizações públicas. A construção da governança digital em tempos turbulentos revela um contexto ambíguo que desafia governos e sociedade. O paper aponta os dilemas e desafios da governança digital para o aprimoramento institucional das organizações públicas e defende uma estratégia de robustez institucional como a principal constatação de uma estratégia de governança mediada por tecnologias.
Fernando de Castro Fontainha (IESP-UERJ), Luiza Meira Bastos (IESP-UERJ) ST19
Entre comendadores, cruzes e colares: a ordem do mérito judiciário trabalhista no Rio de Janeiro
Esse trabalho tem como objetivo analisar a distribuição de honrarias pelo Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região (Rio de Janeiro) a partir do perfil de pessoas que são agraciadas e da composição do tipo de homenagem. A pesquisa tem como pressuposto que a distribuição de medalhas é mobilizada simbólica distintiva da elite jurídica. Com base nas informações disponibilizadas pelo próprio tribunal foi possível realizar análises descritivas, em nove anos, sobre o tipo da ordem do mérito distribuído, a ocupação, o sexo, o ano da homenagem e a endogenia das pessoas agraciadas. Para fins de organização das análises, essas foram divididas em quatro partes: (1) análise geral; (2) em relação à endogenia; (3) sobre mulheres; (4) por ocupação. Os resultados mostraram que políticos, oficiais das polícias militar ou civil, imprensa e pessoas representando associações ou sindicatos se destacam nas homenagens para além daqueles que fazem parte do meio jurídico. A endogenia é um fator importante, porém é mais evidenciada quando se trata das medalhas distribuídas às mulheres. Essas análises indicam como as profissões judiciárias se organizam como elites.
Fernando de Jesus Rodrigues (UFAL) ST39
“Necessidade” de “polícia” e a “paz” das “facções”: desejos de “ordem” e efeitos de “desordem” nas periferias de Maceió, AL
Nesse trabalho, aponto para mudanças nas redes de um bairro e concepções de ordem e justiça entre moradores de uma “grota” em Maceió. “Grota” expressa a um só tempo um lugar geológico e social, primo-irmão da “favela” e da “periferia”, tendo embutido nele as pressões por redução dos valores de seus moradores e a luta contra tais forças. Distanciando-me da ideia de um dentro e um fora da “grota”, indago como as redes familiares, policiais e criminais tem-se entrecruzado na modelagem dos ambivalentes acervos de símbolos e gestos de ordem e justiça, ao mesmo tempo local, mas também entre bairros, moldando zonas de circulação de disposições (a)políticas, mercantis e de justiça nas periferias de Maceió. A partir de registros de campo e entrevistas, desenho linhas de transformação nas redes de pessoas marcadas por dois fenômenos. A ampliação das redes faccionais PCC e CV e as reações a ela, expressas na luta de donos de biqueiras/boca de fumo por se manterem "neutros", “sem facção", e no crescimento das milícias. Tentando entender as mudanças pós-rompimento da aliança CV-PCC em 2016 e pós-eleições 2018, esboço reflexões sobre as recentes condições de pobreza e vida periférica.
Fernando Lattman Weltman (UERJ), Marina de Freitas Garcia (UERJ) ST22
Mídia e pluralismo: A agenda da democratização midiática em contexto de revolução digital
A sociedade pós-ditadura encontrava-se revolucionada em várias dimensões, inclusive via comunicação em quase todo o território nacional. Esse contexto de liberação, de par com resultados eleitorais e fenômenos de comunicação surpreendentes, levou então à (re)afirmação de uma agenda de reforma do sistema midiático, no sentido de correção de suas supostas disfunções enquanto instituição essencial à ordem democrática. Com esse trabalho pretendemos apontar para a possível obsolescência dessa agenda. Ou seja, tudo leva a crer que a aposta em expectativas democratizantes, baseadas em: a) idealização das vocações naturalmente democráticas da sociedade civil; b) privilegiamento estratégico da TV como meio dominante; e c) uma redução ideológica do conteúdo midiático, com base no conceito gramsciano de hegemonia, parecem ter sido superados pela novas tecnologias e sua massificação. De modos que as mídias mais influentes politicamente hoje, podem ser outras, seu discurso não pode mais ser tão facilmente unificado, além de se contrapor tanto à chamada hegemonia liberal-conservadora das grandes mídias, quanto à (contra)hegemonia dos defensores históricos da democratização midiática.
Fernando Meireles (IESP-UERJ), Royce Carroll (Essex) ST27
Ideological congruence in multilevel systems: The case of Brazil
How well do legislative elites represent voters? Here, we examine voter-elite congruence in the multi-level context of Brazil's federal system. We extend recent work on congruence by including an unprecedented amount of national and state elite survey data into a unified study of voter-elite relationships. We exploit the fact that these surveys include questions asking respondents to place major Brazilian parties and figures and themselves in a left-right ideological scale to estimate deputies and respondents' ideal points in a common scale using Bayesian Aldrich-McKelvey scaling. We show that even in the fragmented Brazilian party system there is a high degree of overall congruence between voters and politicians' ideological positions, particularly with regard to state deputies. However, we find that this is less clearly the case between the major parties and their supporters, with the major right-wing parties tend deviating substantially from their voters. In our dyadic analysis, which allows us to consider the characteristics of specific deputies and voters, we find that higher educated and especially higher income deputies are among those least congruent with voters.
Fernando Perlatto (UFJF) ST17
Um país em crise e a literatura brasileira contemporânea
O presente trabalho tem como objetivo principal realizar uma reflexão sobre a literatura brasileira contemporânea e sua relação com a crise política e social atravessada pelo país ao longo dos últimos anos. Parte-se do pressuposto segundo o qual o recrudescimento da crise teve impactos sobre a esfera pública cultural, de modo geral, e sobre o campo literário, em particular, com consequências significativas tanto nas dinâmicas de organização, de mobilização e de inscrição dos escritores na vida pública, quanto no que concerne ao conteúdo da ficção produzida, que tem se mostrado mais responsivo a questões prementes do tempo presente. Para tanto, o trabalho está divido em duas partes: em um primeiro momento, busca-se construir um panorama da cena cultural e literária do país nos últimos anos, com o intuito de analisar de que maneira os escritores têm repensado suas formas de produzir e de se inserir na esfera pública. Em um segundo momento, procura-se refletir, a partir da análise de algumas obras, de que maneira a ficção brasileira tem se mostrado responsiva a temas sensíveis da agenda pública que ganharam novos contornos neste contexto de crise do país.
Fernando Wisse Oliveira Silva (UFPR), Sergio Soares Braga (UFPR), Luiz Henrique Champoski (UFPR) ST04
Mapeando e avaliando boas práticas em governança digital: Uma análise do sucesso, fracasso e sobrevivência dos aplicativos do Portal Brasileiro de Dados Abertos
Este trabalho tem por objetivo principal realizar um levantamento e avaliação de ações governança digital, destacando aquelas que podem auxiliar na transparência e maior engajamento dos cidadãos nas atividades da esfera púbica. Mais especificamente, procura-se avaliar o emprego dos Dados Governamentais Abertos a partir análise de aplicativos presentes no Portal Brasileiro de Dados Abertos. Com uma pesquisa de 30 aplicações, busca-se verificar se são apresentados resultados tangíveis na utilização de cada um destes aplicativos. Para a caracterização e estudo comparado de tais experiências, utilizamos a análise de conteúdo e testes de correspondência múltiplas para entender quais os fatores associados ao sucesso, fracasso e duração das aplicações. Como resultados parciais, estão a falta de atualização e especificação da origem dos dados obtidos em parte dos aplicativos analisados, prejudicando a reprodutibilidade dessas iniciativas em diferentes cenários, bem como a baixa duração e efetividade de boa parte de tais experiências. Com efeito, das 30 experiências examinadas, 17 apresentaram algum grau de incompletude nas várias etapas de sua implementação.
Filipe de Oliveira Peixoto (IESP-UERJ) SPG29
Panorama do Ensino a Distância no Brasil no período 2006-2016.
O ensino superior brasileiro passou por grandes transformações desde a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação da Educação Nacional de 1996. Uma das suas principais mudanças, do ponto de vista da oferta, foi a expansão da modalidade não-presencial de ensino, principalmente após a promulgação da lei 5.622 de 2005. De fato, no período entre 2006 e 2016 cursos a distância passaram de 4,24% para 18,57% do total de alunos matriculados no ensino superior brasileiro. Apesar desta veloz expansão, o sistema de ensino a distância não parece ser composto do mesmo perfil de cursos, instituições e alunos que o ensino presencial. O objetivo deste trabalho, assim, é mapear as especificidades da oferta e do perfil da educação a distância no Brasil entre os anos de 2006 e 2016, e como esta mudou neste período de forte expansão. Tal trabalho serve de contextualização também para futuros estudos que possam buscar mensurar a qualidade do ensino superior a distância ou desigualdades no acesso a este em relação ao ensino tradicional presencial.
Flasângela Nágera Silveira (UERJ) SPG14
Cotas de Gênero e o Financiamento das Mulheres no Contexto das Novas Regras Eleitorais: estudo exploratório a partir das eleitas e dos eleitos para a Câmara de Deputados em 2018
As Cotas de Gênero no Brasil contribuíram para aumentar o número de candidatas, mas não o de eleitas. Dentre as variáveis explicativas para tanto destacamos o financiamento eleitoral. Considerando que as novas regras eleitorais incidiram nos padrões de financiamento por gênero tomamos os eleitos e as eleitas para a Câmara Federal em 2018 por objeto e fizemos estudo com estatísticas descritivas, analisando dados fornecidos pelo Sistema de Prestação de Contas do TSE. Verificamos como se formaram as receitas entre os sexos; se as mudanças no financiamento aumentaram as receitas femininas; se tais mudanças repercutiram na competitividade destas. Concluímos que as deputadas eleitas receberam, proporcionalmente, mais recursos públicos que os homens e foram os fundos públicos os que representaram maior fatia das receitas dos candidatos, sendo ainda mais relevantes para mulheres eleitas do que para homens. A taxa de sucesso das mulheres também melhorou entre os pleitos de 2014 e 2018. O indicativo é que a regulação que garantiu mínimo de 30% dos recursos públicos por gênero contribuiu para o aumento dos votos femininos, colaborando indiretamente para a efetividade das Cotas de Gênero.
Flavia Brancalion (USP) ST25
As peças do triunvirato do grupo Música Nova: uma abordagem sociológica da obra
Willy Corrêa de Oliveira, Gilberto Mendes e Rogério Duprat estiveram a frente das atividades criativas do grupo de compositores Música Nova da primeira metade da década de 1960. A partir da análise cruzada de suas trajetórias, dos círculos de sociabilidade em que se movimentavam e da origem social, é possível jogar luz sobre uma questão importante do meio da música de concerto da cidade de São Paulo da época: quais eram as condições de possibilidade para se tornar um compositor de música de concerto ali? A análise sociológica nos três marcos citados anteriormente fornece uma visada do campo musical, sobre suas disputas e seu sistema de rivalidades em torno das propostas de modernismo e nacionalismo musicais. No entanto, tal abordagem corre o risco de engessar as teias de interdependência de um campo além do que seria razoável em visadas relacionais e objetivistas. Assim, propomos a combinação de outro marco analítico, qual seja, a consideração da obra musical, despida dos debates da Musicologia, como trabalho formal criativo de dar contornos e sentido ao lugar do compositor em meio às tensões do campo social.
Flavia Melo da Cunha (USP) ST05
Sobre sentidos, agenciamentos, feminismos e antropologias não hegemônicas na cidade de Benjamin Constant, Amazonas
O trabalho revisita uma experiência prolongada de ensino e extensão na cidade amazonense de Benjamin Constant aonde foi instalado, no ano de 2006, um campus da Universidade Federal do Amazonas. Ali, em 2012, começamos o Observatório da Violência de Gênero no Amazonas (OVGAM), um programa de extensão cuja atuação, afinal, estendeu-se a outras pequenas cidades daquela região, situada na tríplice fronteira de Brasil, Peru e Colômbia. Além de rememorar uma parte do processo de implementação do Bacharelado em Antropologia, do qual participei intensamente entre 2010-2016, e da criação e consolidação do OVGAM, proponho uma análise cruzada de trajetórias em que reflito sobre feminismos e antropologias não hegemônicas.
Flávia Amboss Merçon Leonardo (UFMG), Marcos Cristiano Zucarelli (UFMG) ST07
O direito à água e a harmonia coerciva dos acordos: o Programa de Indenização Mediada como reparação pela restrição ao uso da água em decorrência do desastre no vale do rio Doce
A relação de diversos moradores, residentes em povoados ou municípios que integram a bacia do rio Doce, com a água mudou desde o desastre deflagrado com o rompimento da barragem de Fundão. Enquanto a lama de rejeitos de mineração derramava no leito do rio, cidades inteiras tiveram de interromper o abastecimento de água à população. Vários outros distritos e povoados que ficam às suas margens tiveram sua única fonte de água destruída. Em conjunto com as empresas responsáveis pela estrutura rompida instituições governamentais e judiciárias definiram mecanismos de elegibilidade, controle e pacificação social como forma de encapsulamento e de "diálogo harmonioso" para a gestão e resolução do conflito. O objetivo deste artigo é examinar tais tecnologias sociais de gestão do conflito replicadas aqui em um caso de desastre, e seus efeitos sobre as correlações de forças estabelecidas neste campo com suas respectivas possibilidades de participação, reparação e deliberação. Para isso, centramos as análises no Programa de Indenização Mediada (PIM), proposto pela Samarco (Vale e BHP) por meio da Fundação Renova, aquelas populações que foram submetidas a restrições ao uso da água no rio Doce.
Flávia Ayres Loschi (PUC-SP) ST13
Etnografias (im) possíveis: uma reflexão sobre o centro de excelência em etnografia
O marketing se apropriou da etnografia e a transformou em um recurso para compreender o “consumidor”, em contraponto ao seu uso na Antropologia. Para ele, interessa saber a opinião dos “consumidores”; para a Antropologia, interessa conhecer o modo de vida dos homens. Uma das três maiores multinacionais de pesquisa de marketing do mundo tem um departamento especializado em etnografia, o “Centro de excelência em Etnografia -ECE” – que é responsável por fazer etnografias para grandes marcas de consumo no mundo todo. Se, como sugere Marilyn Strathern, ao falar sobre o outro, falamos mais de nós mesmos, esse papear se propõe a refletir sobre as formas de pensar a etnografia na Antropologia, a partir da sua tradução para o marketing. Poderíamos definir a etnografia, como propõe Mariza Peirano, como uma combinação entre a teoria e a prática, mas a sua perspectiva enquanto um fazer, não é consenso na disciplina. E são essas divergências que interessam a este projeto, trata-se de uma pesquisa epistemológica. Como resultado, espera-se contribuir para o debate da Antropologia sobre a etnografia, os seus modos, usos e escritas no capitalismo.
Flávia Ferreira Pires (UFPB), Patrícia Oliveira Santana dos Santos (UFCG) ST13
A escola que temos e a escola que teremos: notas etnográficas sobre escola, ensino e educação entre as crianças beneficiárias do Programa Bolsa Família
Nos propomos nesse trabalho discorrer sobre a relação das crianças beneficiárias do Programa Bolsa Família (PBF) com a escola. O PBF é um programa de transferência condicionada de renda que tem por base a exigência de um tripé de condicionalidades nas áreas de saúde, educação e assistência social. Os dois últimos eixos, por sua vez se descumpridos podem gerar suspensão ou até mesmo cancelamento do benefício. Por isso, mas também por ser a condicionalidade que com mais frequência é fiscalizada, a condicionalidade escolar encontra-se tão associada ao programa, tendo uma exigência de frequência escolar mínima de 85% para que haja o repasse financeiro. Assim, se o programa tem assegurado a presença das crianças na escola pela condicionalidade é preciso verificar como tem se estabelecido a relação das crianças com a escola e a educação. É esse o objetivo central desse texto. Este trabalho encontra-se ainda fundamentado na realização de pesquisas etnográficas nos municípios de Catingueira (PB), Orobó (PE) e João Pessoa (JP), com o auxílio da observação participante e de técnicas de pesquisas realizadas com crianças, como grupos focais, desenhos, redações e dinâmicas de interação.
Flávio Leonel Abreu da Silveira (UFPA) ST35
Coletivos humanimais no mundo urbano de Belém (PA): urubus-de-cabeça-preta e garças-brancas-grandes num cenário de cartão postal
A cidade de Belém (PA) apresenta “lugares praticados” onde a co-produção de nichos ecológico-existenciais entre coletivos humanos e não humanos é um fenômeno recorrente, e ainda muito pouco conhecido no âmbito de uma antropologia urbana interessada nas relações humanimais na urbe. O contexto sociocultural relativo às áreas limítrofes dos bairros está marcado pela grande presença de trabalhadores dos diversos setores do Complexo do Ver-o-Peso, dos compradores de peixes na feira e habitués, de certos indivíduos considerados “marginais”; pela deambulação de turistas nacionais e estrangeiros que circulam entre esta porção e àquela do Centro Histórico e, certamente, dos urubus-de-cabeça-preta (Coragyps atratus) que podem chegar à marca de 400 indivíduos em um único dia no local, além da frequente presença das garças-brancas-grandes (Ardea alba), que vem aumentando o seu número no local nos últimos anos. Os animais perambulam disputando alimentos entre bicadas, mas também espaços entre si, mantendo uma relação de proximidade e distância com os humanos, pousando nos antigos casarões, nas muitas embarcações atracadas, ou em qualquer lugar que possam fazê-lo.
Flora Rodrigues Gonçalves (UFMG) ST08
Medicamentos, deficiências e cartografia de patentes: uma auto etnografia para se pensar sobre.
O objetivo desse trabalho é compreender como as patentes de medicamentos acionam uma multiplicidade de mundos e agentes que parecem, à primeira vista, invisíveis. As patentes fazem parte de um mecanismo que nem sempre envolve apenas inovação e competição. Essa discussão, fruto de minha pesquisa em andamento no Doutorado, surgiu da necessidade de discutir a proteção patentária de alguns remédios quando eu tive, como experiência pessoal, de acionar a Farmácia de Alto Custo do SUS e conviver com todas as questões que os remédios e seus usuários enfrentam diariamente. Dessa forma, a partir de uma análise antropológica, pretendemos compreender porque as patentes são formas de experimentar o mundo. E talvez, uma das formas mais violentas possíveis.
Francine Netto Martins Tadielo (UFABC), Francine Netto Martins Tadielo (UFABC) SPG27
“Pelas famílias de bem, pela moral e os bons costumes”: a cruzada contra o gênero no discurso do Movimento Escola sem Partido em audiências públicas na cidade de Taubaté - SP
A pesquisa objetiva investigar os discursos de combate a categoria gênero produzidos em duas audiências públicas para aprovação do Projeto de Lei 103/2017 (Programa Escola sem Partido) na cidade de Taubaté-SP. Para tal análise, serão abordadas as transcrições das duas audiências públicas realizadas em 2017 para aprovação do projeto. Também serão explorados a escrita do diário de campo produzido nas audiências, utilizando-nos da genealogia. As discussões suscitadas nas audiências tecem a possibilidade de compreendermos que os discursos de combate ao gênero do Movimento Escola sem Partido buscam uma reafirmação da subalternidade da mulher e de seu papel no âmbito da família e à urgência da reafirmação da heteronormatividade. Através de uma torção dos significados das pautas feministas de gênero, especialmente relacionados aos direitos sexuais, com influência de grupos religiosos, afirma-se a importância da norma de gênero, sobretudo em relação aos papéis pré-estabelecidos (e complementares) de homem e mulher na sociedade, realçando o lugar estratégico da maternidade como forma de garantir (e não de cercear) os direitos das mulheres e sua emancipação, dentro da família.
Francisco da Silva Sarmento (UnB) ST35
Pássaros, peixes, cobras e humanos na concepção tukano, noroeste amazônico
O povo tukano, como os demais povos da família linguística Tukano Oriental, no Alto Rio Negro, noroeste amazônico, pensa sua relação com seu território dentro de um universo em que estão, além dos humanos, outros animais e, ainda, seres espirituais. Entre os animais, é relevante o destaque que se dá aos pássaros, peixes e cobras, representados desde o estágio cosmológico de formação da humanidade. Eles possuem um caráter simbólico de transformação desde esse processo. Apesar de habitarem este mundo como animais, suas imagens fazem parte do percurso circular da vida, desde a proto-humanidade até a vida pós-morte. Além dessa ideia, são ainda animais com corpos que se juntam para formar outros corpos, sendo estes de seres com formatos híbridos ou múltiplos, seja de animais, de animais-espíritos-encantados ou artefatos. A ideia é apresentar o ponto de vista de um povo indígena, a partir de um antropólogo nativo (tukano), a fim de suscitar novos olhares ou debates acerca da noção de humanidade e animalidade entre as sociedades indígenas amazônicas e a sociedade ocidental no que diz respeito às regras de etiquetas, ideias de respeito e de ética com os animais.
Francisco Josué Medeiros de Freitas (UFRJ) ST12
Os sentidos do governo Dilma: coalizões sociais e conflitos de classe a partir dos espaços de diálogo entre empresariado e trabalhadores
O artigo, parte de um pós-doutorado ainda em andamento sob orientação de André Singer, tem como objetivo contribuir com as análises desenvolvidas no CENEDIC/USP sobre as contradições do lulismo e com as reflexões sobre a crise da democracia que tomam corpo no recém-criado Núcleo de Estudos Sobre a Democracia Brasileira no âmbito do DCP/UFRJ. Trata-se de avançar no entendimento da coalizão social produtivista (Singer: 2016) e compreender como os conflitos entre frações de classe desta coalizão a inviabilizaram. O estudo se baseia nas atas do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e dos Conselhos Setoriais do Plano Brasil Maior, em entrevistas com membros que participaram desses fóruns e no acompanhamento das posições do empresariado expressas no jornal Valor Econômico entre 2011 e 2014. A hipótese do texto é que o empresariado rompeu a coalizão não por um determinismo econômico, mas por razões políticas: 1 – as motivações ideológicas que afastaram o empresariado do governo Dilma, em especial no tema do intervencionismo econômico; 2 – a frágil institucionalidade brasileira de concertação social, o que contribuiu para a exacerbação dos conflitos entre as frações de classe.
Francisco Pereira de Farias (UFPI) ST12
As frações burguesas e o executivo/legislativo
Nesta comunicação, aponta-se que, para além de uma "índole jurídica" (Duverger), tem-se como condição da segmentação dos ramos do aparelho de Estado a disputa de "hegemonia política" (Poulantzas) das frações do capital. Um dos resultados a que se chegou foi que a distribuição dos poderes executivo e legislativo tende a efetivar-se mesmo se a fração hegemônica ocupa ambos os poderes, em função de os representantes políticos dessa fração de classe, em desconfiança das inclinações "bonapartistas" (concessões aos interesses subordinados em troca da estabilidade política) da burocracia estatal, vir a dividirem com os membros dessa burocracia as tarefas diretivas do aparelho de Estado. Inversamente, em contexto no qual os representantes da fração hegemônica apresentem um elevado grau de conflitos entre si, tornando-se vulneráveis às críticas dos grupos subordinados, a distinção dos poderes legislativo e executivo tende a ser anulada, instaurando-se um regime de sobreposição ou fusão dos poderes, segundo a máxima de que se abre mão da democracia parlamentar em benefício da rentabilidade dos capitais.
Francisco Rômulo do Nascimento Silva (UECE), Geovani Jacó de Freitas (UECE) SPG03
Toda periferia é uma centro: a ação coletiva dos afetos e o direito de aparecer
Na esteira da contribuição de uma abordagem pragmatista para a sociologia da ação coletiva (CEFAÏ, 2009), é possível pensar os encontros-saraus realizados na cidade de Fortaleza (CE), Brasil, feitos pelos poetas como ações coletivas. O anseio por um líder não é mais uma tônica, nem tampouco uma defesa de uma única ideologia norteadora que pretenda explicar a realidade em sua concretude. Este aspecto aparentemente fragmentado das posturas políticas em sociedade pode ser encarado como uma busca pela emancipação, identidade própria, liberdade e rebeldia. Apresentamos uma escrita a partir de uma experiência etnográfica (CLIFFORD, 2014) do Sarau da B1, localizado no Conjunto São Cristóvão - Grande Jangurussu, Zona Sul da capital cearense. Neste sentido, objetivamos discutir como estes encontros-saraus se organizam enquanto ação coletiva e como os afetos contribuem para a possibilidade do direito de aparecer (BUTLER, 2018). A partir da expressão "toda periferia é um centro", discutiremos as implicações da circularidade, ocupação e as produções da periferia para a periferia que transformam a periferia em centro.
Francisco Sá Barreto (UFPE), Izabella Maria da Silva Medeiros (UFPE) ST21
A cidade como objeto do turismo patrimonial no século XXI: o negócio da memória pública no caso do Programa Monumenta em Recife, Pernambuco
Um mercado da cultura se consolida como promissor escape para políticas econômicas internacionalizadas por mercados intensamente interdependentes. O movimento pode ser bem descrito como um fenômeno bem característico ao século XX – museus de arte na Europa, desenvolvimento de um mercado da arte, criação da UNESCO, registro de patrimônios mundiais –, mas é notadamente nos anos 1990 que as cifras de um mercado da cultura ganham um outro patamar. De nada desprezível nos anos 1970, um suposto mercado da cultura passou a ocupar um lugar de destaque em um contexto de conversão das cidades contemporâneas em grandes negócios. Aliado a esse movimento, o desenvolvimento de uma indústria do turismo parece ser parte complexa do mesmo mecanismo, haja vista a forte valorização dos bens culturais estar cada vez mais atrelada ao registro de visitações em equipamentos responsáveis pelo armazenamento e exposição de um mercado da cultura material no globo, a saber, por excelência, os museus. Seria possível dizer, nesse contexto, que as cidades do século XXI se convertem em suporte estrutural, objetos para a instalação e desenvolvimento de mercados do turismo pautados pela agenda patrimonial?
Francisco Xavier Freire Rodrigues (UFMT), Elias Martins (UFMT) ST29
Investigação Sobre Assimilação do Futebol pelos Indígenas Umutina em Mato Grosso
Este trabalho consistiu em uma investigação qualitativa, analisando a relação entre o etno-desporto e a questão da diversidade cultural em Mato Grosso, tendo como foco o futebol entre os Umutina. Entende-se o etno-futebol indígena como processo de transformação dos jogos tradicionais e da incorporação do futebol ocidental nas aldeias. A nossa investigação se utilizou de estratégias e métodos de pesquisa qualitativa, tendo como técnicas observação, entrevistas e gravações de jogos. O futebol expressa um padrão de relações interculturais e Inter étnicas por meio do qual os índios manifestam suas identidades. No caso dos Umutina, a assimilação é possível quando a população indígena sai de sua aldeia e vai morar em fazendas, vilas, distritos e/ou cidades circunvizinhas. Nas fazendas se adequam a uma estrutura rural; na cidade são incorporados ao sistema de estratificação social, geralmente engrossando as camadas mais baixas, pois trabalham na construção civil e no comércio como garçons, mas não perdem o contato com os índios que residem na aldeia no município de Barra do Bugres/MT. PALAVRAS-CHAVE: futebol; povos indígenas; diversidade cultural
Frank Andrew Davies (UFPE) ST39
Selvas às margens das cidades: notas sobre os efeitos da presença de complexos militares no Rio de Janeiro e em Recife
Enquanto sedes de comandos regionais do Exército Brasileiro, as cidades do Rio de Janeiro e Recife contam com complexos militares que atendem as atividades da guarnição: são batalhões, quartéis, unidades logísticas, hospitais, vilas residenciais e espaços de treinamento concentrados à formação de uma vizinhança sui generis, envolta em muros, guaritas e sistemas de vigilância. Contíguos a bairros periféricos nos dois casos, os complexos militares marcam diferenças frente a entorno de Deodoro e do Curado, localidades de casarios simples, favelas, loteamentos e conjuntos habitacionais. No cotidiano dessas áreas, a presença verde-oliva traz efeitos à vida civil: ao mesmo tempo em que realizam ações assistenciais e pedagógicas com moradores do entorno, militares também empreendem práticas de controle e ordenamento sobre o território, restringindo modos de circulação, uso de equipamentos e administrando terras, edifícios e projetos urbanos. A partir da observação, conversas com atores envolvidos e acompanhamento de notícias sobre essas localidades, esta apresentação objetiva levantar aspectos dessa convivialidade, destacando a dimensão política da copresença no espaço urbano.
Frederic Vandenberghe (UFRJ) ST41
Os Fundamentos Normativos do realismo crítico. Uma leitura cruzado da Habermas e Bhaskar
Nesse paper, apresento uma leitura cruzada do realismo crítico de Roy Bhaskar e da teoria crítica de Jurgen Habermas para levar ambos para o campo da ética. Se pudermos introduzir o realismo na teoria crítica, estaremos capazes de fortalecer sua crítica do positivismo. Por outro lado, se introduzirmos a teoria crítica no realismo crítico, poderemos defender com mais vigor o racionalismo de julgamento e o realismo moral. A intuição que guiará minhas reflexões é que a reconstrução dialógica de Habermas e Bhaskar pode sustentar a "santíssima trindade" do realismo ontológico, do relativismo epistêmico e do racionalismo julgador no campo da ética. Se conseguirmos defender o realismo moral e o racionalismo de julgamento, não precisaremos mais ter medo do fantasma do relativismo moral.
Frederico Castelo Branco Teixeira (USP), André Rodrigues de Oliveira (USP), Ariadne Lima Natal (USP) ST43
A legalidade como obstáculo: atitudes com relação à polícia dentre os que apoiam e rejeitam a violência policial
O apoio de parte da população a soluções punitivistas e violentas no combate ao crime e à propagação da desordem ainda é uma realidade no Brasil. Graves violações de direitos humanos e o uso abusivo e ilegal da força é muitas vezes justificado oficialmente e por parte da população, como forma de combate à criminalidade e a violência. Diante de tal cenário, buscamos investigar os elementos que conformam as atitudes em relação à polícia – mais especificamente a confiança – entre as pessoas que apoiam ou desaprovam o uso de ações extralegais pela polícia. Com base em dados de um survey conduzido em 2015 com 1806 moradores da cidade de São Paulo, a investigação preliminar revela efeitos diferentes relevantes da percepção sobre a legalidade na atuação da polícia dos indivíduos sobre as percepções sobre a confiança: a confiança na polícia tende a ser maior para o grupo que rejeita medidas ilegais e abusivas da polícia.
Frederico Normanha Ribeiro de Almeida (UNICAMP), Rodrigo Cruz Lopes (UNICAMP) ST24
Movimentos sociais, justiça e política nas estratégias de resistência à repressão aos protestos de junho de 2013 em São Paulo
O objetivo deste trabalho é apresentar resultados de pesquisa sobre a criminalização dos protestos de junho de 2013 na cidade de São Paulo, com foco nas estratégias de resistência de movimentos sociais, instituições judiciais e instituições políticas que tentaram introduzir medidas de controle sobre o uso da força policial na repressão a manifestações de rua naquele período. A partir de um debate teórico sobre a criminalização dos movimentos sociais, e de um panorama geral dos resultados da pesquisa empírica realizada, o trabalho detém-se sobre as iniciativas legislativas e judiciais no sentido de proibir o uso de balas de borracha pela Polícia Militar na repressão a protestos. Busca-se compreender tais iniciativas sob duas perspectivas: a das possibilidades judiciais e extrajudiciais, criminais e administrativas de criminalização e de resistência à criminalização dos movimentos sociais; e a da efetivação dessas possibilidades em complexos arranjos políticos e institucionais nos quais grupos dentro e fora do Estado disputam os sentidos atribuídos a práticas de protesto e de trabalho policial em contextos conflitivos e democráticos.
Frederico Policarpo de Mendonça Filho (UFF) ST11
Da Diamba aos Canabinóides: a emergência de uma nova codificação médico-jurídica sobre a maconha e as implicações em torno de seus usos.
Lançado em outubro de 2014, o documentário “Ilegal: a vida não espera” mostra o drama real vivido por mães para terem acesso ao óleo de maconha, única alternativa de tratamento para o controle da epilepsia refratária de suas filhas. O documentário representa uma das ações de mobilização nacional para a mudança da lei. Essas ações surtiram efeito e em janeiro de 2015 o governo retirou o Canabidiol (CBD) da lista de substâncias proibidas no país. Um ano depois, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária passou a permitir a prescrição médica e a importação de produtos que contenham não somente o CBD, mas também de outro canabinóide, o Tetrahidrocannabinol (THC), responsável pelos efeitos psicoativos. Porém, há ainda obstáculos para o acesso à maconha, já que o cultivo continua proibido. O que está sendo permitido agora é apenas a utilização do CBD e o THC, e só importados. Neste artigo, discuto as disputas em torno da reclassificação da maconha, sugerindo que está ocorrendo um processo gradual de sistematização médica-terapêutica da maconha e das práticas de uso (ingestão). Tomo como ponto de partida uma pesquisa em andamento sobre uma associação canábica na cidade do Rio de Janeiro.
Gabriel Avila Casalecchi (UFSCar), Aiane de Oliveira Vieira (UFSCar), Bruna Ferrari Pereira (UFSCar) ST06
Petismo e antipetismo: uma análise da polarização política no Brasil e suas implicações no âmbito eleitoral e democrático
Este artigo busca investigar a existência de uma polarização política no eleitorado brasileiro em relação à três dimensões das preferências políticas: 1) eleições e dinâmica eleitoral; 2) políticas públicas; e 3) legitimidade democrática. Argumenta-se que a polarização observada no plano do sistema político, que antes centrava-se no PT e no PSDB, alinhou-se em outros dois sentidos nas eleições de 2018: o petismo e o antipetismo. A hipótese é que existem diferenças substantivas entre esses grupos que podem trazer implicações no âmbito eleitoral e democrático. Para testar a hipótese utilizamos os dados do Barômetro das Américas 2016/17.
Gabriel Coutinho Galil (UERJ) SPG10
Fora do armário, além das fronteiras: reconhecimento e representação das pessoas LGBTI no direito internacional dos direitos humanos
O presente trabalho analisa a proteção e a representação oferecida às pessoas lésbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo no direito internacional dos direitos humanos. Tem-se como objetivo principal a análise da cristalização normativa da vedação de discriminação com base em orientação sexual, identidade e expressão de gênero e características sexuais no âmbito do direito consuetudinário e convencional internacional. Busca-se, ainda, analisar de que forma essa evolução normativa ocorreu com a participação da sociedade civil transnacional, possibilitando uma ampliação dos espaços deliberativos de uma comunidade LGBTI global. O marco teórico utilizado é a justiça democrática pós-Westfaliana de Fraser, especificamente as suas ideias sobre reconhecimento e representação. A pesquisa de caráter exploratório e qualitativo será baseada em dados empíricos e divida em duas etapas. Na primeira etapa, pautada na análise documental, busca-se elementos que comprovem a existência da vedação à discriminação de pessoas LGBTI. A segunda etapa utiliza entrevistas e observação participante, de modo a aferir a representação de pessoas LGBTI de diferentes partes do globo na elaboração dessas normas.
Gabriel Duarte Carvalho (UENF) ST03
Perfil acadêmico de executivos: legitimação do reconhecimento social na esfera corporativa
O presente trabalho tem por objetivo investigar o perfil acadêmico dos executivos e a relação dos títulos escolares com a posição que ocupam na divisão social do trabalho. Procuramos entender na literatura quem são esses executivos e quais as influências que seu capital social têm em relação a posição que ocupam. Abordaremos ainda questões em torno do reconhecimento social na esfera do mercado, na qual o valor simbólico atrelada às ocupações confere reconhecimento em função da atividade que exercem. Os títulos acadêmicos servem como legitimação das posições que garantirão a esses executivos à autoridade necessária para a condução dos negócios da empresa. Apresentaremos as conclusões parciais da análise de uma amostra de 45 executivos que atuam em empresas que tem atividades no porto do Açu/ RJ/ Brasil, onde por meio da rede de relacionamento profissional linked in conseguimos acessar informações a respeito de suas formações superior e pós-graduação. Concluímos que mais do que legitimação, os títulos acadêmicos servem como proteção social dos cargos ligados as funções de mando para uma camada específica do estrato social.
Gabriel Mattos Ornelas (UFMG) SPG21
Agricultura Urbana e Agroecologia na Região Metropolitana de Belo Horizonte
Esta pesquisa tem o objetivo de evidenciar o debate sobre agricultura urbana e as relações com o movimento agroecológico na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). A proposta é identificar os sujeitos que praticam a agricultura, as suas demandas e formas de organização em redes, além das dinâmicas e as estratégias de ações coletivas e a incidência política. O estudo de caso da pesquisa é a Articulação Metropolitana de Agricultura Urbana (AMAU) que atua na promoção e ampliação das práticas de agricultura urbana e agroecologia na RMBH através de mobilizações para reuniões presenciais e de encontros para troca de saberes e intercâmbio de experiências. Além disso, a rede discute propostas a partir do direito à cidade para incorporação da produção de alimentos em bases agroecológicas no planejamento urbano e nas políticas públicas como uma possibilidade de desenvolvimento local e regional. As estratégias e ações elaborada pela AMAU na interação entre as/os agricultoras/es, as organizações da sociedade civil, o poder público e a universidade permite promover espaços de transformação social e de construção da agroecologia em territórios urbanos.
Gabriela Colares Teixeira (UFC) SPG05
"Águas que correm caladas": formas de resistência cotidiana no contexto do neoextrativismo em Caucaia-CE
Esta pesquisa visa compreender as formas de resistência cotidiana das mulheres que compõem o projeto Produção Rural Alternativa de Caju (Pracaju). As práticas e discursos do citado grupo podem ser interpretados como formas de resistência ao modelo de desenvolvimento dominante representado, na comunidade onde vivem, pela Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP). Tem-se como justificativa a necessidade de contribuir com o debate acerca dos impactos causados por tal empreendimento a populações tradicionais e dos modos de resistência de tais populações, bem como somar às reflexões sobre o modelo de desenvolvimento dominante, compreendido a partir do conceito de neoextrativismo. A análise de tais formas de resistência traz subsídios para pensar a política de grupos subordinados para além das análises clássicas que privilegiam as ações de movimentos sociais e protestos abertos no processo de transformação social. Está sendo realizado levantamento bibliográfico sobre os temas pertinentes, bem como trabalho de campo priorizando a adoção de estratégias qualitativas, como observação e produção de diários de campo e entrevistas. A pesquisa está em desenvolvimento e não dispõe ainda de resultados.
Gabriela Maria Farias Falcão de Almeida (UFPE) ST09
Reflexões acerca da participação em Conselhos dos Direitos das Mulher em Pernambuco
Para construir a tese de doutorado em Sociologia, fiz observação participante nos Conselhos dos Direitos da Mulher do Recife e de Pernambuco entre os meses de junho e dezembro de 2015 com o objetivo de compreender como se construíam as relações entre representantes governamentais e da sociedade civil no processo de construção das Conferências de Políticas para as Mulheres. Diante de um vasto material, analisado a partir do referencial da Teoria do Discurso trabalhada pelos filósofos políticos Ernesto Laclau e Chantal Mouffe, trago neste artigo situações que permitem ter uma noção de antagonismos e hegemonia nos referidos conselhos. O intuito é provocar o debate no âmbito das Ciências Sociais sobre quais têm sido os sentidos desses espaços de participação e quais as dificuldades enfrentadas não só nos conselhos de direitos analisados, mas os ligados a outras áreas. A ideia é que o texto estimule a reflexão acerca da democracia através do olhar para as articulações políticas e que, diante de um contexto de extinção de conselhos, seja possível debater sobre a participação da sociedade nas esferas institucionais.
Gabriela Pedroni (UFSC) SPG04
Quando me tornei feminista? O feminismo nas trajetórias de antropólogas mexicanas
Antropologia Feminista Mexicana. Essas três palavras articuladas representam a síntese do tema da minha pesquisa de mestrado em antropologia social, que tem como objetivo mapear e conhecer as antropologias feministas que são realizadas no México. O presente trabalho é um recorte dos dados de campo realizados na Cidade do México, em que teve como principal ferramenta metodológica a entrevista com antropólogas feministas mexicanas. Por conseguinte, o presente trabalho teve como objetivos entender: em que momento as pesquisadas se definiram como feministas; como se deu esse processo e qual o impacto em suas vidas; qual a influência que as teorias feministas tiveram na sua carreira. Ao pensar a interligação do feminismo nas trajetórias dessas antropólogas, percebo uma diversidade de formas de conexão e momentos distintos de autodefinição, assim, ao responder a pergunta sobre o momento em que se definiram feministas essas antropólogas sinalizam as dinâmicas sociais que possibilitaram essa definição, demonstrando o caráter coletivo que nomear-se feminista apresenta.
Genivalda Candido (UFBA) ST21
Recepção, sentidos e informação diante dos processos de comunicação dos ex-votos das salas de milagres e museus do Bom Jesus de Matosinhos (MG) e Convento do Carmo (SE): Tradição, Intermodalidade, Convergência e Transmidiatização
O presente resumo tem por objetivo apresentar o projeto de Doutorado apresentado ao Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação, da Universidade Federal da Bahia, intitulado de Recepção, sentidos e informação diante dos processos de comunicação dos ex-votos das salas de milagres e museus do Bom Jesus de Matosinhos (MG) e Convento do Carmo (SE): Tradição, intermodalidade, convergência e Transmidiatização. Com objetivo de abordar as discussões referentes às modificações transversais que os médias comunicacionais aqui apresentados através dos objetos ex-votivos depositados nas salas de milagres e Musealizado, apresentado no museu de Bom Jesus de Matosinhos, vem desenvolvendo na contemporaneidade, seja pelos meios tradicionais seja pelos meios tecnológicos e informacionais transmidiatizados.
Gibran Teixeira Braga (USP) ST25
A vida em loop: prazer e repetição na música eletrônica de pista
Este paper discute especificidades da chamada música eletrônica de pista, a partir de pesquisa realizada em duas cenas de festas de música eletrônica underground, nas cidades de São Paulo e Berlim, respectivamente. É característica destas cenas a produção de um musicar que envolve necessariamente os participantes das festas, que dançam na pista. A partir de pesquisa etnográfica e histórica, busca-se demonstrar como este tipo de música se liga a determinadas formas de sociabilidades, subjetividades e usos do corpo e do tempo.
Gil Almeida Felix (UNILA) ST13
Circulação mercantil da força-de-trabalho: questões etnográficas
O trabalho comunica pesquisa a respeito da circulação mercantil da força-de-trabalho e das transformações da condição proletária sob um regime de acumulação flexível do capital. Para tanto, analisa dados produzidos por meio de entrevistas e de observações de natureza etnográfica em pesquisa realizada junto a trabalhadores de um grande projeto da indústria da mineração e/ou em trânsito nas cidades do entorno do mesmo na Amazônia Oriental (Felix, 2019). Nesse sentido, tais dados foram analisados no que se refere a: a) características das morfologias sociais de deslocamento e de reprodução que esses trabalhadores/as estabeleceram tanto nessas cidades quanto em outras regiões do país; b) características da remuneração do trabalho e/ou da circulação mercantil da força de trabalho, principalmente nas empresas terceirizadas e subcontratadas, nas empresas agropecuárias, no mercado informal remunerado por dia de trabalho ou tarefa e no emprego doméstico; c) potências heurísticas de comparação dessas características com algumas tendências globais de transformações no mundo do trabalho e com a teoria do valor presente em O Capital de Marx. A pesquisa foi apoiada pela FAPESP.
Gilberto Maringoni de Oliveira (UFABC) ST12
Governo Bolsonaro: o lumpesinato no poder
O governo Bolsonaro resulta de uma confluência de interesses enraizados socialmente e expressa o projeto do capital financeiro e do imperialismo para a periferia. Ao mesmo tempo, realiza algo mundialmente inédito. É a primeira vez que o lumpesinato, de forma organizada, chega ao poder de Estado. Essa aliança entre classes dominantes e diversas frações de classe sem localização definida na produção pode expressar profundas mudanças ocorridas na composição social do país desde o final da ditadura (1964-85). O período é marcado por um processo de desindustrialização, privatização e desnacionalização de empresas que se soma à desregulamentação e fragmentação do mundo do trabalho. O país assistiu sua burguesia industrial vender empresas e tornar-se mera montadora, maquiadora e, principalmente, especuladora no mercado financeiro. Surge um lumpesinato oriundo de variadas classes, que se tornou representativo socialmente. O lumpesinato, por definição, é avesso a qualquer projeto coletivo de longo prazo. Não há previsibilidade ou rotina possível em um conjunto de indivíduos para os quais vigora a disputa de cada um contra todos. Propomos debater as decorrências dessa novidade.
Gills Vilar Lopes (UNIR), Dalliana Vilar Lopes (UNIR) ST02
Diálogos entre povos tradicionais da Amazônia Ocidental brasileira e do Arquipélago dos Bijagós em Guiné-Bissau: uma análise empírica
Este trabalho é fruto de pesquisas realizadas na Amazônia brasileira (Rondônia) e no Arquipélago dos Bijagós, em Guiné-Bissau. Compreende um estudo interdisciplinar com raízes nas Ciências Sociais e Jurídicas, com especial enfoque em Direitos Humanos. Seu objetivo geral é, nos dizeres de Macedo (2018), contrastar em sua singularidade povos tradicionais desses dois países. Como ponto de partida metodológico, emprega-se a palavra "contrastar" no sentido pós-colonial de "resistir" (MACEDO, 2018). Destacam-se – por meio de relatos, entrevistas e fotografias – as soluções encontradas por esses povos para manter seus modos de vida. Conclui-se que, apesar de marcadas pela atuação deficitária do Estado, essas comunidades estão inseridas no próprio contexto capitalista da economia local e/ou agroexportador; e, na perspectiva de gênero, a mulher desempenha um papel proeminente em comunidades tradicionais bijagós, já que é a principal provedora dos lares, porém se mantém-se, em grande medida, arraigada a uma subalternidade histórica (FIGUEIREDO; GOMES, 2016) em relação a seu marido, que, diferentemente dela, pode manter relações poligâmicas sem rechaços sociais.
Gilson Macedo Antunes (UFPE), Thaís de Aguiar Leal Domingues (UFPE) ST16
Pobre, preto, marginal, vagabundo, pivete, infrator: construção e incriminação do tipo social “infrator” em Recife
Neste trabalho, analisou-se o processo de incriminação de adolescentes através de duas principais vertentes: a rotulação (BECKER, 2008; GOFFMAN; 1980) de um “tipo social infrator” e os mecanismos de criminação e incriminação (MISSE, 1999) desse tipo social. Para isso os objetivos desenvolvidos foram: traçar o perfil do adolescente “infrator” em Recife; identificar e analisar as categorias utilizadas para a criminação desses; entender como o perfil do adolescente se associa ao processo de incriminação. Para tanto, foram utilizados dados policiais do Departamento de Polícia da Criança e do Adolescente (DPCA) referente ao perfil socioeconômico, às condutas sociais e às infrações dos menores de idade apreendidos entre os anos de 2007 e 2010. Pôde-se constatar a existência desse tipo social através de variáveis como raça, classe social, escolaridade, uso de substâncias psicoativas e dimensão territorial. Paralelamente foram mapeadas as práticas e dispositivos do funcionamento institucional que produzem a incriminação.
Giselle Sakamoto Souza Vianna (UNICAMP) ST42
Liberdade formal de contratação e vulnerabilidade social: os pilares do trabalho escravo contemporâneo em Mato Grosso
O presente estudo é uma pesquisa sobre as transformações na morfologia do trabalho escravo contemporâneo em Mato Grosso na transição entre os séculos XX e XXI, isto é, no contexto da modernização conservadora da agropecuária que culminou na consolidação do agronegócio. Com base na premissa de que trabalho livre e trabalho escravo não são formas opostas e que, pelo contrário, a nova escravização utiliza-se dos mesmos mecanismos de exploração empregadas no trabalho assalariado não escravo, a pesquisa identifica o núcleo do trabalho escravo contemporâneo no amálgama entre vulnerabilidade social e liberdade formal. A análise integrada de entrevistas e documentos mostrou que em Mato Grosso, entre 1995 e 2013, enquanto acirra a violência física nas disputas pela terra (cada vez mais escassa), observa-se o declínio dos assassinatos de trabalhadores rurais e a emergência de novas formas de controle e escravização dos trabalhadores (cada vez mais descartáveis), com a emergência de novas formas de violência. O trabalho escravo abandona tecnologias de mera imobilização da força de trabalho, para combiná-las com novas tecnologias neoliberais alicerçadas na mobilidade dos trabalhadores.
Givania Maria da Silva (UnB) ST36
Terra, resistência e liberdade: uma busca das mulheres quilombolas
O presente artigo se propõe a discutir previamente, a atuação das mulheres quilombolas em seus territórios e ao mesmo tempo estabelecer um diálogo para entender como estas têm enfrentado às questões derivadas das relações de gênero nos processos de organizativos. Por outro lado, problematizar os pontos convergentes ou divergentes entre as teorias do feminismo negro e as lutas das mulheres quilombolas. Indaga-se: os processos organizativos e lutas das mulheres quilombolas são manifestações do feminismo negro? Não se busca responder à pergunta, mas, problematizar as teorias e tentar identificar como as práticas das mulheres quilombolas para enfrentamento a cultura do machismo e racismo se relacionam ou não com as perspectivas teóricas do feminismo negro, questionando as razões do silenciamento da presença e ações das mulheres quilombolas nos processos de lutas por liberdade. Ressalta-se que o debate proposto neste artigo faz parte de uma pesquisa de doutorado em andamento, que aborda o papel das mulheres quilombolas nos processos de luta e resistência e como suas agências têm sido percebidas.
Glauber Guedes Ferreira de Lima (LSU) SPG21
Política Cultural, Museus e Cidadania no Bairro do Recife Antigo
Este trabalho é uma análise da política cultural que opera no processo de revitalização do bairro do Recife Antigo, assim como da cidadania que é produzida a partir dela. Sua questão central para corresponde às especificidades do sujeito que é engendrado a partir de uma política que articula questões de patrimônio, diferenças culturais, espaço urbano e desenvolvimento. Tal construção é compreendida aqui enquanto produto de uma operação de governamentalidade, a qual procede no sentido de customizar indivíduos que hão de ser afeitos a uma lógica global de ocupação e uso da cidade. Dois museus ocupam lugar especial nesta discussão em razão do papel que exercem em representarem modelos e normas de identidades e entidades da vida social, as quais são fundamentais para os processos performativos que produzem sujeitos e sociedade. Meu argumento é que ambos foram concebidos para funcionarem enquanto tecnologias de governo, inculcando sobre o sujeito elementos discursivos a serem regulados a partir de si mesmos (por meio do cuidado de si), e em favor da produção de um indivíduo comprometido com imperativos éticos de cidadania e consumo que se harmonizam com a referida lógica de cidade
Glauco Fernandes Machado (UFRN) ST21
Articulações em torno da produção de imagens para exposição do Grupo Ororubá Filmes
A pesquisa pretende contribuir com o campo da Antropologia que se dedica ao estudo das informações visuais em meios materiais voltados para formação de exposição em Assembléia Indígena, mais precisamente na Aldeia Pedra d´Água na Serra do Ororubá, em Pesqueira - PE. Desse modo, a investigação pretende abordar como os Potiguara articulam-se para produzir esses materiais destinados ao público frequentadores da Assembléia. Estabelece, assim, elemento de análise sobre sua forma organizacional de empoderamento étnico. A pesquisa a ser desenvolvida está situada no âmbito do tema que se relaciona com objetos, imagem e Etnicidade, uma vez que se trata de uma proposta de produção de imagens entre os indígenas Xukuru e suas parcerias. Nessas imagens, estão sendo retratados textos descritivos que complementam as imagens, imagens de mártires e lideranças representativas, objetos de representação de identidade étnica, em oposição a perspectiva paternalista que atribui às imagens e os objetos como frágeis e vulneráveis, prontos para desaparecer.
Gleidson Wirllen Bezerra Gomes (UFPA) ST38
“Vivência de resistência”: a ação política da Rede Paraense de Pessoas Trans para a garantia de diretos de transsexuais em Belém-Pará-Amazônia
Este artigo tem como proposta compreender como a Rede Paraense de Pessoas Trans (REPPAT) atua politicamente para garantir direitos sociais às pessoas trans de Belém-Pará-Amazônia. O artigo integra minha pesquisa de doutoramento sobre o uso das redes sociais na internet para a construção de subjetividades trans em Belém-PA. Para desenvolver este trabalho, realizei pesquisa de campo entre os meses de dezembro de 2018 a março de 2019, observando as reuniões de organização da Semana de Visibilidade Trans ocorrida entre 21 e 30 de janeiro de 2019, com a Organização da Livre Identidade e Orientação Sexual do Pará (OLIVIA), que sediou parte do evento, e o Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos e Ações Estratégicas (NDDH) da Defensoria Pública do Estado do Pará, articulador do evento do Dia de Visibilidade Trans. Além disso, utilizo de entrevista realizada com um dos coordenadores da REPPAT. O que se pode inferir, inicialmente, é que, diante do atual cenário político nacional, de ataques a diretos aos direitos LGBTQI+, a REPPAT, junto ao NDDH, tem atuado no sentido de garantir direitos para as pessoas trans no âmbito estadual, como acesso à saúde básica, à educação, à moradia e ao emprego.
Glenda Dantas Ferreira (UFPB) ST39
Produção habitacional, metropolização e periferização: notas sobre o PMCMV na Região Metropolitana de Natal (2009-2014)
O presente trabalho se insere no debate recente sobre a política habitacional brasileira na contemporaneidade, evidenciando o Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV). No período recente, verifica-se que a produção habitacional para famílias de interesse social norteia-se pelo protagonismo dos agentes imobiliários, suportados pelo Estado. A atuação desses agentes tem apresentado grande expressividade, sobretudo na escala metropolitana, lócus principal de reprodução socioespacial das famílias em face do processo de metropolização. Nesse sentido, busca-se investigar a produção de interesse social do PMCMV, entendendo-a como produtora de espaços periféricos onde o acesso aos valores de uso complexo da cidade se encontra comprometido. Aborda-se, portanto, a relação entre os processos de construção social da demanda e da oferta de habitação e a formação e/ou transformação de periferias no contexto da implementação do PMCMV na Região Metropolitana de Natal. Como resultado tem-se um movimento de interiorização periférica da produção habitacional de interesse social no espaço metropolitano, o qual tem contribuído para precarizar as condições de acesso à cidade e à moradia adequada.
Guilherme Eugênio Moreira (UFF) SPG13
Patrimônios como acontecem: fabricações da participação nas políticas de patrimônio imaterial em Minas Gerais
Neste trabalho, quero compreender como a “participação” é promovida nas fabricações de patrimônios culturais. Investigo esses processos na Gerência de Patrimônio Imaterial (GPI) do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, onde fui estagiário (2015-2017) e hoje atuo como servidor voluntário. A partir da participação direta nas atividades da GPI, analiso práticas e documentos construídos por funcionárias/os em relação com os praticantes dos patrimônios. A participação social adquiriu um lugar estruturante nas políticas de patrimônio imaterial, a partir do entendimento de que apenas praticantes das expressões culturais estariam autorizados a reconhecer seus valores como patrimônio. No entanto, essa participação mostra-se ambivalente, de um lado mobilizada nas representações da GPI como garantia de ações democratizantes, de outro mantenedora de diferenciais de poder, onde certos agentes fazem valer suas agendas e os praticantes dos patrimônios são uns dos que menos parecem participar. A escolha pela via etnográfica permite compreender práticas que refutam uma imagem unívoca de Estado e aprofundam discussões sobre políticas patrimoniais.
Guilherme Furtado Bartz (UFRGS) ST25
A performance da música clássica: o problema do erro e os impactos sociais, psicológicos e profissionais da busca pela excelência artística – o caso dos músicos de orquestra
A música clássica caracteriza-se por seu extremo rigor e exatidão. Ao tocar o repertório que conforma esse universo sonoro, os músicos precisam seguir as orientações das partituras, que lhes informam, muitas vezes em detalhes, o modo como as músicas devem ser interpretadas. Esse caráter formal e objetivo da música erudita é algo que influencia, sob o ponto de vista psicológico, emocional e social, a atuação dos indivíduos que se inserem nesse contexto de trabalho. Existe uma crença, disseminada social e culturalmente, no sentido de que os músicos de concerto não podem cometer erros em suas performances. Isso se reflete, no âmbito interno da profissão, numa busca permanente pela excelência artística e num “medo de errar”. O ambiente hierárquico das orquestras, com seus status relacionados aos vários postos de trabalho, revela-se fecundo para o estudo dessas questões, visto que tais elementos estimulam a busca por um aperfeiçoamento individual e coletivo constante. A presente pesquisa antropológica, fruto de uma etnografia realizada entre 2016 e 2017 com os músicos da Orquestra de Câmara Theatro São Pedro, de Porto Alegre, procura compreender tais problemas.
Guilherme Pires Arbache (USP) SPG20
Representação política na América Latina: uma análise dos mecanismos causais da congruência ideológica em cada fase do processo eleitoral
A congruência ideológica entre representantes e cidadãos tem sido utilizada como medida de qualidade da representação. No entanto, costuma-se analisar a essa congruência de maneira agregada, sem separar as distintas fases do processo eleitoral. No presente estudo, realizamos essa separação, comparando as distribuições ideológicas de: 1- cidadãos e eleitores; 2- eleitores e partidos em que votaram; 3- votos e cadeiras. Cada fase desse processo tem suas variáveis explicativas: na primeira, fatores como Voto Compulsório. Na segunda, esse e outros fatores institucionais, como o Sistema Eleitoral mas também fatores comportamentais (como a disposição para votar ideologicamente vis-a-vis outros fatores que conformam o valence voting). Na congruência entre votos e cadeiras, por sua vez, novamente entra a proporcionalidade do sistema eleitoral, além de fatores como malapportionment. Resultados preliminares na América Latina apontam para a fase eleitoral como sendo a maior fonte de distância ideológica entre cidadãos e representantes. Em seguida, buscaremos identificar quais variáveis explicativas acima têm maior influência nessa etapa (comportamento político ou fatores institucionais).
Guillermo Stefano Rosa Gómez (UFRGS) ST13
Etnografia com os “sem tempo: Seguindo os resíduos do Uber em Porto Alegre (RS)
Apresento reflexões decorrentes de uma investigação etnográfica sobre experiências de mobilidade e perda de emprego, no contexto das controvérsias suscitadas por um mercado agenciado pelos aplicativos de transporte na cidade de Porto Alegre (RS). A solução encontrada, em um universo de pesquisa onde os interlocutores “não tinham tempo”, foi buscar os resíduos deste mercado. Percorri garagens, desmontes, revendas, cursos de formação, escritórios e escutei narrativas de seus personagens. Encontrei desde o instrutor de trânsito que lida com o eterno dilema entre o “trânsito pensado” com a “gandaia” praticada, o taxista que tem que “correr atrás” e trabalhar usando o celular, o vendedor de antiguidades que projeta móveis com carcaças de carros e a empregada doméstica que decide, junto com seu namorado, “virar Uber”, dirigindo nos finais de semana. No Uber, a diversidade de trajetórias, aproximadas pela perda de emprego, de um funcionário da empresa de cigarro, um desenhista industrial e um economista. Analisando um arcabouço imagético dos discursos empresariais, apresento como a empresa capta e pratica contraditoriamente os desejos da sonhada “conquista da estabilidade”.
Gustavo Belisário dAraújo Couto (UNICAMP) ST34
A casa promíscua: elementos sobre moradia, gênero e sexualidade
Esse trabalho é fruto de uma pesquisa etnográfica de doutoramento feita em conjunto com LGBTs de movimentos de moradia. A política de moradia no Brasil tem como unidade básica de sua efetivação a família. Tanto movimentos sociais quanto o Estado entendem que o propósito da política habitacional é de contemplar "famílias", abrindo margem para uma certa noção normativa - e quero argumentar que excludente - da política pública. Para isso, recupero a história da política habitacional para mostrar que desde a sua gênese, a política de moradia atuou a partir de uma oposição entre família monogâmica e promiscuidade e foi orientada no sentido de construção de casas discretas, unifamiliares. Este processo histórico de construção de uma equivalência entre família e moradia extraiu o espaço de habitar de tudo que ia além destas concepções familiares, de forma que as expulsões familiares de LGBTs passassem a ser também expulsões de casa. Desta forma, fazendo este resgate histórico, pretendo discutir mais profundamente a relação de LGBTs e as casas - as de suas famílias de origem, de anfitriões, locatários, de amigos, etc.
Gustavo César de Macêdo Ribeiro (UFPA) ST06
Voto de Classe no Brasil: de Lula a Bolsonaro
O presente artigo objetiva analisar as relações entre voto e classe nas eleições presidenciais brasileiras entre 2002 e 2018. Para dar cabo de tal objetivo, o paper formula uma adaptação do esquema de análise de classes formulado por Goldthorpe à realidade brasileira. A partir dela, baseia-se em bancos de dados do Instituto DataFolha elaborados nos segundos turnos da série considerada. A partir de dados descritivos desvela a tendência de Empresários e Profissionais ao voto em candidaturas presidenciais de direita e de Autônomos e Destituídos em candidaturas de esquerda. Além disso, demonstra a adesão de trabalhadores à candidatura Bolsonaro em 2018. Demonstra também que associação entre classe voto mantem-se em modelos de regressão logística, mesmo com o impacto de variáveis intervenientes, tais como o partidarismo.
Gustavo Dias (UNIMONTES) ST23
Sobre a contradição existencial da provisoriedade: Um estudo acerca de brasileiros indocumentados em Londres sob as lentes de Abdelmalek Sayad
Essa apresentação discute como brasileiros indocumentados lidam com a contradição existencial de provisoriedade, causada pelo seu status migratório, enquanto vivem em Londres. Através da proposta de Abdelmalek Sayad em compreender a migração enquanto um estado provisório, exploro como esses brasileiros narram e tecem as suas vidas enquanto um projeto temporário que pode ser interrompido a qualquer instante pelas fronteiras móveis britânicas (DIAS, 2018). Tornam-se trabalhadores temporários e invisíveis cerceados de qualquer direito social. Argumento, portanto, que a presença permanente do medo da deportabilidade e as proibições “legais” aos direitos sociais marginalizam e tornam o migrante um atopos (BOURDIEU, 1998). De um lado, como aponta Sayad, os empurram para a situação máxima da provisoriedade, a condição de não-ser social. Por outro lado, imprime na fala desses brasileiros o entendimento de que sua presença torna-se, de fato, um problema social. Assim, através de uma etnosociologia desenvolvida em Londres e uma revisão dos estudos de Sayad sobre provisoriedade (1979, 1985, 1998, 2000, 2008b), exploro como tal condição existencial precariza a vida desses brasileiros.
Gustavo Jordan Ferreira Alves (USP) ST30
A política externa brasileira e chilena no espaço andino: o papel das percepções do líder na atuação regional (2003-2010).
Resumo: Este trabalho visa traçar uma comparação sobre a influência das crenças e ideias no processo decisório de política externa entre duas potências regionais: o Brasil e o Chile durante o período entre 2003-2010. Através do uso de técnicas majoritariamente qualitativas, demonstramos que durante o referido período o papel das crenças do líder teve grande presença na projeção da política externa brasileira na América Andina, o mesmo não tendo ocorrido com a diplomacia chilena, a qual tradicionalmente é reconhecida pelo prevalecimento de uma postura mais pragmática e baseada na escolha racional. Através deste estudo comparativo, demonstramos que não somente a opinião pública, grupos de interesse e elites políticas podem ser variáveis influentes na política externa, mas também as percepções de um líder com capital político podem ser fortes fatores explicativos na operacionalização da política externa de um país.
Gustavo Lucas Higa (USP) ST22
Entre caçadas e cruzadas: uma sociologia dos rumores e pânicos morais.
Pretende-se discutir o Pânico Moral no âmbito da sociologia da violência, punição e representações sociais do crime. O conceito caracteriza um fenômeno processual que remete a uma atmosfera de medo e revolta em torno de um rumor sobre uma possível ameaça aos valores dominantes. A exposição via mídias é repleta de discursos de ódio, terror, revolta e exagero. Nesse contexto, as definições entre o “bem” e o “mal” são cada vez mais definidas e/ou reforçadas, renegociando as fronteiras morais via o controle social. A análise sociológica dos pânicos morais nos permite problematizar o comportamento coletivo diante de pressões por determinadas mudanças sociais - ou tentativas - que, como veremos, são associadas a ameaças. O conceito pode servir como um valioso recurso analítico, elucidando questões contemporâneas, como os obstáculos, ainda presentes, quando se pretende efetivar políticas de direitos humanos, de democratização nas relações estabelecidas dentro das prisões, nas corporações militares e na forma como o discurso da insegurança pública é explorado pelos meios de comunicação como estratégia política, ainda hoje.
Gustavo Moura de Oliveira (UNISINOS) ST10
Contexto democrático e interação Estado-movimentos sociais: para uma interpretação desde a autonomia
Considerando que o Estado produz efeitos nos movimentos sociais, e vice-versa, nosso objetivo neste texto é refletir sobre as transformações que contextos democráticos diversos produzem nos movimentos em termos de suas autonomias; e, além disso, é propor um esquema interpretativo para compreender tais efeitos. Apresentamos uma pesquisa qualitativa na qual nos utilizamos de revisão bibliográfica com apoio de pesquisa de campo e de dados secundários. Entendemos a autonomia de movimentos sociais em relação ao Estado como a ação crítica e lúcida que decide negar o Estado, primeiro, e construir uma alternativa àquela negação, depois. Nossa proposta interpretativa pretende explicar como essa dupla ação autônoma assume distintos contornos a depender do contexto democrático amplo e da abertura/fechamento do Estado à participação. Lançando mão de um conjunto de abordagens analíticas que ajudam a compreender os contextos democráticos em distintos momentos históricos, entendemos que nosso esquema é útil para explicar como movimentos se comportam, livremente ou condicionados pelo contexto, decidindo pela autonomia independente, pela autonomia inserida ou pela autonomia interdependente.
Gustavo Paula Muniz (UFPel) ST27
Carreira e ambição política dos vereadores: uma análise comparada dos municípios de Santos-SP e Pelotas-RS (1988-2012)
O sistema político brasileiro possui diferentes cargos a serem ocupados, eletivos ou não, sendo o debate sobre a hierarquia relativa aos cargos ocupados nas instituições governamentais bastante vasto. O presente trabalho assume o diagrama proposto por Luis Felipe Miguel (2003) que define a hierarquia existente nos cargos políticos, e tem por seu objeto o cargo que ocupa a base desse escalonamento hierárquico, os vereadores. Através dos dados quantitativos de candidaturas e resultados eleitorais, acessados dentre algumas fontes, pelo portal do TSE, investigou-se o "passo seguinte" dos vereadores eleitos entre 1988 a 2012 em dois municípios: Santos-SP e Pelotas-RS. A fim de responder que tipo de ambição os vereadores eleitos apresentam e se o cargo pode ser considerado o "primeiro passo" da carreira política, produziu-se diversos resultados, a partir dos dados coletados. Esses resultados não identificaram a existência de um padrão na ação dos vereadores sendo observado que estes buscam majoritariamente a reeleição ao invés de cargos de maior influência e o índice de sucesso ao pleitearem outros cargos é demasiadamente baixo.
Gustavo Venturi (USP), marcia thereza couto (USP) ST38
Sexualidade e gênero: intersecções com “raça” e classe social na reprodução de desigualdades no espaço universitário
As universidades, idealmente espaços de oportunidades iguais, liberdade de criação e de opiniões divergentes, em tese refratários a constrangimentos físicos e julgamentos preconceituosos, têm se mostrado como reflexo da sociedade conflituosa e pouco democrática em que está inserida. O trabalho apresenta análises das articulações de gênero, sexualidade e outros marcadores sociais da diferença sobre as relações de sociabilidade dos estudantes no espaço universitário, que tem se constituído como ambiente hostil à expressão de diversidades. Partindo de dados da pesquisa realizada pelo Escritório USP Mulheres com 13.377 estudantes de graduação e pós, utiliza-se de análise interseccional para dimensionar as sobreposições de formas de opressão e violências quanto ao machismo, racismo, lgbtfobia e elitismo. Parte-se da questão “em que medida os dados de violência e opressão variam segundo os marcadores identitários de gênero, orientação sexual, “raça” e classe social, em que as/os estudantes se localizam (e são socialmente localizadas/os)?” e busca-se desvelar a produção de desigualdades e de formas de sujeição no espaço universitário e apontar para ações e políticas de enfrentamento.
Heitor Schmid Zaghetto Gama (UNIRIO) ST02
Notas sobre Aganga-Otolu enquanto caboclo em terreiros de candomblé jeje
Este trabalho se propõe a explorar as consequências e abordar as relações que se estabelecem entre o Vodun Aganga-Otolu e a imagem dos caboclos em dois terreiros de candomblé de nação jeje em que uma pesquisa etnográfica vem sendo realizada, ambos localizados no Estado do Rio de Janeiro: o Zoogodô Bogun Bejí Hundó e o Humpame Kuban Bewa Lemin. No mito que narra a inserção do Vodun Aganga-Otolu no candomblé de nação jeje, este Vodun, ligado às matas e à caça, se despe de seus trajes reais e se veste como um caboclo, um índio, em sinal de humildade, como requisição do rei das terras jeje, Bessém, para poder entrar em seu território. Este texto se propõe a cartografar as manifestações rituais e cosmológicas desse mito, como, por exemplo, as cantigas e as vestimentas rituais desse Vodun. Por fim, explora duas relações que se estabelecem paralelamente nessa narrativa: de um lado, a associação entre Aganga-Otolu e os caboclos e, de outro, a relação entre as diferentes nações de candomblé.
Heitor Vianna Moura (UFRJ) SPG03
As emoções na construção de um problema público – A luta pelo direito à habitação nos bairros históricos e centrais de Lisboa
As emoções na construção de um problema público – A luta pelo direito à habitação nos bairros históricos e centrais de Lisboa Fruto de uma imersão etnográfica pelos bairros centrais e históricos de Lisboa, da observação participante em eventos e reuniões de coletivos de luta pela habitação e de conversas informais com acadêmicos, militantes e moradores, a presente investigação parte do pressuposto de que os problemas entendidos como públicos não emergem como dados da realidade, mas são construções políticas, sociais e, sobretudo, emocionais. Frequentemente ignorada pela literatura que tematiza a ação coletiva e os movimentos sociais, as emoções são entendidas pelo estudo não como um dispositivo rudimentar de sensibilização de públicos ou como recurso que rivaliza com a argumentação racional na construção de um problema público, mas como meio indispensável na transformação de uma série de casos dispersos e individuais de despejos em parte integrante de uma causa comum, produtora de solidariedade interna e adesão externa. Palavras-chave: emoções; moral; ação coletivo; direito à habitação; problema público; Lisboa;
Helga da Cunha Gahyva (UFRJ), Marcelo Henrique Nogueira Diana (UFRJ) ST17
Casa-Grande & Senzala em três tempos
A proposta de comunicação constitui desdobramento de trabalho apresentado, há alguns anos, neste mesmo grupo. Naquela ocasião, buscou-se investigar as primeiras impressões sobre Casa-Grande & Senzala (1933). A empreitada justificava-se em função da popularidade adquirida, a partir da segunda metade do século XX, por certa interpretação, elaborada por intelectuais majoritariamente vinculados à Universidade de São Paulo, na qual a obra inaugural de Gilberto Freyre era, em linhas gerais, reduzida a exemplo de ensaísmo "pré-científico" imbuído de deliberada estratégia política conservadora. O exame daquelas críticas, entretanto, permitiu a recuperação de olhares mais plurais sobre o esforço do pernambucano para caracterizar a formação nacional brasileira. Revelavam-se, assim, dois tempos distintos da recepção da obra. Desta feita, pretende-se ampliar a discussão para um terceiro tempo que se inaugurou na virada do milênio. Trata-se de eleger como eixo condutor a reinterpretação da forma ensaística, não mais vista como modelo de escrita anacrônico, mas como modalidade narrativa privilegiada para refletir sobre a pluralidade de valores culturais da sociedade brasileira.
Helga do Nascimento de Almeida (UFLA), Maria Alice Silveira Ferreira (UFMG), Pedro Henrique Abelin Teixeira (UnB) ST22
Tweetocracia e o populismo 2.0 da direita: o caso do Brasil
O uso de redes sociais pela elite política tem se expandido de forma sem precedentes. No caso brasileiro, o presidente Jair Bolsonaro vem protagonizando um novo patamar no que se trata do uso de mídias sociais pelo governo. Deu-se então início o que nomeamos no trabalho como tweetocracia, ou seja, um governo em que o principal canal de comunicação com os cidadãos, e muitas vezes com o próprio governo, são as mídias sociais. Além disso, parece que se inaugurou no Brasil o que Gerbaudo (2014) chamou de Populismo 2.0, ou seja, junção da política populista com a web 2.0. Neste artigo, a partir de dados do Departamento de Ciência da Computação da UFMG com cooperação do Centro de Pesquisas em Política e Internet da UFMG, analisamos os tweets postados nos 100 primeiros dias do novo governo Jair Bolsonaro. As duas linhas de análises metodológicas empreendidas, a de conteúdo e a de estilo, nos permitiram captar fortes evidências de um populismo 2.0 no perfil do Twitter do presidente, como, simplificação da mensagem (curtas e meméticas); abordagem anti-establishment; apelo ao povo; definição de antagonistas; e construção de um discurso direcionado a grupos específicos, sua ciberbase.
Heloisa Bianquini (USP) SPG15
Jogo de cartas marcadas ou arena de disputa política? Tendências no papel político e institucional das nomeações para o Supremo Tribunal Federal
Este trabalho pretende analisar o papel das sabatinas no processo de nomeação dos ministros para o Supremo Tribunal Federal. O objetivo é responder às seguintes perguntas de pesquisa: (a) como normalmente ocorrem as sabatinas, quanto a procedimento adotado, duração e temas mais abordados? e (b) as sabatinas possuem apenas um papel homologatório, como sugere a literatura a respeito (Silveira e Groth, 2012; Almeida, 2015), ou são espaço de disputa política? Para tanto, este artigo primeiramente esboça um panorama de como se dá processo de nomeação para o STF. Em segundo lugar, indica-se a metodologia empregada, que consiste primariamente em análise de conteúdo, bem como as fontes dos dados utilizados. Em terceiro lugar, apresentam-se os resultados da pesquisa, concluindo-se que, em momentos de instabilidade política, senadores aproveitam o momento das sabatinas para pressionar os futuros juízes a adotarem uma visão mais restritiva e menos “ativista” das competências do STF.
Heloisa Buarque de Almeida (USP) ST38
Era só diversão? Disputas e violência sexual na mídia
A partir de campanhas sobre assédio nas mídias (convencionais e alternativas, incluindo TV, jornais impressos, portais na internet, redes sociais), entre 2013 e 2018, busco entender a construção pública de categorias de violência sexual. O foco empírico neste paper são as campanhas da ONG Think Olga e o embate com visões conflitantes, ou o que pode ser lido como uma reação conservadora. O objetivo é entender alguns dos atores sociais que estão simbolizando socialmente essa disputa – jovens feministas, de um lado; e do outro lado, duas “celebridades” midiáticas, um ator e um cantor – e como esses discursos circularam socialmente através de postagens em redes sociais e mídia convencional. A reação conservadora às campanhas feministas torna mais visível certa “hipermasculinidade” movida pelo desejo sexual numa narrativa que gera riso e marcada por desigualdades de gênero, raça e classe. O debate público em torno da categoria assédio sexual resultou numa mudança no código penal em 2018 (importunação sexual), mas foi confrontada com outra construção também pública e autorizada que categoriza os mesmos atos como sexo e diversão.
Henrique Bosso da Costa (UNICAMP) ST39
Sobrevivendo ao colapso: empreendedorismo, gestão da precariedade e produção de subjetividades na periferia de São Paulo
A presente pesquisa busca identificar como a ideologia do empreendedorismo e da empregabilidade opera na produção de subjetividades na periferia da Zona Sul de São Paulo. A investigação aborda a relação entre a reconfiguração do trabalho contemporâneo no Brasil e as percepções desse jovens sobre as dimensões que os atravessam, como as afinidades familiares, a sindicalização, a educação e o ativismo político. Diante das mudanças em andamento na economia mundial, estruturalmente afetada pelo regime de acumulação flexível, pelas inovações tecnológicas na era digital e pelos processos de ajustamento de cunho neoliberal, observamos nas últimas décadas a flexibilização dos processos de trabalho, a reconfiguração da informalidade e a crescente precarização social do trabalho. Especificamente no Brasil, a precariedade histórica ganha novos contornos com a incorporação nesse universo de antigos trabalhadores do setor formal e novas profissões de alta qualificação. Formas contemporâneas de auto-assalariamento ou assalariamento disfarçado por meio da modalidade de trabalho autônomo se mostram também fundamentais para a formação dessas subjetividades.
Herbert Toledo Martins (UFSB), Rosilene Rocha (UFPE) ST11
Cem anos de Proibicionismo no Brasil: uma análise neo-institucionalista das políticas sobre drogas
O artigo analisa historicamente a política sobre drogas no Brasil, e parte do Decreto-Lei 4.294 de 14 de julho de 1921, que inaugurou o proibicionismo no país e completará 100 anos em 2021. A partir de um recorte teórico-metodológico do neo-institucionalismo histórico, argumenta-se que a trajetória das políticas públicas de drogas no país é dependente do legado estabelecido pelo decreto proibicionista mencionado, que estabeleceu um sistema misto (público e privado) de assistência aos dependentes químicos. Além do referido decreto foram analisadas as políticas de droga do período militar, o Sisnad e a atual lei de droga em vigência, o Decreto nº 9.761, de 11 de abril de 2019. Com base em crônicas, artigos e documentos oficiais foram reconstituídos os momentos históricos em que tais políticas foram promulgadas. Conclui-se que as consequências dessa herança residem na emergência e fortalecimento das instituições da sociedade civil (clinicas particulares e comunidades terapêuticas) que, com o tempo, passaram a ser financiadas pelo governo federal, em detrimento do SUS.
Hermes Corrêa Dode Júnior (UFSM) SPG18
Fluxos migratórios dinâmicos versus fronteiras estáticas: uma crítica ao discurso eficientista e securitário de controle migratório no Brasil.
O presente trabalho traça o conceito de Estado de Exceção segundo Agamben. Ele explica que a lógica de Exceção está ligada ao Estado Democrático de Direito, tornando assim o Estado de Exceção não mais uma exceção e, sim, uma regra (Estado de Exceção Permanente). Traz-se ao centro do debate o imigrante, considerado como não sujeito nessa estrutura de exclusão. Parte-se da crítica que as noções de fronteiras e as teorias de soberania estão presas às amarras clássicas. No entanto, não se percebe que o papel exercido pela fronteira na atualidade é fator determinante para uma nova reflexão do conceito de cidadania. Se continuar a ser aplicada as mesmas lógicas de divisão nacional de um Estado perante outro, seguiremos repetindo o caráter sistêmico de exclusão com a intenção de engessar a mobilidade. Na segunda parte, faz-se a análise de conteúdo dos discursos emitidos em meios de comunicação feitas pelo atual Presidende da República do Brasil e o Ministro das Relações Exteriores sobre a imigração e seu processo de exclusão. Conclui-se que o direito à imigração não deve ser tratado como uma política econômica ou de segurança de estado, e sim como um direito humano de migrar.
Hermes de Sousa Veras (UFRGS) ST02
Conversando com encantados e espíritos: políticas afroindígenas na Amazônia paraense
Apresento parte de material etnográfico sobre a encantaria em São João de Pirabas, cidade localizada na região do salgado paraense, conhecida na geografia afro-brasileira como o território da encantaria de Rei Sabá. A partir de encontros com pais e mães de santo, encantados e espíritos, trago resultado parcial do contato com entidades e lideranças de terreiros na região. Na conversa com Cabocla Mariana, na cabeça de Mãe Rita de Oxóssi, ela conta que foi puxada pelo Rei Sebastião, quando passava pela costa paraense-maranhense e se encantou, apresentando-se em terreiros, tendas, searas, quintais e sessões de pena e maracá no Pará e no Maranhão. A conversa com Zé Pelintra, na cabeça de Pai Pingo de Oxumaré, ocorreu durante uma sessão de pena e maracá, realizada em Belém do Pará. Tanto Cabloca Mariana quanto Zé Pelintra mencionaram a existência e a afinidade que seus terreiros têm com os encantados do fundo, ontologia geralmente descrita como de matriz tupi pela literatura antropológica. Relaciono as conversas de Cabloca Mariana e Zé Pelintra, deixando evidente um tipo de política afroindígena via umbanda, mina e pajelança amazônica.
Hilton Costa (UEM), Alexandro Dantas Trindade (UFPR), Arilda Arboleya (UFPR) ST28
A relação entre “medo” e “autoritarismo” no pensamento social no Brasil: delineando possibilidades de análise
Em diversos momentos dos séculos XX e XXI, determinadas sociedades passaram por processos políticos que resultaram em regimes autoritários relativamente longevos e estruturados, impulsionados sobretudo, pela disseminação do medo como elemento legitimador de medidas de exceção. Pode-se assim, conjecturar acerca da relação entre a disseminação do medo e a justificação de saídas autoritárias para impasses ou crises políticas, bem como sobre o inverso: em que medida regimes autoritários ampliam e reforçam a disseminação do medo enquanto mecanismo de controle social e neutralização de movimentos contestatórios. O presente trabalho tem como objetivo investigar, visando possíveis desdobramentos analíticos, em que medida e sob quais pressupostos e escolhas teóricas e epistemológicas a relação entre "medo" e "autoritarismo" tem sido proposta na literatura sociológica e no pensamento social. Objetivamos, assim, num recorte temporal situado entre os anos finais da década de 1980 e o período recentes, observar como o Pensamento Social brasileiro abordou o medo, o autoritarismo e sua relação.
Horácio Antunes de SantAna Júnior (UFMA), Julio Itzayán Anaya López (UFMA), Viviane Vazzi Pedro (UFMA) ST07
Construção de terminal portuário e resistência popular em São Luís do Maranhão
Conflitos ambientais são marcados por eventos expressivos que permitem entrever seus componentes econômicos e sociais. A comunidade do Cajueiro, localizada na zona rural de São Luís - MA, desde 2014, passa por processo de deslocamento compulsório para a construção do Terminal Portuário de São Luís, pela empresa WPR em parceria com China Communications Construction Company. Em 16 de março de 2018, as empreendedoras promoveram o evento de lançamento da pedra fundamental do porto. Nesse dia, membros da comunidade que resistem ao empreendimento e seus apoiadores se mobilizaram para manifestar o repúdio à construção do porto. A confrontação daí resultante tornou-se um evento expressivo do conflito. Partindo de discussão sobre a noção de desenvolvimento e de postura metodológica denominada “pesquisa ativista”, a etnografia do evento é tomada aqui como um instrumento para entender quais são as forças sociais, econômicas e políticas que estão envolvidas no conflito, que divisões internas marcam os vários grupos sociais, que justificativas acionam para fundamentar suas posições e para uma compreensão mais profunda de todo o processo.
Hugo Fanton Ribeiro da Silva (USP), Gabriel Nunes de Oliveira (USP) ST12
Deslocamento político do empresariado industrial nos anos 2010 e a crise do lulismo
Em um contexto de profunda crise política e permanente disputa pela condução macroeconômica do País, este trabalho apresenta resultados de duas pesquisas que analisam as mudanças de posicionamento político do empresariado industrial em relação ao governo Dilma (PT: 2011-16), sua participação na formação de uma unidade “antidesenvolvimentista” e seu posicionamento na crise que levaria à queda do governo. Para a análise, apresenta-se dois estudos de caso: os posicionamentos de empresários da construção civil do setor de habitação e de empresários da indústria de autopeças. Ambos se fundamentam em uma produção de material empírico que combina pesquisa documental e realização de entrevistas com empresários. Nos posicionamentos, sobressai a hegemonia ideológica do neoliberalismo, na medida em que os empresários atribuem a crise econômica ao excesso de gastos e à corrupção e relativizam as políticas desenvolvimentistas como promotoras da expansão econômica em 2003-2013. A continuidade da crise de 2015 a 2019 segue atribuída ao lulismo, não à austeridade fiscal adotada, com apoio irrestrito ao programa neoliberal ortodoxo como forma de retomada do crescimento econômico.
Iara Maria de Almeida Souza (UFBA) ST35
Sintonização dos corpos na pesquisa experimental
Este artigo explora o modo como certas sensibilidades interespecíficas são desenvolvidas em um tipo de prática – pesquisa experimental em biomedicina – mediante o engajamento e articulação entre os corpos dos cientistas e dos animais. Para além das similitudes entre humanos e animais já previstas na noção de modelo (baseada na existência de processos biológicos comuns aos organismos), em seu trabalho os pesquisadores ampliam a capacidade de encontrar correspondências e formas de sintonização entre suas experiências corpóreas e as dos bichos. Ao tratar dessa forma de envolvimento corporal pretendo, por um lado, acentuar que não compreendemos bem a ciência se a consideramos apenas como atividade intelectual, sem considerarmos o envolvimento do corpo no trabalho do cientista. Por outro lado, pretendo mostrar como nessa prática interespecífica todos os participantes ão transformados pela relação – ainda que assimetricamente. Estas reflexões resultam de uma investigação realizada em uma instituição pública de pesquisa biomédica sobre a relação entre humanos e animais no trabalho experimental.
Isabela Vianna Pinho (UFSCAR/CEM) SPG28
Casa de mulher em configuração: os circuitos cotidianos de cuidado, dinheiro e violência em São Carlos/SP
O presente texto analisa as formas que Maria, Bela, Ana e Rosa habitam a vida ordinária. Moradoras de um bairro promovido pelo programa federal Minha Casa, Minha Vida em São Carlos/SP, as quatro mulheres também são (ou foram) titulares do programa Bolsa Família. A pesquisa mostra que as duas políticas constituem um entre outros universos possíveis de sentido pelos quais as moradoras se movem. Argumento que os processos de vida e de casas, bem como as formas de habitar e viver se emaranham nos cotidianos. Ademais, defendo que a casa só pode ser pensada em configuração, isto é, só existe em relação. Desse modo, descrevo três circuitos cotidianos – de cuidado, dinheiro e violência - que conformam mutuamente a configuração de casas. Os circuitos demonstram que existe intersecção entre supostas antinomias como, por exemplo, vida e economia. Como estratégia metodológica e analítica, defendo que uma etnografia de ‘casa de mulher’ em configuração permite enxergar o ‘entre’; ou seja, possibilita captar os fenômenos sociológicos de forma relacional. O que se verá aqui serão linhas que expõem as miudezas postas em prática por mulheres para tornar o mundo reabitável a cada novo acontecimento.
Isis Maria Cunha Lustosa (UFG), Stephen Grant Baines (UnB), Sebastián Valverde (UBA/FFYL) ST07
Turismo e infracção de direitos nacionais e internacionais em territórios indígenas no Brasil, Argentina e Chile: as formas de resistência e de produções do conhecimento
Desenvolve-se uma pesquisa comparada com dois povos indígenas do Nordeste do Brasil, Tremembé e Jenipapo-Kanindé e o povo Mapuche na fronteira de Argentina e Chile, em que se focaliza o turismo como um vetor da identidade ética frente às transformações territoriais geradoras de conflitos fundiários, ambientais, culturais e políticos. O estudo do turismo em territórios tradicionais contribui para se discutir as implicações nefastas de projetos desenvolvimentistas, incluindo o turismo empresarial, que expropriam territórios, visando convertes os elementos naturais em produtos turísticos. E revela como o turismo pode também se tornar um meio de resistência, em que os indígenas assumem as suas experiências de turismo comunitário (Brasil), turismo étnico e cultural (Argentina) e turismo Mapuche (Chile). Estes países vêm vivenciando reivindicações dos povos indígenas por efetivação dos seus direitos como povos originários, estando os movimentos indígenas ocupando os espaços acadêmicos e do governo para expressarem os seus protagonismos nas lutas comuns. Apesar de conquistas políticas, os povos indígenas continuam enfrentando violações dos governos neoliberais anti-indígenas.
Ivan Pojomovsky Soler (UFPE) ST43
Filmando o governo dos presos: representação, poder e violência dentro de uma autogoverno prisional venezuelano
Baseado numa pesquisa etnográfica numa prisão venezuelana com uso de ferramentas audiovisuais, se analisa os “carros”, uma estrutura de autogoverno desenvolvida pelos presos, que fortemente armada e verticalmente centralizada, possui grandes níveis de autonomia frente ao Estado e regula a vida cotidiana dentro de alguns presídios. Levando a conta alguns insights da antropologia visual, usamos o processo de filmagem de uma ficção ideada, elaborada e atuada pelos internos como estratégia para entender suas formas de organização e as relações externas dos autogovernos. Se analisam os conteúdos do filme como forma de entender em particular, as concepções do “carro” frente a três tipos de atores: os “carros” rivais, as igrejas evangélicas e o Estado. Se foca nas relações contraditórias entre antagonismo e busca de reconhecimento que se tinha com os autogovernos rivais, aquelas de aliança que permitem moderar a violência do autogoverno com a igreja e, por fim, as formas de colaboração tensa com o Estado que o roteiro revela.
Ivo Coser (UFRJ) ST10
Democracia representativa e democracia direta: revisitando dois modelos.
A comunicação aborda a relação entre a democracia direta e a democracia representativa. Procura se afastar das duas visões tradicionalmente aceitas sobre o tema. A primeira postularia que a democracia direta poderia captar melhor o que pensam os cidadãos, revigorando a democracia representativa. Uma segunda visão sustentaria que a democracia representativa protegeria melhor os direitos das minorias e ofereceria decisões mais bem fundamentadas, em razão do profissionalismo e da dedicação dos representantes. A pesquisa em curso se debruça sobre a presença dos mecanismos de democracia direta nas democracias estáveis e em países que recentemente adotaram o sistema democrático. A conclusão inicial sugere que, a partir das experiências concretas das democracias, há uma maior interação entre esses dois modelos do que a bibliografia sobre o tema sugere, sendo necessário repensar as fronteiras entre ambos, numa nova perspectiva.
Izabela Amaral Caixeta (FIOCRUZ) ST13
“Aceita que dói menos” – dos aforismos cotidianos às violências estruturais: reflexões sobre a atividade docente e o adoecimento no contexto capitalista
O presente resumo tem por objetivo problematizar a relação entre o racismo e o sexismo enquanto elementos estruturais na constituição do sistema-mundo capitalista a partir de seus efeitos como produtores de adoecimentos/sofrimentos expressos no mal estar docente. Esta inquietação surge em compreender as relações entre os altos índices de absenteísmo no Brasil e o conceito colonial de saúde ainda norteado pelo paradigma biomédico. Como estratégia de produção de um conhecimento libertário, é preciso desvelar as problemáticas epistemológicas hegemônicas, quais sejam, o cientificismo racista, o positivismo, a autoridade masculina, o elitismo. O conceito de epistemicidio, em Sueli Carneiro, evidencia não somente a disputa política como reclame de histórias apagadas dos anais clássicos, como também nos auxilia a repensar o papel de nossas instituições na reprodução dessas violências estruturais. Metodologia: revisão crítica de documentos oficiais sobre os perfis epidemiológicos de docentes, a autoetnografia e a escrevivência. A proposta é analisar as experiências de trabalhadorxs da educação enquanto resistências/urdiduras anticapitalistas numa escola de Taguatinga -DF
Jacqueline Moraes Teixeira (USP) ST34
A igreja, a mulher, a família e os direitos humanos: os processos de formação da família heterossexual “saudável”
A Lei 11.340/06 também conhecida como lei “Maria da Penha” que criminaliza a violência doméstica, tornou-se diretriz fundante para a abertura de projetos desenvolvidos por igrejas evangélicas brasileiras: aqui destaco três: 1. “Projeto Raabe: rompendo o silêncio” desenvolvido pela Igreja Universal do Reino de Deus; 2. Projeto “Quebrando o silêncio” desenvolvido pela Igreja Adventista do Sétimo dia; e 3. Projeto “Mulheres ajudando Mulheres” desenvolvido pela Igreja Batista de Alagoinha. Pretendo analisar - a partir de um conjunto de materiais produzidos pelos projetos, que compreendem desde reuniões temáticas até relatos publicados como livros biográficos -, a produção civil de uma noção de conversão que se baseia no reconhecimento jurídico da violência de gênero, bem como, da condição de sofrimento. Nesse processo, o divórcio torna-se necessário no aprendizado da relação heterossexual saudável. A família emerge como foco de cuidado e de cura, foco de pedagogias que visam o cuidado de si tornam-se linguagens substanciais de produção de um sujeito feminino que deve afastar-se da condição jurídica de sujeito de sofrimento para assumir o relato público como “crente civil”.
Jairo Pimentel Jr. (FGV-SP) ST27
Organizações partidárias locais e seu impacto eleitoral
O objetivo desta proposta é empreender uma análise sobre a importância das organizações partidárias a nível local como fator de interferência para eleições no plano estadual e federal, sobretudo após as mudanças promovidas pela Reforma eleitoral de 2015, especificamente no que concerne a proibição da doação empresarial. Tal mudança pode ter alterado a importância das organizações partidárias no cenário eleitoral, tornando as estruturas locais em fonte preciosa de recursos para mobilização política. Nesse sentido, a hipótese a ser testada é se o fim da doação empresarial pode ter representado uma vantagem relativa para os partidos que possuem sustentação organizacional com diretórios municipais e uma fraqueza para os partidos que apenas utilizam comissão provisórias para indicar candidatos.
Jamile Borges da Silva (UFBA) ST15
Museus afrodigitais: experiência de Epistemologias Atentas e Gestos Decoloniais no trato com a imagem de povos subalternizados
(Re)pensar, a decolonialidade no contexto brasileiro (lusófono e afro-diaspórico), implica criar epistemologias atentas aos contextos e marcas culturais locais através da formulação de abordagens interseccionais que abarquem os diferentes marcadores sociais como gênero, sexualidade, raça, classe. Para tal, propomos aqui incorporar três categorias centrais para esse empreendimento: Espectropolitica, Genealogias excêntricas e Gestos decoloniais. Quero argumentar em favor de novas metodologias para o trato com as memórias dos povos da diáspora negra que incitam Outridades e subjetividades animadas por aquilo que eu chamo de Epistemologias Atentas, isto é, longe de buscar a obsessão fundacional das genealogias ocidentais com os pais fundadores da ciência – pensamento falocêntrico -, me interessa colocar em perspectiva aquilo a que Blaise Pascal chamou de sprit de finesse - o espírito de finesse – ou uma delicadeza que diz respeito ao campo da compreensão, da atenção, da escuta e da compaixão com as histórias e memórias das populações na diáspora.
Janaina Campos Lobo (UNILAB) ST07
Hay que luchar: a política do lugar e os agenciamentos territoriais da Comuna afroequatoriana Playa de Oro, Esmeraldas - Equador
Este trabalho versa sobre os diversos agenciamentos territoriais da Comuna afrodescendente de Playa de Oro, localizada na Província de Esmeraldas, Equador. Proponho uma reflexão sobre as políticas do lugar, partindo de seus aspectos sociocosmológicos e das diversas ações empreendidas em busca de autonomia. Objetivo uma compreensão dos agenciamentos locais como forma de aceder às medidas de salvaguarda do território ancestral. Essa proposição busca evidenciar os ensinamentos dos playadoreños para entender os processos que invertem a lógica de uma histórica invisibilização e de usurpação de seus recursos naturais, além de compreender os sentidos atribuídos por esses atores na luta por direitos e, principalmente, na defesa e manutenção do território frente às investidas de uma persistente colonialidade, contemporaneamente relacionada ao garimpo. Dessa forma, intenciono analisar os sensos de justiça, elementos da memória e a economia política do lugar empregados na defesa do território. Apresento os resultados do trabalho etnográfico desenvolvido desde 2011 em Playa de Oro, os quais refletem as ações ordinárias de defesa desses territórios negros do norte do Equador.
Janaina Damaceno Gomes (UERJ) ST15
Afrovisualidades: estratégias de auto-inscrição de famílias negras na cultura visual brasileira
O objetivo deste artigo é discutir, a partir do aparato teórico-metodológico da Black Visual Culture, sobre fotografias vernaculares de famílias negras da Baixada Fluminense (Rio de Janeiro) realizadas entre 1960-1990, tendo em vista as experiências estéticas e políticas de contravisualidade e de auto-inscrição (Mbembe, 2001) de sujeitos negros no imaginário brasileiro. Embora os negros sejam personagens contantes da iconografia brasileira, raros são os trabalhos que abordam as imagens produzidas pelo desejo desses sujeitos. Em seu livro O direito a olhar: uma contra história da visualidade” (2011), Nicholas Mirzoeff, define contravisualidade como uma resposta à uma visualidade aristocrática, racista, que “classifica, separa, estetiza” e policia a nossa imaginação. Neste sentido, definimos Afrovisualidade como uma contravisualidade, ou seja, um modo que sujeitos negros reivindicam para si o direito a olhar e a produzir imagens, como no caso dos arquivos fotográficos de famílias negras do Rio de Janeiro.
Janaina de Souza Bujes (UFRGS) SPG22
Medicalização e justiça penal juvenil: controvérsias sobre uma política pública de saúde mental para jovens em privação de liberdade
A pesquisa reflete sobre as práticas de gestão da juventude, envolvendo adolescentes em privação de liberdade na Fundação de Atendimento Socioeducativo do estado do Rio Grande do Sul (FASE/RS). O estudo analisa a medicalização na socioeducação e a criação de uma política de saúde mental para o atendimento destes jovens. A pesquisa visa problematizar as dinâmicas estatais e modos de governo de jovens em privação de liberdade. Utilizando como metodologia a etnografia multisituada, está voltada para as trajetórias, redes e processos que originam as diferentes relações de coprodução entre atores e objetos, humanos e não humanos, para mapear estas redes em sua heterogeneidade e explorar de que forma elas são constituídas e geram efeitos sobre instituições, atores e poder. O Estudo aponta que a atenção sobre as práticas de medicalização de jovens é deslocada para o debate de elementos de exclusão e vulnerabilidade social destes sujeitos. É possível observarmos o reforço de controvérsias sobre a socioeducação, acionadas de diferentes formas e momentos na construção da política pública, bem como o apagamento de violências estruturais que constituem as práticas estatais na justiça juvenil.
Janina Onuki (USP), Pedro Feliu Ribeiro (USP), Amâncio Jorge Silva Nunes de Oliveira (USP) ST30
Opinião Pública e Integração Regional na Argentina e Brasil
Os distintos modelos de integração regional presentes na América do Sul têm suscitado posições divergentes no debate público argentino e brasileiro. O presente artigo analisa o comportamento da opinião pública dos dois países em relação à estratégia de integração regional. Por meio da construção de uma base de dados inédita com amostras nacionais e probabilísticas da opinião pública nas duas maiores economia do bloco regional, testamos o efeito de primings positivos e negativos acerca do MERCOSUL. Os resultados indicam queda no apoio ao bloco na presença de primings negativos, ainda que de uma maneira geral, a opinião pública de ambos os países é estável e favorável ao bloco regional. Além disso, fatores socioeconômicos e preferências políticas afetam a propensão ao apoio ou rejeição à integração vigente.
Janine Targino da Silva (IUPERJ) ST11
As diferentes concepções sobre dependência química entre católicos e pentecostais
O consumo de drogas parece ser um fenômeno de todos os tempos e de todos os povos uma vez que não existem registros de nenhuma sociedade humana que não mencione a utilização de substâncias entorpecentes. Contudo, na atualidade, a dependência química insurge como fruto de um contexto histórico-social multifacetado da sociedade ocidental. Aos dependentes químicos são apontados alguns modelos de tratamento e dentre esses há o chamado tratamento “religioso”. A presente comunicação analisa os discursos correntes em duas dessas comunidades terapêuticas no Rio de Janeiro, que se propõem a recuperar dependentes químicos, uma de perfil pentecostal e outra associada à RCC. O objetivo é apreender como a dependência química e a busca por recuperação da mesma são percebidas sob o prisma de grupos religiosos específicos. Os dados aqui apresentados foram coletados entre os anos de 2011/2013 e de 2015/2018 através de pesquisa de campo por observação e entrevistas semiestruturadas. A principal conclusão alcançada aponta que as estratégias de cuidado da dependência química mudam substancialmente de acordo com as construções cosmológicas adotadas.
Jaqueline Resmini Hansen (UFMG) ST06
Voluntarismo cívico, internet e participação política: as relações das motivações e capacidades com o ambiente online
Entendendo que a participação política é um fenômeno explicado por capacidades e motivações e considerando que atualmente os cidadãos também são internautas, a presente pesquisa indaga como o uso de internet se relaciona com essas dimensões no entendimento de diferentes tipos de participação política. Assim, tem-se como objetivo entender se a inclusão ao ambiente online funcionaria como mecanismo que potencializaria os efeitos das dimensões do voluntarismo cívico no entendimento deste fenômeno. Para isso, executa-se primeiro uma Análise Multivariada e em seguida uma Análise de Mediação Causal utilizando dos dados do Projeto de Opinião Pública Latino-Americana de 2017 para o Brasil. Os resultados mostram que o uso de internet é uma dimensão com impactos positivos sobre comportamento de protesto e negativos para o comparecimento eleitoral. Entretanto, a simples inclusão ao ambiente online diminui os efeitos da dimensão dos recursos, afastando da ação política aqueles que teriam capacidades para tal. Deste modo, a superação da primeira barreira da divisão digital parece não atuar como um mecanismo, ao menos não em um sentido positivo de ser um disjuntor da desigualdade participativa.
Jean Carlo Faustino (UFSCAR) ST25
O Êxodo Cantado Revisitado
O objetivo deste trabalho é o de apresentar e revisitar criticamente, através do debate neste grupo de "Música e Ciências Sociais", uma pesquisa de doutorado que recebeu o título de "O Êxodo Cantado". A pesquisa em questão, concluída em 2014 na UFSCar, foi realizada com a finalidade de compreender uma realidade social de um período fundamental da história recente do Brasil quando este se tornou, pela primeira vez, um país predominantemente urbano. Com um recorte de pesquisa voltado para um estilo musical caro às raízes culturais e aos afetos da população de origem rural do estado de São Paulo (a moda de viola), a análise foi realizada com base nas letras dessas músicas gravadas originalmente entre as décadas de 1960 e 1970 que corresponde ao ápice do movimento conhecido como êxodo rural brasileiro. A música caipira é um objeto de pesquisa fascinante e as modas de viola correspondem a um rico material cultural para resgate e reconstrução de um capítulo ainda oculto da história nacional. Conhecê-la significa, portanto, desvendar uma parte interessante, bonita e trágica de uma realidade social que ainda deixa ecos no presente.
Jean Segata (UFRGS), Elisa Oberst Vargas (UFRGS) ST35
O mosquito-oráculo e suas tecnologias: microbiopolítica e governo do futuro
O mosquito Aedes aegypti é o mais importante vetor de doenças como a Febre Amarela, a Dengue, a Zika e Chikungunya. Além da fama de vilão e inimigo, isso fez dele um catalisador de interesses políticos e uma infraestrutura global da ciência. Programas locais de controle do mosquito têm se alinhado aos interesses das políticas da Global Health e sua recente tendência de transformar a saúde em uma matter of (bio)security. Desde 2016, desenvolvemos uma etnografia de políticas públicas para a sua vigilância e controle, baseadas em softwares de geolocalização e tecnologias de DNA. Neste trabalho, apresentaremos algumas situações etnográficas em que o emprego destas tecnologias são combinadas para performar riscos e predizer epidemias. O nosso objetivo é mostrar como a antecipação de futuras epidemias é convertida em um instrumento de governamentalidade que produz sujeitos e mobiliza instituições.
Jesus Marmanillo Pereira (UFMA) ST15
A sociologia visual de Émile Durkheim: O clássico e a cidade contemporânea
Partindo da idéia Bourdiana baseada na necessidade de converter problemas abstratos em operações científicas inteiramente práticas, o presente paper buscou pensar a expressão modelo teórico-metodológico durkhemiano por meio da pesquisa com imagens urbanas. Trata-se de um exercício resultante do projeto de iniciação cientifica chamado "Sociologia em Imagens: Durkheim, Marx, Weber, a cidade de uma câmera" que tem como principal objetivo o ensino e adaptação das teorias sociológicas clássicas para pesquisas fotoetnográficas na cidade de Imperatriz-MA.
Joaquim Machado Meira (EBAPE) ST06
Votos, ideias e vínculos: congruência ideológica entre eleitores e parlamentares no Brasil
Quão semelhantes são as opiniões de políticos e cidadãs no Brasil, e como isto varia entre temas e grupos? A congruência ideológica (CI) - semelhança entre o que eleitoras querem e representantes pensam e fazem - é tema chave na ciência política, mas são raros os estudos do caso brasileiro. Este trabalho mapeia a CI no Brasil na 54ª legislatura, respondendo (1) em quais temas há maior CI, (2) se partidos promovem CI com suas apoiadoras e (3) se cidadãs de maior classe socioeconômica têm mais CI com o Congresso. Os dados advêm de pesquisas de opinião com parlamentares e amostras representativas da população. O método principal é o EMD, que mede semelhança entre distribuições e tem mais precisão e aproveitamento de dados do que alternativas comuns na literatura. Encontro que a CI varia muito através de temas, e é maior em políticas específicas como cotas do que em temas econômicos. Constato ainda que o PSDB promove mais CI com suas apoiadoras do que o PT, e que o Congresso não é mais responsivo a cidadãs de alta renda, mas sim às com maior nível educacional. Meus achados ajudam a compreender o sistema representativo brasileiro e a entender quais interesses têm voz no Congresso.
João Assis Dulci (UFJF), Raphael Jonathas da Costa Lima (UFF) ST40
Mercado e Política Automotiva: a Ford e suas decisões estratégicas para o Brasil
Com marcante presença no país desde a década de 50, a indústria automotiva espelha muito as mudanças vividas pelo Estado brasileiro nos últimos setenta anos. Essas modificações indicam também a forma segundo a qual as políticas industriais para o setor foram construídas, negociadas e recepcionadas, além do alcance que tiveram em termos de potencialização do desenvolvimento econômico. O descompasso entre o real impacto do setor sobre o desenvolvimento e sua capacidade de articulação para obter vantagens junto ao Estado demanda uma investigação das estratégias desses atores econômicos em contextos institucionais múltiplos. Com isso, o presente trabalho se propõe a discutir a construção de políticas para o setor automotivo brasileiro e equacionar os incentivos recebidos com os efeitos práticos em termos de resultados. O objetivo é mostrar como os players mais tradicionais do setor historicamente vêm flertando com as instituições políticas no sentido de moldar a estrutura do mercado nacional, a partir do caso da Ford, que recebeu 2% de redução na alíquota de IPI pelo Inovar Auto e ainda assim decidiu fechar a fábrica de São Bernardo do Campo (SP) e demitir três mil funcionários.
João Guilherme Bastos dos Santos (INCT-DD), Karina Silva dos Santos (UFF), Vanessa Cristine Cardozo Cunha (UERJ) ST22
“Bolsonaro nesses possuídos!”: controvérsias online, direita religiosa e fundamentalismo neopentecostal em 2018
Este artigo traz uma análise das estratégias online e cultura política associadas à atuação do ativismo neopentecostal e fundamentalismo de extrema direita mobilizada em prol da campanha de Jair Bolsonaro em aplicativos e redes sociais online, com base na análise de postagens e entrevistas. O embasamento empírico deste artigo provém de revisão bibliográfica sobre neopentecostais, fundamentalismo e direita religiosa no Brasil; entrevistas com fiéis ativos em grupos de WhatsApp que receberam conteúdos seguindo a polarização em que a esquerda é inimiga dos neopentecostais; análise qualitativa das imagens que circularam nos grupos e chamaram a atenção de entrevistados, bem como imagens que passaram por grupos monitorados pelos pesquisadores, explorando as relações entre agonismo/antagonismo e gatilhos emocionais; e postagens feitas por Silas Malafaia (Vitória em Cristo) em redes sociais online. O impacto de notícias falsas em torno de questões de gênero, sexualidade e pedofilia fomentando o salto da rejeição a Fernando Haddad no segmento evangélico – chegando a mais de 60% - confirma a necessidade de investigar seriamente o tema.
João Paulo Nicolini Gabriel (UFMG), Henoch Gabriel Mandelbaum (USP) ST30
Nuclear Programs and Domestic Institutions' Strategies Towards National Development: a Comparison between Brazil, India and South Africa.
This essay aims to grasp the reasons behind the maintenance of the Indian military nuclear program which defied international regimes and the Great Powers' starkly pressure to avoid the proliferation of weapons of mass destruction. Other emerging powers such as Brazil and South Africa renounced this sort of initiative. We advocate that domestic political institutions' trajectories played crucial role within these contexts. This paper is based in two qualitative analysis: (i) a within-case analysis about India's historically development of policies for the endorsement of technological development and (ii) a cross-case study aimed to compare this country's nuclear initiative with Brazil's and South Africa's. Beyond perceptions of threat, the maintenance of nuclear programs in India was due to the relative continuity inside its domestic political institutions. Brazil and South Africa went through re-democratization processes that can be considered critical junctures that reset national agendas and objectives.
João Paulo Pereira do Amaral (UFRJ) ST20
Referências culturais: narrativa e silêncio, memória e poder
A presente proposta surge de uma pesquisa em andamento que explora, a partir de uma perspectiva decolonial, a noção de referências culturais, central na concepção sobre os patrimônios culturais a partir da atual Constituição Federal. Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (2000), as referências culturais são objetos ou manifestações culturais às quais se atribui importância diferenciada na vida social e que, por isso, constituem marcos de identidade e memória. Mais que aos objetos em si, portanto, dizem respeito aos sentidos e valores atribuídos às práticas culturais por quem as vivencie. A pesquisa dialoga com produções antropológicas sobre os patrimônios culturais, com trabalhos que propuseram uma leitura das narrativas e do processo de fabricação de memórias e símbolos de identidade, destacadamente por intermédio de políticas específicas a partir do Estado e com estudos voltados para memória social e identidades coletivas a partir de manifestações culturais às quais são atribuídas coletivamente o sentido de marcos de identidade, referências culturais para os segmentos sociais que os vivenciam. Entre ambas há um debate profícuo de ser explorado.
Joel Sousa do Nascimento (UNIFAP), Ruane Cláudia Queiroz Silva (UNIFAP) ST05
O Tráfico Internacional de Mulheres em três Dimensões: Gênero, Migração e a Rota Amapá-Guiana Francesa.
O presente trabalho tem o objetivo geral de analisar as intersecções entre questões de gênero, migração e incidência do Tráfico internacional de Mulheres nas fronteiras Franco-Brasileiras. Para a análise do tema, foram realizadas em Macapá entrevistas semiestruturadas com profissionais de órgãos estaduais e municipais de atenção à mulher, além de pesquisa documental e revisão bibliográfica buscando compreender o fenômeno sob a perspectiva das concepções interseccionais de gênero. De acordo com os dados coletados e analisados até o momento, tem-se feito notável que a ocorrência do fenômeno do tráfico de mulheres tem ligação direta com as questões de gênero, como por exemplo, a coisificação da mulher, ou seja, o ato de trata-la como um objeto, uma mercadoria, o qual remete aos tempos de escravidão no mundo. A migração feminina e o fenômeno em estudo estão intimamente ligados, pois é nas migrantes indocumentadas que as redes de tráfico veem oportunidades de atuação, nessa situação de “ilegalidade” produzida pelo estado e reproduzida pela sociedade, as mesmas se tornam vulneráveis aos diversos tipos de exploração.
Jonas Marcondes Sarubi de Medeiros (CEBRAP) ST39
A rede de significados em torno da política institucional nas ocupações secundaristas de São Paulo: uma abordagem interpretativa
O tema deste trabalho são os significados atribuídos à política institucional pelos secundaristas, moradores de periferias urbanas e filhos de trabalhadores que ocuparam suas escolas em 2015. Seu objetivo é compreender a percepção subjetiva dos estudantes acerca das instituições políticas formais. São analisadas 30 entrevistas semi-estruturadas realizadas nas escolas ocupadas, a partir de uma abordagem interpretativa que buscará compreender o evento político das ocupações a partir do seu próprio contexto cultural. Grande parte da literatura trabalha com uma abordagem dedutivista, independente do quadro teórico adotado (anarquista, marxista, pós-marxista, pós-estruturalista ou arendtiano). Aqui, a perspectiva será indutiva, tratando a cultura como “rede de significados”: a explicação deste evento político só é possível a partir de uma perspectiva local, perguntando e ouvindo como os secundaristas fazem sentido do que se passou. Ao menos três temas são relevantes para discutir sua relação com a política institucional: a valorização intensa da educação pública como direito social; a desconfiança no sistema político-partidário; e a aposta estudantil na “política das ruas”.
Jonas Soares Lana (IFRJ) ST25
A crítica profissional e outras mediações no processo de significação social da música: um estudo de caso sobre canções de Prince (1985-86)
O objetivo deste trabalho é investigar a participação de críticos musicais e de outros agentes na construção social de sentidos atribuídos à música, a partir do estudo de caso dos discos Around the World in a Day e Parade, lançados por Prince respectivamente em 1985 e 1986. O ponto de partida da pesquisa é a rejeição, manifestada na época pelo músico norte-americano, ao reconhecimento por parte de críticos britânicos, de referências à música dos Beatles em Around the World in a Day. Procedendo à análise de Parade, verifica-se a existência de citações do disco Sgt. Pepper's Lonely Heart Club Band, da banda inglesa. Tal observação conduz a um debate sobre as implicações de tal presença, a qual, estranhamente, confirma as considerações dos críticos sobre a influência dos Beatles sobre Prince, ao mesmo tempo em que contradiz a negação do músico sobre tal influência. A análise da matéria sonora de ambos os álbuns de Prince subsidia neste trabalho o estudo da significação social da música gravada pelo astro pop norte-americano, com ênfase no papel desempenhado por mediações como os discos dos Beatles, as críticas musicais britânicas e os colaboradores na produção fonográfica.
Jonatha Farias Carneiro (UFMA) SPG23
Formas de mobilização no campo maranhense: da luta pela terra ao desafio de inserção mercantil
A proposta deste artigo é analisar os caminhos percorridos pelo movimento de trabalhadores rurais do Estado do Maranhão, os processos de ocupações de terras, a intensificação dos conflitos e a ampliação das mobilizações no campo. A análise centra-se no pressuposto de que as mobilizações sociais estão submetidas ou enquadradas às transformações mais gerais do cenário político e social de uma sociedade. Buscamos compreender de que maneira as transformações políticas e suas repercussões na organização de um movimento social no campo brasileiro promove o desenvolvimento de estruturas de oportunidades políticas que favorecem ou restringem as ações coletivas de trabalhadores rurais no Estado do Maranhão. Para tanto faço-me valer de uma descrição histórica dos movimentos sociais no campo brasileiro, das condições para a formação de um quadro de ação coletiva no Maranhão, a partir dos anos 1950 que possibilitou a criação de diversas associações no Estado, o desenvolvimento de uma estrutura sindical nos anos 1960 e o movimento de criação de diversos assentamentos de reforma agrária em meados dos anos de 1980.
Jonathan Willian Bazoni da Motta (UFRRJ) SPG32
O regime de incerteza na favela do Jardim Batan no pós-UPP
No dia 20/03/2018 a favela do Jardim Batan – terceira a receber uma UPP – foi surpreendida com o anúncio público de que sua unidade de polícia pacificadora seria fechada por ordem do gabinete de intervenção, que à época era responsável pela segurança pública do Estado do Rio de Janeiro. Nos últimos anos a política de pacificação tem caído em descrédito por não conseguir eliminar ou reduzir a atuação dos grupos armados e nem refrear os altos índices de violência em área de UPP. Nesse sentido, muitas UPPs foram desmobilizadas com o não repasse de recursos e a diminuição do efetivo policial, remodelando a trama das favelas cariocas. O presente trabalho se debruça sobre a favela do Batan para refletir acerca desse novo contexto marcado por mudanças substantivas na configuração política e na sociabilidade. Os moradores dessa favela, nos últimos 2 anos, presenciaram mudanças radicais do contexto vivido, com o retorno do ordenamento do tráfico de drogas, o fim da pacificação e do patrulhamento policial, o aumento do número de roubos (e furtos) e os rumores do regresso da milícia. Todos esses eventos constroem um novo cenário de incerteza experimentado pelos moradores do Jardim Batan.
José Angelo Machado (UFMG) ST26
Cooperação Intermunicipal em Três Versões: parcerias voluntárias, governança regional e gestão das regiões metropolitanas
Este trabalho identifica três agendas de pesquisa dedicadas aos problemas de cooperação intermunicipal: parcerias voluntárias, governança regional e gestão de regiões metropolitanas. Argumentamos que elas se referem, não apenas a associações que estabelecem relações distintas entre os entes locais, mas que também enfrentam problemas de ação coletiva próprios. Parcerias voluntárias são associações intermunicipais para gestão de interesses comuns enquanto organizações incumbidas da gestão de uma ou mais políticas públicas em uma região se defrontam também com interesses não compartilhados, que apresentam diferente saliência para governos locais ou, mesmo, que os colocam em posições conflitantes. Os distintos problemas de ação coletiva envolvidos revelam ameaças peculiares à promoção da cooperação, o que poderia explicar, ao menos em parte, problemas de inadequação de formatos institucionais em determinados casos, como frequentemente ocorre nas regiões metropolitanas.
José Jairo Vieira (UFRJ) ST29
As Atléticas Universitárias e o cenário pós-megaeventos
A relação entre esporte e educação tem várias nuanças, uma delas é a sua existência da escola até faculdade. No momento pós-megaventos esportivos e o papel das atléticas está cada vez mais evidente no que se refere ao esporte universitário. Elas organizam o esporte naquele curso e participam de competições organizadas por empresas privadas, isso independentemente das confederações estaduais e nacionais de jogos universitárias. Esse artigo visa analisar a organização, estruturação e relações existentes nessas atléticas e suas implicações iniciais no esporte universitário brasileiro. Para tanto, metologicamente está sendo realizado trabalho de campo junto as principais atléticas das Instituições de Ensino Superior de alguns estados brasileiros. Percebeu-se que as atléticas estão atuando de forma fundamental no dia a dia de esporte universitário do brasileiro e acabam fazendo com que uma quantidade grande universitários pratiquem e participem de competições. O fato dos jogos serem organizados por empresas privadas traz um aspecto financeiro diferente do existente nas competições organizadas pelas organizações oficiais como as confederações universitárias estaduais e brasileira.
José Luís Abalos Jr. (UFRGS) SPG33
A vida nas paredes pobres: etnografia de processos visuais em contradição.
Essa proposta visa dar continuidade ao trabalho apresentado no GT sobre Arte e Política realizado na XII Reunião de Antropologia do Mercosul. Abordo a experiência de legalização, artificação e estetização do graffiti e da street art na cidade de Lisboa (Portugal) que vem transformando a paisagem de "bairros sociais" nas periferias da cidade. Estes bairros, de aluguel social, foram planejados e construídos a partir de políticas de (re)habitação com objetivo de implementação de moradias para população portuguesa mais pobre e estigmatizada. As juntas de freguesia, através de um novo departamento chamado Galeria de Arte Urbana (GAU), financiaram intervenções de pintura mural em grande escala que tiveram um impacto significativo na vida dos bairros. Através de uma etnografia de processos visuais em contradição busquei perceber os efeitos que tais projetos de transformação da paisagem tiveram na vida dos bairros. Portanto, trazendo tais experiências etnográficas deste acompanhamento de pintura artísticas massivas e de ampla visualidade em bairros sociais lisboetas, espero contribuir para os debates sobre imagem, arte e política propostos no SPG.
José Marcos Pinto da Cunha (UNICAMP), Gisela Cunha Viana Leonella (UNICAMP), Luiz Antonio Chaves de Farias (UNICAMP) ST39
Periferia, periferias: elementos teóricos e metodológicos sobre a diversidade espacial nas aglomerações urbanas.
O presente estudo busca aprofundar a discussão teórica sobre a emergência de “novos padrões” de segregação socioespacial em grandes aglomerações urbanas (no caso a RM de Campinas)provendo elementos empíricos e metodológicos que, com base nos dados censitários de 2000 e 2001, algumas observações preliminares de campo, nas leis de zoneamento, levantamento de uso e ocupação do solo real, permitam a averiguação de hipóteses sobre a homogeneização de determinadas zonas das aglomerações urbanas e a progressiva heterogeneização de outras, em particular, aqueles tradicionalmente ocupadas pela população de mais baixa renda e que agora passam a ter interesse ao mercado imobiliário.
José Maria Pereira da Nóbrega Júnior (UFCG) ST10
Democracia, violência e impunidade na América Latina
As eleições como mecanismo de escolha são realidade em quase todos os países latino-americanos. No entanto, esses países apresentam grande dificuldade em garantir direitos civis e políticos a maioria de suas populações. A conexão entre democracia como regime político, controle da violência e da impunidade é ponto fundamental da análise empreendida. Foi utilizado o método de política comparada e análise de dados estatísticos no intuito de avaliar os níveis de democratização dos países latino-americanos e a correlação do regime político com os níveis de violência e de impunidade. Os resultados encontrados demonstraram que a maioria das democracias eleitorais latino-americanas é de baixa qualidade, as quais são classificadas como frágeis democracias, ou semidemocracias, e que nelas a criminalidade violenta e a impunidade estão acima do tolerável, não obstante o funcionamento de eleições periódicas. Sugerimos que a melhoria das instituições responsáveis pelo controle da violência e da impunidade é fundamental para a consolidação da democracia latino-americana.
José Miguel Nieto Olivar (USP) ST05
Da noite e do terreiro: cosmopolíticas de fronteirização, crescimento, gozo e cuidado entre jovens "gays" em Tabatinga (AM).
Esse trabalho busca refletir sobre uma rede de cuidados e afetos que atravessa e compõe um tecido de jovens gays e trans- na cidade de Tabatinga, no Alto Solimões, na tríplice fronteira entre o Brasil a Colômbia e o Peru. Essa composição de vínculos, por sua vez, está em relação com a gestão da Umbanda e do parentesco que é fundamental para esses jovens, e com as materialidades da vida prática, do corpo, da moradia, das sexualidades e do gênero. Essa produção de socialidade cosmopolítica, generificada e erótica, fortemente comprometida com o cuidado, tem em categorias como "crescer", "afetos" e "babado" espaços conceituais importantes. E tem no terreiro do Pai Jairo e "na noite", espaços fundamentais de existência. A partir do trabalho etnográfico realizado com estes jovens desde 2011, que tem atravessado diferentes momentos vitais delxs e meus, busco aqui compreender as formas através das quais essa composição tornou-se possível e que efeitos e implicações mobiliza no marco das biografias, das relações familiares e dos processo de fronterização, colonização e urbanização Amazônicos.
José Valdir Jesus de Santana (UESB) ST36
Do ponto de vista das crianças: relações étnico-raciais em escolas públicas de Itapetinga-BA
Nesta pesquisa, realizada entre 2015 e 2018, tivemos como objetivos analisar como crianças de escolas de Educação Infantil e primeiros anos do Ensino Fundamental, da rede pública do município de Itapetinga/BA, acionam, vivenciam e compreendem noções como racismo e discriminação racial em suas relações com outras crianças e como elaboram sentidos acerca de seus pertencimentos étnico-raciais. Neste artigo, apresentaremos diferentes “cenas” em que crianças mobilizam suas agências de modo a controlarem as experiências racistas que vivenciam no cotidiano escolar, mesmo quando as práticas racistas tentam capturá-las, silenciá-las, especialmente no tocante ao modo como elaboram seus pertencimentos étnico-raciais. É nesse sentido que utilizamo-nos dos aportes teóricos/metodológicos suscitados pela Sociologia da Infância e Antropologia da Criança que têm nos permitido pensar a criança como sujeito e ator social de seu processo de socialização e também construtora de sua infância, de forma plena, e não apenas como objeto passivo desse processo e/ou de qualquer outro, como afirma Cohn (2005).
Josiane Silva Brito (UFABC), Josiane Silva Brito (UFABC), Rosângela Teixeira Gonçalves (UFABC), Rosângela Teixeira Gonçalves (UFABC), Camila Caldeira Nunes Dias (UFABC) ST43
Uma abordagem relacional em penitenciárias masculinas e femininas sob o domínio do Primeiro Comando da Capital (PCC)
O presente trabalho pretende apreender e analisar as configurações de poder e dinâmicas em unidades masculinas e femininas, considerando a atuação do PCC. A partir do método comparativo busca-se adensar a compreensão do gênero como um marcador de diferenças nas dinâmicas prisionais das unidades masculinas e femininas regidas sob os procederes da organização e também como elemento fundamental nas relações de poder internas ao PCC. Sendo resultado das pesquisas de doutorado, finalizadas ou em andamento, das autoras, tal proposta conta com diferentes formas de acesso aos dados, como entrevistas, observação das dinâmicas em unidades prisionais dominadas pelo PCC e pesquisa documental a partir de documentos produzidos pelo sistema de justiça, de documentos de imprensa e de documentos produzidos no âmbito do próprio PCC. Os dados acessados permitem afirmar que a realidade das prisões femininas é conformada a partir dos papéis sociais de gênero. Além disso, há um indicativo de que o PCC reproduz a lógica de divisão social do trabalho presente na sociedade em geral, que atribui aos homens as atividades decisórias e às mulheres as atividades reservadas ao espaço doméstico.
Jórissa Danilla N. Aguiar (UFRN), Gonzalo Adrián Rojas (UFCG) ST20
Feminismo, pós-colonialismo e as mulheres como frente de luta pela democracia: análise do caso argentino
A grande contribuição apresentada pela pós-colonialidade contempla uma reflexão sobre os instrumentos de poder e representação dos sujeitos subalternos, questionando o pensamento ocidental, desvendando suas faces políticas e ideológicas que determinavam aos grupos subalternos modos específicos de exclusão. Historicamente, a opressão pelo gênero delega às mulheres a condição de “subproletariado”, exemplo limite de subalternização para quem eram negados espaços sociais e até o direito de decidir sobre o próprio corpo. Destacamos as contribuições do movimento argentino de mulheres, apresentado em dois momentos em relação à democracia no país: as Mães da Praça de Maio, um movimento de direitos humanos, pela recuperação da memória, pela aparição com vida dos desaparecidos políticos; e o atual movimento de mulheres, com destacada presença do feminismo, expressão na luta pelo direito ao aborto legal, seguro e gratuito e contra o feminicídio, com o lema ni una a menos. Em nossa hipótese, as mulheres apresentam-se como protagonistas dos conflitos sociais e representam uma importante frente de luta pela democratização da sociedade, a exemplo do caso argentino, com perspectivas continentais.
Juarez Rocha Guimarães (UFMG), Letícia Godinho de Souza (FJP) ST28
“O não democrático é o que mais trabalhou”: Neoliberalismo, militarização e warfare penal no Brasil
Neste artigo, analisamos o impacto da convergência entre neoliberalismo e conservadorismo no Brasil recente. Consideraremos os condicionantes históricos específicos – sobretudo relacionados à herança militar e à justiça de transição – que caracterizam pontos de não ruptura entre o regime autoritário anterior e o período democrático, e apoiam a construção do discurso e da prática neoliberal conservadora. Em seguida, identificamos as mudanças nas formas de governo e na gestão dos “ilegalismos” que acompanham essas narrativas. Defendemos que a linguagem política do “novo” conservadorismo brasileiro se constrói com base em uma convergência programática com o pensamento neoliberal e apoiado nestas rupturas, as quais podem ser identificadas como “derrotas” do pensamento republicano. Lançamos não de uma interpretação dessas ideias à luz do presente contexto social e político, à forma dos trabalhos da Escola de Cambridge e da abordagem gramsciana. Esperamos contribuir para o debate acerca das condições e matizes do conservadorismo no Brasil, buscando compreender como e por que narrativas contrárias aos direitos humanos ganham crescente audiência no presente contexto.
Julia Battistuzzi Penachioni (USP) ST18
O impacto dos Estados e das Organizações Internacionais na proteção dos Direitos Humanos
Os Direitos Humanos têm enfrentado grandes desafios nos últimos tempos, como ações de governos que empregam “políticas do medo”, a ascensão do populismo e políticas de exclusão, entendidas aqui como ameaças globais aos valores defendidos pelos Direitos Humanos. Além disso, dificuldades podem ser observadas no desempenho de mecanismos contemporâneos formulados para lidar com gravíssimas violações internacionais de direitos humanos, como o Tribunal Penal Internacional e a doutrina Responsibility to Protect. Sobre ambos foi depositado uma grande expectativa em termos de prevenção de atrocidades e prestação de contas. Esse trabalho busca desvendar os impactos que tanto o Estado (responsável pela internalização de normas internacionais, mas que também pode ser violador de direitos) como os Organizações Internacionais (como responsáveis pela aplicação de mecanismos de respostas internacionais a graves violações de direitos humanos) têm sobre a proteção dos Direitos Humanos em si, tendo em vista as diversas crises humanitárias que não recebem adequada assistência nem no âmbito nacional, tão pouco no internacional. Palavras-chave: Direitos Humanos; Organizações Internacionais; R2P; TPI
Julia de Souza Abdalla (UNICAMP) SPG28
Às margens da experiência universal: Periferia como categoria êmica na Frente de Mulheres Negras de Campinas e Região.
A noção de periferia, marcadamente polissêmica, é central no ativismo da Frente de Mulheres Negras de Campinas e Região. Os usos do termo congregam elementos geográficos e territoriais, sociais, políticos e subjetivos; ordenam e enquadram os entendimentos de si e as leituras da sociedade dessas mulheres; orientam/direcionam seus objetivos e estratégias políticas; formalizam um lugar comum que ocupam em suas experiências. Neste texto, tomando “periferia” como categoria êmica, argumento que, ao longo da formação da Frente, ela desempenhou um papel destacado na elaboração de alianças entre grupos e indivíduos distintos, sendo essa amplitude e variedade de sentidos fundamental para que a ideia marcasse um espaço compartilhado entre as participantes e grupos. Para isso, abordo a construção dessa ideia na organização da militância de Campinas, entendendo a polissemia como uma espécie de herança e disputa entre essas várias concepções. Nesse processo, a Frente se torna um ambiente de congregação e disputa das variadas percepções teórico-políticas da periferia, a partir das quais reordena e expande seu projeto político.
Julia Salgado V S Almeida (UFRJ) ST03
Microempreendedor individual: ascensão do ethos empreendedor e da noção de "cidadania empresarial" entre trabalhadores informais
Este artigo surge da minha pesquisa de doutorado, na qual realizei uma análise de discursos do jornal Folha de S. Paulo por um período de 40 anos para perceber como este veículo construiu e ressignificou a figura do empreendedor no cenário brasileiro. Ao chegar à conclusão de que tal figura, atualmente valorizada e propalada em nossa cultura, foi sendo diversificada em suas possibilidades subjetivas e de atuação, deparei-me com o microempreendedor individual (MEI), figura jurídica criada pelo governo brasileiro com o intuito de tirar da informalidade cerca de 10 milhões de brasileiros. Dentre as muitas implicações presentes na constituição desse novo "tipo de sujeito", destaco aqui a ideia, contida nos discursos, de que o MEI seria revolucionário por conferir aos indivíduos um acesso à cidadania. Trata-se da "cidadania empresarial", conceito que contribui para um processo através do qual as noções de direitos e deveres comunais são cada vez mais privatizados no âmbito da racionalidade neoliberal, tornando ainda mais hegemônica a ideia de que as narrativas de sucesso ou fracasso dos sujeitos são resultados individuais e independem de condições sociais estruturantes.
Juliana Borges de Souza (UFRRJ) ST34
“Humanização”, “sofrimento” e o corpo feminino: embates e conflitos entre a medicina, enfermagem e usuárias no hospital da mulher Mariska Ribeiro e no grupo do Luto à luta – apoio à perda gestacional e neonatal
Este trabalho é uma proposta de pesquisa para o doutorado do PPGCS/UFRRJ(2019) , trata-se de uma proposta de etnografia em dois espaços de cuidado. Pretendo entender, a partir da visão dos médicos, enfermeiras e usuárias do Hospital da Mulher Mariska Ribeiro, localizado no bairro de Bangu, Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, as concepções sobre políticas de "humanização da saúde", "acolhimento", "violência" e "sofrimento" formulados não só pela equipe médica, como também pelas integrantes do grupo "Do Luto à Luta: Apoio à Perda Gestacional e Neonatal", localizado no Flamengo, Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro. O mencionado grupo, de relacionamento virtual e presencial, é denominado como movimento social e terapêutico (MELO; VAZ, 2018, p.4).De maneira geral, a pesquisa tem como objetivo central investigar o modo pelo qual as dimensões do ativismo, da produção de identidades coletivas e da produção dos saberes médicos e não médicos se articulam à ajuda mútua, à produção de práticas sociais e de moralidades a partir do desafio de vivenciar a perda do filho esperado ou supostamente esperado.
Juliana de Azevedo Castro Cesar (USP) ST18
Human rights and humanitarian interventions in “postmodernity” – feminist contributions
The main question we face is: how to conceptualize universal moral patterns after the postmodern critiques on the liberal-cosmopolitan assumptions? Along with critical and feminist theorists we search for new grounds to universal norms, such as human rights, focusing on the following issues: (i) the constitution of the self; (ii) the source of reflexive agency; and (iii) the need and possibility of moral guides. We conclude that moral norms cannot be interpreted as fixed and final ideals. Rather, they need to be an unstable site of contestation and renegotiation between concrete subjects in relation. We do not claim the “death” of universalism. Rather, we recognize that universal rights (and the very language of rights) are not enough as a political ideal, once they disregard concrete relationships. To further develop this perspective, we apply it to the case of humanitarian interventions, where our approach to universalism can be translated to the paradigm of concrete negotiations at the field. Once we place intersubjectivity “before” human rights, it may implicate negotiated solutions with so-called terrorists, former combatants, dictatorial leaders and religious fundamentalists.
Juliana Miranda Soares Campos (UFMG) ST05
Gênero e moralidade entre as ciganas mineiras
A reflexão proposta no presente trabalho faz parte de minha pesquisa de campo entre alguns acampamentos fixos de ciganos calons de Minas Gerais, com foco no universo das mulheres, as chamadas calins. A socialidade calon se baseia em uma rígida separação de gênero e em preceitos morais baseados nas noções de honra e vergonha, intimamente ligados ao corpo e ao comportamento da mulher. Um dos grandes desafios de quem trabalha com gênero em contextos marginais ao pensamento euro-americano é o de conseguir sair da homologia direta que tendemos a fazer entre a oposição masculino/feminino e o controle de homens sobre mulheres, como bem mostrou Strathern (2006). O objetivo aqui será, portanto, apresentar as noções básicas que norteiam a pesquisa com mulheres ciganas, traçando um diálogo com estudos feministas (Lila Abu-Lughod 2002, Mohanty 1988, Uma Narayan 1998, Strathern,2006) que nos ajudam a pensar a mulher em contextos nos quais seus interesses divergem daqueles focados na emancipação.
Juliana Vinuto Lima (UFRJ) ST38
“Você não pode ter pena porque elas procuraram estar ali”: patrulhamento de masculinidades e trabalho emocional em uma instituição privativa de liberdade.
Propõe-se discutir algumas dimensões generificadas da sanção direcionada a adolescentes em conflito com a lei no Rio de Janeiro. Para tanto, serão apresentados resultados de uma pesquisa de doutorado sobre o trabalho dos agentes socioeducativos do DEGASE, instituição responsável pela execução da medida de internação. Estes profissionais, que devem “educar punindo” ou “punir educando”, relatam a ambiguidade e a dificuldade em realizar uma segurança dita socioeducativa. Será possível observar como estereótipos generificados fornecem elementos para hierarquização de agentes socioeducativos, baseada no que chamo de “performance de hombridade”, que almeja construir a imagem de agressividade e controle, sobretudo por parte dos homens – mas não exclusivamente. Em um centro de internação superlotado, onde opera a suspeição generalizada e a busca pela minimização de conflitos e fugas, a performance da hombridade se apresenta como tentativa de prevenção de conflitos. A centralidade dessa performance cria um espaço orientado pelo patrulhamento de masculinidades, que exige um trabalho emocional por parte desses profissionais para se mostrarem profissionais competentes e, implicitamente, viris.
Juliano Oliveira Pizarro (UFSC) ST31
FIFA e Governança Global: atuação a partir da análise do soft power (1990-2015)
O presente trabalho analisa a inserção da FIFA no cenário internacional no contexto globalizado, observando-a na dinâmica da governança global, com relações e disputas com outros atores, fazendo uso do soft power através de seus discursos e práticas. Através de duas dimensões de análise - governança global e soft power – partindo do pressuposto que a FIFA é um ator da governança global, busca responder como ela se utiliza do soft power. A pesquisa baseia-se em fontes bibliográficas, documentais, sites e pesquisas já realizadas sobre o objeto. Sob a ótica do soft power, percebe-se que o comportamento contemporâneo da organização procura alinhar-se a discursos democráticos e de accountability, utilizando estratégias de popularização do esporte, ampliando e diversificando as competições e os campeonatos regionais e internacionais, implementando projetos sociais, aumentando parceiros comerciais, entre outras. Para consolidar sua hegemonia internacional pelo controle da organização do futebol em escala global, a FIFA tem utilizado uma série de práticas, discursos e ações estimuladas e incentivadas pela lógica da governança global em geral e governança desportiva em particular.
Juliete Miranda Alves (UEPA) ST19
Representações e práticas entre juristas sobre o trabalho análogo à escravidão no Estado do Pará
O trabalho análogo à escravidão, segundo a Organização do Trabalho (OIT) além do cerceamento a liberdade, inclui a noção de condições degradantes de trabalho, de jornada exaustiva, e ainda a de servidão por dívida. No enfrentamento desta forma de escravidão contemporânea atuam em diversos níveis: o judiciário, a Justiça do Trabalho e a Comissão Pastoral da Terra (CPT). Apesar do esforço desses setores organizados da sociedade no enfrentamento desta forma de escravidão contemporânea a relação de empresas e empresários integrantes da lista suja do trabalho escravo no Brasil, aponta para a persistência dessa prática. Além disso, há um intenso debate entre juízes, advogados e procuradores sobre o trabalho escravo. Esses debates não são consensuais, revelam as diferentes formas de compreender a justiça e os mecanismos do direito, ou os diferentes modos de juridicidade. O objetivo principal deste artigo é evidenciar e analisar as práticas e representações no campo jurídico; constituídos pelos discursos entre os juristas sobre a categoria político-jurídico, trabalho escravo contemporâneo. Centralizo como locus da pesquisa o trabalho escravo em áreas rurais no Estado do Pará.
Kaito Campos de Novais (FASAM), Kaito Campos de Novais (FASAM) ST34
Apontamentos sobre estratégias de denúncia e de cuidado no movimento Mães pela Diversidade
A partir de debates antropológicos e feministas sobre relações familiares e estudos de gênero e sexualidade, este texto deverá analisar apontamentos etnográficos sobre a associação Mães pela Diversidade – movimento social brasileiro composto por familiares de pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis e transgêneros (LGBT) – durante a performance do grupo na Parada do Orgulho LGBT de São Paulo. Assim, proponho refletir sobre a relação entre a instrumentalização da identidade “mãe de LGBT” na construção de estratégias políticas de emoções que visam, dentre outras coisas, a denúncia de violências cometidas contra pessoas LGBT no Brasil.
Karina Areias de Oliveira Melo (UFPE) SPG29
Religião, Espaço Público e Educação - Ensino Religioso: Debates e Embates, Avanços e Retrocessos.
Religião, Espaço Público e Educação - Ensino Religioso: Debates e Embates, Avanços e Retrocessos. Karina Areias de Oliveira Melo – Doutoranda PPGS/UFPE Bolsista: FACEPE O Ensino Religioso reflete uma luta que ultrapassa o limite do campo educacional e não apenas no Brasil. Os conflitos pela inserção de diversas religiões nos espaços públicos, que também são fruto da mesma secularização e laicização das ordens políticas modernas, fazem-se presentes em diversos países. As soluções e tratamentos dados a esta questão diferem-se entre os países e mesmo, dentro deles. Ao se acompanhar a história recente do ER no Brasil percebe-se uma gama de questões relativas ao processo histórico, político, social e cultural mais abrangente. Ele nos aproxima da realidade educacional do país, da diversidade de maneiras de tratar o ER nos vários estados brasileiros, da inegável presença e forte atuação da Igreja Católica na provisão do ER ao longo da história brasileira, da inserção de entidades religiosas e de diversas religiões no espaço público, na educação e na política. Palavras-chave: Religião; Educação; Ensino Religioso; Políticas Públicas; Políticas de Ação Afirmativa.
Karinna Adad de Miranda (UERJ) SPG03
Os afetos e a disposição para a ação política em torno da remoção: o caso de Vargem Grande/ RJ
O presente trabalho aborda a relação dos moradores de Vargem Grande/RJ com seu bairro, tendo como ênfase as emoções associadas ao local e entre eles mesmos. A análise guiada pelo conceito de topofilia (TUAN, 1980) examina a forma como o aspecto ambiental influencia as percepções e os afetos relativos ao lugar, ao mesmo tempo em que enfoca o engajamento na ação política motivado pela contraposição ao projeto de remoção proposta pela prefeitura do Rio de Janeiro. O lugar é, portanto, entendido para além da estrutura física e seus limites, incorporando dimensões simbólicas – valores e significados – e interacionais – os vínculos entre os moradores. A metodologia utilizada foi a entrevista em profundidade realizada com 6 moradores. A conclusão aponta a convivência entre a relação afetiva com o lugar, conceitualmente chamada topofilia, e os
Karolina Mattos Roeder (UFPR) SPG20
Com que os partidos gastam seus recursos financeiros? Uma proposta de tipologia de gastos partidários
O dinheiro é um importante recurso de poder na política, no entanto, pouco sabemos sobre como ele é gasto no interior da organização partidária. A literatura de finanças políticas identifica que os partidos europeus gastam mais recursos com a manutenção de uma organização permanente enquanto os norte-americanos privilegiam os gastos com campanhas eleitorais (NASSMACHER, 2009). A teoria partidária costuma mobilizar dinheiro do ponto de vista do tipo de financiamento. Já as pesquisas de financiamento têm seu foco em análises eleitorais, mobilizando recursos de candidatos e comitês. Sugerimos no presente artigo o uso da despesa partidária para a identificação da estratégia dessas organizações e sua classificação. Analisamos os gastos oficiais declarados pela sede nacional de dez partidos políticos brasileiros: PT, PSB, PDT, PSDB, DEM, PR, PMDB, PPS, PV e PSOL, de 2007 a 2015. Propomos uma categorização dos gastos partidários em cinco distintos: gastos com pessoal, sedes, política, campanhas e publicidade. Analisamos o comportamento dos partidos ao longo do período em tela e os dividimos entre aqueles focados na manutenção da estrutura partidária e os que privilegiaram as eleições.
Kauã de Vasconcelos Favilla da Silva (MN UFRJ) ST02
Da mistura enquanto criatividade: relações Afroindígenas na Encantaria Amazônica da Ilha do Marajó (PA)
A presente pesquisa versa sobre variantes das religiões de matriz africana na região norte, estado do Pará, no município de Soure, na Ilha do Marajó. Variantes por tratar de diferentes concepções do que foi chamado por Prandi de “religião dos Encantados” (2004), dentre as quais a Mina Nagô ou Mina Paraense são algumas das designações mais recorrentes para as práticas que envolvem o trato com esses espíritos chamados de encantados. A intenção aqui é apresentar como se dão as relações entre essas práticas e praticantes no convívio com os encantados, perpassando as religiosidades afro e também as práticas de cura e pajelança, ou pena e maracá, relacionadas a espiritualidade indígena. Tais encontros entre religiosidades tem singular intensidade no Marajó e aqui procuro abordar como esses encontros operam criativamente misturas e composições entre essas práticas na relação com forças heterogêneas.
Kelly Cristina Costa Soares (UFCG), Kyev Moura Maia (UFCG) ST22
O resignificado da representação política e os efeitos nas mídias digitais
O instituto da representação política passou por várias transformações desde sua gênese histórica, e, com o advento da internet, uma nova mudança parece estar acontecendo. A popularização da internet e as mídias sociais abre um novo espaço digital para o debate político que chama atenção de candidatos que buscam emplacar sua agenda política nessas plataformas. A eleição presidencial brasileira foi marcada por um protagonismo dentro desses ambientes, principalmente no Twitter, logo, esse estudo tem o objetivo analisar o comportamento digital no Twitter dos cinco principais candidatos à presidência do Brasil em 2018. Trata-se de uma pesquisa empírico-qualitativa de cunho exploratório, usando dados primários obtidos através da ferramenta Twittonomy, que permitiu a extração dos tweets do período eleitoral, entre os meses de agosto e outubro de 2018. Através do software MAXQDA, foi realizada a nuvem de palavras, listando as 60 palavras mais utilizadas pelos candidatos. Os principais resultados obtidos foram: consistência dos discursos na esfera digital com os proferidos em meios tradicionais, e para maioria dos candidatos, o período eleitoral representa o pico no uso dessa rede social.
Laerte Apolinário Júnior (PUCSP), Augusto Leal Rinaldi (USP) ST30
Os BRICS e o campo da Cooperação Internacional para o Desenvolvimento
Esta pesquisa tem por objetivo analisar a atuação dos países BRICS no campo da Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (CID). Na última década, ocorreram importantes transformações no campo da CID, na medida em que os países em desenvolvimento passaram a ocupar um papel cada vez mais expressivo nesse campo dominado pelos doadores tradicionais. Dentre esses novos doadores, destacam-se os BRICS, que apesar das diferenças entre as políticas de cooperação de cada país, possuem em comum o fato de não pertencerem à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico OCDE e não seguirem os preceitos da Ajuda Oficial ao Desenvolvimento (AOD) prestada pelos países desenvolvidos. Assim, esta pesquisa buscará analisar as convergências e divergências entre esses países no tocante à CID. Para realizar essa pesquisa, foram utilizados os métodos de pesquisa bibliográfica e documental. A pesquisa bibliográfica consistiu da análise de livros, artigos e matérias jornalísticas acerca da CID. Já a pesquisa documental foi realizada com base em documentos oficiais, discursos, entrevistas, apresentação e notas da Presidência, Ministros de governo e demais agentes públicos desses países.
Lara Denise Oliveira Silva (UFC), Gloria Maria dos Santos Diógenes (UFC) SPG21
“Pus a primeira palavra que veio a mente”: artes de rua, deambulação e experiências de cidade
As múltiplas linguagens abrigadas sob a ideia de "artes de rua" como pixações, graffiti e murais figuram e transfiguram a paisagem contemporânea da maioria das grandes cidades. Busca-se compreender nessa proposta as narrativas que emergem destas práticas e em que medida elas promovem enunciações atuais do "fazer cidade" (AGIER, 2011). A partir de caminhadas (CERTEAU, 1994), recortadas nos trajetos cotidianos e incorporadas como dispositivos metodológicos, o encontro com signos urbanos da street art suscitou narrativas etnográficas de "discursos amorosos" multiplicados em diferenciadas intervenções urbanas bem como uma experiência particular de cidade (BENJAMIN, 2004). Seguindo pistas por meio de uma observação flutuante (PÉTONNET, 2008) e dos mapas imaginários desenhados em particular pelos rastros de algumas intervenções recorrentes, buscou-se descrever como estas astúcias (CERTEAU, 1994) e contra-usos (LEITE, 2007) disputam narrativas com os discursos oficiais que recaem sob a cidade.
Larissa Cykman de Paula (UFRGS) ST23
As redes de apoio nas experiências migratórias haitianas: reflexões a partir da cidade de Porto Alegre
Este trabalho abordará as experiências migratórias de haitianas e haitianos que residiam na cidade de Porto Alegre entre os anos de 2014 e 2016, quando da realização da etnografia que culminou na dissertação de mestrado defendida em 2017. A pesquisa se realizou na Vila Esperança Cordeiro, na Zona Norte da cidade. Questiono quais são as redes de apoio existentes nas experiências migratórias haitianas, ponderando sobre como estas são formadas e qual a importância nas diferentes experiências migratórias. Destaco as redes referentes ao projeto de oficinas do Grupo de Assessoria a Imigrantes e a Refugiados (GAIRE) e as redes relacionadas aos espaços religiosos. A noção de rede é pensada a partir das contribuições de Latour e Ingold e dialoga com o conceito de fluxo migratório a partir de Sayad e de resistência e agência a partir de Scott e Sassen. Já aspectos referentes à inserção local são problematizados a partir da noção de respeito à dignidade humana pensada por Sousa Santos. Concluo analisando como a ilustração de um mosaico de redes de apoio tem a possibilidade de captar os encontros e a agência dos(as) migrantes na participação destas ao longo de suas trajetórias.
Larissa Hannah Gregório Kerber Macedo (USP), Tiago Daher Padovezi Borges (UFSC) ST27
Novos partidos no Brasil: origem e perfil dos casos PSD, Solidariedade e Partido Novo
A presente pesquisa busca analisar a formação e perfil de novos partidos políticos no sistema partidário brasileiro a partir do estudo de três casos, a saber: o Partido Social Democrático (PSD), Solidariedade (SD) e o Partido Novo (NOVO). Sabe-se que o processo de redemocratização do Brasil, na década de 1980, é marcado por legendas formadas a partir da mobilização de elites políticas, as quais se reorganizaram no sistema partidário que se concretizara. Posto isso, a emergência de novos partidos é marcada por uma origem endógena às elites políticas? Com base em um estudo comparado entre os casos, objetiva-se, primeiramente, retomar o debate em torno da formação de novos partidos políticos, salientando os principais trabalhos na literatura (internacional e nacional); em seguida, analisar-se-á o processo de formação das três legendas, ressaltando os atores envolvidos na criação dos partidos; por fim, procura-se traçar o perfil dos partidos a partir do levantamento de dados (filiados, distribuição de votos, candidatos, bancada na Câmara dos Deputados), os quais serão postos a uma análise estatística descritiva.
Larissa Pereira de Melo (UNICAMP) SPG19
Os frames nos protestos contra a corrupção do Mensalão e da Lava Jato
O objetivo da pesquisa foi analisar os frames das manifestações anticorrupção do Mensalão e da Lava Jato. Filtrei as notícias de protestos através do banco de dados "Confronto político no Brasil (1998-2016)" e em seguida fiz uma análise de conteúdo das imagens relacionadas aos escândalos de corrupção. A investigação sobre os frames apontaram três resultados: Dilma foi atacada de forma mais direta pelos frames na época da Lava Jato, enquanto isso, os frames relacionados a Lula na época do Mensalão foram mais cautelosos e a associação entre PT e corrupção foi mais frequente nos protestos da Lava Jato.
Laryssa Owsiany Ferreira (UFRRJ) SPG26
Um silêncio barulhento: alimentando egrégoras ou a busca por um ouvido etnográfico.
O presente trabalho surge a partir do aprofundamento de um dos capítulos de minha pesquisa de mestrado. Procurei inseri-la no debate do que vem sendo categorizado como uma antropologia sensorial propondo uma análise que dialogasse dimensões corporais, subjetivas e "sensacionais" com a cosmologia de um ritual desenvolvido em um retiro espiritualista. A proposta da circulação de minha dissertação é que ela fosse acompanhada de arquivos sonoros que são parte do ritual, para que o leitor desfrutasse da experiência sensorial descrita e tivesse a oportunidade de alimentar uma egrégora de cura temporal através de uma imersão no som. Esses arquivos sonoros circulam através da venda de um objeto específico, um CD que atua como uma forma de reconexão com o propósito da elevação espiritual que se iniciou no ritual. A materialidade do CD se transforma em outras mídias que fazem o religioso circular produzindo outras experiências de tempo e espaço. O silêncio no ritual não está intimamente relacionado à privação da fala, e sim a captação de uma nova forma de audição. Entretanto, não se trata de ouvir o som ao redor, e sim descobrir como ouvir o som que pulsa dentro de si mesmo.
Laura Girardi Hypolito (PUC-RS), Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo (PUC-RS) ST11
A regulação do mercado da maconha como alternativa: Uruguai e Canadá
A pesquisa objeto deste estudo pretende analisar os modelos uruguaio e canadense de regulação do mercado da maconha com controle estatal, como possibilidades de implementação de políticas públicas de controle de drogas alternativas, em relação àquelas determinadas pela lógica proibicionista. A presente pesquisa se faz relevante, visto que os dois países escolhidos para análise, ocupam atualmente posições de vanguarda, posto que optaram por reconhecer a necessidade de mudança no campo da política de drogas ao proporem a implementação de novas formas de relação com a maconha, droga ilícita com as maiores taxas de consumo na atualidade. Por conta disso, o estudo procura apresentar as motivações que levaram cada um dos dois países a alterar suas legislações internas em relação à cannabis. Do mesmo modo, pretende delinear os mecanismos de funcionamento, tanto do modelo uruguaio, quanto do modelo canadense, para após evidenciar possíveis resultados provenientes da regulação, em cada um dos dois casos. Por fim, o estudo propõe pensar alternativas para a atual política de drogas no caso brasileiro, através da adoção de produções legislativas que sigam a lógica de um viés descriminalizador.
Laura Moutinho (USP) ST33
A Antropologia Social na África do Sul: uma linhagem nobre contra a segregação, uma linhagem feminina
Isaac Schapera, em entrevista realizada por Adam Kuper sobre sua trajetória entre a África Austral e a Inglaterra, evidencia um ângulo que eu não havia percebido antes de mergulhar no mundo africânder que tem sido base de minhas pesquisas na África do Sul por mais de uma década. Como o próprio Kuper ressaltou em diferentes momentos, Schapera, ele próprio, Max Gluckman, entre outros, estão entre os antropólogos sul-africanos que fizeram carreira na Grã-Bretanha. O que, entretanto, eu não havia conectado foi o trânsito significativo entre a antropologia social sul-africana e a britânica em sua conexão com a história do país, após a Segunda Guerra Anglo-Bôer (1899-1902). Além disso, chama atenção a força de uma linhagem feminina nesse cenário: mulheres africânderes na construção do nacionalismo separatista crescente e uma geração de antropólogas, pouco conhecidas no Brasil, mas de grande relevância na região.Sobre esse percurso da antropologia sul-africana - que ficou conhecida como Britânica - se debruçará essa comunicação, que pretende ainda fazer alguns contrapontos com o Brasil.
Laylson Mota Machado (UFT) SPG05
A formação do acampamento coragem e os impactos sociespaciais em torno da Usina Hidrelétrica de Estreito(MA)
O presente trabalho analisa os impactos socioespaciais e conflitos em torno da Usina Hidrelétrica de Estreito (MA), tendo como foco a comunidade ribeirinha do Acampamento Coragem, investigando os processos de desterritorialização e reterritorialização que foram e vem sendo enfrentados pelos acampados. O estudo se desenvolveu com base na pesquisa qualitativa, tendo como método central a pesquisa de campo e a observação participante como instrumento de coleta de dados, assim como, aplicação de roteiro de entrevistas. Através disso, essa pesquisa promove discussões acerca de como a barragem de Estreito tem impactado a vida dos atingidos do Acampamento Coragem, dado o fato dos processos de luta pelo território que os acampados têm enfrentado ultimamente. Como também, destaca como a ótica capitalista tem reproduzido as desigualdades sociais em nossa sociedade, com a disputa de grandes projetos de empreendimentos, destacando a construção das Usinas Hidrelétricas no país. Por meio destas análises, foi possível evidenciar o debate sobre a política energética brasileira e sua promessa de "desenvolvimento".
Leandro Carlos Dias Conde (IESP-UERJ) ST30
Humilhação e políticas de reconhecimento no sistema internacional: Brasil e China em busca de status
Esta pesquisa insere-se nas discussões sobre a humilhação nas relações internacionais, identificada como fator estruturante e organizador do sistema internacional. Partimos da hipótese de que a humilhação é uma variável sistêmica na análise das relações internacionais, e de que as potências emergentes desempenham políticas de reconhecimento frente à humilhação percebida. Suas práticas nas relações internacionais manifestam-se no rebaixamento do status de um Estado, em sua condição de tutelado pelas superpotências e pelos Estados centrais, em sua posição à parte dos espaços de decisões e na estigmatização de suas lideranças. Neste sentido, objetivamos analisar, de forma comparativa, as diferenças e as semelhanças entre as percepções da humilhação. Tendo como unidade de análise as políticas externas de Brasil e China diante da geração sistêmica de humilhação, buscaremos articular de modo comparado as dimensões sistêmica e doméstica da política externa, a fim de compreender de que forma os dois países elaboram suas políticas de reconhecimento por status no plano externo, empreenderemos, assim, um duplo estudo de caso das políticas externas desses dois países, de forma comparativa.
Leandro César Juárez Liberatori (UFRJ) ST20
Os usos estratégicos da memória por parte da Eletronorte na construção da Usina Hidroelétrica (UHE) de Tucuruí
O trabalho visa recuperar o conhecimento relativo aos usos estratégicos da memória por parte da empresa Eletronorte durante a construção da UHE de Tucuruí (1973-1992) os quais tiveram, por um lado, o objetivo de justificar e legitimar a realização da obra; e por outra parte, desqualificar as reivindicações das populações que foram atingidas e deslocadas pela construção da barragem. A tal fim, nos remeteremos aos documentos produzidos na época por parte da Eletronorte diferenciando dois períodos: 1) Memória em processo: examinaremos os documentos que foram produzidos desde a criação da Eletronorte em 1973, até a inauguração da Usina em 1984. Os documentos produzidos aqui serviram para descaracterizar às populações e justificar seu deslocamento. 2) Memória pós-deslocamento: vai desde a inauguração da UHE até a finalização da construção da primeira etapa do projeto concluída em 1992. Aqui, as estratégias de memória estiveram focadas na elaboração de planos diretores e manuais que terão como base a experiência passada de conflito com as populações atingidas pelo projeto com o objetivo de elaborar políticas de intervenção socioambiental que visassem evitar e antecipar futuros conflitos.
Leda Maria da Costa (UERJ) ST29
“O declínio da pátria de chuteiras”. A cobertura da Copa do Mundo de 2018 em um jornal sensacionalista.
Este trabalho objetiva analisar a cobertura dos jogos da seleção brasileira masculina na Copa do Mundo de 2018 no jornal Meia Hora. A cobertura feita por esse jornal costuma ser caracterizada pela adoção de manchetes satíricas e humoradas, até mesmo em caso de derrota. Foi o que ocorreu com as notícias sobre a Copa de 2018, especialmente, a eliminação da seleção masculina de futebol nas quartas de final dessa competição. É notável que as narrativas em torno da seleção brasileira de futebol já não tratam de forma homogênea o futebol como metonímia da nação, o que aponta para a possibilidade de pensarmos na hipótese de que estaríamos diante de um “declínio da Pátria em Chuteiras” como levantado por Ronaldo Helal, em recentes estudos. Esse aspecto se evidencia na recepção dos jogos da seleção masculina feitas pelo jornal Meia Hora. É válido analisar que há nas representações de jornais sensacionalista demandas do imaginário popular que podem apontar para mudanças da relação do Brasil com as Copas do Mundo e com a seleção brasileira masculina. Este assunto que é objeto da análise aqui proposta.
Leila Cristina Leite Ferreira (UFPA), Denise Machado Cardoso (UFPA) ST15
Uma etnografia visual das manas do Movimento Hip Hip nas ruas de Belém do Pará
RESUMO: O objetivo deste artigo é fazer uma etnografia visual das manas que constroem o Movimento Hip Hop na cidade de Belém do Pará. As manas são as mulheres que produzem e organizam o movimento dentro da cidade. Elas trazem uma nova perspectiva para o Hip Hop, são as protagonistas, produzem arte, discutem o feminismo, chamam as minas para se tornarem manas e estarem em pé de igualdade com os manos, que são os homens que produzem o movimento. Discutir e mudar as perspectivas do movimento faz parte da militância das manas. A pesquisa com a antropologia visual possibilitou trazer a militância das manas com uma leitura de sua visibilidade dentro do movimento, fez com que fosse possível entender seu posicionamento enquanto pessoas que estão voltadas para a construção de uma arte que registra também a sua militância enquanto feministas que trazem inscritas em sua produção a conquista de cada passo, de cada espaço no muro, nos palcos, na rua e na luta por sua conquista de direitos enquanto mulheres negras, mães, jovens, que fazem uma arte que está além do convencional. Palavras-chave: etnografia visual, manas, Movimento Hip Hop
Leonardo Damasceno de Sá (UFC), Deiziane Pinheiro Aguiar (UFC), Eveline Maria Amorim Bezerra (UFC) ST43
As mulheres nas margens, suas perdas, suas dores, suas lutas: agência de mães contra zonas sociais de abandono, desamparo, silenciamento e morte.
O objetivo deste paper é discutir a condição sociocultural das mulheres que perderam filhos e outros familiares em contexto de violência letal armada nas periferias das cidades brasileiras. Busca-se dialogar com as percepções e avaliações de 40 mulheres sobre suas perdas, dores, luto e luta. Baseado em trabalho de campo etnográfico com mulheres das periferias de Fortaleza, recorrendo a entrevistas em profundidade, o paper dialoga com a produção nacional das ciências sociais das últimas décadas. Trata-se de redimensionar a generalidade do campo de pesquisa, numa escala nacional, sem perder de vista as especificidades das pesquisas que envolvem a conexão Sudeste-Nordeste. O escopo é sugerir que as pesquisas com coletivos de mães, com mulheres das periferias, configuram um acesso de alta relevância para o campo de estudos da violência no Brasil, afinal, o ponto de vista das mulheres ajuda a problematizar os marcos masculinistas que envolvem os regimes de gênero e violência nas periferias, marcados pelos governos dos pobres, envolvendo igrejas, facções e polícia.
Leonardo de Miranda Ramos (UFSC) SPG29
Sensibilidade e pensamento crítico: relatos de egressas/os da pós graduação em Gênero Diversidade na Escola GDE - SC
A Especialização em Gênero e Diversidade na Escola - GDE, foi uma política pública federal brasileira que teve foco em questões étnico-raciais, de gênero e sexualidades. A edição que analiso ocorreu na UFSC entre 2015-17. Trata-se de uma política pública dos governos da Frente Popular 2002-16 de formação de professoras/es, voltada para a prevenção de violências e ao exercício de uma sociabilidade baseada no combate às hierarquias de gênero e respeito à diversidade nos espaços escolares. Busco refletir acerca dos impactos do curso de especialização nas trajetórias das/os suas egressas/os com base em depoimentos e entrevistas concedidas para a realização de minha pesquisa de mestrado. O curso aparece em seus relatos como um momento marcante em sua formação profissional e sua formação enquanto cidadãs/ãos. Um momento em que se desenvolve uma sensibilização acerca de experiências e trajetórias de estudantes. De transmissão de sensibilidades e competências, que fazem parte do processo de formação de professoras/es aptos a trabalhar as questões relacionadas às diversidades de gênero, étnico-raciais e sexuais na escola com um olhar crítico sobre práticas e saberes escolares.
Leonardo de Oliveira Fontes (CEBRAP) ST39
“Trabalhadores” e “envolvidos no mundo do crime”: convivência e conciliações (im)possíveis
O objetivo deste trabalho é analisar formas de relação estabelecidas atualmente nas periferias de São Paulo entre “trabalhadores” e “bandidos”, a partir da “expansão do mundo do crime” nas últimas décadas. Parte-se da hipótese que o aumento do convívio entre aqueles que estão dentro e fora do “mundo do crime” produziu diferentes estratégias de justificação por parte dos que praticam atividades ilegais. Assim, o artigo analisa tanto essas estratégias de justificação como as diferentes visões que os “trabalhadores” desenvolvem a respeito dos que estão “envolvidos com o mundo do crime”. O texto baseia-se uma pesquisa etnográfica desenvolvida em dois bairros da periferia de São Paulo e em um referencial teórico de cunho pragmatista.
Leonardo Geliski (UFRGS), Ligia Mori Madeira (UFRGS) ST10
Transformações do combate à corrupção: políticos e burocratas como réus de ações de crime organizado e lavagem de dinheiro no sistema de justiça federal da região sul do Brasil
A pesquisa examina a persecução criminal dos crimes de lavagem de dinheiro no âmbito do Poder Judiciário federal da região sul do Brasil. Partindo da um pesquisa descritiva sobre julgamentos dos crimes de lavagem no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, este trabalho buscou examinar o crimes de organização criminosa traçando elos entres os delitos julgados, o perfil dos réus, a atuação institucional do sistema de justiça e relação com a conjuntura política do país. O combate à corrupção é uma das principais agendas do sistema de justiça criminal que tem ganhado cada vez mais destaque, mas voltando-se para criminalização de grupos sociais variados, como réus de tráfico internacional de drogas, de crimes contra o Sistema Financeiro Internacional e de crimes contra a Administração Pública, coincidindo com as diferentes fases do processo da política de especialização das varas federais. O trabalho adota como referenciais teóricos as literatura de lavagem de dinheiro (COX, 2014; LASMAR, 2015; RIDER, 2007), rede de accountability (ARANTES, 2015; ARANHA, 2017; FILGUEIRAS & ARANHA, 2016), persecução criminal na justiça federal (MADEIRA & GELISKI, no prelo).
Leonardo Nóbrega da Silva (UERJ/IESP) ST01
A tradução de livros de ciências sociais no Brasil: uma análise da circulação de obras e autores estrangeiros publicados pela Zahar Editores (1957-1984)
Tendo iniciado as suas atividades em 1957, a Zahar Editores ocupou um lugar central na publicação de livros de ciências sociais no Brasil entre as décadas de 1960 e 1980, disponibilizando obras que foram fundamentais para a formação de várias gerações de intelectuais no país. Este trabalho objetiva apresentar parte dos resultados da pesquisa de tese sobre a edição de livros de ciências sociais no Brasil na segunda metade do século XX. Tendo como objeto de análise o universo de livros publicados pela Zahar Editores ao longo dos seus 27 anos de atuação, além de entrevistas, dados biográficos e documentos históricos, foi possível perceber que a formulação de uma política editorial direcionada à tradução de manuais universitários e livros monográficos de autores estrangeiros serviu como estratégia para a editora competir no emergente mercado de livros de ciências sociais. A Zahar estabeleceu redes de interação com intelectuais estrangeiros e contribuiu de forma significativa para a configuração das ciências sociais no Brasil ao viabilizar a publicação de obras e autores estrangeiros que passaram a ser referências fundamentais em debates intelectuais e políticos.
Leonardo Sangali Barone (USP) ST27
Como medir disciplina partidária? Uma abordagem Bayesiana
O objetivo deste artigo é apresentar uma medida alternativa de disciplina partidária individual construída a partir da similaridade das votações entre as lideranças e os demais membros de um partido político no Legislativo. Utilizo uma abordagem Bayesiana e simulação computacional (Monte Carlo via Cadeias de Markov) para estimar um modelo de dois parâmetros de resposta ao item. Este modelo é semelhante ao modelo de estimação de ponto ideal em uma dimensão amplamente adotado pela literatura. Entretanto, em vez de codificar os votos dos parlamentares em "Yea" ou "Nay" de acordo com a sua escolha em relação à medida em votação, organizo os dados de forma que "Yea" represente o acompanhamento da posição da liderança e "Nay" represente a decisão oposta. O modelo proposto supera duas deficiências das abordagens anteriores. Em primeiro lugar, trata disciplina partidária como uma quantidade latente sujeita a incerteza, e não como um valor fixo que pode ser obtido aritmeticamente. Em segundo, não trata as votações como homogêneas e discrimina as votações quanto ao custo de transgressão da indicação da liderança. O modelo é exemplificado com dados da 54a Legislatura da Câmara dos Deputados.
Leonardo Silva (UFSC) ST40
Perfis dos ministros da Fazenda e do Planejamento e dos presidentes do Banco Central membros do Conselho Monetário Nacional (CMN): análise sociológica do período 1965-2018
Este artigo objetiva realizar um perfilamento dos 66 ministros da Fazenda e do Planejamento e presidentes do Banco Central que foram membros do Conselho Monetário Nacional (CMN) entre 1965 e 2018. Para a realização do estudo, foram mobilizados o método documental/bibliográfico, a prosopografia, a estatística descritiva e a Análise de Correspondências Múltiplas (ACM). A pesquisa indica que na população analisada o tipo de perfil mais recorrente é o do indivíduo do sexo masculino que é autóctone e/ou graduado nas áreas centrais do país (e.g., SP e RJ) e que possui alto volume de capital cultural, formação em economia e pós-graduação no exterior. A pesquisa demonstra ainda que tais agentes possuem uma significativa multiposicionalidade em termos de experiência profissional, que as instituições de ensino e pesquisa e a administração pública são as duas áreas que mais fornecem quadros para o CMN e que as oposições observadas no grupo dos acadêmicos/pesquisadores são estruturadas em primeiro lugar pela experiência profissional, enquanto que as oposições observadas no grupo dos profissionais da administração pública são estruturadas primeiramente pelo volume de capital cultural.
Letícia Baron (UFPel) SPG08
Direitas no Brasil: um terreno em disputa
O presente trabalho tem por objetivo analisar, a partir das contribuições teóricas de Laclau e Mouffe, como se constituiu o discurso dos movimentos à direita no Brasil durante o período do impeachment de Dilma Rousseff. Foram analisadas todas as postagens realizadas pelos movimentos Brasil Livre, Endireita Brasil, Vem pra Rua e Revoltados Online nas páginas oficiais dos movimentos na rede social facebook, totalizando 5.266 unidades de análise. A análise dos sentidos discursivos mobilizados pelos movimentos permitiu que as temáticas fossem divididas em três nós: impeachment, antipetismo, América Latina, corrupção, defesa de projetos de leis, esquerda, impeachment, moral e religião, projeto político-administrativo e projeto econômico. O passo seguinte consistiu em verificar em torno de quais sentidos os movimentos se colocavam em relações de equivalências e diferença. O estudo conclui que os quatro discursos se aproximavam na medida em que se colocavam contra os inimigos constituídos (antipetismo, impeachment, esquerda) e que eles se afastavam na medida em que buscavam implementar projetos políticos e econômicos distintos.
Letícia Pereira Simões Gomes (USP) SPG32
Policiamento preditivo, controle social e desigualdade racial
Este paper é parte de uma pesquisa de doutorado sobre as intersecções entre o uso de tecnologias e discriminação racial pela Polícia Militar do estado de São Paulo (PMESP). Visa-se avaliar a importância do uso da tecnologia - e se tal se enquadra enquanto policiamento preditivo - no policiamento. A partir da noção de racismo institucional, investiga-se como as tecnologias relacionadas ao policiamento podem impactar, em um Estado Racial, a reprodução de desigualdades raciais. Enquanto um estudo qualitativo, as fontes mobilizadas são bibliografia especializada e entrevistas com policiais. Os resultados preliminares indicam que o uso da tecnologia pela PMESP age em duas direções diferentes, ainda que ambas espacialmente referenciadas: i) contribui para a organização dos recursos policiais em áreas específicas/prioritárias por meio do georreferenciamento de registros de ocorrências criminais; e ii) fundamenta-se na introdução de tecnologias de análise de imagens para a identificação de situações suspeitas. Nessas situações, elas parecem reforçar as práticas de filtragem racial e de racialização do suspeito, contribuindo para a estigmatização de pessoas negras e suas comunidades.
Licemar Vieira Melo (UNISINOS) SPG01
Democracia digital: encontros e desencontros da comunicação com a ciência política - um estudo sobre as teses e dissertações produzidas no Brasil entre 2004 e 2018
Este trabalho divulga uma pesquisa exploratória, em desenvolvimento, no PPG em Ciências Sociais da UNISINOS em São Leopoldo-RS, que busca identificar as diferentes abordagens - objetos de estudo, perspecti- vas, enfoque, referenciais teóricos e metodológicos - de teses e dissertações sobre o tema ‘democracia digital’,produzidas nos PPGs de Comunicação e Ciência Política nas universidades brasileiras, entre 2004-2019. Em um recente exercício de coleta de dados, de abril 2019, foram selecionadas as teses e dissertações produzidas entre 2004-2018, que contemplavam a discussão dessa temática em seus capítulos teóricos, nos PPGs dessas duas áreas. Com ele percebeu-se que as duas áreas: a) analisam prioritariamente iniciativas institucionais, ou seja, aquelas nas quais, através da internet, o Estado abre canais de interlocução com a sociedade, como as consultas online, os parlamentos e governos eletrônicos; b) investigam a participação e a deliberação online; c) apresentam diferentes enfoques de investigação.
Licia Gomes (UNIRIO) SPG33
Muralismo Mexicano- agencimentos e reflexos no Brasil
Este trabalho pretende apresentar agenciamentos no Muralismo Mexicano de Diego Rivera na década de 1920 e seus desdobramentos na arte no Brasil, observados pelos trabalhos de Portinari e Di Cavalcanti. A influência do Muralismo Mexicano não se deu apenas na temática social, a política, governamental ou não, estava muito próxima da produção artística, convergindo tanto na ideologia dos artistas desses dois países, quanto na participação governamental, por meio de projetos de fomento para a arte. Podendo acontecer as duas convergências ao mesmo tempo. Para analisar esses desdobramentos, serão observadas duas obras brasileiras, são elas: São Francisco de Assis se Despojando de Suas Vestes (1945), de Cândido Portinari, e a Via Crucis, ou Via-Sacra (1958) de Emiliano Di Cavalcanti. Os pontos de encontro quanto à visualidade – formas, temáticas, símbolos – observados nessas obras apontam desdobramentos visuais do movimento mexicano. E a participação do Estado, por meio da produção de projetos governamentais e outros atores sociais serão os pontos convergentes princiapis deste trabalho no estudo dos projetos e nas formas de atuacao, mesmo que os contextos historicos sejam diferentes.
Lidia de Oliveira Matos (SEC/BA), Diego Ramon Souza Pereira(UFBA) SPG12
Ativismo Negro, Poética Popular: o negro feminismo da poeta Jarid Arraes
As manifestações artísticas constituem-se como uma ferramenta de construção e apreensão da realidade para pesquisas em Ciências Sociais. Neste cenário o problema de investigação é: "Como a poeta Jarid Arraes mobiliza a partir do cordel um ativismo negro feminista no campo virtual?". Buscar-se-á compreender como as feministas negras, a exemplo da Jarid Arraes, utilizam o campo virtual para contestar e produzir novos valores. Na tentativa de entender a poética negra feminista produzida por Arraes, foram mobilizadas categorias sobre a noção de raça e racismo (FANON, 2008; MUNANGA, 2004), feminismo negro (GONZALEZ, 1988), ciberativismo (JUNGBLUT, 2015) e "cordel-jornal" (GALVÃO, 2010; LUYTEN, 1992). A análise de conteúdo (AC) forneceu instrumentos para coleta e análise das representações a partir da construção de categorias e códigos, assim como também foi usado os instrumentais fornecidos pela Netnografia (KOZINETS, 2014). Os resultados indicam uma relação íntima entre o cordel e a arte produzida por esta autora com algumas nuances sobre o que tradicionalmente se chamou de escrita popular.
Ligia Mori Madeira (UFRGS), Leonardo Geliski (UFRGS) ST19
The anti-corruption specialized courts in the Global South: Brazilian experience in comparative perspective
The research aims to present the Brazilian experience of fighting corruption through specialized courts as one of the Global South cases. It is intended to present the trajectory of creation, the main characteristics and the points of contact and divergence with other cases, especially with the best known in the literature that is the specialized court of Indonesia. It is a descriptive article that seeks to reconstitute the trajectory of this institutional construction process in order to present the views of the entrepreneurial judges and policymakers, as well as to contextualize the national experiences with the larger panorama of the developing countries of the Global South, focusing the role of the anti-corruption agenda, promoted by international organizations and donors. As methods, we conduct a qualitative research of documentary analysis, whose work is result of literature review, analysis of reports of multilateral agencies, legislative and judicial analysis and interviews.
Ligia Paula Pires Pinto Sica (USP), Fabiana da Mota Almeida Peroni (UNICAMP), Heloisa Bianquini (USP) ST09
Os discursos das mulheres nas eleições de 2018
O trabalho tem como objeto discursos de candidatas a deputada federal às eleições de 2018 e pretende verificar se suas propostas e pautas correspondem a tendências de posicionamento político feminino descritas na Ciência Política. A literatura indica uma migração do voto feminino para a esquerda, e a existência de certo consenso entre parlamentares mulheres em relação a pautas como combate à violência contra a mulher, mas dissenso em pautas que envolvem religião. Adotou-se como metodologia envio de questionário para todas as candidatas a deputada federal em 2018, com perguntas sobre nível socioeconômico, atuação política prévia, pautas e propostas. A pesquisa teve 183 respondentes, sendo que cerca de 33% delas são de partidos de registro recente (após 2011). Constatou-se que boa parte foi líder de movimento social – em especial nos movimentos de saúde pública e feminista – e apenas 15% possuía familiares na política. Observou-se convergência em pautas de maior participação das mulheres na política, e de combate à violência de gênero. Pautas feministas de direitos reprodutivos foram pouco adotadas. A legalização completa do aborto foi defendida por menos de 15% das respondentes.
Lindijane de Souza Bento Almeida (UFRN), Pedro Henrique Correia do Nascimento de Oliveira (UFRN), Ana Vitória Araújo Fernandes (UFRN) ST24
Novos discursos? A experiência dos movimentos sociais de direita em Natal/RN
Os protestos que emergiram após a primavera de junho 2013 evidenciaram uma série de atores que possuem pautas antagônicas ao projeto político progressista. Apesar disso, os estudos ainda estão em andamento quanto à compreensão dos novos movimentos sociais na ocupação das ruas e nas cenas políticas. Sob esta ótica, o presente artigo busca compreender a forma como atuam os novos movimentos sociais na capital do Rio Grande do Norte, Natal. Para tanto, o estudo está estruturado de forma a abarcar três objetivos específicos, a saber: a) identificar os principais movimentos sociais com espectro político à direita em Natal/RN a partir dos principais jornais de circulação local; b) traçar o perfil das lideranças destes movimentos, visando entender sua trajetória, matriz ideológica e perfil de mobilização; e c) compreender a principal forma de atuação desses movimentos. Para fins metodológicos, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com os atores qualificados e, posteriormente, analisadas a partir do software IRAMUTEQ. Ao final, constatou-se que os movimentos sociais de espectro a direita em Natal/RN segue as mesmas características dos demais presentes no território nacional.
Lisabete Coradini (UFRN) ST15
Tecendo redes:samba, samba reggae e batucada em Barcelona
A internacionalização da música brasileira e a chegada de migrantes brasileiros proporcionaram a criação de novos espaços sonoros e uma nova maneira de viver a música na cidade de Barcelona,Espanha. Nessa investigação procurei analisar determinadas práticas de consumo,produção e recepção musical através do samba e da batucada, assim como certos processos de hibridismo cultural. A metodologia está baseada na obervação participante,registro audiovisual e na escuta de programas de rádio. Trata-se de uma investigação realizada durante meu pós doutorado no Grafos,UAB,entre julho de 2017 e julho de 2018.
Livio Sansone (UFBA) ST33
A perspectiva Sul-Sul nos estudos africanos e as ameaças do novo populismo conservador.
Time is now ripe for a critical assessment of such development, for a social history and genealogy of these South-South processes and projects as well as for the development of a new sustainable sort of South-South exchanges in the field of African studies. In Brazil contemporary African studies developed from within the multicultural wave that swept the country from approximately 1996 to about two years ago. For this reason, in this paper, after teasing out a short history of the South-South connection as seen from Brazil I move on to discuss the rise and fall of Brazilian multiculturalism and of the struggle for more social and racial inclusion in Brazilian universities – again, African studies in Brazil are closely related to our racial question and our multicultural visions.
Lívia Bastos Lages (UFMG), Ludmila Mendonça Lopes Ribeiro (UFMG) SPG22
Quem prender? Um estudo sobre a necessidade da prisão preventiva nas audiências de custódia em Belo Horizonte
Este trabalho busca compreender o processo decisório instalado nas audiências de custódia. Essas foram inseridas no procedimento criminal em 2015 e, a partir da apresentação dos presos em flagrante à autoridade judicial, buscam garantir a decretação da prisão preventiva apenas em casos extremos. Com base no acompanhamento de 380 audiências de custódia em Belo Horizonte no ano de 2018, procuramos analisar o “como” essas decisões são produzidas e a partir “do que” é decidido se o sujeito deve esperar o processo privado de liberdade. Nossos achados indicam que, a despeito da participação da pessoa presa, o processo decisório é cerimonial e norteado pelos documentos policiais, que facilitam a categorização dos sujeitos entre aqueles que devem permanecem presos e os que devem ser liberados ao longo da investigação e do processo penal. Dessa maneira, concluímos que as audiências de custódia não têm representado um loci de debate e de participação da pessoa presa na decisão judicial, de modo que a decisão reitera uma categorização dos indivíduos entre “bandidos” e “não bandidos”, a partir da ideia policial de periculosidade e de risco à ordem social e ao Estado de Direito.
Lívia Matos Lara de Assis (PUC-Minas), Maria Carolina Tomás (PUC-Minas) SPG24
Análise das características raciais das famílias brasileiras
O objetivo desse artigo é analisar a diversidade racial, considerando as características socioeconômicas e a localização geográfica no país, das famílias brasileiras. A análise distingue as especificidades das famílias nucleares (intactas e reconstituídas), monoparentais e estendidas, com destaque para as diferenças de classificação racial entre irmãos. Os dados são do Censo Demográfico de 2010 e as duas técnicas principais de análise são: 1) a Análise de Correspondência Múltipla, para verificar as condições socioeconômicas e raciais das famílias; e 2) Análise Espacial por municípios, que pretende localizar geograficamente as famílias inter-raciais e compará-las no contexto das grandes regiões no território brasileiro. Os resultados permitirão avançar os estudos sobre o tema, na medida em que consideram a desigualdade racial não apenas nas esferas públicas, como a escola e o mercado de trabalho, mas também esferas privadas como a familiar. Palavras-chave: diversidade racial, famílias, raça, Censo 2010.
Lorenna Ribeiro Zem El Dine (Fiocruz) ST28
A interpretação verde-amarela do Brasil e dos brasileiros e sua possível atualidade
A comunicação examinará a perspectiva verde-amarela sobre o Brasil e os brasileiros, a partir dos textos manifestos e das polêmicas levadas a cabo por Cassiano Ricardo, Menotti Del Picchia, Plínio Salgado, e outros integrantes da vertente do modernismo paulista, no diário Correio Paulistano, entre 1925 e 1929. A fim de entender o verde-amarelismo em seu contexto, ressaltará os sentidos adquiridos por esse movimento, chamando a atenção para as suas afinidades e seus os contrapontos com as perspectivas estéticas e políticas de outros atores do modernismo de São Paulo, com outros atores intelectuais e com os debates intelectuais da época. A partir desse exercício interrogará ainda sobre a persistência de algumas formulações presentes no verde-amarelismo nos atuais rumos da política no país.
Louise Claudino Maciel (UFRPE) ST21
“Tudo aqui tem uma história”: heranças e moradia burguesa no Recife
A comunicação analisa o lugar das heranças no estilo de vida de integrantes de frações antigas das classes altas do Recife. O consumo curatorial, ou seja, a conservação de objetos herdados pela linhagem familiar, é uma tomada de posição central da concepção de “bem morar” da “burguesia antiga”, analisada em pesquisa sobre decoração e classes altas no Recife. O estudo foi feito a partir de uma seção sobre decoração, publicada pelo jornal Diario de Pernambuco e baseou-se, sobretudo, em entrevistas em profundidade com proprietários das moradias apresentadas na seção. Primeiro, analiso as práticas que, no âmbito da moradia, caracterizaram o refinamento social da “nobreza da terra” de Pernambuco no século XIX, com base nos estudos de Gilberto Freyre. A acolhida de muitas dessas práticas, por meio de heranças materiais e simbólicas, nas casas burguesas de hoje, serve como ícone de ancestralidade, mas também divide lugar com novos signos distintivos. Posteriormente, analiso o papel das heranças de artefatos nessas moradias, destacando o vínculo com o capital simbólico; com a formação da sensibilidade estética burguesa e com os ritos de identificação e legitimação desse grupo social.
Lourival Aguiar Teixeira Custódio (USP) SPG06
Descolonização Corpográfica em Havana: Corpo e cidades coloniais
Havana foi considerada, durante os séculos XVIII e XIX a principal cidade colonial do Caribe. Sua importância econômica, alavancada por sua localização geográfica, possibilitou que esta cidade se tornasse uma grande metrópole, fundada sobre a exploração de negros escravizados. Encontramos aqui características das cidades coloniais descritas por Franz Fanon, em que a cidade é pensada para aprisionar o corpo negro, para condicioná-lo e transformá-lo em um recipiente do pensamento colonial. O corpo é o enunciado da dominação política. O processo de colonização construiu estereótipos no imaginário global, produziu corpos marcados racialmente. Essa marcação produz identidades e políticas que se combinam na criação dos territórios urbanos. Em Havana, estes territórios não encerrar estes corpos, estão fundidos neles, carregando seus estigmas, virtudes, sua moral e ética. Assim, corpo e território são vítimas das mesmas políticas de estado. Porém, entender o papel deste corpo marcado também é entender os movimentos dialéticos de resistência e assimilação perpetrados por estes corpos negros e sua experiência urbana. Quero aqui debater como a relação entre corpo negro e cidade pós-colonial.
Luana Almeida Martins (UFF) SPG28
"Passageiros que não pagam passagem": Circulações de um itinerário de ônibus entre a pista e a cadeia.
O olhar para uma unidade provisória de medida socioeducativa em que adolescentes, em restrição de liberdade, aguardam uma audiência com um juiz para definição de uma medida a ser cumprida ou de sua liberdade, pode partir de algumas perspectivas. Uma delas privilegia a separação entre o dentro e o fora da cadeia; outra dá enfoque aos fluxos, pensando o espaço de restrição de liberdade a partir de suas conexões com o que está fora. Dando destaque a última, a partir de uma pesquisa etnográfica realizada com adolescentes internos provisoriamente em uma unidade socioeducativa no Rio de Janeiro, busco pensar as configurações espaciais de um lugar de restrição de liberdade, enquanto um local que se articula com a pista. Para isso, descrevo as conexões observadas nas narrativas dos adolescentes no que diz respeito aos espaços geográficos da cidade – a pista – e a organização interna dos espaços da unidade socioeducativa – a cadeia. Minhas descrições privilegiam o percurso de uma linha de ônibus que transita entre uma zona rica e uma zona pobre (e periférica) da cidade para pensar em que medida os espaços geográficos morais do espaço urbano dialogam com a organização espacial da unidade.
Luana Passos (CEDEPLAR/UFMG), Simone Wajnman (CEDEPLAR/UFMG) ST36
Diferencial salarial entre as mulheres: a penalidade da cor
Mesmo que o discurso brasileiro seja de ausência de racismo e equidade de gênero, as mulheres e os negros, em especial as mulheres negras ainda são alvos de uma miríade de preconceitos, sendo dos mesmos solapadas a igualdade de oportunidades, consequentemente de inserção e ascensão social. Posto isso, o objetivo desse artigo é averiguar o diferencial salarial entre mulheres brancas e negras, bem como seus determinantes. A pesquisa se valerá como base de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de domicílio Contínua (PNAD Contínua), para o ano de 2017, e da metodologia de decomposição salarial de Oaxaca-Blinder e de Firpo, Fortin e Lemieux (2009). Os resultados apontam desigualdades de rendimentos entre as mulheres, tanto para a média como ao longo da distribuição salarial. Parte deste diferencial é explicada pelas distintas características produtivas, tais como setor de atividade, ocupação, educação, região, horas trabalhadas, mas parte se assenta no efeito estrutura salarial que se associa, em alguma medida, a discriminação. Assim, as mulheres negras parecem ser duplamente penalizadas, ora devido a desigualdade de oportunidades ora ao preconceito racial.
Lucas Correia Carvalho (UFF), Andre Veiga Bittencourt (Fiocruz) ST28
Sentidos do conservadorismo brasileiro: cartografia da área de pensamento social
A atual pesquisa tem como objetivo realizar levantamento amplo e ao mesmo tempo matizado dos estudos sobre pensamento conservador na área de pensamento social brasileiro. Para tanto, lança mão de recursos informacionais de extração, tratamento e análise de metadados (como referências bibliográficas, resumos e palavras-chave) de diversos documentos (artigos, livros e ementas de disciplinas, sobretudo). Mais do que um balanço de área, a proposta é averiguar como esses diferentes documentos jogam luz ao estudo sobre pensamento conservador no Brasil, permitindo ao mesmo tempo pensá-los em conexão com os contextos de produção e como ferramentas heurísticas de interpretação do presente.
Lucas de Mendonça Marques (UFRJ) ST02
Do fumo à fumaça: os encontros do tabaco no mundo afro-pacífico
No Pacífico Sul colombiano, o consumo de tabaco é associado a uma prática divinatória conhecida como “leitura do tabaco”, realizada majoritariamente por mulheres afro-colombianas e vinculada a temas como magia e bruxaria. Recentemente, tal prática vem passando por uma série de transformações, motivadas, dentre outras coisas, pelo encontro com outras práticas espirituais afro-americanas, como as religiões afro-cubanas e o culto a Maria Lionza. Neste trabalho, além de descrever o funcionamento ritual da leitura do tabaco – prática pouco descrita na etnologia afro-americanista – busco também acompanhar alguns dos encontros do tabaco no mundo afro-pacífico, encontros que envolvem seres, forças, materiais e técnicas distintas, e conectam diferentes dimensões cosmológicas, sociais e políticas. Me interessa pensar nesses encontros sem reduzi-los de antemão a dimensões extrínsecas ao próprio acontecimento, mas buscando tratá-los enquanto movimentos criativos que transformam e ativam (ou reativam) uma série de relações passadas, presentes e futuras, retomando territórios existenciais que supostamente haviam sido “perdidos” após a devassidão da experiência da escravidão.
Lucas Henrique Ribeiro da Silva (UFMG), Paula Vivacqua de Souza Galvão Boarin (UFMG), Ciro Antônio da Silva Resende (UFMG) SPG10
Mapa dos direitos humanos na Câmara dos Deputados: uma análise sobre as audiências públicas da CDHM
O artigo pretende responder, com base no mapeamento de instituições e organizações que participam sistematicamente de audiências públicas da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados, de que maneira organizações da sociedade e atores políticos se distribuem na Comissão, levando em consideração aspectos como temáticas e partidos políticos. Mobilizando estatística descritiva e análise de redes sociais, observa-se que, entre as organizações que participaram de mais de dez audiências públicas nas 53ª e 54ª legislaturas, a maioria é oriunda do Executivo Federal, centralidade reforçada pela abordagem de redes. Embora este resultado possa representar um baixo protagonismo de organizações da sociedade no processo decisório inscrito na política de direitos humanos, deve-se considerar que, de modo geral, a literatura especializada tem apontado para a centralidade do Executivo também nas demais políticas. Ao trazer reflexões como esta, pretende-se contribuir para os estudos sobre os direitos humanos, tendo em vista que conhecer a ecologia de grupos atuantes na temática é essencial para análises sobre avanços e retrocessos e, sobretudo, prospectar sobre o futuro.
Lucas Marcelo Tomaz de Souza (UNILAB), Janaina Campos Lobo (UNILAB) ST25
Música popular brasileira na década de 1970: ou análise de um ageração sem "vida".
Este trabalho vem analisar o campo musical brasileiro, na década de 1970, sob o prisma dos artistas estreantes nesses dez anos. Luiz Gonzaga Junior, Luiz Melodia, Novos Baianos, Secos & Molhados, Clube da Esquina, João Bosco, Fagner, Belchior, Ivan Lins e Raul Seixas são músicos e compositores populares, nascidos artisticamente na década de 1970, cujas trajetórias testemunham um conjunto de alterações sociais e culturais importantes na história do país. Assim, este trabalho lança luz sobre essa geração de novatos, ocupantes de posições homólogas no campo musical brasileiro, e analisa a configuração dos seus trabalhos artísticos e carreiras profissionais no centro das transformações sociais, econômicas e culturais que marcaram a década de 1970.
Lucas Nascimento Ferraz Costa (FGV) ST19
Um Modelo de Social-Constitucionalismo Comparado
O objetivo deste artigo é apresentar o Constitutional Social Score Model (CSSM), uma ferramenta metodológica que desenvolvemos para comparar o conteúdo social das constituições. Sustentamos que ao longo da história constitucional tem sido observados distintos padrões de constituintes, os quais se traduzem no conteúdo das constituições. Neste artigo, mostramos empiricamente a ocorrência de um tipo de constitucionalismo, cujo resultado são constituições com um elevado número de direitos sociais. A literatura em constitucionalismo se refere a este fenômeno como um “novo constitucionalismo Latino Americano”, sugerindo uma modalidade de constitucionalismo definida por elementos histórico-geográficos, os quais são confirmados pela nossa hipótese. Nossa metodologia consiste na aplicação do CSSM nas 194 constituições vigentes. Nos baseamos no banco de dados do Constitute.org e atribuímos um score para cada constituição, o qual consiste em uma classificação numérica que traduz seu conteúdo social (considerados 18 tópicos), em relação aos níveis de especificidade e universalismo com os quais os direitos sociais são assegurados.
Lucas Pedretti Lima (UERJ) ST24
A Comissão Externa sobre Desaparecidos Políticos (1991-1994) e a Comissão Nacional da Verdade (2012-2014): movimentos e contramovimentos nas disputas pela memória da ditadura no alvorecer e no estertor da Nova República
O trabalho pretende analisar a atuação de duas instâncias estatais criadas a partir das demandas das 'vitimas' da ditadura militar (1964-1985) no Brasil para lidar com o legado das violações de direitos humanos do regime. A primeira, uma Comissão Externa criada no âmbito da Câmara dos Deputados em 1991, que existiu até 1994. O segundo, a Comissão Nacional da Verdade, criada pela lei 12.528 de 2011, cujos trabalhos se estenderam de 2012 a 2014. A proposta apresentada é parte de uma pesquisa de doutorado em andamento no programa de pós-graduação em Sociologia do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ), cuja temática mais ampla são os movimentos e contramovimentos por 'memória, verdade e justiça' no Brasil desde os anos 1970 até o presente. O recorte se adequa à proposta do Seminário Temático pois tratam-se de duas conjunturas sociopolíticas particulares, permitindo uma reflexão sobre como os contextos políticos influenciam as interações Estado-sociedade. Para além disso, observar estes dois casos nos permite avançar nas reflexões sobre mudanças e continuidades na dinâmica destas interações ao longo da Nova República.
Lucas Ribeiro Mesquita (UNILA) ST30
Diplomacia Digital na América Latina: a hipótese da intensificação da diplomacia pública
Entendida como um elemento intensificador da diplomacia pública, a diplomacia digital levaria a maximização do engajamento do público na política externa, tornando os cada vez mais interconectado e permitindo o afastamento dos fluxos de informação unidirecionais para o diálogo e o engajamento virtual. Utilizando ferramentas de mineração de dados do twitter e a metodologia de Análise de Redes Sociais, construímos digital policy network das políticas externas da Argentina, Brasil, Bolívia, Colômbia, Chile, Equador, Paraguai, Peru, Suriname Uruguai e Venezuela, o artigo questiona, a partir da análise da rede da diplomacia digital de dez países latino-americanos, se a diplomacia digital é um instrumento de intensificação da pluralização e democratização das políticas externas latino-americanas. Construímos a hipótese que as redes resultantes evidenciam a centralidade de atores tradicionais da política externa na capacidade de produção e replicação de conteúdo, em contrapartida a uma presença secundária de outros atores e temas, evidenciando a relação unilateral e centralizada - nos presidente, chancelarias e embaixadas - da “diplomacia pública digital” na América Latina.
Lucas Vinicius Oliveira dos Santos (UFBA) ST37
"Sorria, Jesus te aceita": diálogos entre modelo de santidade, batalha espiritual e dissidências sexuais e de gênero em uma Igreja Inclusiva
Tradicionalmente concebe-se que a tradição cristã e as dissidências sexuais e de gênero ocupam polos antagônicos de uma disputa. Contudo, é preciso considerar a capacidade de agência de sujeitos dissidentes na criação de igrejas chamadas inclusivas, que propõem novas abordagens teológicas no campo do gênero e da sexualidade. É objeto desse trabalho os discursos e práticas que essas igrejas sustentam, mais especificamente no que se refere a elaboração de uma moralidade específica. A questão é trabalhada através de uma experiência etnográfica na Igreja Cristã Contemporânea em Salvador. Durante as observações foi possível perceber alguns elementos que apontam para como os atores fazem a articulação entre a vida religiosa cristã e práticas sexuais não-heterossexuais. A batalha espiritual se mostra como um aspecto importante desse processo. Dicotomias como “vida na carne/vida no espírito” são constantemente reiteradas nas mensagens e orações. “A Igreja Contemporânea é uma igreja como outra qualquer outra” também é um discurso frequente. O que aponta para um forte apelo à santificação como um elemento de legitimação da Igreja Contemporânea no contexto religioso mais amplo.
Lucia Mury Scalco (UFRGS), Rosana Pinheiro Machado (UFSM) ST39
A Revolta das Vedetes: a subjetividade contestatária das jovens do Morro da Cruz
A partir da etnografia realizada desde 2009 sobre consumo e política no Morro da Cruz, bairro periférico de Porto Alegre, acompanhamos grupos juvenis e observamos as transformações pelas quais os jovens suas famílias e seus entornos passaram de acordo com momentos-chave da historia recente do país, marcados pela emergência do crescimento econômico e seu colapso, afetando não apenas as condições materiais da existência, mas igualmente o self individual. Como a literatura de camadas populares aponta não é novidade que as mulheres exercem um papel crucial como chefe de família e/ou lideranças comunitárias. No entanto nosso argumento é que existe um processo novo, de ruptura, que diz respeito à penetração da nova onda do feminismo entre jovens de baixa renda. Esse processo é marcado pela emergência de uma subjetividade contestatória de meninas que se apropriam do debate da grande política ajudando a formar uma faixa de contenção à candidatura do Bolsonaro, que encontrou a sua maior rejeição entre mulheres; ou na judicialização das vagas em creches, principal reivindicação das jovens mães. Elas formam um bloco de resistência e são protagonistas das batalhas jurídicas pelos seus direitos
Lucia Sestokas (UNICAMP) SPG18
Os limites do direito a migrar: como instâncias estatais compreendem e categorizam mulheres não brasileiras em conflito com a lei vivendo no Brasil.
A presente proposta parte de um mestrado em andamento, em que analiso como agentes e instâncias de diferentes aparelhos de Estado compreendem e constroem categorias judiciais e migratórias, as quais produzem e são produzidas por atributos de gênero, raça, classe e nacionalidade. A partir da realização de etnografias de instâncias estatais da em sua relação com mulheres não brasileiras em conflito com a lei, assim como de documentos legais que envolvem tanto processos criminais quanto migratórios, pretendo aqui apresentar alguns resultados parciais da pesquisa, intitulada “Entre o direito de migrar e a justiça criminal: etnografia das práticas de estado que relacionam mulheres não brasileiras em conflito com a lei e agentes de instâncias estatais”.
Luciana Alves Drumond Almeida (UFMG) ST08
Pobreza multidimensional e pessoas com deficiência no Brasil
A presente pesquisa teve por objetivo estudar o nexo intercausal entre deficiência e pobreza no Brasil. Por referencial teórico, considerou-se a abordagem das capacidades desenvolvida por Amartya Sen e Martha Nussbaum. Buscou-se verificar o efeito dos tipos de deficiência (física, auditiva, visual, cognitiva e múltipla) e seus níveis (dificuldade permanente ou incapacidade) sobre as chances de estar em condição de pobreza multidimensional, bem como o efeito dessa condição de pobreza sobre as probabilidades de autorrelato das deficiências (também por tipo e nível). Utilizou-se os dados referentes ao Censo 2010 e para construção do Índice de Pobreza Multidimensional o índice desenvolvido por Alkire e Foster. Foram realizadas regressões logísticas binárias por gênero e verificou-se que notadamente as mulheres com deficiência tem maiores chances de não possuíram qualquer instrução e saneamento no domicílio; e que as pessoas com deficiência cognitiva são as mais prováveis de estar em condição de pobreza. Por outro lado, o aumento da escolaridade e da renda domiciliar tende a diminuir as chances de autorrelato de alguma dificuldade permanente, especialmente entre as mulheres.
Luciana Andressa Martins de Souza (UFES) ST10
Políticas Públicas e Instituições Participativas: efetividade da participação no contexto pós-desastre-crime socioambiental do Rio Doce
Qual foi o papel das instituições participativas (IPs) nos municípios capixabas de Linhares e Colatina atingidos pela lama da Samarco, Vale e BHP Billiton? Este artigo tem o objetivo de explorar a efetividade das IPs (Conselhos e Comitês de Bacias) através da sua produção decisória nos dois municípios citados no período de três anos após o desastre-crime socioambiental ocorrido em Mariana (MG), no qual uma onda de rejeitos de minério despejado no Rio Doce chegou ao estado do Espírito Santo (ES) impactando em múltiplos setores da sociedade. A pergunta que norteou a pesquisa foi o que as instituições participativas fizeram (ou não) diante do desastre-crime socioambiental. Para responder essa pergunta recorremos a bibliografia de efetividade das instituições participativas aliada a perspectiva dos instrumentos de políticas públicas (HALPERN, LE GALÈS, 2011; LASCOUMES, LE GALÈS, 2007) e replicamos o estudo de Gurza Lavalle, Serafim e Voigt (2016). Os resultados ainda não são conclusivos, pois essa pesquisa visa a cobrir um período maior de coleta de dados.
Luciana Ceschin (IFB) ST21
Patrimônio cultural e tecnologia: o processo de musealização do Acervo Digital Bar Ocidente, em Porto Alegre/RS
Este artigo apresenta um processo de musealização que resultou na elaboração do Acervo Digital Bar Ocidente, um acervo digital que disponibiliza na internet um conjunto de impressos do Bar Ocidente, local que faz parte da memória da cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Discute os processos que levaram o conjunto de documentos a serem considerados de interesse ao patrimônio cultural local. Discute as relações entre o campo patrimônio cultural e as tecnologias de informação e comunicação digitais. Apresenta diferentes narrativas a respeito da realização do referido acervo digital. Discute e analisa, a partir dos estudos CTS, as técnicas, tecnologias e bases conceituais utilizadas pelas diferentes equipes nas diferentes etapas de trabalho até o lançamento do site. Considera-se que os artefatos, como os acervos digitais, têm histórias e é necessário entender os regimes de valor em jogo no contexto de sua criação, pois são estes que permitem identificar e compreender as trajetórias possíveis que a sociedade permite ao artefato.
Luciana Vieira Rubim Andrade (UFMG), Marjorie Corrêa Marona (UFMG), João Feres Júnior (IESP-UERJ) ST19
Cortes constitucionais, mídia e debate público: o caso da Audiência Pública das Quotas Raciais no Supremo Tribunal Federal
A literatura sobre Cortes Constitucionais produziu expectativas acerca de sua capacidade de estimular o diálogo político e social. No Brasil, a ampliação das competências do STF e certo ativismo judicial reverberaram essas expectativas. Contudo, do ponto de vista da teoria democrática, a questão é mais complexa. O estudo das APs no STF pode lançar luz sobre tal complexidade. Pretendemos mostrar como no caso da “AP das quotas” houve a criação de uma esfera pública que competiu com a imprensa. A comparação sistemática entre as justificações públicas em relação à política afirmativa racial articuladas na AP e no acórdão, e aquelas que circularam na mídia permitirá avaliarmos se houve ou não qualificação do debate público. Utilizaremos a análise de conteúdo das audiências e dos textos jornalísticos, além da identificação dos diferentes atores que tiveram voz em cada esfera pública. Os resultados reforçam a importância da incorporação de novos atores/argumentos no debate público sobre política afirmativa racial para além do que é produzido pela mídia, mas não confirma o potencial das APs, identificado pela literatura.
Luciane Soares da Silva (UENF) ST36
O mito da democracia racial: justiça e racismo no Brasil contemporâneo
Como afirma Devah Pager, medir a discriminação não constitui uma tarefa fácil. No Brasil, esta questão ganha contornos ainda mais desafiadores uma vez que a construção histórica das noções de raça, possibilitou a construção de sistemas classificatórios distintos. Talvez o principal operador de classificação presente nas relações sociais cotidianas, tenha sido ao longo do século XX, o que produziu um largo cromatismo, responsável por classificações êmicas como “moreno”, “escuro”, “azul”. Para este artigo, serão utilizadas as evidências presentes na esfera jurídica brasileira. Serão apresentados termos de registros em ocorrências, inquéritos e sentenças que possibilitem compreender como o racismo e a injúria racial (ambos considerados crime no país) são tratados por operadores do direito. A partir de análise documental, entrevistas e análise de conteúdo, este artigo tenta contribuir para a construção de metodologias que avancem na difícil de tarefa de mostrar as formas do preconceito no Brasil do século XXI.
Luciano da Rosa Muñoz (UnB) SPG02
Segurança ou emancipação? Ironia, autonomia e debate no Brasil da década de 1950
O presente trabalho busca refletir acerca do debate autonomista no Brasil na década de 1950 desde uma perspectiva irônica. Em primeiro lugar, delinearemos dois modelos teóricos ao entendimento da autonomia oriundos do pensamento ocidental. Por um lado, a autonomia no tempo associada a Kant, a qual prima pela emancipação como conquista progressiva de liberdade. Por outro, a autonomia no espaço associada ao desencantamento de Weber, a qual privilegia a segurança e a vontade dos Estados. Em seguida, buscaremos entender como as duas tradições impactaram o debate autonomista no Brasil da década de 1950, respectivamente, na configuração do pensamento de intelectuais engajados e militares. Em nossa visão, a ironia que permeia a relação entre emancipação e segurança balizou esse debate, assim como modulou as opções políticas contrastantes que almejaram disciplinar o dilema moderno entre tempo e espaço.
Luciano Fischborn (UFRGS) SPG03
Representações da violência na mídia e nos comentários do Facebook: entre a compaixão e o nojo
Este artigo analisa as representações da violência criminal na mídia e nas redes sociais on-line a partir da perspectiva contextualista da antropologia das emoções, com atenção para a capacidade micropolítica das emoções. Busca-se compreender que emoções mobilizam e são performadas pela mídia e pelos usuários frente a ocorrências criminais nas redes sociais. Para isso, tem-se como objeto as publicações do jornal Diário de Santa Maria, importante veículo na região central do Rio Grande do Sul, além dos comentários dos internautas em sua página no Facebook. Os dados foram analisados com auxílio do software NVivo a partir da análise de conteúdo, que revelou, em relação ao jornal, uma postura descritiva e sistemática, apesar da grande atenção às ocorrências criminais. Já nos comentários, houve um predomínio de perfis femininos e foram encontradas manifestações emocionais distintas, em alguns casos predominando respostas de compaixão, empatia e solidariedade quanto ao crime e as vítimas, mas em outras se destacou o nojo, ódio e raiva, reações que revelam regramentos morais e sociais. Ainda, a indignação, suscitada pela empatia à dor, teve capacidade micropolítica de mobilização.
Luciano Pereira (UNICAMP) ST32
Cooperativas e transição agroecológica – análise comparada de duas Comunas da Terra no Estado de São Paulo
A pesquisa analisa formas associadas de trabalho em processos de transição agroecológica em dois assentamentos localizados no Estado de São Paulo e planejados a partir da elaboração política feita pelo MST, nos anos 1990, das comunas da terra, ou seja, assentamentos, com lotes de 1 a 2 hectares, próximos às grandes cidades. Como já defendia o modelo das comunas, muitos assentados buscam combinar o trabalho nas hortas e pomares com o trabalho nas cidades, o que a literatura nomeia de multifuncionalidade dos trabalhadores. Os programas de compras governamentais tornam mais atrativo o trabalho na agricultura por manterem a regularidade da compra de alimentos e por proporcionar renda, a longo prazo. Quando tais programas sofrem cortes drásticos, duas cooperativas nos dois assentamentos reforçam uma orientação que já estava em curso, a saber, a venda direta de cestas de produtos agroecológicos. Mesmo com as dificuldades próprias aos assentamentos rurais, podemos observar processos de resistências dos trabalhadores no sentido de permanência na agricultura por meio da agroecologia, da associação em cooperativas e da venda direta para grupos de consumidores.
Ludmila Costhek Abílio (UNICAMP) ST42
Uberização do trabalho: a era do nanoemprendedor de si?
Apresento a definição de uberização como uma nova forma de gestão, organização e controle sobre o trabalho que se firma como uma tendência global (Abílio, 2017). Entretanto, a atenção à novidade tem de também ser feita pelo seu inverso, trata-se de uma tendência à generalização de características tipicamente estruturantes de mercados de trabalho periféricos, mais especificamente, do trabalho tipicamente feminino da periferia, que agora tomam visibilidade não só na periferia como no centro (Abílio 2018). Serão apresentados os resultados de pesquisa com motoboys brasileiros em São Paulo e Londres. O artigo tem como objetivos: 1) apresentar os principais elementos que formam a definição de uberização do trabalho; 2) analisar a uberização como uma tendência que atravessa o mercado de trabalho como um todo, da periferia ao centro; 3) problematizar a uberização a partir de resultados de pesquisa empírica com motofretistas, 4) realizar debate com a bibliografia internacional, buscando estabelecer uma perspectiva a partir das especificidades do mercado de trabalho brasileiro.
Ludolf Waldmann Júnior (UFSCar) ST14
A rivalidade anglo-americana no Brasil: o caso da Marinha, 1917-1922
Quando o Brasil entrou na Grande Guerra, dois dos principais países Aliados, Grã-Bretanha e EUA, estavam engajados numa disputa pela primazia político-econômica em toda a América Latina e viram o apoio à despreparada Marinha brasileira como uma oportunidade para expandir sua influência. A competição anglo-americana se manteve no pós-guerra, focada na questão do fornecimento de belonaves e de uma missão naval para modernização da força brasileira, num quadro complicado pelo espírito antibelicista da época, questões financeiras e das divergências entre os setores dos governos envolvidos. Ao final, não houve transferência de navios, porém os norte-americanos forneceram uma missão naval ao Brasil que deu início uma longa colaboração. Assim, nosso objetivo é compreender como funcionou a dinâmica desta disputa anglo-americana por influência na Marinha brasileira no período 1917-1922, interpretando-a a partir do conceito de diplomacia naval e utilizando documentação diplomática-naval disponível sobre o período. Desta maneira, apontamos que ambas potências militares utilizaram práticas da diplomacia naval para ampliar sua influência sobre a Marinha e, assim, reforçar sua posição no Brasil.
Luis Felipe Sobral (USP) ST01
Frazer e os durkheimianos: um diálogo assimétrico na virada do século
Esta proposta de comunicação focaliza a relação entre, de um lado, o antropólogo escocês Sir James G. Frazer (1854-1941) e sua esposa, Lady Elizabeth Frazer (1855-1941), de outro, o grupo de cientistas sociais situados em torno do sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917). Em particular, trata-se de examinar os primeiros contatos estabelecidos entre eles na passagem do século XIX ao XX, momento em que as noções de totemismo, sacrifício e magia ocupavam o centro do debate antropológico nos dois lados da Mancha. O objetivo consiste em caracterizar tal relação, que, a princípio, parece pautada em um diálogo assimétrico, no qual os durkheimianos demonstravam um interesse maior pela obra de Frazer do que este pela deles. Para tanto, serão cotejadas três categorias de fontes: os livros e os artigos, as resenhas e um corpus epistolar inédito. Dessa maneira, tal proposta recusa uma historiografia da antropologia confinada às tradições nacionais da disciplina, embora as leve em conta, em benefício de uma análise atenta à circulação de pessoas e ideias através das fronteiras nacionais e epistemológicas e, especialmente, ao exame de redes intelectuais transnacionais.
Luis Guillermo Meza Alvarez (UFRJ) ST02
Relações entre pessoas, seres espirituais, reglas, tierras e religiões afro-cubanas no Ilé Oggún e Yemayá (Bogotá, Colômbia)
Nessa proposta de comunicação procuro explorar na prática religiosa/espiritual a dinâmica de coexistência das chamadas religiões afro-cubanas (Palo Monte, Espiritismo Cruzado, Regla de Ocha/Santería e Regla de Ifá) numa mesma casa religiosa: o Ilé Oggún e Yemayá, chefiado pela Iyalocha Fanny Quiñones e seus dois filhos babalawos. A partir de uma descrição geral da dinâmica ritual com ênfase nas chamadas misas espirituales busco explorar etnograficamente reflexões e posicionamentos políticos dos religiosos em torno de noções como sincretismo, mestiçagem, assim como as classificações e os modos de relacionamentos muito concretos com um conjunto de seres espirituais (orichas, eggúns, nfumbe, congos, índios, ciganos, entre outros) no plano religioso/espiritual, embora definam sua prática religiosa como sendo ioruba, que é apenas uma das tierras, reglas, religiões ou lados cultuados nessa casa religiosa. Na dinâmica de relação entre essas religiões existem tensões, conexões pontuais e diálogos que se combinam com referências a imagens de alteridade, origens geográficas e étnicas diferenciadas e que são justamente as que caracterizam e tornam possível as conexões entre elas.
Luis Gustavo Teixeira da Silva (UFPel) ST09
Partidos políticos e o aborto: análise a partir dos pronunciamentos na Câmara dos Deputados do Brasil e do Uruguai (1985-2016)
Para realizar esta pesquisa utilizamos como metodologia de trabalho a análise dos pronunciamentos proferidos pelos/as parlamentares da Câmara dos Deputados do Brasil e da Câmara de Representantes do Uruguai, entre 1985 e 2016. Neste texto realizamos um recorte, com o objetivo de analisar a relação entre a filiação partidária dos/as parlamentares e suas respectivas posições sobre o aborto.
Luis Henrique Herminio Cunha (UFCG) ST07
Territórios da desigualdade: os desafios aos enquadramentos da escassez no debate sobre acesso à água no semiárido nordestino
Este artigo aborda três dimensões da problemática do acesso a água em comunidades rurais do semiárido nordestino: a teórica, a pública e a distributiva. Argumenta-se que as principais perspectivas utilizadas para enquadrar o problema da água na região – seja a da crise hídrica global, da construção social do desastre da seca ou da convivência com o semiárido – representam diferentes versões de um “paradigma da oferta”, em que a insuficiência de água dá significado às situações sociais a serem enfrentadas. Analisa-se, então, os programas públicos destinados a aumentar a oferta de água nestas comunidades rurais através da construção de cisternas ou de sistemas de dessalinização de águas subterrâneas salinas ou salobras. Finalmente, defende-se uma perspectiva que enfatize questões distributivas, destacando desigualdades de diversas ordens e permitindo uma nova territorialização do problema do acesso à água no Nordeste, rompendo a dicotomia entre rural e urbano para significar a problemática do acesso à água enquanto desigualdades cotidianas, o que permite revelar conflitos ambientais latentes, a serem superados a partir da mobilização social em torno da noção de cidadania hídrica.
Luis Otavio Teles Assumpçao (UCB), Luis Otavio Teles Assumpçao (UCB), Marco Antonio Caetano Júnior (UCB), Marco Antonio Caetano Júnior (UCB) ST29
Esporte e discriminação – o caso da natação
Ao analisar a escolha do exercício, a modalidade esportiva, vários fatores sociais, econômicos, históricos, culturais devem ser levados em consideração. A participação de diferentes grupos nos esportes é desigual. Dentre elas, há uma dinâmica excludente importante - há poucos negros na natação competitiva em competições nacionais e internacionais. Atletas negros, raramente, são vistos nas provas de natação. A maioria das piscinas do mundo são predominantemente brancas. A linha biofisiológica busca explicar a ausência de negros utilizando como base a menor flutuabilidade, a densidade óssea e o maior acúmulo de massa muscular. Em contrapartida a perspectiva sociocultural visa elucidar a baixa participação negra nesse campo esportivo através da relação esporte/classe social. Dados sociodemográficos no Distrito Federal mostram que grande parcela da população negra possui menores rendimentos, com menor infraestrutura, e ausência de locais adequados para a prática de natação o que sugere que a causa maior da ausência de negros competindo na natação é de cunho sociocultural, caracterizado pela falta de acesso aos requisitos básicos para desenvolvimento desta prática esportiva.
Luiz Augusto de Souza Carneiro de Campos (IESP-UERJ), Wescrey Portes Pereira (UERJ/IESP) ST36
Quando novos atores não entram em cena: a percepção de candidaturas negras sobre os obstáculos a sua ascensão política
Ainda que o tema da sub-representação política de parlamentares negros/as venha atraindo mais e mais atenção pública, pouco se sobre os mecanismos políticos e sociais que reduzem as chances eleitorais dessas categorias sociais. Estudos quantitativos de diferentes tipos apontam vieses raciais no acesso a financiamento de campanha, às estruturas partidárias competitivas e ao tempo de televisão sem, contudo, explicarem como tais barreiras são concretamente erigidas. Este texto pretende contribuir para preencher essa lacuna a partir de um estudo qualitativo baseado em entrevistas com candidatos e candidatas negras que concorreram nas últimas eleições municipais (2016) e estaduais (2018) no Rio de Janeiro, com ou sem sucesso. A partir de nove entrevistas semiestruturadas, discutimos as percepções desse grupo sobre suas trajetórias prévias à entrada na política formal, os processos internos aos partidos e suas respectivas experiências durante a competição eleitoral. Ao que parece, o grau de incorporação nas burocracias partidárias desempenha um papel importante nas chances eleitorais de pretos/as e pardos/as.
Luiz Carlos Jackson (USP), Ugo Urbano Casares Rivetti (USP) ST17
Williams e Bourdieu: um "acordo miraculoso"
A breve correspondência entre Raymond Williams (1921-1988) e Pierre Bourdieu (1930-2002) é o ponto de partida de nossa análise, que explora as relações entre o crítico galês e o sociólogo francês, sugestivas para se pensar as conexões entre campo intelectual e campo político na Europa da segunda metade do século XX. Recensearemos os contatos que mantiveram. O primeiro deles consistiu em citações de trechos de livros de Williams por Bourdieu em um artigo do final de década de 1960. O segundo foi a ida de Williams à Paris para participar de um seminário na Escola Normal Superior em dezembro de 1976, e do qual resultou a publicação de um texto de Williams na ARSS. O terceiro contato foi a própria correspondência, poucas cartas concentradas em 1976 e 1977. O quarto contato se deu por meio de um texto crítico de Williams (1980) sobre a obra de Bourdieu, no qual a dimensão política do diálogo entre os autores foi explicitada. Pretendemos discutir, ainda, os modos pelos quais a militância política se inseriu nas trajetórias dos dois intelectuais - desde a juventude e diretamente em Williams e indireta e tardiamente em Bourdieu.
Luiz Carlos Zalaf Caseiro (USP), Aguinaldo Nogueira Maciente (IPEA) SPG29
Estratificação horizontal da educação superior e inserção no mercado formal de trabalho dos recém-egressos dos cursos de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática (CTEM)
Este artigo investiga a inserção no mercado formal de trabalho de recém-egressos dos cursos de graduação das áreas CTEM entre 2012 e 2017. Duas perguntas norteiam a investigação: Qual é o perfil ocupacional de inserção dos egressos? Qual é a influência da estratificação horizontal da educação superior sobre a remuneração do trabalho dos egressos? Para respondê-las, trabalhamos com o cruzamento dos dados do Censo da Educação Superior, do Enade e da Rais. Além de um rico conjunto de estatísticas descritivas, utilizamos um modelo de regressão multinível para estimar o efeito dos cursos e instituições sobre a remuneração. Os resultados indicam que: (i) embora a cerca de ¾ dos egressos estejam registrados no mercado formal no ano subsequente à graduação, a maior parte atua em ocupações não-típicas ou afins; (ii) quando os fatores institucionais são incluídos no modelo, há uma redução do efeito das origens sociais; (iii) não obstante, as diferenças individuais explicam a maior parte da variação da remuneração; (iv) com o passar dos anos, observam-se desigualdades crescentes nos rendimentos dos trabalhadores, associadas tanto às origens sociais quanto aos fatores institucionais.
Luiz Claudio de Almeida Teodoro (CEFET/MG) ST26
Poder Local e Participação Cidadã: uma análise do Programa BH Cidadania
O Programa BH Cidadania foi criado pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte/MG, em 2001. Segundo seus formuladores, o objetivo é buscar a inclusão social das parcelas mais vulneráveis da população tendo, para isso, como princípios norteadores a intersetorialidade, a territorialidade, a descentralização e a participação cidadã. A Constituição de 1998, na sua perspectiva de descentralização, fez emergir a discussão sobre o papel dos municípios e as mudanças na forma de gestão das políticas públicas. Nessa lógica, segundo Lavinas (2008), discutindo a efetividade da focalização ou a universalização da política pública, destacava que as experiências municipais de combate à pobreza e contra a exclusão transformam radicalmente o desenho dos programas compensatórios no país. A descentralização da Assistência Social, garantida na carta constitucional, possibilitou que as gestões municipais se tornassem um laboratório de experimentação social rico de ensinamentos. Neste sentido, a proposta deste trabalho é fazer uma discussão sobre a estratégia de participação cidadã, tanto no desenho quanto na implementação, do Programa BH Cidadania.
Luiz Fábio Silva Paiva (UFC), Camila Caldeira Nunes Dias (UFABC), ST11
Dinâmicas da violência em mercados ilegais de drogas nas fronteiras Brasil/Paraguai e Brasil/Peru/Colômbia.
A proposta analisa de um ponto de vista comparativo as dinâmicas da violência em dois cenários mercados que movimentam uma economia das drogas ilícitas protagonizada por atores brasileiros. Busca compreender as especificidades de mercados tranfronteiriços de drogas e as aproximações entre práticas desenvolvidas em territórios diferentes em termos geográficos, culturais e sociais. A proposta deriva de duas pesquisas desenvolvidas entre 2013 e 2018, em duas regiões: a) a fronteira entre Brasil e Paraguai, especialmente entre as cidades de Ponta Porã (MS-Brasil)/Pedro Juan Caballero (Amambay/PY); b) a fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia, na região do Alto Solimões (AM). As duas regiões são conhecidas como pontos de passagem de drogas ilícitas que abastecem o mercado brasileiro e, também, produtos destinados ao mercado externo. Neste sentido, apresentaremos uma reflexão sobre a dinâmica da violência na economia da droga ilícita tal como ela se apresenta em cada uma destas duas regiões, elencando alguns elementos que permitam descrever as configurações das redes criminais predominantes (produtos, rotas, origem/destino, escala dos negócios, meios de transporte, atores).
Luiz Fernando Rodrigues de Paula (IESP-UERJ), Fabiano Guilherme Mendes Santos (IESP-UERJ), Rafael Shoenmann de Moura (IESP-UERJ) ST12
O Projeto Desenvolvimentista dos Governos do PT: Uma avaliação integrada de economia e política
O objetivo deste artigo é analisar os fatores endógenos e exógenos, políticos e econômicos que condicionaram o projeto social-desenvolvimentista do PT em 2003-2016, apontando influências sobre o auge e a crise deste projeto. Além de buscar entender a natureza deste projeto, analisamos a trajetória econômica brasileira à luz da financeirização e do "confidence game" condicionado pela volatilidade dos ciclos externos de liquidez e preços de commodities. Palavras-chave: Desenvolvimentismo; Partido dos Trabalhadores; Lulismo; Lula da Silva; Dilma Rousseff Abstract: The aim of this paper is to analyze the endogenous and exogenous, political and economic factors that conditioned the PT's social-developmentalist project in 2003-2016, pointing out to influences on the peak and the crisis of this project. In addition to seeking to understand the nature of this project, we analyze the Brazilian economic trajectory in the light of financialization and the "confidence game" conditioned by the volatility of external cycles of liquidity and commodity prices. Key words: Developmentalism Workers' Party; Lulism; Lula da Silva; Dilma Rousseff
Luiz Francisco Ferreira Leo (PUC-Rio), Arthur Ituassu (PUC-Rio), Vivian Mannheimer (PUC-Rio) ST22
Rediscutindo as premissas da Comunicação Política Comparada
A comunicação política comparada, como área de conhecimento científico, comporta algumas contradições teóricas, conceituais e metodológicas, que o amadurecimento do campo ainda não foi capaz de equacionar. Três níveis de problemas se destacam: uma perspectiva epistemológica excessivamente positivista, calcada no paradigma funcionalista; o etnocentrismo das análises, orientadas por parâmetros predominantemente ocidentais; e uma falta de aprofundamento das discussões, em torno do público, das novas tecnologias digitais e dos processos da comunicação política, em si. O presente trabalho confronta tais condicionamentos, problematizando questões a apontando caminhos alternativos para o desenvolvimento da área. *** Keywords: comunicação; política; mídia; democracia; público.
Luiz Inácio Germany Gaiger (UNISINOS) ST41
Classe social: atualidade e desdobramentos de um conceito
A proeminência do conceito de classe social decaiu nas últimas décadas e, com ela, a relevância de elementos teóricos fundacionais de uma visão da estrutura e da ação social. Contudo, em seu estágio atual o capitalismo multiplica mecanismos de extração e concentração da riqueza, ampliando clivagens e conflitos sociais desde o terreno econômico. As classes retornam à cena das desigualdades, ao passo que a polissemia do conceito e a multiplicidade dos enfoques criam um campo multicêntrico de estudos. Entende-se necessária uma teoria que vincule a estrutura de classes à ação de classes, o que implica um exame das objeções feitas às análises de classe outrora hegemônicas e, a seguir, uma revisão das formulações seminais do marxismo à luz de seus intérpretes contemporâneos. Ademais, a articulação entre classe e ação requer uma teoria própria da cultura de classe, da formação de preferências e da mobilização social. Esse desdobramento será proposto por meio de um instrumental heurístico convergente com a escola de Bourdieu e por uma teoria perspectiva sociológica relacional que acentua o papel dos vínculos sociais na formação de laços de solidariedade.
Luís Antonio Bitante Fernandes (UFMT) ST05
Interiorização das pesquisas em Ciências Sociais - Contribuições do Grupo GIS no campo da Pesquisa e Extensão no Mato Grosso.
O Grupo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Gênero, Identidades e Sexualidades - GIS, criado em 2014, na UFMT/CUA, em Barra do Garças - MT, tem como proposta o desenvolvimento de estudos, projetos pesquisas e de extensão no campo da intersecção de gênero, identidades e sexualidade. O GIS vem promovendo pesquisas no campo da saúde da pessoa LGBT, na relação entre educação, feminismos e empoderamento de mulheres, nas relações de gênero, sexualidade e direitos humanos. Para tal desenvolvimento, articula-se com grupos de pesquisa, pesquisadoras(es) e discentes envolvidas/os em colaborações, buscando dar maior visibilidade aos estudos, pesquisas e ações, sobre a questão político-social que envolvem questões sobre violência contra a mulher, dignidade da pessoa travestis e de relações homoafetiva, proporcionando um espaço de discussão e de formação no que concerne os temas da diversidade e das diferenças. No campo da extensão, vem promovendo capacitações de agentes envolvidos na educação e na vida acadêmica. Sua proposta se justifica pelo fortalecimento das relações da vida acadêmica, propondo um aprofundamento em perspectivas teóricas Pós-Estruturalista, Queer, Feministas e Decolonial.
Luzania Barreto Rodrigues (UNIVASF) ST11
A Justiça e o Vazio de Saúde: a defesa da saúde pública nos processos judiciais relativos ao plantio de maconha
O objetivo é analisar o discurso sobre saúde pública encontrado no fluxo dos processos judiciais nos quais são réus agricultores que cultivam maconha, em particular sua ênfase nos males que a erva pode causar aos usuários de drogas e, por extensão, saúde pública brasileira. Paralelamente, encontram-se em análise, também, prejuízos à saúde dos acusados decorrentes da violência policial e das práticas médico-periciais durante as ações de repressão ao plantio. O material empírico em análise foi coletado nas Varas Criminais de três cidades do Submédio São Francisco: Curaçá, na Bahia e Orocó e Cabrobó, em Pernambuco. As análises aqui propostas estarão ancoradas no conceito de práticas discursivas. Resumidamente, práticas discursivas dizem respeito ao que Michel Foucault designou de dispositivo, isto é, a rede que se pode estabelecer entre os elementos discursivos e não-discursivos: discursos, instituições, proposições morais, etc. Os resultados apontaram para práticas discursivas silenciadoras de violências de Estado, acionadas por proposições morais que as justificam.
Luzimar Paulo Pereira (UFJF) ST35
O inimigo próximo: serpentes, corpos e venenos em Urucuia, MG
Nesse paper, tenho como foco descrever e interpretar os modos pelos quais são descritas e vividas as relações entre homens e serpentes peçonhentas na zona rural de Urucuia, MG. Os chamados "causos de cobra" ocupam lugar de destaque no cotidiano dos urucuianos, tratando dos encontros entre homens e animais, sempre pontuados por algum evento dramático: uma mordida efetivamente ocorrida, seu risco eminente de ocorrer, as sequelas físicas e morais decorrentes ou a morte de um ou ambos os personagens (ser humano e animal). Evocando saberes específicos sobre as cobras, seus comportamentos e morfologias, além das ameaças que representam aos seres humanos e suas criações, os relatos apresentam os animais enquanto espécies companheiras, seres que possuem existências conectadas e mutuamente constitutivas com os seres humanos. Os "causos" amplificam a ideia de que as interações entre pessoas e cobras seriam responsáveis pelas constituições mútuas dos seres, das formas de socialidade e dos espaços rurais.
Lúcio Nagib Bittencourt (UFABC) ST26
Novo municipalismo na Espanha e a lógica do comum: contribuições para novas perspectivas nos estudos sobre poder local?
O momento da redemocratização no Brasil marca também o início do adensamento da discussão acadêmica sobre as relações entre Estado e Sociedade na esfera subnacional para o desenvolvimento de ações públicas comprometidas com a promoção da cidadania e a garantia de direitos. Como desdobramento, referenciais teóricos fundamentais foram se constituindo sobre temas como inovação e disseminação em gestão pública, novos arranjos institucionais e participação em políticas públicas, bem como sobre questões de poder e desenvolvimento local. Estas experiências, contudo, vêm sendo colocadas em debate novamente em virtude do que alguns autores vêm chamando de uma mudança de época. Na Espanha, particularmente, a ideia de um novo municipalismo vem ganhando força neste debate acadêmico, reforçando que governos locais podem apresentar alternativas frente aos processos de crise na relação entre Estado e Sociedade – ou sua desconexão. Este trabalho, portanto, tem como objetivo, a partir da revisão de literatura, analisar de que maneira essas experiências, orientadas pela ideia do comum, podem contribuir para a investigação de novas perspectivas nos estudos sobre poder local no Brasil.
Maíra Machado Bichir (UNILA) ST12
O fascismo dependente latino-americano sob a perspectiva de Theotônio dos Santos
Frente aos recentes processos políticos na América Latina, de golpes institucionais e de vitórias eleitorais de projetos abertamente conservadores, deparamo-nos com o desafio de interpretar, caracterizar e classificar tais processos, o que enseja um debate a respeito do caráter dos presentes governos, e dos próprios Estados latino-americanos. Conceitos como fascismo, neofascismo, neoconservadorismo, ditadura, democracia restringida, que marcaram o léxico interpretativo da Ciência Política nas análises sobre os países latino-americanos nas décadas de 1960 e 1970, têm sido resgatados pelas/pelos analistas para explicar os fenômenos políticos da região nos dias atuais. Tendo isso em vista, no presente artigo revisitamos a interpretação de Theotônio dos Santos, referência central da Teoria Marxista da Dependência, sobre os processos políticos contrarrevolucionários na América Latina nas décadas de 1960 e 1970, quando o autor, ao observar um avanço da fascistização, propõe o conceito de fascismo dependente para caracterizar os regimes militares que se consolidaram na região.
Manoel Leonardo Santos (UFMG), Asbel Bohigues García (USAL), João Victor Guedes-Neto (Pitt) ST06
Estatistas, liberais e liberais conservadores: a elite parlamentar da América Latina em 3D
Este artigo resume um estudo exploratório que visa ampliar a compreensão das opiniões políticas das elites parlamentares latino-americanas. O estudo tem como objetivo compreender se as características individuais dos parlamentares contribuem para que compartilhem ideias políticas. Com uma amostra de 1.247 entrevistas, realizadas com legisladores de 17 países da região, foi operacionalizada uma Análise de Componentes Principais (ACP), agrupando 13 variáveis selecionadas que representaram a opiniões dos entrevistados em questões relacionadas à intervenção do Estado na economia e nas liberdades civis. A ACP resultou na redução das 13 variáveis em 3 dimensões, aqui denominadas: investimento público, liberdades individuais e. Utilizando os escores fatoriais do parlamentar em cada uma das 3 dimensões como variáveis dependentes em modelos de regressão OLS, verificou-se em que medida as características do parlamentar são bons preditores de suas opiniões. Resultados preliminares mostram alto poder explicativo de características como a religiosidade, idade, sexo, educação, renda e o background do parlamentar na formação de suas preferências sobre os temas abordados.
Manoel Ruiz Corrêa Martins (UNIFESP) ST25
Feira Avareense de Música Popular: um debate sobre a MPB e a produção fonográfica dos anos 1980
A definição de música popular brasileira, que surgiu nos anos 1960, parece ter abandonado, vinte anos depois, seus principais preceitos. A instabilidade política e econômica da década de 1980 assistiu a uma reestruturação da indústria fonográfica brasileira e, junto a isso, entre produtores e consumidores, houve uma redefinição da sigla MPB: o gênero musical, que outrora fora responsável por sintetizar as pautas políticas e sociais da ala jovem e progressista da classe média, no decurso dos anos 1980, não mais correspondia às inseguranças e expectativas destes frente ao cenário da redemocratização. Neste decênio, em 1983, nascia na cidade de Avaré-SP a Fampop (Feira Avareense de Música Popular), um festival que se rendia a essa "nova MPB" e entrava no itinerário da produção fonográfica da época. Pretendo pensar a MPB (anos 1980) e a FAMPOP a partir da Teoria Cultural do marxista galês Raymond Williams, a qual assevera que uma crítica cultural deve estar concatenada com os processos históricos e sociais.
Marcela Zamboni Lucena (UFPB), Helma Janielle Souza de Oliveira (UFPB) ST19
Disputas narrativas, afetação e poder nos tribunais do júri
A despeito da produção da sentença nos tribunais do júri ser em última instância de responsabilidade dos juízes leigos, pretende-se analisar as afetações causadas entre esses e os operadores do direito durante o ritual de julgamento, considerando a centralidade e poder desses últimos no mundo jurídico. O corpus deste artigo foi formado por cinquenta e oito entrevistas semiestruturadas concedidas por juízes leigos dos dois tribunais do júri da cidade de João Pessoa e por observação participante, ambas realizadas entre 2015 e 2018. Para parte dos entrevistados, o silenciamento costuma ocorrer por medo de retaliação da família do acusado ou constrangimento causado pelos operadores jurídicos, especialmente do juiz. A inibição ou vergonha costuma decorrer da falta de conhecimento técnico dos juízes leigos. Os resultados da pesquisa sugerem que a efetiva participação da sociedade civil esbarra na reprodução de práticas sociais perpetuadas no campo das decisões jurídicas (cf. Bourdieu, 1989; 2002), engendradas pelo medo, vergonha e laços forjados de sentimentos de amizade entre os juízes leigos e desses em relação aos operadores jurídicos.
Marcelo Alario Ennes (UFS) ST23
Imigração, modificações corporais e interculturalismo na sociedade do consumo
O presente paper tem como questão de fundo a produção da diversidade cultural em contextos migratórios. De modo mais específico, pretendo refletir sobre a percepção que imigrantes fazem de seu corpo e de como atuam sobre ele. A pesquisa que deu origem a este trabalho foi desenvolvida nas cidades de Lisboa e Madri entre os anos de 2013 e 2014. A problemática de pesquisa refere-se às tensões entre imigração e estranhamento de um lado e, de outro, por forças normativas originárias tanto das sociedades de partida e de chegada (muitas vezes provisória) e da sociedade do consumo. Além da pesquisa bibliográfica, foram realizadas entrevistas qualitativas com imigrantes, cirurgiões plásticos e outros profissionais de estética. O estudo revelou que a relação entre imigração e modificações corporais, entre elas as cirurgias plásticas, é relativamente recorrente na história. Pude verificar que modificações corporais resultam tanto da interseção entre as pressões advindas da condição de imigrante, no sentido de amenizar ou ressaltar traços sócio e culturalmente produzidos como étnicos e/ou nacionais, quanto de referências simbólicas e de um senso prático produzidos pela sociedade do consumo.
Marcelo Barbosa Miranda Borel (UERJ/IESP) SPG31
Guerrilha e terrorismo: discussões conceituais, proximidades e divergências
Grande parte da literatura internacional a respeito da violência política trata as guerrilhas e o terrorismo como faces de um mesmo fenômeno. De fato, existem organizações que se situam em um limbo entre um e outro. Todavia, afirmar que o sequestro de embaixadores para libertação de presos políticos, o assassinato espetaculoso d o Almirante Carrero Blanco e os ataques ao World Trade Center pouco tem em comum além do uso da violência como tática de ação. Diante disso, o objetivo do trabalho é traçar distinções entre guerrilha e terrorismo, discutindo seus alvos (políticos e militares / civis e mídia); seu âmbito de ação (circunscritas a um Estado ou também em territórios estrangeiros); suas moralidades (respeitando ou não a imunidade não combatente); seus propósitos (que podem ou não visar ao poder de Estado); suas temporalidades (presença ou ausência de um início, meio e fim); e os tipos de ação efetivadas (discretas ou espetaculares).Visa-se, com isso, apontar semelhanças e contrastes – mesmo que de forma não exaustiva e definitiva – sobre esses fenômenos de ação política violenta.
Marcelo Burgos Pimentel dos Santos (UFPB), Rafael de Paula Aguiar Araujo (PUC-SP), Claudio Luis de Camargo Penteado (UFABC) ST04
Laboratório de Inovação Cidadã e cidadania 2.0: um estudo de caso dos modelos Media Lab Prado e Citi Lab Barcelona
O artigo tem por objetivo realizar um estudo dos Laboratórios de Inovação Cidadã (LABs) na promoção de uma nova cidadania, a cidadania 2.0. Estes espaços procuram conjugar ações de engajamento com o desenvolvimento dos dispositivos das TICs voltados para a promoção da democracia, regional e localmente. Os LABs unem o conceito de inovação, novas atividades e serviços voltados para atender algumas necessidades sociais, com a ideia de promoção da cidadania com uso criativo, interativo e cooperativo das TICs, produzindo ações políticas e práticas colaborativas através de diferentes projetos, culturais e sociais, como alternativa à política institucional. Por meio do estudo das experiências das atividades do Media Lab Prado e do Citi Lab, ambos na Espanha, o artigo apresenta algumas inovações desenvolvidas nesses laboratórios e suas influências nas políticas públicas locais. A pesquisa apresenta resultados iniciais de uma agenda que procura entender as experiências e os modelos dos LABs em diversos lugares do Brasil e do mundo. Palavras-chave: Laboratórios de inovação cidadã; cidadania 2.0; TICs; Media Lab Prado; Citi Lab.
Marcelo Fontenelle e Silva (UFSCar) SPG02
As condições sociais de produção e circulação de uma obra – considerações para uma análise de A Democracia como Valor Universal, de Carlos Nelson Coutinho
Objetiva-se, com este trabalho, apresentar uma análise das condições sociais de produção e de circulação do texto intitulado A democracia como Valor Universal (1979), de Carlos Nelson Coutinho. O potencial desta análise justifica-se por sua repercussão dentro e fora dos setores à esquerda e tanto no espaço político quanto no acadêmico. Partimos, primeiramente, da apresentação de considerações sobre a trajetória do “autor”, com destaque para a posição ocupada por ele e pelo grupo ao qual estivera vinculado durante o exílio na Europa; em seguida, apresenta-se o modo como o texto se posiciona contra e a favor de certos agentes e posições; por fim, expomos algumas críticas sobre as propostas defendidas no ensaio, com destaque para o fato de o próprio Coutinho sentir-se autorizado a definir quais seriam as mais importantes. Sustenta-se que a explicação sobre o relativo êxito da obra deve passar, pelo menos, por duas hipóteses: primeiramente, pelo aval de um grupo mais amplo, na condição de mediador entre a dinâmica europeia e brasileira; e, por outro lado, por sua capacidade de englobar interpretações relativamente distintas, favorecendo sua circulação.
Marcelo Garson Braule Pinto (UECE) ST25
Entre o rádio e a TV, entre a massa e a juventude: Roberto Carlos como mediador cultural
Os anos 60 experimentam profundas modificações nas hierarquias de poder da música popular brasileira. Dentre os causas para este fenômeno, duas nos interessam em particular: a perda de centralidade do rádio, que cede terreno à televisão, além da construção de um nicho de música jovem, decorrente do fenômeno da Jovem Guarda. Este artigo tem por objetivo estudar a trajetória de Roberto Carlos neste período, tomando-o como um mediador cultural, agente de trânsito e intersecção que conformou e adaptou os signos do rádio à televisão e, ao mesmo tempo, conseguiu se afirmar como ídolo das massas, mas também da juventude.
Marcelo Rodrigues Lemos (UNICERP) ST20
A colonialidade como crítica ao conhecimento científico moderno
Os estudos coloniais, enquanto recursos metodológicos das ciências sociais, contribuem para o questionamento da hierarquização do conhecimento científico. A crítica recai, sobretudo, na hegemonia estabelecida pelos intelectuais do Ocidente e do Hemisfério Norte, diante da subalternização das formas epistemológicas das sociedades localizadas no Oriente e no Hemisfério Sul. Para fazer justiça aos grupos inferiorizados em suas práticas cognitivas, é salutar resgatar o conceito de colonialidade em contraponto à perspectiva da modernidade ocidental, realçando relações de poder e disputas econômicas, políticas e socioculturais que permitiram a manutenção de uma ordem científica colonial, mesmo com o fim formal do colonialismo. Para tanto, esta pesquisa utiliza, especialmente, o arcabouço conceitual de Boaventura de Sousa Santos e Walter Mignolo para discutir, teoricamente, as questões coloniais e a deslegitimação dos saberes de determinados grupos sociais.
Marcial Garcia Suarez (UFF) ST18
Political Violence and mano dura policies: Rio de Janeiro under siege
The working paper offer an analysis of Political Violence and the adoption of “mano dura” public security practices in Latin America and particularly in Brazil. The main assumption is that Brazilian politics has experienced an increasing of urban violence and its phenomenon opened a “window” for a conservative political discourse on combating violence. In order to explore such assumption we will take the case of Rio de Janeiro and to analyze some urban violence data. The objective is to understand how willing is population to accept the political equation: less liberty and rights for more security, or by other means, what is the rationale that leads the people to accept such equation. The paper is divided in three moments. The first moment is a theoretical approach to the concept of political violence. The second moment is the comparative analysis on “mano dura” strategies adopted in some countries of Latin and the third moment is a contextual analysis of violence and Rio de Janeiro under the concept of macrosecuritization and its implications to understand the spread of mano dura discourse and practices.
Marcio Bressiani Zamboni (USP) ST43
Caminhos Tortos e Almas Cativas: mulheres trans e ativismos no sistema penitenciário mexicano
O objetivo desta comunicação é analisar as dimensões sexuais e de gênero do sistema de justiça criminal mexicano partindo da perspectiva de mulheres trans ativistas que atuam no campo dos Direitos Humanos. A base empírica é a etnografia realizada na Cidade do México entre os anos de 2018 e 2019 junto à Associação Civil Almas Cautivas - organização liderada por mulheres trans que trabalha com populações vulneráveis no cárcere (pessoas LGBT, deficientes, idosos, indígenas). Além de observação participante em visitas a centros penitenciários e em eventos públicos promovidos pela organização, foram realizadas entrevistas em profundidade no formato história de vida com ativistas e com pessoas LGBT egressas do sistema penitenciário. Esta reflexão é parte da minha pesquisa de doutorado em antropologia: “Presos LGBT: sujeitos, políticas e direitos em disputa no Brasil e no México”.
Marcio Rogerio Silva (UFGD) ST40
As justificações morais e os rituais de vergonha sobre juros, financiamento e inadimplêndia: analogias entre Estado e famílias
O objetivo é apresentar as justificações morais que são utilizadas para manter as taxas de juros SELIC e Spreads em níveis elevados e a falta de lastro técnico-econômico. Nesse contexto, em oposição à economia mainstream, o presente trabalho, toma por base sociologia pragmática de Boltanski e Thevenot. Foi possível observar, através da entrevista dos inadimplentes/endividados com bancos, agiotas e familiares, que costuma ser montada uma estratégia de cobertura de dívidas com base em laços de amizade e parentesco, com moralidade distinta entre gerações. As dívidas do Estado são tratadas por como análogas as das famílias, bem como as agências de classificação no caso do Estado e Serasa Experian/SPC no caso das famílias criam rituais de vergonha como a perda do “grau de investimento” e a “negativação”, como oposições morais entre sacrifício/indolência, responsabilidade/irresponsabilidade e honra/desonra, em que os juros seriam o justo benefício pelo sacrifício do prazer presente.
Marcílio Dantas Brandão (UECE) ST11
Do lugar de maconheiro ao corredor dos movimentos sociais: da Marcha da Maconha ao movimento antiproibicionista em Recife
Como parte de minha pesquisa doutoral (BRANDÃO, 2017), empreendi cinco anos de trabalho de campo junto à Marcha da Maconha em Recife, no período de 2012 a 2016. A tese que finaliza esta pesquisa tematiza controvérsias, performances e mudanças relativas à maconha no Brasil. Enfocando performances de reivindicação de mudanças de normas, esta comunicação seleciona resultados da etnografia que apontam para uma ampliação do percurso e do foco de atuação do Movimento Marcha da Maconha. Esta ampliação é acompanhada da mudança de percurso da principal manifestação deste Movimento, pois a Marcha da Maconha deixou o “lugar de maconheiro” e passou ao “corredor dos movimentos sociais”. Apresentando performances de marchadores e discutindo sobre os territórios em que marcham, o texto busca revelar que inicialmente estas performances se voltavam a uma única substância, mas a temporada restrita à maconha durou pouco e, progressivamente, os marchadores ultrapassam as barreiras de uma planta e dedicam atenção às drogas de um modo geral. Assim, a conclusão desta comunicação aponta para o fato de que o Movimento Marcha da Maconha se aproxima cada vez mais da noção de antiproibicionismo.
Marco Antonio Caetano Júnior (UCB) ST29
Esporte e discriminação – o caso da natação
Ao analisar a escolha do exercício, a modalidade esportiva, vários fatores sociais, econômicos, históricos, culturais devem ser levados em consideração. A participação de diferentes grupos nos esportes é desigual. Dentre elas, há uma dinâmica excludente importante - há poucos negros na natação competitiva em competições nacionais e internacionais. Atletas negros, raramente, são vistos nas provas de natação. A maioria das piscinas do mundo são predominantemente brancas. A linha biofisiológica busca explicar a ausência de negros utilizando como base a menor flutuabilidade, a densidade óssea e o maior acúmulo de massa muscular. Em contrapartida a perspectiva sociocultural visa elucidar a baixa participação negra nesse campo esportivo através da relação esporte/classe social. Dados sociodemográficos no Distrito Federal mostram que grande parcela da população negra possui menores rendimentos, com menor infraestrutura, e ausência de locais adequados para a prática de natação o que sugere que a causa maior da ausência de negros competindo na natação é de cunho sociocultural, caracterizado pela falta de acesso aos requisitos básicos para desenvolvimento desta prática esportiva.
Marco Vinicius de Castro (UFJF) ST11
REDES MORAIS: um estudo exploratório sobre a solidariedade inerente ao cultivo caseiro de maconha para o uso social recreativo
Este trabalho resulta de um estudo feito a partir das redes morais de atores sociais que plantam a própria maconha para o uso social recreativo. Parte-se do objetivo de mapear, a partir de observações, interações e de entrevistas com atores que plantam a própria maconha para o uso social recreativo, para analisar como esses atores sociais entram em relações e firmam uma solidariedade específica a partir de suas práticas. Foi feito um estudo exploratório inspirado no método etnográfico e no interacionismo simbólico para interagir, observar, seguir e entrevistar qualitativamente atores morais que plantam a própria maconha. Atores que plantam a própria maconha para uso social recreativo firmam uma vida moral de gênero único e outras relações sociais através de suas práticas. Essa associação moral de atores possui em comuns ideias, interesses e sentimentos que boa parte da população geral não partilha, inclusive diferente de atores que apenas fumam e não plantam a própria maconha. Logo, o efeito moral produzido daí suscita um sentimento de solidariedade entre atores morais heterogêneos, estabelecendo relações de reciprocidade e cooperação, assim como reconhecimento e aceitação moral.
Marcos Abraão Fernandes Ribeiro (IFF), Sérgio Rangel Risso (IFF) ST36
A política de cotas no ensino médio profissionalizante: o desempenho escolar dos cotistas do campus Campos Centro do Instituto Federal Fluminense (2016-2018)
Esta comunicação apresenta os resultados quantitativos da pesquisa sobre a implantação da política de cotas no Ensino Médio Integrado ao Técnico (EMI) do campus Campos Centro do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense (IFF), fruto da homologação da Lei federal n. 12.711 de 29 de agosto de 2012, que garantiu a reserva de 50% das vagas para alunos que cursaram todo o Ensino Fundamental na rede pública de ensino e se autodeclaram pretos, pardos ou indígenas. Analisamos os dados de ingresso no IFF e os resultados anuais dos cotistas dos cursos de Automação, Edificações, Eletrotécnica, Informática e Mecânica entre os anos de 2016 e 2018, e comparamos com os dados dos alunos oriundos do sistema de ampla concorrência. A partir dos dados quantitativos, apontamos a existência de perfis diferenciados de cotistas, bem como constatamos que o "sucesso escolar", mesmo improvável, existe entre os alunos oriundos da política de cotas. Com este trabalho, procuramos compreender a aplicações das ações afirmativas no Ensino Médio Profissionalizante e, ao mesmo tempo, ampliar a discussão sobre a política, que tem se concentrado no Ensino Superior e na Pós-graduação.
Marcos Alexandre Verissimo da Silva (UFF), Yuri José de Paula Motta (UFF) ST11
Notas sobre práticas de jardinagem, relações mercadológicas e seus efeitos na produção e reprodução da “cultura canábica”
A presente proposta se estrutura a partir da interlocução, já construída pelos proponentes, com pessoas que, no Rio de Janeiro, se dedicam, por diferentes motivos, a práticas de jardinagem visando colher maconha (Cannabis sativa L.). Muitos destes cultivadores são também pessoas que militam por formas menos proibicionistas de regular a produção, circulação, mercados e consumos dessa planta. Para estes, plantar para consumo próprio, procurando não capitalizar as redes criminosas que controlam a venda no varejo deste produto através das chamadas "bocas de fumo", são palavras de ordens postas em prática. Por isso quase que totalmente se mostraram refratários a práticas de mercado envolvendo seus cultivos, embora este possa se configurar um negócio bastante lucrativos em cidades como o Rio de Janeiro. Neste trabalho que agora propomos, pretendemos, por outro lado, focar em processos de cultivos domésticos dedicados à venda do produto em mercados clandestinos. A metodologia empregada será a leitura de processos nos quais pessoas já incriminadas na justiça por tais práticas figuram como réus, e também material produzido a partir de entrevistas com algumas dessas pessoas.
Marcos Aurélio Lacerda da Silva (UFRJ) ST17
Redes sociais digitais, democracia e espaço público na sociedade brasileira contemporânea
Nos últimos anos o debate público brasileiro vem sendo mobilizado em grande medida pelas chamadas redes sociais digitais, cuja importância decisiva na definição das principais pautas nacionais vem colocando em xeque a hegemonia e o monopólio de ambiências mais tradicionais. Além do mais, as redes sociais digitais possuem os seus próprios ideólogos, formados em geral por atores sociais que dominam plenamente as estratégias de concentração da atenção e engajamento temático, com impressionante nível de mobilização de massa. No entanto, permanece viva uma tradição de atuação dos intelectuais públicos brasileiros associados à escrita ensaística e ao limiar entre o ambiente acadêmico e o campo cultural mais difuso, atuando muitas vezes nos espaços mais tradicionais, como jornais impressos, canais televisivos e livros de escrita “no calor da hora”. No quadro atual, em que o papel das redes sociais digitais passou a ser central até mesmo para a definição da eleições no âmbito nacional, estadual e municipal, qual o papel que teriam estes intelectuais públicos, e mesmo a escrita ensaística como forma de atuação no debate público brasileiro?
Marcos Luiz Vieira Soares Filho (IESP-UERJ) SPG30
Atalhos e desvios na conexão entre representantes e representados: O papel representativo dos Conselhos no hiato Estado-sociedade
O modelo participativo dos conselhos gestores tem sofrido atritos, na interpretação de cientistas políticos, que mobilizam a fragilidade das instituições de participação (IPs) pela desconsideração do fenômeno da “representação no interior da participação” (p&r) (LÜCHMANN, 2007). Uma vez que os pressupostos teóricos dos conselhos foram analisados a partir de literaturas da democracia participativa e deliberativa (P), considerar conceitos da democracia representativa (R) é uma necessidade. Portanto, este trabalho objetiva refletir sobre a institucionalidade dos conselhos gestores à luz de teorias da democracia representativa e da ideia de igualdade política em Beitz (1989). Estes conceitos serão utilizados para pensar o papel e a razão de ser dos conselhos públicos na democracia brasileira. Os conceitos mobilizados pelo teórico permitem defender a existência de contradições democráticas na engenharia institucional dos conselhos. Enquanto uma concepção contrafactual de poder pode ser promissora para revelar a legitimidade institucional dos conselhos, a partir da interação com atores oriundos do sistema representativo e capazes de exercer o veto.
Marcos Silva da Silveira (UFPR) ST36
Pensando distinções entre pretos e pardos no Brasil a partir das cotas raciais nas universidades
Esta comunicação parte das diferenças estabelecidas entre estudante pretos e pardos nas Universidades Federais, após o sistema de cotas raciais. Procura relacionar este fenômeno com as dificuldades existentes na definição de categorias mestiças no Brasil e como este problema aparece de uma forma muito clara nos processos de entrada desses estudantes através de políticas afirmativas. As reinvindicações dos Movimentos negros no Brasil, por políticas de inclusão no ensino superior para negros sempre tomou como base entender NEGROS, enquanto aqueles autodeclarados Pretos e Pardos nos censos do IBGE. Embora tais políticas tenham sido bem-sucedidas a necessidade de definir os pardos enquanto negros, sempre foi um problema para as Universidades que trabalharam com a inclusão racial, mesmo antes da Lei Federal de cotas. Por outro lado, os estudantes negros aprovados nas Universidades, começaram a se organizar em coletivos negros, nos quais passaram a estabelecer diferenças entre Pretos e Pardos. O caso da UFPR, que pude vivenciar, permite pensar essa redefinição de categorias, que vê nos Pretos, os verdadeiros negros.
Marcus Abílio Gomes Pereira (UFMG), Manoel Leonardo Santos (UFMG), Cristiane Brum Bernardes (CEFOR) ST04
Parlamentares conectados: um estudo sobre a utilização da internet na Câmara do Deputados (2014/2018)
Este artigo procura identificar se existem características especificas que possam explicar por que alguns parlamentares são mais conectados com os cidadãos que outros. Buscamos analisar diferentes plataformas digitais que podem ser adotadas pelos parlamentares. São elas: Portal da Câmara dos Deputados, Blog próprio, Twitter, Facebook e aplicativos de mensagem (WhatsApp, SMS, entre outros). Os dados são referentes a um survey realizado com 110 parlamentares da legislatura de 2014 a 2018. Três grupos de variáveis independentes foram testadas: (i) institucionais; (ii) políticas e (iii) sócio demográficas. Os resultados mostram que a utilização de TICs pelos parlamentares são determinadas mais por fatores políticos e geracionais que por fatores institucionais. O resultado mostra, ainda, que os parlamentares preferem o uso de TICs não institucionalizadas, e que não há nenhum bom preditor para o uso de TICs institucionalizadas.
Marcus Vinicius Santos Repa (USP) ST15
Divina Coincidência: a cinematografia de Sérgio Luiz Bianchi
O presente resumo aborda a pesquisa sociológica, ainda em processo, sobre a cinematografia do cineasta paranaense Sérgio Luiz Bianchi (1945-), buscando na obra do diretor, aspectos de crítica social a partir de seu ponto de vista sobre determinados temas sociais elaborados durante sua filmografia. Desse modo, objetiva-se compreender como a produção audiovisual de Sérgio Bianchi pode ser fecunda nas interpretação sobre liberdade sexual e individual, extermínio indígena, burocracia governamental, exploração de classe e violência. Conforme o estudo de Pierre Sorlin (1985), a constituição de um filme se realiza enquanto sistema de relações e hierarquias que recortam e generalizam certos grupos sociais apresentados ao público, percebendo os valores que orientam as reconstruções do mundo social. Portanto, as imagens fílmicas podem ser examinadas sociologicamente, uma vez que expressam fenômenos sociais a partir de determinados valores que se apoiam no imaginário social e nos discursos dos agentes na sociedade.
Margareth de Oliveira Olegário Teixeira (PUC Rio) SPG07
O direito ao ensino universitário no Rio de Janeiro: políticas de acesso para as pessoas com deficiências sensoriais
O presente artigo, pretende discutir as políticas públicas no tocante ao acesso das pessoas com deficiência nas universidades, bem como as políticas públicas e leis que tem sido fomentadoras da permanência deste público no ensino superior. Neste sentido, nos pautaremos nas leis vigentes, Constituição Brasileira de 1988, lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 13146/2015, dentre outras. No entanto, não deixaremos de trazer autores que dedicam-se a esta temática de modo reflexivo e crítico. Também, compartilharemos as nossas experiências discentes de práticas pedagógicas que foram e estão sendo exitosas na trajetória universitária da autora deste texto, que é cega de nascença, doutoranda em educação na PUC-Rio, docente no Instituto Benjamin Constant (IBC), instituição que é referência nacional no atendimento de pessoas com deficiência visual há mais de um século, ,. Deste modo, aqui trataremos especificamente, do acesso de pessoas com deficiências sensoriais às universidades, na cidade do Rio de Janeiro, que desenvolvem trabalhos de inclusão deste público no espaço acadêmico.
Maria Alice Nunes Costa (UFF) ST15
A arqueologia do olhar e o processo de tradução de saberes e utopias
Este trabalho tem como objetivo apresentar alguns contributos teóricos e analíticos sobre a capacidade da utilização da fotografia como metodologia para o processo de tradução, a partir do escopo epistemológico da sociologia das ausências do Sul, proposta pelo sociólogo Boaventura de Sousa Santos. A fotografia como expressão e a metodologia denominada photovoice têm o potencial de colaborar na criação de zonas de contato interculturais entre espaços e pessoas, por meio de fotografias realizadas e narradas; além de fomentar um processo dialógico e democrático para traduzir, analisar e compartilhar saberes e experiências sobre vidas, comunidades, territórios e espaços de vivências. Acreditamos que a estética fotográfica conectada com a metodologia photovoice podem vir a colaborar para tornar visível olhares e saberes de diferentes culturas e torná-los cognoscíveis a cientistas sociais e policy makers, responsáveis pela formulação de políticas públicas direcionadas a territórios e grupos sociais vulneráveis, que têm tido os seus saberes invisibilizados e subalternizados pelo conhecimento científico hegemônico.
Maria Alice Silveira Ferreira (UFMG) SPG03
As emoções na luta política: um diálogo necessário
Este trabalho tem como objetivo fazer uma revisão teórica sobre o papel das emoções na ação coletiva, em especial os protestos políticos. O texto aqui apresentado, trata-se de uma primeira versão de um capítulo teórico que faz parte da tese de doutorado da autora. O trabalho parte, primeiramente, do entendimento de emoções como categoria social, apontando como o conceito foi deixado de lado durante o século XIX, por se tratar de algo contrário à razão, até meados do século XX, quando surge o interesse em retomar as emoções como categoria sociológica. Assim, procuramos apresentar as principais abordagens do campo da sociologia das emoções. Após isso, discutimos o papel do componente emocional na luta política, principalmente nas ações de protestos, e como esse componente ocupou um lugar periférico nos estudos de movimentos sociais e ação coletiva. Com o chamado "giro emocional" as emoções se tornam elementos centrais na análise. Por fim, abordaremos as principais contribuições e limites desse debate e como essa abordagem pode no auxiliar a entender a luta política contemporânea.
Maria Alice Venancio Albuquerque (PUC-Rio) SPG16
A articulação da memória coletiva pelas comissões da verdade: uma análise da comissão nacional da verdade e das iniciativas não nacionais.
A perspectiva da memória e do trauma é um dos olhares que podem ser lançados sobre o campo da justiça de transição (JT): como os sofrimentos devem ser coletados e enquadrados em um prisma coletivo/nacional? As comissões da verdade são os meios institucionais designados pela JT para delinear essa questão, reescrevendo eventos violentos em uma narrativa linear/simples a partir de investigações e testemunhos. Nesse sentido, a memória coletiva se refere a amplas percepções compartilhadas sobre o passado que moldam a história que certos grupos contam sobre si mesmos. O questionamento que segue é em que medida a narrativa empreendida pela Comissão Nacional da Verdade (CNV) evidenciou a ideia de memória coletiva vis a vis as conclusões chegadas por comissões não nacionais da verdade, destacando os entendimentos sobre vítima e os eventos que foram, enfim, constituintes de uma memória nacional, logo, traumáticos. A distinção feita pela jt entre medidas institucionais e simbólicas leva a uma política de aparente ordenamento, minimizando o papel do Estado em relação às vítimas e esvaziando o conteúdo político da memória, especialmente perigoso em tempos de negacionismo.
Maria Aparecida de Moraes Silva (UFSCar) ST42
As configurações do trabalho no contexto da produção de commodities no estado de São Paulo.
Após a Revolução verde, processo que resultou em inúmeras transformações sociais e econômicas da agricultura, ocorrida, sobretudo a partir de 1960, o estado de São Paulo vem se destacando pela gigantesca produção de cana de açúcar, laranja, além de outros itens, destinados à exportação e ao mercado interno. Esse modelo de agricultura tem sido acompanhado pela concentração da propriedade da terra e pelo emprego de tecnologias avançadas em todo o processo produtivo. Contudo, tal processo tem engendrado, em escala crescente, o aprofundamento da exploração, da precarização e da mobilidade dos/as trabalhadores/as. Analisarei as condições de trabalho sobre os corpos de mulheres e homens empregados/as nas plantações de laranja, cana e também nas granjas de ovos. Em virtude do intensivo processo de mecanização do corte manual da cana, além do desemprego, da diminuição acentuada dos trabalhadores migrantes, tem havido uma intensa mobilidade do trabalho entre as plantações, um verdadeiro nomadismo, responsável pela situação de vulnerabilidade presente. A metodologia é embasada em dados estatísticos, em entrevistas, produção imagética e observação de campo. Apoio: CNPq
Maria Camila Florêncio da Silva (CEBRAP) ST09
Dispositivos de obstáculos à participação no processo da IV Conferência Nacional de Política para as Mulheres
Este trabalho tem por objetivo analisar os dispositivos de obstáculos à participação de mulheres de diferentes perspectivas no processo da IV Conferência Nacional de Política para as Mulheres. Tomou-se como método a revisão de literatura; análise de conteúdo de documentos, entrevistas semiestruturadas e observação participante do processo realizado entre novembro de 2014 e maio de 2016, a partir do município e estado de São Paulo. Foram identificados três dispositivos: procedimentos e regras; comunicação; e domínio de coalizões. Para análise, foram mobilizadas as teorias de Democracia Deliberativa e seus limites (Habermas, Seyla Benhabib, Íris Young e Nancy Fraser); a interdependência entre comunidade política e política pública (Romão, Gurza Lavalle & Zaremberg); de subsistemas, comunidades e coalizões de defesa (John Rhodes; Sabatier & Jenkins-Smith,); a interseccionalidade (Angela Davis; Kimberlé W. Crenshaw) e enquadramentos interpretativos (Rosa e Mendonça, 2011; Nunes, 2013a, 2013b) . O principal achado do trabalho foi a identificação e análise do dispositivo de domínio de coalizões como prinicipal variável explicativa da exclusão de algumas mulheres no processo.
Maria Caramez Carlotto (UFABC) ST01
A transformação estrutural do espaço nacional de produção e difusão de conhecimento e a emergência de novos padrões de internacionalização: uma análise dos professores de relações internacionais do estado de SP
O presente artigo pretende analisar o perfil dos professores dos cursos de relações internacionais do estado de São Paulo, com ênfase nas instituições que, além de graduação, possuam cursos de pós-graduação na área. A escolha da área de relações internacionais justifica-se pelo fato de essa formação tem se expandido rapidamente no país nos últimos anos, tanto no sistema público quanto no privado e tanto no âmbito da graduação quanto da pós-graduação. Além disso, trata-se de uma das disciplinas que compõem o que caracterizam como “saberes de estado”, ou seja, as áreas das ciências sociais – como direito, economia e administração – voltadas à formação e à legitimação de elites dirigentes. Recortar a pesquisa na área de Relações Internacionais contempla empiricamente a perspectiva teórica desta pesquisa: pensar o impacto do processo de expansão do ensino superior brasileiro, somado aos processos de democratização, considerando o ensino superior tanto como espaço de produção e difusão de conhecimento quanto como lócus de formação e legitimação de elites dirigentes, analisando o papel dos novos padrões de circulação internacional na afirmação de novas hierarquias acadêmicas.
Maria Carolina Maziviero (UFPR) ST08
A politização do território como mecanismo de enfrentamento às desigualdades: a ação direta de coletivos urbanos como potência.
Este trabalho considera as contribuições dos novos ativismos urbanos para a luta contra a gentrificação em São Paulo, por meio de uma abordagem dupla. Primeiro, analisamos as experiências de coletivos atuantes em áreas vulneráveis à gentrificação, como Ocupa Ouvidor e a Casa Amarela. Esses coletivos demonstram tanto o potencial quanto as dificuldades da resistência à gentrificação por meio de práticas artísticas alternativas. A seguir, incluímos em nossa análise o potencial ainda latente de coletivos urbanos periféricos, que, embora não lidando diretamente com gentrificação, oferecem exemplos metodológicos de tecnologias sociais inclusivas que podem ser adaptadas e utilizadas em outras partes da cidade. A premissa é que ações autogeridas criam um espaço de discussão autônomo e não-institucional, alterando e ampliando a agenda de luta pelo direito à cidade por meio da resistência concreta e simbólica. Defendemos aqui que a politização do território, em certa medida, coloca em xeque as estratégias mercadológicas de incorporação harmônica de comunidades, impondo um movimento de ajuste na retórica e nas estratégias de legitimação de projetos gentrificadores.
Maria Caroline Marmerolli Tresoldi (UNICAMP) ST17
Duas críticas nas margens
A comunicação buscará discutir algumas linhas de força que estruturam a crítica cultural no Cone Sul a partir da década de 1970, recortando as trajetórias intelectuais e momentos centrais das obras de Beatriz Sarlo e Nelly Richard. Trata-se de nomes que se destacam nos cenários intelectuais argentino e chileno, e no contexto mais amplo da “crítica latino-americana”. Nas últimas décadas, Sarlo e Richard foram diretoras das revistas Punto de Vista (1978-2008) e Revista de Crítica Cultural (1990-2008), que colocaram em circulação um conjunto de teorias, temas e problemas que foram importantes para aquecer o debate intelectual público no contexto de transição democrática. A hipótese a ser explorada é a de que as interpretações que Sarlo e Richard tecem sobre seus respectivos contextos são fabuladas a partir da fratura histórica e política brutal das ditaduras militares e de seus desdobramentos nos anos de transição. Colocando lado a lado seus ensaios, refletindo sobre possíveis diálogos, convergências e divergências entre eles, busca-se problematizar o potencial heurístico de suas formulações para pensar os impasses do tempo presente em “sociedades pós-traumáticas”.
Maria da Gloria Gohn (UNICAMP) ST17
A Participação de Intelectuais na Produção de Conhecimento sobre Movimentos Sociais e Coletivos nas últimas décadas no Brasil
A partir de estudos sobre movimentos sociais e coletivos no Brasil nas últimas décadas, analisando sua diversidade, temáticas, paradigmas teórico-metodológicos, atores em cena etc. este trabalho faz um recorte neste universo e destaca o papel dos intelectuais na produção do conhecimento a respeito. Objetiva refletir sobre a contribuição de alguns intelectuais para o desenvolvimento do campo de pesquisa, os paradigmas teórico-metodológicos em que se apoiaram, e as relações que eles desenvolveram na área temática e com outros atores da vida pública. Os resultados são sistematizados e apresentados em cinco blocos que correspondem a cinco ciclos de protestos e manifestações públicas na história brasileira, organizados da década de 1960 à atualidade. Em cada um dos ciclos destacam-se: a produção resultante e a trajetória de alguns intelectuais. Indaga-se: como este protagonismo influenciou trajetórias profissionais e pessoais, a exemplo de representações acadêmicas na área de pesquisa; ou o ingresso na política pública - como representante parlamentar ou gestor público? Dado os limites de espaço, este paper seleciona a produção sobre os movimentos na área da questão urbana.
Maria de Assunção Lima de Paulo (UFCG), Valdonilson Barbosa dos Santos (UFCG) ST16
Da formação ao trabalho: A realidade profissional dos jovens rurais formados pelo CDSA-UFCG-Sumé.
Este artigo tem como objetivo entender quais os efeitos da formação em nível superior de jovens rurais, egressos do Centro de Desenvolvimento Sustentável do Semiárido-UFCG, que foi criado a partir do processo de interiorização das universidades públicas. Através de metodologia qualitativa, com uso de formulário aberto, analisamos questões referentes a mudanças no trabalho, relações de trabalho e familiares, relações com o meio rural, visão de mundo e idade dos jovens. Como resultados percebemos que para além de melhor acesso ao mercado de trabalho, a formação em nível superior colabora para uma positividade na visão dos jovens em relação ao meio rural, expande sua visão para este meio, os faz ter uma visão mais crítica sobre as relações de trabalho e sobre a política, contribui para sua auto-estima e para positivar a identidade de jovem rural, além de ampliar suas possibilidades de busca por outras oportunidades de trabalho.
Maria do Socorro Sousa Braga (UFSCar), Flávio Contrera (UFSCar) ST27
Estrutura partidária e saliência discursiva nas eleições de Donald Trump e Jair Bolsonaro
Nas últimas eleições presidenciais nos dois maiores países do continente americano, em termos populacionais, foram eleitos dois candidatos extrema direita. Embora suas ações no governo apontem nesse sentido ideológico, este perfil ainda não foi sistematicamente identificado e analisado. Face a esta lacuna este trabalho tem os seguintes objetivos. Primeiro, visa identificar características conservadoras, populistas e antiestablishment nas duas candidaturas; segundo, volta-se para verificar a saliência temática de discursos eleitorais e, em terceiro, busca discutir a relação entre saliência discursiva e o tamanho da estrutura partidária nas campanhas presidenciais de Donald Trump e de Jair Bolsonaro. Para dar conta desses propósitos foi realizada análise dos manifestos de campanha do Partido Republicano e do PSL, dos discursos dos então candidatos durante o período eleitoral e da comunicação deles por mídias sociais. O método empregado foi o de Análise de Conteúdo. Entre as principais conclusões verificamos que o PSL enquanto um partido pequeno, inserido em um quadro de competição multipartidária, favoreceu Bolsonaro proferir posições mais radicais do que Trump.
Maria Gorete Marques de Jesus (USP) ST11
Narrativas entorpecidas: a produção policial dos flagrantes de tráfico de drogas
Diversas pesquisas sobre tráfico de drogas apontam para a padronização das narrativas policiais com relação aos flagrantes que realizam, com uso de termos como: atitude suspeita, tipo e quantidade da droga, quantidade da droga, local da apreensão, confissão informal, entrada franqueada. A relevância desses relatos é percebida quando tais vocabulários são mobilizados pelos operadores do Direito em suas manifestações, seja para manter a prisão provisória, seja para condenar. Poucos questionamentos são apresentados com relação a esses vocabulários. O critério relacionado às “circunstâncias sociais e pessoais” traz elementos seletivos e discriminatórios para a definição do crime, assim como as “condições em que se desenvolveu a ação”. Diante desse cenário, como os policiais mobilizam esses critérios para a classificação do delito? Eis a questão que se pretende apresentar na presente proposta. Realizamos uma análise das narrativas policiais dos flagrantes de tráfico de drogas, mostrando que esse repertório de vocabulário dos agentes policiais na produção do flagrante compõe uma série de estratégias para a caracterização de um determinado fato como crime.
Maria Luciano (USP) ST10
A accountability societal como lente de análise da judicialização de políticas públicas?
A pesquisa pretende analisar o potencial da accountability societal como categoria teórica e analítica para se pensar a atuação de atores societais no Poder Judiciário em demandas de políticas públicas. Para tanto, analisa o caso das crechês infantis na cidade de São Paulo utilizando a noção de interfaces em perspectiva voltada aos atores.
Maria Lúcia Moritz (UFRGS), Denise Maria Mantovani (UnB) ST09
Gênero, raça e classe: o lugar da justiça reprodutiva no debate sobre aborto no STF em 2018
Resumo: O tema do aborto ocupa um espaço relevante no debate público nacional. Instado a se manifestar sobre a descriminalização do direito a interromper a gravidez por meio de uma ação promovida pelo PSOL e pelo Instituto ANIS, conhecida como “ADPF 442”, o STF realizou, em agosto de 2018, Audiência Pública com a participação de 52 entidades. O argumento que embasou a ação sustenta que os art.124 e 126 do Código Penal brasileiro violam os direitos humanos. Nesse trabalho propomos uma análise sobre o conjunto de argumentos mobilizados durante as duas sessões públicas a partir de perspectivas teóricas feministas estruturadas nos debates sobre desigualdades interseccionais. O foco é refletir sob quais parâmetros se organizam os contornos das controvérsias diante da realidade brasileira atual e como o conceito de autonomia das mulheres é posicionado em um contexto marcado por essas assimetrias. A laicidade do Estado se faz presente nas reflexões enquanto um conceito chave para compreender as posições em disputa pró e antiaborto.
Maria Paula Santos (IPEA), Roberto Rocha Coelho Pires (IPEA) ST11
Tensões e disputas nas políticas públicas de cuidado a usuários de drogas no Brasil: o caso do Distrito Federal
O estado brasileiro oferece cuidados a pessoas que fazem usos problemáticos de drogas em duas modalidades: por meio dos serviços públicos de saúde vinculados ao Sistema Único de Saúde - os Centros de Atenção Psicossocial para Álcool e outras Drogas (CAPS AD); e através de Comunidades Terapêuticas (CTs) - organizações privadas, muitas delas de caráter religioso, que recebem recursos do Estado para ofertar cuidados gratuitos. Embora esse arranjo possa ter a virtude de diversificar a oferta gratuita de cuidados a usuários de drogas, o financiamento público de CTs tem sido questionado por profissionais de saúde mental, enquanto defensores do modelo de cuidado das CTs acusam os CAPS AD de baixa resolutividade. Esta disputa se acirrou nos últimos anos, inclusive dentro do próprio aparelho de Estado, e explica as reviravoltas observadas na política brasileira de cuidados a usuários de drogas, desde 2016. O texto a ser discutido no ST pretende oferecer uma contribuição a este debate, com base na pesquisa dos autores sobre as interações efetivas entre estes dois modelos de cuidado, no território do Distrito Federal e na experiências na experiências de seus usuários.
Mariana Azevedo de Andrade Ferreira (PAPAI) ST24
Disputas e alianças em torno da “autonomia”: transformações no campo feminista contemporâneo em um contexto de crise sociopolítica.
A presente proposta busca demonstrar as transformações pelas quais vem passando o campo feminista contemporâneo em sua relação com o atual contexto sociopolítico brasileiro a partir das disputas em torno das diferentes concepções acerca da autonomia. A questão da autonomia é um importante marcador de diferença no seio do movimento feminista e tem sido agenciada de diferentes maneiras, estabelecendo fronteiras contingentes entre “nós autônomas” e “elas sem autonomia”. Concebidos como campos discursivos de ação nos quais se articulam diferentes expressões organizativas, os feminismos contemporâneos estão marcados por um fluxo horizontal de seus discursos, resultando na multiplicação de campos feministas. O trabalho de campo que vem sendo empreendido consiste no acompanhamento, desde janeiro de 2019, dos eventos, reuniões e grupos de whatsapp de dois espaços de articulação do campo feminista de Recife, o Fórum de Mulheres de Pernambuco (FMPE) e o Feministas PE. Os eixos de análise apontam para as formas como as fronteiras da diferença são constituídas, mantidas e dissipadas na sua relação com o contexto sociopolítico, engendrando políticas de aliança dentro e fora do campo feminista
Mariana Bettega Braunert (UFPR), Igor Silva Figueiredo (UNICAMP) ST42
Dimensões da terceirização e precariedade do trabalho em companhias estatais de energia elétrica: os casos da Cemig e da Copel
A presente pesquisa analisa aspectos do processo de terceirização das atividades-fim em duas companhias estatais de energia elétrica brasileiras, a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e a Companhia Paranaense de Energia Elétrica (Copel), no contexto de reestruturação produtiva, flexibilização do trabalho e avanço das políticas neoliberais. Com base em dados obtidos junto ao DIEESE e em 13 entrevistas em profundidade realizadas com trabalhadores, gestores e dirigentes sindicais das duas companhias estudadas, identificamos um processo de progressiva substituição dos trabalhadores do quadro próprio dessas empresas por mão-de-obra terceirizada. Ao analisarmos as principais consequências da flexibilização da forma de contratação para trabalhadores que atuam na “linha de frente” das atividades desenvolvidas por essas estatais do setor elétrico, que por sua natureza envolvem alto risco, resta evidente que a terceirização tem neste caso como resultado quase automático o aumento do número de acidentes e mortes no trabalho, que constitui a dimensão mais preocupante e perversa - entre tantas outras - da terceirização do trabalho neste ramo de atividade.
Mariana Cavalcanti Rocha dos Santos (IESP-UERJ), Marcos Vinicius Lopes Campos (IESP-UERJ), Alan Brum Pinheiro (UERJ) ST39
Teleférico do Alemão: uma etnografia
Este trabalho esboça uma etnografia da construção e desativação de uma infraestrutura urbana, o teleférico do Complexo do Alemão no Rio de Janeiro, inaugurado em julho de 2011 e desativado em outubro de 2016, tomado aqui como um fenômeno bom para pensar o entrelaçamento de dimensões simbólicas, materiais e cotidiana das políticas urbanas na cidade nos últimos anos. Apresentando uma primeira sistematização de pesquisa mais ampla em andamento, a primeira parte do artigo examina a construção da viabilidade e prioridade da obra do teleférico, vinculada ao contexto histórico particular das políticas de urbanização de favelas na América Latina. Em seguida, analisamos as particularidades, historicidades e dimensões simbólicas do processo de implementação do projeto no Complexo do Alemão. Finalmente, esboçamos a análise da construção do fracasso do teleférico, tanto do ponto de vista de sua viabilidade econômica quanto como política de mobilidade urbana.
Mariana Falcão Chaise (USP) ST03
Crédito, consumo e desigualdade: o sentido redistributivo da política de crédito consignado do Partido dos Trabalhadores
O objetivo do trabalho é analisar a tramitação e a implementação da política de crédito consignado no Brasil, atentando para seus efeitos à desigualdade. Políticas de crédito são importantes, pois indicam lacunas na literatura sobre desigualdade econômica: são políticas consideradas pró-pobre, mas que transferem renda via juro, beneficiando instituições financeiras. Políticas de "inclusão financeira" foram implementadas em toda América Latina; no Brasil, por um partido de centro-esquerda, o PT. Como são políticas mercadorizantes e que não reduzem a desigualdade, sua implementação contraria expectativas teóricas quanto ao papel que caberia a partidos de esquerda na redução da desigualdade de renda. Este trabalho analisa a tramitação da MP 130/2003 sobre o crédito consignado e suas consequências, especialmente o endividamento das famílias entre 2005 e 2016. Ademais, analisará os Projetos de Lei que buscaram alargar ou reduzir o escopo desta política. Preliminarmente, são partidos de direita que propõem redução do escopo, demandando atenção ao endividamento. Como método, combina-se a análise de documentos legislativos à análise de dados, especialmente provenientes do Banco Central.
Mariana Gadoni Canaan (UFMG) SPG29
O que a escola quer das famílias?
Transformações recentes na família e na escola aprofundaram as interações entre essas duas instâncias socializadoras e ampliaram significativamente as funções exercidas por ambas na educação das crianças. Nesse contexto, os pais vêm sendo convocados a desempenhar um novo papel social, o de “pai/mãe de aluno”. É no bojo dessa discussão sobre a relação família-escola e os papéis parentais que buscamos conhecer as demandas e expectativas das escolas públicas em relação às famílias das camadas populares. Foi realizado estudo de caso em uma escola pública de Ensino Fundamental localizada na periferia de Belo Horizonte. Os dados foram coletados a partir da observação direta, complementada por conversas informais (com profissionais da escola, alunos e familiares) e análise de documentos. Observou-se que os professores não nutriam a expectativa de que os pais atuassem no plano das aprendizagens escolares dos filhos (por exemplo, auxiliando nos deveres de casa). O que se pedia a eles eram ações no plano da motivação e da disciplina e, sobretudo, que comparecessem à escola quando convocados. São, portanto, solicitações exteriores ao trabalho pedagógico e às atividades cognitivas da criança.
Mariana Miggiolaro Chaguri (UNICAMP), Sávio Machado Cavalcante (UNICAMP), Michel Nicolau Netto (UNICAMP) ST28
O homem médio e o conservadorismo liberal no Brasil contemporâneo
Temas recorrentes no pensamento brasileiro, debates sobre a extensão dos direitos, o papel e a atuação do Estado e as potencialidades, construtivas ou não, do mercado compuseram modos de ler e interpretar o país. Se, historicamente, o impasse entre o público e o privado expresso em temas como corrupção, patrimonialismo e conflitos entre Estado, sociedade e família compuseram o repertório-chave por meio do qual diferentes ideias foram produzidas, disputadas e colocadas em circulação, este paper recorta os encontros e desencontros entre liberalismo e conservadorismo como chave de leitura para a atualização contemporânea do embate teórico e do conflito político a ele associado. Para tanto, analisa os variados modos pelos quais os nexos entre mercado, nação, Estado e família estão sendo disputados, teórica e politicamente, no Brasil contemporâneo, sustentando a hipótese de que a disputa chave se dá em torno dos diferentes significados de igualdade, liberdade, justiça e mérito são forjadas no interior daquilo que estamos chamando de conservadorismo liberal.
Mariana Soares Pires Melo (UFPB) SPG27
“Mulher? Travesti?”: Estado e corpo em mútua construção
Esta pesquisa analisa as relações entre corpo e Estado a partir das implicações que se sequenciam com a morte de Larissa, identificada por agentes periciais em um primeiro momento como uma mulher, e posteriormente como uma travesti. Como parte de minha pesquisa doutoral sobre as percepções dos operadores do sistema de justiça criminal acerca de homicídios cometidos contra sujeitos LGBTQI+ na Paraíba, lanço enfoque nos desdobramentos permitidos pela análise de um caso específico, para refletirmos sobre a possibilidade do Estado “fazer” o corpo – quando define a identidade de gênero de Larissa a partir da percepção de uma genitália masculina – e, por sua vez, do corpo “fazer” o Estado – quando este se vê obrigado a colocar-se enquanto entidade capaz de apreender o corpo e o crime, legitimando-se perante a sociedade. Ainda que Larissa esteja localizada entre as margens (Das; Poole, 2008), sua apreensão constitui também o Estado. O corpo de Larissa, mesmo morto, tem performatividade (Butler, 2003), e ajuda a refletir sobre as constituições mútuas entre gênero e Estado (Vianna; Lowenkron, 2017). Palavras-chave: Margens; Estado; violência; travesti; mulher.
Mariane Silva Reghim (UERJ/IESP), Natasha Bachini Pereira (UERJ), Lara Sartorio Gonçalves (UERJ/IESP) SPG19
Junho de 2013 enquanto processo: atores, práticas e gramáticas
Neste artigo nos propomos a analisar Junho de 2013 no Rio de Janeiro a partir de uma perspectiva processualista, considerando a cronologia dos eventos, seu madrugar, transbordamento e decantação, assim como os atores, as práticas e as gramáticas que lhes conformaram, na tentativa de compreender como os protestos no Brasil se inserem no ciclo de mobilizações internacional. Do ponto de vista espacial, iniciaremos pelos acontecimentos na cidade do Rio de Janeiro concatenando-os a fatos relacionados ocorridos em outras cidades do país e às conjunturas política-econômica nacional e internacional. Alguns eixos consensuais na literatura parecem fundamentais para o entendimento do fenômeno: a luta por democracia, justiça social e dignidade (Pleyers y Glasius apud Bringel, 2017), especialmente quando observamos que a onda conservadora, um dos desdobramentos deste ciclo, se coloca em oposição direta a estas demandas.
Marianna Restum Antonio de Albuquerque (IESP-UERJ) ST30
A agenda de segurança internacional na guerra fria em cinco níveis de análise: Brasil e India no Conselho de Segurança das Nações Unidas (1947-1991)
O objetivo do trabalho é comparar a ação internacional de Brasil e Índia no Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), tendo como marco temporal o período da Guerra Fria (1947-1991). O objeto, portanto, é a posição adotada por ambos em relação à agenda de segurança internacional no período da bipolaridade. Parte-se da hipótese geral de que a posição adotada não pode ser restringida apenas ao voto, pois está associada a um conjunto maior de princípios, conjunturas e dinâmicas internas e externas aos países, processos nem sempre captados no voto e nas justificativas conferidas. Com isso, acrescenta-se ao estudo o modelo de política externa comparada de Andriole et al (1975), que busca detalhar a posição internacional a partir de cinco níveis de análise: individual, grupos políticos, sociedade, relações inter-estatais e sistema internacional. Dessa forma, mesmo sendo membros não permanentes e tendo um padrão de votação muito parecido, com poucos casos de posição discordante das grandes potências, os resultados encontrados indicam que Brasil e Índia tiveram oportunidades de ação diferentes no órgão ao longo do período.
Marianna Sampaio (FGV-SP), Rafael Rodrigues Viegas (FGV-SP) ST10
Ministério Público: de fiscal a formulador de políticas públicas
O objetivo do artigo é verificar como os membros do Ministério Público (MP) exercem as suas atividades em matéria de políticas públicas. Aventamos a hipótese de que os critérios de avaliação de desempenho dos membros do MP estabelecidos pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) privilegiam a atuação extrajudicial e incentivam participação de promotores e procuradores em todas as etapas do ciclo de formulação de políticas públicas. No intuito de testar tal hipótese, operacionalizamos um modelo analítico dividido em dois eixos: (a) mapeamento normativo-institucional do MP e levantamento dos dados sobre a sua atuação em políticas públicas; (b) identificação das perspectivas de avaliação de desempenho dos membros do MP e eventuais incentivos que recebem para atuar na elaboração de políticas públicas. Verificamos que os indicadores utilizados pela Corregedoria do CNMP para avaliar o desempenho dos membros da instituição não estão adequados para medir impacto do órgão na realidade, mas acabam por incentivar a atuação contínua de promotores e procuradores na elaboração de políticas públicas.
Marina de Barros Fonseca (UnB) SPG23
Retomada e resistência – Uma análise das retomadas de terra realizadas pelo povo Terena na Terra Indígena Buriti, Mato Grosso do Sul
Frente a anos de ataques aos seus territórios e da morosidade do Estado nas demarcações de terras indígenas o povo Terena decidiu retomar seus territórios de ocupação tradicional de forma independente. O presente trabalho se propõe a analisar os processos de retomada ocorridos na região da Terra Indígena Buriti, localizada no município de Sidrolândia, Mato Grosso do Sul. O estado vem apresentando alguns dos maiores índices de violência contra povos indígenas nos últimos anos devido, entre outros fatores, o acirramento dos conflitos causados pelo avanço da fronteira agrícola sobre terras indígenas e a importância econômica da região para o setor agropecuário. Analiso também as formas de resistência aos ataques sofridos nas retomadas tanto por seguranças armados de fazendeiros e pelas forças do Estado que agem nas reintegrações de posse, que resultaram em diversos feridos e na morte de Oziel Terena em 2013. Os processos de resistência aqui estudados são tanto aqueles que ocorrem por meio da ação direta durante confrontos, como os que ocorrem pelas vias legais e estatais que abrangem a participação de indígenas em eleições e ocupando cargos em órgãos públicos.
Marina de Carvalho Cordeiro (UFRRJ) ST40
Trabalhadoras na Indústria Automobilística: desigualdade, inovação e diversidade
O objetivo desta pesquisa é abordar a dimensão de gênero na constituição das redes globais de produção, debatendo a interrelação entre produção e reprodução sociais na estrutura do mundo produtivo globalizado. Epistemologicamente, busca-se uma perspectiva feminista dos estudos de trabalho, globalização e estruturas produtivas, trazendo para a sociologia econômica uma abordagem que considere o gênero na constituição das desigualdades produtivas, estruturas de organização da produção e culturas organizacionais das empresas. Estabelecemos como pressuposto a desigualdade na distribuição temporal por gênero, a divisão sexual do trabalho e o tempo como recurso de valor desigualmente distribuído, impactando nas vivências temporais das trabalhadoras e na perspectiva de carreira. Empiricamente, a pesquisa discute o mercado da indústria automobilística, analisando a participação das mulheres e as desigualdades constitutivas de um ambiente de trabalho com forte dominação masculina. A partir de metodologia quantitativa e qualitativa, buscar-se-á um panorama sobre a participação feminina e análise de sua inserção na fábrica e perspectiva de carreira, especialmente, nos postos de liderança.
Marina Ferreira de Araujo Fernandes (UnB) SPG19
O jogo de capoeira: repertórios de ocupação do MST baiano nos governos Jaques Wagner (2006-2014)
Debruça-se este artigo sobre os padrões de interação entre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra baiano e os Governos Jaques Wagner (2006-2014) a partir do exame da ocupação da Secretaria de Agricultura do Governo da Bahia, realizada em abril de 2011. A análise do discurso da mídia impressa baiana no jornal A Tarde é a principal ferramenta metodológica utilizada. Através da interpretação da matéria-chave da base de dados coletada, composta por 36 reportagens no mês de abril de 2011, observa-se que a ocupação da SEAGRI revela a presença em um só repertório de táticas colaborativas e ações de caráter contencioso. Pode-se apontar que há neste contexto de intimidade com a arena institucional um repertório de ocupação multiforme que revela a cooperação conflituosa- ou conflito cooperativo entre sistema político e ação coletiva.
Marina Helena Rodrigues Maia (UnB) ST37
A (i)legitimidade da Frente Parlamentar Evangélica em um Estado Laico: A sua atuação na 54º legislatura.
Este trabalho é um estudo sobre a Frente Parlamentar Evangélica na Câmara dos Deputados em sua 54º legislatura. Questiona-se aqui se esta frente fere preceitos laicos e democráticos, uma vez entendida a democracia não apenas como um mecanismo eleitoral, mas como um sistema inclusivo e plural que valoriza a diversidade. Estabelecida desde a república, a laicidade pressupõe o tratamento equânime entre o Estado e todas as religiões, e a obediência dos cidadãos a um fundamento político, e não moral religioso. O trabalho resulta metodologicamente de um mapeamento da atuação dos deputados que compuseram essa frente a partir do site da Câmara dos Deputados. Foram mapeadas as suas proposições apresentadas, as comissões ocupadas e suas relatorias. Como resultado, foram identificadas 250 relatorias de concessões de TV e rádio, mostrando-nos que a mídia é um dos principais interesses desse grupo, propostas com teor fundamentalista e conservador, e também propostas que buscam legislar para as Igrejas. Por não predominarem justificações religiosas nas proposições, conclui-se que o ideal de laicidade é (re)conhecido por esses atores ao evitarem um desvio em relação a laicidade nas proposições.
Marina Marques Tavares (UFMG) ST36
“A história do meu cabelo”: transição capilar e identidade racial
Neste trabalho apresento algumas das discussões e resultados apresentados na dissertação intitulada “A história do meu cabelo”:Uma investigação sobre a manipulação da identidade em narrativas na internet sobre “cabelo natural”. Nela, investiguei os sentidos presentes na Transição Capilar (processo de parar de fazer alisamento nos cabelos e começar a usá-los no estilo natural) vivido por mulheres negras inseridas no contexto das comunidades de crespas e cacheadas na internet. Foram analisados depoimentos encontrado em vídeos postados no Youtube. A análise dos conteúdos revelou que as mulheres subdividem as vivências com o próprio cabelo em três etapas, que chamei de Negação, Transição e Aceitação. No trabalho especifico as características de cada uma dessas fases e faço alguns apontamentos sobre as mudanças identitárias vividas através do processo de transição capilar e seus impactos na luta pela igualdade racial.
Marina Moguillansky (UFPB) ST16
Perigos supervisados: a genderização das práticas de controle sobre os usos das TIC em crianças
As crianças da era contemporânea acessam dispositivos tecnológicos com conectividade à Internet cada vez mais cedo. O objetivo geral desta pesquisa foi explorar as práticas através das quais a abordagem das crianças às tecnologias de informação e comunicação é “generizada”. Partimos da hipótese segundo a qual existem diferenças significativas nos processos de socialização das crianças que resultam em trajetórias de gênero em relação ao TIC, tanto em dimensões objetivas (idade de acesso, tipo de conectividade e os padrões de uso) como em dimensões subjetivas que referem a gostos, interesses, habilidades, preferências e identificações. As práticas de meninos e meninas com as tecnologias despertam temores em adultos: pais e professores são os principais responsáveis pela supervisão e controle dos usos das tecnologias. Neste artigo, nos dedicamos a exploração de dimensões de gênero nas estratégias de controle por parte dos adultos com respeito aos usos de dispositivos tecnológicos entre crianças.Para isso, nos baseiamos em um trabalho de campo extenso que inclui entrevistas e grupos focais com crianças de entre 9 e 11 anos de idade na Argentina.
Marinês da Rosa (UFSC), Miriam Pillar Grossi(UFSC) ST05
Escrita de si: experiências metodológicas feministas de extensão e pesquisa no interior do Mato Grosso e Santa Catarina.
Apresentaremos neste artigo o desenvolvimento de uma proposta metodológica de investigação, com abordagem interdisciplinar, desenvolvida na pesquisa doutoral com mulheres encarceradas, tendo em vista a "escrita de si", na perspectiva feminista. Enunciada inicialmente no interior do Mato Grosso, através de projeto de extensão em Ciências Sociais na Universidade Estadual do Mato Grosso a pesquisa teve continuidade em uma prisão no Estado de Santa Catarina durante o doutorado junto ao Programa Interdisciplinar de Pós-graduação em Ciências Humanas da UFSC. Refletiremos sobre o material elaborado na pesquisa: a) a escrita de cartas por mulheres encarceradas; b) a produção de um jogo usado na interação com as interlocutoras, intitulado "baralho libertas". Os resultados da pesquisa apontam que a construção de uma metodologia de aproximação do campo teórico interdisciplinar e da extensão se mostrou fundamental para a interação entre mundo acadêmico e mulheres encarceradas, bem como indica que as Ciências Sociais, em instituições superiores no interior do país, podem ocupar um lugar central na produção de políticas públicas e de diálogo com a sociedade por meio da extensão.
Mario Fuks (UFMG), Ednaldo Aparecido Ribeiro (UEM), Julian Borba (UFSC) ST06
Antipartidarismo e intolerância política no Brasil
O artigo analisa a relação entre antipartidarismo, tolerância política e atitudes democráticas no Brasil apostando na relevância analítica de qualificar os diferentes tipos de antipartidarismo. Para tanto, propõe uma tipologia elaborada a partir das contribuições do debate sobre antipartidarismo e sobre tolerância política. A base empírica é composta pela pesquisa de opinião pública realizada pelo Latin American Public Opinion Project (LAPOP) em 2017. Os dados foram analisados a partir de modelos multivariados que estimaram os efeitos dos tipos de antipartidarismo no apoio à democracia e seus princípios. Os resultados apontaram para a relevância da tipologia apresentada, pois os antipartidários mais extremistas (aqueles que são intolerante em relação aos partidos) têm atitudes mais negativas em relação à democracia e suas instituições e apoiam menos princípios democráticos, especificamente o direito de minorias concorrem a cargos políticos e o direto à participação em manifestações. Esses resultados sugerem que o antipartidarismo de natureza sistêmica pode se constituir na base atitudinal favorável à recepção de projetos políticos não democráticos.
Mario Henrique Guedes Ladosky (UFCG), Valéria Costa A Oliveira (UFPB) ST42
A greve dos canavieiros Pernambuco 40 anos depois: memórias e práticas da organização sindical rural na atualidade
A greve dos canavieiros em 1979, na Zona da Mata pernambucana, foi um marco na retomada das lutas de trabalhadores no Nordeste, no mesmo contexto em que, no ABC, o Sindicato dos Metalúrgicos ganhava expressão nacional. Junto a inúmeras outras categorias, em todas as regiões do país, se fortalecia então o processo de redemocratização com a participação de trabalhadores, para além do projeto vislumbrado pelo regime militar. A “entrada em cena daqueles novos personagens” (Sader, 1988) calou fundo na construção da cidadania por toda a década seguinte, consolidando algumas das principais instituições que se fizeram protagonistas nas lutas por direitos sociais: o Partido dos Trabalhadores, a Central Única dos Trabalhadores, o Movimento dos Sem-Terra e outras entidades dos movimentos populares. Ao rememorar os 40 anos daquele contexto de ascensão popular e tudo que dele decorreu no período, é importante ressaltar que as diferentes narrativas sobre aqueles acontecimentos gerou distintos modos de incorporação na trajetória que se seguiu, algumas alçadas à luz como referência paradigmática de organização; outras deixadas mais à sombra, sem tanta evidência pública para a História.
Marília Bernardes Closs (UERJ) SPG31
Agentes e atores da violência na Colômbia entre as décadas de 1970 e 1980: a complexificação da violência às vésperas do neoliberalismo
Entre as décadas de 1970 e 1980, a violência na Colômbia explodiu a níveis inéditos no país. Ademais do adensamento dos conflitos ligados às guerrilhas – em especial, às Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia – Ejército del Pueblo (FARC-EP) -, há o aparecimento de novos atores que viriam a complexificar o cenário; para além da emergência com mais força do paramilitarismo como fenômeno relevante na vida social colombiana, o narcotráfico e os narcotraficantes se estabelecem como elementos estruturantes a qualquer análise sobre a violência no país. Frente a isto, muda o padrão de relação com o Estado e suas agências como as forças policiais e, principalmente, suas Forças Armadas. Tratou-se, portanto, de um período de grandes mudanças no padrão de mobilização de uso da força. Este trabalho tem como objeto a violência na Colômbia entre as décadas de 1970 e 1980. Busca-se observá-la para entender as transformações e permanências nas dinâmicas violentas durante este período no país. Mais especificamente, procuramos olhar aos atores e agentes para avaliar quais foram as dinâmicas que transformaram o padrão de uso da força no país.
Marília Pereira Bueno (UFRGS) ST41
A etapa normativa: uma defesa da sociologia da moral a partir de uma perspectiva kantiana
O texto que se propõe apresentar articula-se em torno de uma reflexão a respeito da moral na teoria social e de seu papel na contemporaneidade – mais particularmente de uma concepção de sociologia da moral cujas raízes remontam às categorias propostas por Immanuel Kant. Noções que compõem o esqueleto básico da teoria moral de Kant, tais como a de imperativo categórico, de dignidade e de reino dos fins, encontraram nos autores aqui abordados, a saber, Émile Durkheim e Norbert Elias, uma reformulação sociológica. Esses autores propuseram que uma ciência da sociedade deveria apresentar uma separação clara entre a elaboração do conhecimento – orientado pelo propósito de conhecer a realidade e baseado na premissa de um distanciamento de interesses – e seus possíveis desdobramentos práticos. A partir de uma reconstrução de alguns pontos que permitem estabelecer uma linhagem comum que remonta aos postulados kantianos, espera-se trazer as discussões propostas por esses dois autores para uma reflexão sobre o atual momento histórico, analisando as ferramentas de análise da esfera moral construídas por eles para pensar até que ponto elas podem nos ajudar a olhar para questões hodiernas.
Maro Lara Martins (UFES) ST01
A lista de Pierson e a História da Sociologia Brasileira
No final da década de 1940, Rubens Borba de Morais e Willian Berrien organizaram o Manual Bibliográfico de Estudos Brasileiros. O Manual contou com o suporte do Comitê de Estudos Latino-americanos da Universidade de Harvard, foi financiado pela Fundação Rockfeller e utilizou como modelo de publicação, o Handbook of Latin American Studies. A listagem das obras incluiu áreas como filologia, etnologia, literatura, folclore, sociologia, geografia, história, arte, direito, teatro e educação. Ao analisar a sociologia, Donald Pierson selecionou a bibliografia em torno de seis eixos: a) Periódicos, Enciclopédias, Bibliografia e Excertos; b) População e Ecologia Humana; c) Organização Social, Mudança e Desorganização Social; d) Psicologia Social; e) Teoria e Metodologia Sociológica; f) Obras sobre assuntos correlatos de utilidade para o sociólogo. Essa lista feita por Pierson revela aspectos essenciais sobre o desenvolvimento da sociologia no país, sua diversificação temática e diferenciação metodológica, seu processo de institucionalização e legitimidade científica, suas relações com o modernismo brasileiro e com o mercado editorial pós-1930.
Marta Denise da Rosa Jardim (UNIFESP) ST13
Os amuletos e os encantos de Black Bird e Pimentas : Etnografias do capitalismo contemporâneo
O texto apresenta reflexões sobre etnografias realizadas em periferias de grandes cidades, Black Bird Leys em Oxford UK e Pimentas em Guarulhos, Brasil. Durante seis meses eu convivi com moradores do bairro Black Bird Leys em Oxford, quando realizava um Pós Doc que inicialmente pretendia estudar amuletos e encantos da coleção do Pitt Rivers Museum. Minhas relações paralelas com grupos de canto na cidade de Oxford, me mostraram os dois lados, da cidade que haviam sido mencionados por Raymond Willians no romance Second Generation. As tensões entre a cidade universitária e a cidade dos trabalhadores evidenciaram encantos e amuletos vivos na prática da cidade. Voltando para o campus de minha universidade, onde sou professora de antropologia no curso de história da arte, eu passei a participar e observar as tensões de uma universidade na periferia da grande São Paulo. Diferenças e semelhanças destes dois contextos etnográficos serão destacadas para pensar sobre encantamentos e amuletos da vida tornada mercadoria. Pretendo explorar estes dados para refletir sobre os desafios para as etnografias criticarem as hegemonias contemporâneas.
Martin Mundo Neto (FATEC São Carlos) ST40
Financeirização na Agricultura Brasileira: gestoras de mega farms operando na bolsa de valores
A financeirização tem recebido atenção de estudiosos tanto no sentido de entender sua abrangência e particularidades como para tornar o fenômeno “mensurável”. Paralelamente, ocorre a difusão das megafarms, empresas gestoras de propriedades rurais que podem controlar mais de um milhão de hectares. Este trabalho explora a interseção entre estes dois fenômenos analisando a financeirização em gestoras de megafarms operando no Brasil. A partir da seleção de grupos que atuam no mercado de terras e que operam na bolsa brasileira (B3), foi analisado um conjunto de indicadores de financeirização: estrutura acionária e perfil dos investidores institucionais; formação e trajetória dos principais executivos; remuneração dos executivos e demais colaboradores; política de distribuição de dividendos; plano de recompra de ações; fusões e aquisições como estratégia de crescimento. Destaca-se a presença de gestoras de fundos de investimentos no grupo de controle das empresas analisadas. Estes agentes estariam atuando tanto como difusores/catalisadores das estratégias financeiras introduzidas na governança dos grupos analisados como contribuindo internacionalização da propriedade da terra.
Maryelle Inacia Morais Ferreira (UnB) ST05
Mulheres Yanomami e participação política notas etnográficas sobre a criação de uma associação
A análise presente neste resumo é resultado da pesquisa realizada durante o mestrado com a Associação de Mulheres Yanomami Kumirãyõma. Trago algumas reflexões sobre o fazer etnográfico realizado por uma mulher antropóloga com uma organização política de mulheres indígenas e também análises sobre como as interpretações de gênero dos Yanomami refletem na participação política das mulheres. A associação foi criada em 2015 no contexto interétnico da política indígena Yanomami da região Maturacá, Estado do Amazonas. A AMIK representa um elemento de reconfiguração do espaço das mulheres, valorizando-as na articulação política. Além de evidenciar a participação política das mulheres, a associação promove a inserção das mulheres nos projetos de geração de renda sustentável em parcerias com ONG’s e órgãos do Estado, através da produção de artesanatos, e manejo sustentável do território, por meio da valorização de seus conhecimentos tradicionais sobre o uso da terra. Durante a pesquisa etnográfica, pude notar também como mulheres e homens Yanomami demarcam suas diferenças de gênero através de duas associações indígenas que configuram a política indígena da região (AMIK e AYRCA).
Matheus Almeida Pereira Ribeiro (UnB) SPG02
As Expressões da Divisão Internacional do Trabalho Intelectual: Um Estudo a Partir do Debate Internacional em Revistas de Teoria Social
Este paper apresenta os resultados de um estudo sobre as expressões da divisão internacional do trabalho intelectual a partir do debate internacional em revistas de teoria social. A investigação focou em quatro revistas: Theory, Culture and Society; European Journal of Social Theory; Sociological Theory e Theory and Society. A análise contou com um levantamento do perfil nacional e regional dos pesquisadores que publicaram nos periódicos entre 2000 e 2016 e dos membros de comitês editoriais, além de um estudo comparativo entre o tipo de objeto estudado por pesquisadores do Sul Global e Reino Unido. Notou-se que as revistas expressam características da divisão internacional do trabalho intelectual, devido a: baixa presença de intelectuais do Sul em número de publicações; domínio dos comitês editoriais por intelectuais do Norte; ausência de crescimento da participação do Sul Global durante os últimos 17 anos; e diferenças entre o tipo de objeto pesquisado por intelectuais do Sul em comparação com pesquisadores do Norte. Argumenta-se que existe uma inserção qualitativa e quantitativamente periférica do Sul Global nos debates de teoria nas revistas analisadas.
Matheus Capovilla Romanetto (USP) ST41
Existe uma caracterologia weberiana?
O texto advoga pela possibilidade de inferir-se uma teoria do caráter em Max Weber, a partir de seus escritos sobre religião e política. Procura-se demonstrar a especificidade lógica da concepção weberiana do caráter comparando-a a outras caracterologias de seu tempo: as de Jaspers, Freud e Klages. Os resultados principais são os seguintes: (a) as categorias explicativas fundamentais de uma caracterologia weberiana são as de seleção, adaptação e educação; (b) suas categorias compreensivas fundamentais são as de interesse e valor. A partir delas, é possível desdobrar (c) uma peculiar teoria da subjetividade, segundo a qual a relação entre interesses (materiais e ideais) e a situação social dos agentes origina variados modos de organização e cisão entre as faculdades afetivas, intelectuais, sensoriais e psicofísicas. As peculiaridades do caráter são então entendidas como (d) meios para a realização de determinados valores últimos, tidos como núcleo central da personalidade. Espera-se que essa interpretação da obra sirva de ensejo para rediscutir as fronteiras entre sociologia e psicologia, frente à problemática contemporânea da subjetividade.
Matheus Lock Santos (QM) ST22
Entre controle e subversão: resistências discursivas da Mídia Ninja nas Marchas de Junho
Nos últimos anos houve uma exacerbação dos conflitos políticos ao redor do mundo. Grande parte deles resultaram da conjunção de crises econômicas e da política institucional. Atravessamos o que muitos chamam de novo ciclo de lutas políticas. Uma de suas principais características é o uso extensivo das tecnologias digitais (TDs) que possibilitaram novas formas organizativas, repertórios e narrativas. Neste artigo, investigo o potencial político dos repertórios de resistência possibilitados pelas TDs no atual ciclo de lutas. Argumento que é necessário compreender tais potenciais para além de seus limites geográficos, inserindo-os num contexto global das sociedades de controle do capitalismo contemporâneo. Meu objeto de análise é a Mídia Ninja nas Marchas de Junho de 2013. Investigo seu modus operandi durante os protestos e argumento que seus repertórios de ação política não apenas extrapolaram os limites do acontecimento em si, mas prefiguraram um novo potencial de resistência política capaz de “sequestrar discurso” e confrontar as narrativas hegemônicas da grande mídia, desafiando assim seu controle sobre a verdade dos protestos de 2013.
Matheus Mazzilli Pereira (UVV) ST24
Trazendo os Governos de Volta: a influência da chefia do Executivo sobre o ativismo institucional LGBT no primeiro Governo Dilma.
A literatura sobre as relações entre movimentos sociais e Estado no Brasil tem analisado a influência de ativistas institucionais que atuam na burocracia do Poder Executivo sobre as políticas públicas, caracterizando os limites e as possibilidades de sua ação a partir das particularidades das instituições nas quais estão inseridos. Este trabalho destaca outro condicionante da ação destes ativistas: as intervenções da chefia do Executivo sobre seus ministérios e secretarias. Para isso, parto da análise comparada da trajetória e dos resultados do ativismo institucional LGBT em quatro órgãos do Poder Executivo no nível federal. Os resultados dessa análise indicam que, apesar de apresentarem trajetórias e configurações distintas, tais órgãos apresentam queda semelhante nos resultados produzidos por burocratas ativistas LGBT a partir do primeiro Governo Dilma. Para explicar tais semelhanças, foram mapeadas as intervenções da chefia do Executivo sobre esses órgãos. Os resultados indicam que, a partir desse período, a chefia do Executivo passou a intervir de formas semelhantes sobre diferentes ministérios e secretarias, criando obstáculos comuns à ação dos ativistas LGBT neles inseridos.
Mauro Victoria Soares (UFPE) ST09
Cosmopolitismo e seus críticos
A visão cosmopolita se apresenta como uma corrente teórica importante nos debates sobre democracia e justiça no plano transnacional, a qual tem implicações tanto morais quanto políticas. Ainda que seja possível diferenciar suas implicações morais daquelas de caráter político e institucional, é recorrente que autores da teoria política venham desenvolvendo concepções de justiça internacional a partir de diagnósticos particulares da relação entre os Estados – como o faz, de certo modo, Rawls (1999) – e que, em contrapartida, visões morais do cosmopolitismo como a de Held (1995) tenham servido ao propósito de elaboração de propostas especificamente políticas, relacionadas à internacionalização de um projeto democrático por elas sustentado. Ao apresentar a controvérsia entre os cosmopolitas e os igualitários denominados humanitaristas acerca das questões de justiça global, será problematizado o papel da responsabilidade nacional na criação de arranjos institucionais que contemplem mecanismos de justiça compatíveis com o reconhecimento das relações específicas de solidariedade, culturalmente compartilhadas por comunidades políticas, bem como seus deveres correspondentes.
Maxmiler Campos da Costa (UFRGS) SPG16
Justiça de Transição: uma comparação entre a Argentina e o Brasil (1983-2019)
A transição de regimes autoritários para a democracia requer a promoção de políticas que materializem a verdade, memória, justiça, reparações, reformas institucionais e reconhecimento por parte dos estados dos crimes contra humanidade praticados. Sociedades onde prevalecem as violações tendem a permanência de uma cultura política autoritária. Ou seja, há uma disputa pela memória e pelo presente, “políticas do passado”, colocando em evidência a polarização nas sociedades argentina e brasileira. Com base nestas observações, busco problematizar: por que processos semelhantes têm resultados diferentes? Quais os avanços e recuos nos dois processos? Quais as consequências políticas? Assim, busca-se comparar a justiça de transição na Argentina e no Brasil. Compreender os processos de transição das ditaduras para as democracias e os dilemas da efetivação do processo transicional. Os resultados mostram que o processo argentino mostrou maior efetividade no sentido de responsabilizações criminais de agentes públicos e privados. No Brasil, no sentido oposto, o desenvolvimento foi lento, gradual e seguro, ocasionando uma busca da internacionalização da justiça de transição.
Maycon Lopes Villani (UFBA), Luis Augusto Vasconcelos da Silva (UFBA), Maria Inês Costa Dourado (UFBA) ST38
Na trilha de uma ecologia das práticas: cooperação entre ativistas trans e acadêmicos em uma pesquisa
Não é raro nos depararmos com pesquisas que alegam integrar em sua constelação de mediadores militantes de movimentos sociais. Embora cooperações desta natureza decerto impliquem em relevante aprendizado, a qualidade da relação, inclusive as relações de força entre acadêmicos e ativistas, é comumente obliterada nos relatos de pesquisa. O que pode acontecer quando o movimento social é convidado a atuar em um estudo científico para o qual os próprios militantes demandam financiamento é do que trata este trabalho. O texto ocupa-se do processo de construção, e não exatamente dos resultados, de uma investigação quantitativo/qualitativa com travestis e mulheres transexuais, e analisa os desafios e potencialidades no momento em que competências, recursos, práticas e expectativas heterogênas são chamadas, por esta prática de encontro (que toda pesquisa ocasiona), a negociar.
Maycon Noremberg Schubert (UFRGS), Paulo André Niederle (UFRGS) ST40
Muito além da carne: as práticas alimentares dos restaurantes e consumidores veganos de Porto Alegre.
O objetivo central do artigo é analisar as práticas veganas em restaurantes de Porto Alegre, tanto dos consumidores que frequentam esses espaços, quanto dos próprios restaurantes. Perguntas do tipo: como são projetados os diferentes tipos de engajamentos políticos? Como ocorrem os 'alinhamentos' das práticas alimentares dos consumidores e dos restaurantes veganos? O que é ser Vegano, segundo os próprios consumidores? Orientam as reflexões. Para tanto, os dados analisados foram obtidos a partir de uma pesquisa levada adiante entre os meses de outubro de 2018 e abril de 2019. O universo empírico correspondeu à 10 restaurantes veganos de Porto Alegre, onde se realizou entrevistas com os donos; foram aplicados questionários estruturador à 374 consumidores destes restaurantes; ademais, houve várias incursões participantes em espaços coletivos do movimento vegano de Porto Alegre (capacitações, palestras, feiras, etc). As análises foram realizadas a partir de uma abordagem pragmática da Teoria das Práticas Sociais, a qual nos permitiu focar nas contingências e nas diferenciações envolvendo as performances e os arranjos organizados coexistentes (coisas, pessoas, organismos e artefatos).
Mayrá Silva Lima (UnB) ST09
Agronegócio e neoliberalismo: limitação da democracia através do debate sobre insegurança jurídica
O objetivo do artigo é a análise do agronegócio enquanto resposta neoliberal para o campo brasileiro, mediante a construção de um modelo que é totalizante ao campo, silenciando assim alternativas. O texto, por meio de pesquisa bibliográfica, recupera o se entende por agronegócio diante da virada neoliberal no Brasil a partir da década de 1990 e analisa a defesa constante, protagonizada por elites ruralistas, da “segurança jurídica” ao desenvolvimento do agronegócio, que justifica a proposição de legislações e ações que, em geral, são direcionadas a reivindicações de limitações sobre a ação e reconhecimento de direitos de trabalhadores/as rurais, comunidades quilombolas e indígenas. Os dados que ajudam na análise são oriundos principalmente das notas taquigráficas das duas Comissões Parlamentares de Inquérito Funai-Incra, ocorridas entre os anos de 2015 a 2017, além das manifestações da bancada ruralista durante o apoiamento à eleição e ao governo de Jair Bolsonaro (PSL).
Mário Augusto Medeiros da Silva (UNICAMP) ST01
O problema sociológico da circulação de ideias e seus portadores sociais: intelectuais e ativistas negros brasileiros, anos 1950-1970
Intento apresentar aspectos de uma pesquisa em andamento, a respeito de associativismo político e cultural negro na cidade de São Paulo. O objeto é a Associação Cultural do Negro (ACN, 1954-1976), importante coletivo de gerações de ativistas negros no pós-abolição, criado no intervalo democrático pós Estado Novo. Alguns de seus membros mais velhos, como José Correia Leite, Henrique Antunes Cunha, Geraldo Campos de Oliveira etc. foram partícipes de experiências associativas pregressas do começo do século, informantes da Pesquisa Unesco de Relações Raciais em São Paulo e se uniram a mais jovens para criar a ACN. A comunicação pretende tratar de um aspecto específico e pouco conhecido da história da ACN e, portanto, também da história do associativismo negro em São Paulo, num certo momento do pós-Abolição: as relações estabelecidas entre aquela associação, alguns de seus membros, por meio de cartas, documentos, viagens e mesmo exílio de ativistas, com intelectuais e ativistas negros, combatentes na luta antirracista, anticolonial e entusiastas da solidariedade internacional de associações do mundo negro.
Melquisedeque de Oliveira Fernandes (UFERSA) ST05
"Depois que eu entrei aqui": narrativas sobre gênero e etnicidade entre estudantes de um curso de Licenciatura em Educação do Campo.
Tendo por base as narrativas de seus estudantes, o texto analisa resultados políticos que os cursos de Licenciatura em Educação do Campo oferecem ao prever, para formação de educadores, uma aproximação com os movimentos sociais. Num primeiro momento, recuperamos os princípios de organização curricular destas licenciaturas, com foco em sua proposta original de integrar a formação docente com a atualidade da agenda política dos movimentos. Num segundo momento, analisamos 06 trajetórias de vida, com foco nas perplexidades e rupturas na forma de compreender a "ordem social" ao longo do curso e mediante o contato com os movimentos sociais. Os dados que subsidiaram este trabalho foram relatos autobiográficos em que constam as impressões dos e das estudantes sobre questões de gênero, orientação sexual e etnicidade, tendo como marcador seu ingresso no curso. Os resultados apontam para um deslocamento na percepção dos sujeitos e sujeitas sobre assimetrias e conflitos, primeiramente experimentados como consequências de uma regularidade inexorável, depois, cedendo lugar para a apropriação de significados contestatórios, que se (re)compatibilizam em meio a ideais de justiça social.
Melvina Afra Mendes de Araújo (UNIFESP) ST33
A questão da diferença na constituição de uma nova elite nativa queniana
Na tentativa de extinguir o Mau Mau, movimento impulsionado por questões fundiárias que marcavam o Quênia, o governo colonial decretou, em 1954, o Estado de Emergência, criando aldeias para as quais foi deslocada a população kikuyu, prisões e campos de detenção. Nesse contexto, houve uma repulsa em relação aos missionários, colonos e agentes coloniais. Apesar disso, os missionários da Consolata lograram aproximar-se dos prisioneiros Mau Mau e da população kikuyu, elevando exponencialmente o número de adeptos às suas missões. As justificativas dadas para a aceitação desses religiosos relacionam-se ao domínio que tinham das línguas nativas, não serem britânicos e terem sido prisioneiros destes durante a 2ª Guerra Mundial. Nesse sentido, graças a um processo um processo de diferenciação (Brah, 2006), articulando discursos e práticas que inscreveram experiências específicas para os missionários e os kikuyus, as posições por eles tomadas possibilitaram a tessitura de um certo tipo de relacionamento com os nativos, alçando-os à posição de interlocutores no processo de construção de independência e de formação da elite nativa que viria a governar o Quênia.
Michelle Lima Domingues (UFF), Priscila Tavares dos Santos (UFF) SPG09
Direito `a moradia na região central do Rio de Janeiro: processos de gestão de projetos de moradia popular
Propoe-se refletir sobre um conjunto de questões que caracterizam investimentos realizados por famílias de moradores inseridas em projetos de moradia popular na região central e portuária do Rio de Janeiro. As reflexões por ora apresentadas correspondem a resultados de pesquisa inseridos no projeto multidisciplinar “Luta Pela Moradia No Centro Da Cidade” que conta com financiamento da National Science Foundation (NSF) dos Estados Unidos e do Economic & Social Research Council (ESRC) do Reino Unido. Mediante perspectiva processual, destacamos duas situações etnográficas para analisar diferentes formas de gestão dos projetos de moradia, os agenciamentos e avaliações morais que buscam legitimar os processos de tomada de decisões que devem corresponder a formas de morar e habitar a cidade que se quer democráticas. Uma destas experiências corresponde ao grupo de famílias trabalhadoras Quilombo da Gamboa e outra ao grupo de famílias trabalhadoras que habitam o Hotel Bandeirantes. Por este investimento, valorizamos a autogestão desses moradores como princípio fundamental orientador das práticas e representações de luta pelo direito à moradia e, por extensão, a outros direitos sociais.
Milena Alves Costa (ALEGO), Herberth Duarte dos Santos (UFG), Denise Paiva Ferreira (UFG) ST27
Participação das Mulheres no Legislativo Estadual no Brasil, de 1998- 2018.
A pequena representação das muheres nos cargos eletivos no Brasil tem fomentado o debate sobre as causa e efeitos desse fenômeno no período 1998-2018. O artigoas mudanças implementadas na legislação eleitoral com vistas à ampliação da participação das mulheres se seus impactos Assembleias Legislativas Estaduais. Para tanto, utilizamos oÍndice de Participação Feminina no Legislativo Estadual (IPFLE) também o georreferenciamento dos dados.Para uma análise mais refinada, fizemos um estudo de caso com os dados das eleições para a Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, de 1990 a 2018. Discutimos, não só o resultado das eleições, bem como analisamos a série histórica dos dados, desagregada por gênero, com o número de candidatos, o seu perfil, o número de votos obtidos, com suas respectivas distribuições de frequência e estatísticas de comparação.
Miriam Steffen Vieira (UNISINOS) ST33
Gênero em perspectiva: o desenvolvimento deste campo de estudos em Cabo Verde desde a cooperação acadêmica com o Brasil
Esta comunicação visa apresentar resultados preliminares de pesquisa em desenvolvimento sobre a produção do conhecimento em gênero, nas ciências sociais desenvolvida em Cabo Verde, a partir da cooperação Sul-Sul. No caso em pauta, das relações acadêmicas estabelecidas entre a Universidade de Cabo Verde e Universidades Brasileiras, assim como de agências de fomento à pesquisa no Brasil. Para tanto, está amparada numa análise da produção realizada no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais de Cabo Verde, no período de 2007 a 2015. Neste período, foram concluídas mais de 15 dissertações e teses neste campo de estudos, em temáticas como violência de gênero, sexualidades, dinâmicas familiares, masculinidades, trabalho e imigração. Esta produção caracteriza-se por uma aposta na etnografia como forma de acessar agenciamentos e negociações cotidianas no âmbito das relações de gênero. Neste trabalho, interessa-me debruçar sobre esta produção com o objetivo de focalizar a dimensão etnográfica e suas possibilidades epistêmicas para a construção do conhecimento desde a perspectiva do Sul Global.
Moisés Villamil Balestro (UnB) ST40
Has Financialization run out of steam in the Brazilian agribusiness?
Between 2008 and 2018, the average of the commodity funds performance at global level was negative or with a mean yield of less than 5% and commodity index declined sharply over the last years. On the other hand, the Rural Product Bond had a monthly average of 45 million real in July 2018 in comparison with an average of 11 million in July 2013. The bonds from agribusiness credit rights (Certificados de Direitos Creditórios do Agronegócio) went up from a yearly average of 3.6 million real in 2008 to 37.7 million in 2016. By discussing the more recent contributions on the financialization phenomenon, this article presents evidence of how financialization is still vibrant in the Brazilian agribusiness despite the commodity bust. Following Epstein (2006) and Grippner (2011), financialization means the increasing role of financial motives, financial markets, financial actors and financial institutions in the agribusiness and agrifood systems.
Monika Dowbor (UNISINOS), Roberta Carnelos Resende (UNISINOS), Aloisio Ruscheinsky (UNISINOS) ST07
Medidas compensatórias nos desastres tecnológicos: um elo negligenciado?
O estudo realizado centra-se na ocorrência de desastres tecnológicos, que possuem como causa preponderante os mecanismos pelos quais determinadas empresas exploram os recursos naturais. O assunto ganha relevância científica e social na ascensão de episódios desta natureza que recolocam as questões relativas à criação de mecanismos de gestão de riscos e conflitos tanto para a recomposição do cenário ambiental, quanto à mitigação de impactos sobre o cotidiano dos cidadãos atingidos de curto, médio e longo prazo. Tendo como objetivo analisar as medidas compensatórias nos desastres tecnológicos no Brasil, que recebem uma menor atenção na literatura consultada, o estudo recorreu à análise dos Termos de Ajuste de Conduta (TACs) de cinco casos (Chevron, IBERPAR e Rio Pomba, Samarco e Hydro Alumnorte), observando suas especificidades e/ou convergências. Detectamos o predomínio da definição generalista e vaga tanto das medidas compensatórias quanto da forma de sua implementação. Os achados levantam dúvidas sobre as condições da implementação desse tipo de ações e do seu controle social pelos cidadãos, pela sociedade civil e pelo próprio Estado.
Mylene Mizrahi (PUC Rio) ST16
Juventude, gênero e protagonismo feminino: ainda o “problema da mulher”?
A pesquisa se estrutura na interface entre Antropologia e Educação, tendo como mote a pergunta “o que é ser jovem no Brasil contemporâneo?”. Responderemos à tal pergunta junto à juventude popular carioca e à criatividade. Queremos nos voltar para os processos de emergência de lideranças artísticas e/ou políticas femininas/feministas infanto-juvenis. Traremos para o primeiro plano a temática do gênero que, como vem sendo argumentado, tem sido tratada de modo tímido no campo da juventude. Privilegiaremos as mídias e o lugar por elas ocupado no processo de formação dos sujeitos investigados, notando em que medida a emergência de novas lideranças femininas midiáticas – como a ativista sueca Greta Thunberg, as divas pop e funk, a “primavera feminista” – influencia ou não os sujeitos em questão. Jogaremos o foco sobre a relação social, apreendendo-a como constitutiva da pessoa, notando o lugar que as redes de parentesco, de afins e de amigos ocupam na formação desses sujeitos, buscando caminhos alternativos para acessar, mesmo em esquemas tradicionais, as potências do feminino. Nosso intuito é contribuir para o debate sobre gênero e protagonismo feminino no campo das juventudes.
Naiara Sandi de Almeida Alcantara (UFPR), Ana Lucia Rodrigues (UEM) SPG09
O direito à cidade efetiva-se por meio do programa Minha Casa Minha Vida? análise nacional do programa no período de 2009 a 2013
Esse artigo se compõe de conteúdos de uma dissertação, cujo objetivo principal foi verificar se os beneficiários do Programa Minha casa Minha Vida (MCMV) permanecem em situação semelhante às condições que compõe o Déficit Habitacional, após o recebimento da casa, e se as famílias contempladas com as unidades habitacionais possuem qualidade de vida, por meio da análise dos indicadores: i) qualidade de habitação, ii) qualidade urbana e iii) vulnerabilidade social. A metodologia utilizada foi à análise quantitativa do banco de dados da Pesquisa de Satisfação dos Beneficiários do Programa Minha Casa Minha Vida (MCIDADES/SNH/IPEA), composta por uma amostragem de 7.252 Unidades Habitacionais (UH), realizada em 2013, e representativa de todo o Brasil. O trabalho estruturou-se da seguinte forma: 1) retomada das políticas habitacionais que enseja a discussão sobre o MCMV; 2) análise do banco de dados e apresentação dos resultados; 3) resultados das análises que mostram não haver permanência das condições de Déficit Habitacional nas novas moradias, mas pontos negativos no que tange a Qualidade de Vida, implicando assim no acesso ao direito à cidade de maneira ampla.
Nara Oliveira Salles (IESP/UERJ) ST27
Entre periferias: pequenos partidos e microcidades na competição programática no Brasil
O objetivo deste trabalho é investigar a periferia do sistema partidário, os pequenos partidos, na estruturação da competição programática na periferia demográfica brasileira, as microcidades. Através da análise de texto automatizada, via wordfish, de mais de 30 mil programas de governo registrados por candidatos ao executivo municipal em 2012 e em 2016, testo a hipótese que os pequenos partidos não são programaticamente inócuos. Ao contrário, se organizam em termos programáticos de acordo com as disputas que estrategicamente privilegiam. O estudo se divide em duas etapas, sendo a primeira a identificação das legendas programaticamente alinhadas e dos contextos em que isso ocorre no que se refere a: (1) região, (2) população e (3) desenvolvimento do município e percentual de (4) analfabetos e (5) população rural. Em seguida, os partidos alinhados serão examinados com relação às ênfases concedidas em suas plataformas e à sua produtividade eleitoral.
Natacha Simei Leal (UNIVASF) ST05
Família rural, gênero e parentesco. Pesquisa, ensino e extensão no sertão do Piauí.
A presente proposta pretende produzir dois movimentos. De um lado, dar conta de apresentar minhas pesquisas, na área da antropologia rural e do parentesco, a partir de esforços recentes que venho realizando no sertão do Piauí desde que me tornei professora de um curso de Antropologia na região da Serra da Capivara. De outro, pretende descrever como a temática do gênero e da família, bem como de economia do campo, se torna o principal interesse de pesquisa de meus alunos e alunas. Assim, essa comunicação, a partir de minhas experiências didáticas e de pesquisa, propõe atualizar a centralidade das ideias clássicas de Família Rural, Gênero e Parentesco em um contexto de consolidação de novas universidades no interior do país.
Natalia dos Santos Dias (UFF) ST22
Partido Novo: o financiamento (coletivo) de forma voluntária
O intuito desse artigo é pensar o financiamento coletivo por pessoa física para os partidos políticos. Trazendo como cenário o Partido Novo, fundado em 2011, a proposta central deles é de que todos os partidos políticos precisam se manter apenas com as contribuições voluntárias. Com um discurso focado na autonomia do indivíduo, e a redução do papel do Estado na gestão social, o objetivo é analisar a contribuição financeira e individual, pelo modelo do crowdfunding, sob o cenário político partidário, a partir da perspectiva dos estudos da Teoria da Dádiva (MAUSS, 2013) - que apresenta a reciprocidade como elo mantenedor das relações sociais.
Natália Nóbrega de Mello (UNICAMP) ST17
Crise, Polarização Política e o Debate sobre Direitos Humanos nos Estados Unidos (1975-1995)
Este paper reflete sobre a crise democrática atual nos Estados Unidos a partir da retomada histórica da conjuntura crítica dos anos 1970 e das transformações ali gestadas e processadas ao longo dos anos 1980 e 1990. Propõe-se utilizar a história do pensamento político para reconstruir o debate intelectual sobre os direitos humanos entre think tanks conservadores e progressistas (de 1975 a 1995). Diversos processos transformaram a ordem política neste intervalo temporal: – houve um realinhamento partidário e germinou-se uma polarização política; – os conservadores adquiram proeminência nacional; – os direitos humanos ganharam relevância e se tornaram uma pauta bem aceita entre diferentes grupos. Com o estudo do pensamento político, espera-se reconstruir as convergências em torno da agenda dos direitos humanos, sem perder de foco as disputas significativas a respeito de seus sentidos. A expectativa é de lançar uma nova luz sobre uma era de polarização ambígua, que abarcava um limitado “consenso”, mas que sofreu fortes abalos e rachaduras na década de 2010, quando tanto a esquerda do partido Democrata, quanto os ultraconservadores do partido Republicano romperam com este padrão.
Nathalie Reis Itaboraí (UERJ/IESP) ST16
Meninas (e meninos) dos olhos: repensando a distribuição de renda, de bem-estar e de políticas públicas de uma perspectiva da infância
Assim como os estudos de gênero ajudaram a repensar diferentes domínios da pesquisa sociológica, o campo dos estudos da infância vem despontando como uma seara capaz de promover novas perguntas em diferentes campos de investigação. Neste estudo, propõe-se repensar os estudos de estratificação social – em especial a análise da distribuição de renda, de bem-estar e de políticas públicas – a partir da perspectiva das crianças, considerando alguns dos aspectos centrais na definição de suas condições de vida, que emergem na interação entre seus contextos familiares (e entornos sociais) e a ação do Estado. Consideram-se as especificidades da pobreza e vulnerabilidade infantis, as condições de provisão de renda e cuidado pelas famílias; a centralidade da oferta de serviços públicos para o bem-estar das crianças; e as desigualdades na distribuição de políticas públicas que afetam direta e indiretamente a infância. Dados das Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios de 1996, 2006 e 2015, bem como da Pesquisa de Padrões de Vida de 1996, são analisados para apresentar evidências das novas e seminais questões pelas quais os estudos da infância interpelam o campo da estratificação social.
Nathanael Araujo (UNICAMP) ST21
Colecionar “arte impressa”, colecionar experiências, constituir a si.
O paper analisa o modo como a “arte impressa” materializa relações e circulação de ideias expressas no ato de produzir, expor/vender e colecionar a si. Apresento uma etnografia da Feira de Arte Impressa do Tijuana e do “artista visual escritor” Fabio Morais. Criada por uma instituição de arte contemporânea, a Galeria Vermelho, a feira reúne “publicação de livros de artista e edições especiais”. Nos últimos dez anos, esse tipo de evento, produzido por editores, escritores e artistas visuais, apontam para espaços de arte que não só os das galerias, livrarias e museus. O artista transita tanto por feiras quanto pelas instituições, negociando com as configurações de cada um, além de ser representado pela galeria supracitada e um confesso colecionador de livros de artista. São no entrelaçamento entre evento, espaços, obras e personagens que se tornam possíveis apreendermos a prática de colecionamento de experiências, próprias e de outros. Se as materialidades dos objetos não são suportes para conteúdos, mas parte constitutiva das narrativas, como defendem os interlocutores, argumento que elas também o são na composição da subjetividade daqueles que as fazem e consomem.
Nayala Nunes Duailibe (UFG) ST15
“Caderno de Campo” em imagens: (re)pensando o campo do patrimônio imaterial a partir das análises dos dossiês do IPHAN – registros de memórias
O presente trabalho tem por objetivo analisar as implicações do campo da Antropologia visual e a produção de subjetividades. Entender o contexto da produção do trabalho do Antropólogo e suas experiências em campo. Mostrar como é possível pensar e fazer um trabalho de campo a partir das análises de imagens, construindo assim, uma narrativa "do campo digital". A proposta aqui apresentada, tem como perspectiva metodológica produzir elementos para entender as "caixas de ferramentas" do fazer antropológico a partir das visualidades, situando o campo do patrimônio imaterial e dos dossiês de registro do IPHAN. É parte do processo de amadurecimento de um campo de estudo em perspectiva doutoral e ressalta o sentido e o significado da construção das categorias de entendimento: patrimônio imaterial, memória, antropologia visual e visualidades. Pensar e repensar o campo do patrimônio imaterial bem como entender a dimensão analítica a partir dos dossiês do IPHAN, propostos em forma do imagens e "escritos" no caderno de campo.
Nayara de Amorim Salgado Nayara Salgado (UFMG) ST11
Territórios urbanos do uso de crack em Belo Horizonte – Minas Gerais, Brasil– Análise da Cracolândia sob a perspectiva da ecologia social do crime.
Esse artigo analisa a formação de espaços urbanos de usos do crack no bairro da Lagoinha, região central de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Conhecidas como “Cracolândias” esses territórios são analisados sob a perspectiva da ecologia do crime, que levanta a indagação sobre a distribuição dos desvios e crimes nos centros urbanos. O estudo se delineou através das análises de dados realizadas, inicialmente com a pesquisa quantitativa relacionada a ocorrências conexas ao crack e outras drogas em Belo Horizonte e especificamente no bairro Lagoinha que posteriormente, foi palco de uma pesquisa empírica. Os resultados apontam sobre a construção social das condições ecológicas ideais para o surgimento de espaços urbanos do uso de crack, que são dimensões de degradação social considerável e mecanismos de controle social informal debilitados, além de serem territórios que passaram por intervenções urbanas ou processos urbanísticos que geraram escombros e ruínas, e com elas, novas dinâmicas de sociabilidades, novas apropriações e também novos usos, dentre os quais o fenômeno das cracolândias.
Nilson Weisheimer (UFRB) ST16
Juventude e sindicalismo rural na Bahia
O objetivo geral do estudo foi analisar a participação de jovens agricultores familiares no sindicalismo rural no estado da Bahia. Com base em enfoque teórico geracional-juvenil e pesquisa empírica com métodos mistos são traçados; (i) o perfil dos jovens organizados na base sindical da FETAG – BA descrevendo suas condições materiais e processos de socialização no trabalho familiar agrícola e na educação formal; (ii) a participação desses jovens em organizações sociais, as formas de recrutamento de jovens para o movimento sindical, os sentidos que atribuem a este engajamento. Conclui que a inserção juvenil no sindicalismo rural reflete a situação de classes dos agricultores familiares, marcada por obstáculos à sua reprodução social. Com efeito, a participação sindical processa-se como uma socialização política que resulta na ampliação de seu horizonte de ação e no fortalecimento de suas identidades sociais como agricultores familiares.
Nilton Garcia Sainz (UFPel) ST27
O que os vice-prefeitos têm? Análise da carreira eletiva dos vice-prefeitos das capitais estaduais do Brasil
A estrutura de oportunidades formada pelo sistema político brasileiro permite diferentes modelos de desenvolvimento de carreiras eletivas. Esse estudo analisa a carreira eletiva posterior dos vice-prefeitos das capitais estaduais do Brasil eleitos em 1985 e 1988. A escolha por analisar esse cargo é justificada pela ausência de investigações sobre ele. Dessa forma, a pesquisa busca responder: quais os padrões de carreira eleitoral dos vice-prefeitos das capitais estaduais do Brasil, após deixarem o cargo? Através de uma prosopografia da carreira eleitoral dos vices, a coleta de dados ocorre por meio dos sites do TSE e TREs, percorrendo a trajetória eleitoral de 50 personagens. Nesse sentido, a investigação busca compreender para onde vão os vice-prefeitos e qual a relevância do cargo para o desenvolvimento de carreiras posteriores. Os resultados obtidos demonstram tendências, como: uma maior busca por cargos em nível federal, assim, como uma maior procura por cargos legislativos, especificamente o cargo de Deputado Estadual.
Nilza Silvana Nogueira Teixeira (UFAM) ST21
Objetos Ticuna em museus etnológicos – Um diálogo possível.
O objetivo desta exposição é refletir acerca das trajetórias dos objetos Ticuna, que fazem parte do acervo de quatro grandes museus etnológicos. O Weltmuseum de Viena na Áustria, o Fünf Kontinente Museum de Munique, o Museu Etnológico de Berlim, ambos na Alemanha e o Museum der Kulturen de Basel, na Suíça. A pesquisa foi realizada nas coleções destes museus, produzindo dados com base no levantamento e análise destes objetos. Foram considerados aspectos relativos à trajetória, às narrativas a eles associadas, inserindo-os nas discussões atuais sobre as relações entre os museus etnológicos e os Povos de onde se originam os objetos que compõem o patrimônio que ora possuem. O ineditismo desta pesquisa é o fato de colocar em diálogo os conhecedores Ticuna e os objetos de sua cultura, que estão nestes museus etnográficos. Palavras-Chave: Coleções; Ticuna; Museus Etnológicos; Amazônia.
Noelma Silva (SEEDF) ST42
Construindo as bases para a prospecção de cenários sobre o futuro dos profissionais da Carreira Magistério
Tão relevante quanto pensar na prospecção de cenários futuros da educação pública é pensar no futuro dos profissionais desta educação. A expectativa de vida dos(as) professores(as) regentes que atuam no serviço público tem reduzido ao longo dos últimos anos. Vários são os fatores responsáveis por este fenômeno e, portanto, torna-se relevante identificar e relacionar as variáveis que corroboram para estes afastamentos. Estudos revelam que o trabalhador não é o único responsável pela sua saúde, a organização tem a responsabilidade de oportunizar ambientes saudáveis para a promoção de relacionamentos e atitudes positivas relacionadas ao trabalho. Este painel apresentará a tipificação dos afastamentos na educação, os atores envolvidos, o papel do sindicato, a as medidas institucionais adotadas, sua efetividade em termo de cenários futuros. Serão desta forma construídos os pilares sobre os quais a ferramenta de prospecção possa ser aplicada para a projeção de cenários futuros que possibilitem não apenas aumentar o tempo de vida dos professores regentes, mas o seu bem-estar e a realização no trabalho.
Olavo Brandão Carneiro (UFRRJ) ST12
Senadores do agronegócio, políticas públicas e emendas parlamentares
Há número significativo de estudos sobre o sistema político brasileiro e a representação no Congresso Nacional a partir das emendas parlamentares ao orçamento da União. Geralmente abordam a governabilidade e o poder de agenda do Executivo, com foco nas relações entre as agencias estatais, partidos políticos e suas lideranças formais no parlamento. Este artigo trata da relação entre uma fração das classes dominantes, a burguesia agrária, e o Estado brasileiro, a partir das indicações de emendas parlamentares individuais de senadores do agronegócio às leis orçamentárias anuais de 2012 a 2015. A ênfase é na identificação de políticas públicas e de atores priorizados por estes congressistas e a construção da representação política de classe. Os dados informam que as políticas agrárias e agrícolas são minoritárias no aporte de recursos das emendas e que as prefeituras são os principais beneficiários das mesmas. Isto reforça a hipótese de que a eleição de ruralistas ao Congresso Nacional e a força da sua bancada temática são estabelecidas por uma atuação muito mais ampla que a pauta setorial na relação com o Estado e na sua atividade parlamentar.
Olivia Cristina Perez (UFPI), Bruno Mello Souza (UESPI) ST16
Percepções sobre política entre jovens e organização em forma de coletivos
Este trabalho analisa a percepção sobre política entre jovens, bem como organizações políticas chamadas de coletivos. O trabalho tem como referenciais teóricos os estudos sobre cultura política, associações e política entre a juventude. Os dados foram extraídos do Latinobarômetro, das páginas de 170 coletivos universitários brasileiros cadastrados no Facebook e de 16 entrevistas com membros de coletivos universitários da cidade de Teresina/PI. Os resultados mostram a crescente desconfiança em relação à política parlamentar e partidária entre jovens. Uma das formas de organização política da juventude são os coletivos, que rechaçam discursivamente os partidos e a política parlamentar. A compreensão sobre a percepção e mobilização política entre jovens permite entender conjunturas política mais amplas e é fundamental para que se pense mudanças substantivas.
Olívia Luiza Pilar de Souza (UFMG), Pâmela Guimarães da Silva (UFMG) SPG14
A segunda morte de Marielle e a segunda vida do acontecimento: o poder hermenêutico da necropolítica
O artigo propõe-se a entender o potencial de um acontecimento necropolítico para revelar as questões raciais e de gênero no Brasil. O objetivo deste texto é apreender os significados e os sentidos presentes nas postagens póstumas e difamatórias sobre a vereadora Marielle Franco. Para tanto, construímos um referencial teórico em torno da articulação entre acontecimento, necropolítica, interseccionalidade, representação e valores. Como a maior parte do material difamatório foi retirado do ar após ações judiciais, o corpus está ancorado na edição de 18 de março de 2018 do programa Fantástico, que dedicou 40 minutos de sua programação para tratar do assunto e, aos 28min32, usa todo um segmento sobre as notícias falsas as desmentindo ponto a ponto. Portanto, para fins metodológicos, tomamos cada um dos boatos citados no programa e investigamos: (1) quem são os autores, (2) qual é o conteúdo, (3) como foi a repercussão, (4) quais sentidos e valores são colocados em circulação e (5) o que esses sentidos e valores revelam sobre a sociedade brasileira.
Omar Ribeiro Thomaz (UNICAMP) ST33
O desafio do tempo: a construção social da memória e a política nos dias que correm - Brasil, Moçambique, Haiti
Disputas em torno dos sentidos da história são próprias do debate político. No "tempo da política" essa sociologia nativa do tempo é ativada de maneira mais ou menos dramática, como que situando no próprio corpo dos sujeitos do conflito contemporâneo a tragédia suposta na história e na construção social da memória. Mas isso se dá de forma peculiar em distintos espaços nacionais. O contraste entre o Brasil, Moçambique e o Haiti será construído tendo como referência o trabalho etnográfico (Moçambique e Haiti) e a experiência nativa (Brasil) com propósito de afirmar a singularidade das ciências sociais em cada um destes contextos.
Orivaldo Pimentel Lopes Júnior (UFRN), Artur George Bezerra Jales (UFRN) ST37
Hierarquia e Democracia: religião, espaço público e a influência política nas igrejas evangélicas brasileiras
Pela pesquisa desenvolvida por mais de 10 anos numa periferia da cidade de Natal-RN, podemos perceber que a presença das igrejas evangélicas na esfera pública não é direta mas impactante no que tange às escolhas políticas governamentais. Nossa questão tem sido, nessa última etapa, o quanto a prática política interna das igrejas na estrutura e hierarquia reproduzem o quadro frágil da democracia brasileira, e qual seu potencial de produzir novas formatações ou de reforçar as existentes. Das 103 igrejas em atividade quando foi feita a pesquisa de campo, 20 foram escolhidas como típicas representantes do evangelicalismo brasileiro. As entrevistas com os líderes e membros dessas igrejas permitiram a construção de um corpus de análise, em cima do qual tiramos as considerações aqui apresentadas. De modo geral, podemos afirmar que predominam formas centralizadoras e pouco democráticas de gestão eclesiástica, não havendo sinalizações de novas ideias. Compreender o ETHOS político interno das igrejas evangélicas nessa periferia urbana aqui representada é um passo indispensável para a compreensão do atual momento político brasileiro.
Oswaldo Zampiroli Cerqueira (UFRJ), Raphael Bispo dos Santos (UFJF) ST34
Família, geração e dissidências: a contribuição de Gilberto Velho para os debates contemporâneos no Brasil
A presente comunicação se propõe a pensar os debates contemporâneos ligados às acirradas disputas em torno das temáticas da família, da geração e da dissidência à luz de uma bibliografia clássica da antropologia brasileira de início dos anos 1970. O objetivo é perceber aproximações e afastamentos em torno dessas tensões a partir de um passado recente de nosso país, em um contexto de ditadura militar, tendo como recurso epistemológico a obra e trajetória de Gilberto Velho. Partindo-se de uma pesquisa mais ampla sobre a história da antropologia urbana no Brasil, faremos uso especificamente da obra "Nobres e Anjos" (1975) como um artifício para analisarmos os sentidos sobre família e moralidades mobilizados pelos interlocutores jovens de camadas médias de Velho nas franjas de um regime autoritário. Tais sentidos estão situados em micropolíticas de atuação e mobilização que encontravam formas de estar na cidade associadas às satisfações subjetivas decorrentes do consumo de substâncias ilícitas, os chamados "tóxicos". Apostamos, por meio desse movimento, na pertinência e potência criativa tanto de "Nobres e Anjos" quanto das ideias de Velho para os grandes debates da atualidade
Otávio Dias de Souza Ferreira (CEBRAP) SPG08
A oposição à Comissão Nacional da Verdade: origem, embates e repercussão
Como se organizou a oposição à Comissão Nacional da Verdade (CNV) no Brasil? Embora criada em 2011 e instalada em 2012, a união ampla em sua oposição remonta ao 3º Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH 3), de 2009. Essa união foi favorecida por 2 elementos: a reação de setores sociais à “Virada à Esquerda” na América Latina e o momento de popularização da internet no Brasil e expansão das mídias e redes sociais digitais. O PNDH 3 resultou de construção plural, em processo participativo amplo. Assumindo posições mais ousadas em determinados assuntos que o padrão conciliador dos governos petistas até então, o programa foi alvo de oposição ampla e orquestrada em quatro frentes. Essa união adquiriu uma dimensão de força que não era vista há décadas a ponto de o programa sofrer logo revisões importantes em seu conteúdo. Os recuos deslegitimaram bases de apoio popular envolvidas no processo participativo e alimentaram uma oposição que estava enfraquecida e desacreditada. A CNV foi um produto do PNDH 3 que foi alvo de ataques daqueles atores unidos pela primeira vez em 2009 e contribuiu para o protagonismo de determinados grupos na esfera pública.
Pablo de Rezende Saturnino Braga (UERJ) ST30
Política externa comparada: Brasil e África do Sul
O artigo apresenta o modelo conceitual desenvolvido em tese de doutoramento, na qual o autor faz um estudo comparativo da política externa de Brasil e África do Sul. O modelo busca operacionalizar, com os estudos de caso, os conceitos de potências regionais do Sul e seus dilemas de graduação internacional. Pela metodologia de process tracing, objetiva-se a identificação dos mecanismo causais que associem processos de democratização à narrativas/formulação de política externa, de forma que seja estudada a intensidade das relações causais elaboradas a partir das premissas conceituais (potências regionais do Sul).
Pablo Ornelas Rosa (UVV) ST41
Governamentalidade Algorítmica: Ponderações sobre os seus efeitos ciberpolíticos
Na virada do século XX para XXI presenciamos a emergência de uma nova forma de se fazer política e de tratar da produção e difusão da verdade através da mediação de novas tecnologias promovidas pela internet por meio dos sites de relacionamento encontrados no ciberespaço, concomitantemente ao controle do sistema financeiro assim como dos Estados, configurando aquilo que passamos a chamar de ciberpolítica. Isso levou o dicionário Oxford a apresentar como palavra do ano, em 2016, a chamada pós-verdade, evidenciando que os fatos passaram a perder relevância no debate público na medida em que as pessoas buscaram reafirmar as suas visões não mais através das evidências, mas pela busca por narrativas que reiterem o que se quer afirmar como verdade. Diante disso, emergiram narrativas neoconservadoras mundo afora, que passaram a atuar por meio de novos modos de subjetivação decorrente daquilo que poderíamos chamar a partir da analítica foucaultiana de governamentalidade algorítmica. Assim, o presente artigo desenvolvido a partir de uma pesquisa cartográfica, visa analisar as consequências da governamentalidade algorítmica na política brasileira a partir do século XXI.
Luiz Antonio Machado da Silva (UERJ/IESP), Palloma Valle Menezes (UFF) ST39
“Sociabilidade violenta” e “vida sob cerco” em favelas cariocas ontem e hoje
Para refletir sobre as mudanças nas dinâmicas associadas à violência urbana, este trabalho propõe revisitar as noções de “sociabilidade violenta” (MACHADO DA SILVA, 1999) e “vida sob cerco” (MACHADO DA SILVA E LEITE, 2008) a partir de pesquisas etnográficas realizadas nas últimas duas décadas no Rio de Janeiro. O paper busca compreender as continuidades e as descontinuidades que podem ser verificadas, por um lado no que Machado da Silva descreveu como uma forma de vida singular na qual a força física deixa de ser um meio de ação regulado por fins que se deseja atingir, para se transformar em um princípio de coordenação (um ‘regime de ação’) das práticas; e, por outro, na experiência de confinamento socioterritorial e político que provoca em moradores de favelas uma intensa preocupação com manifestações violentas que impedem o prosseguimento de suas rotinas e dificultam a manifestação pública de suas demandas. O trabalho terá como foco a análise de três momentos: a) o contexto pré-“pacificação”; b) o período posterior a inauguração das Unidades de Polícia Pacificadoras; c) e, por fim, o momento atual de “crise” das UPPs e de recrudescimento dos conflitos violentos no Rio de Janeiro.
Paola Daniela Argentin (UNICAMP) ST13
Segurança privada: Tecnologias e micropolíticas do capitalismo
O presente trabalho pretende a escrita etnográfica das dinâmicas da segurança privada em bairro das chamadas “cordilheiras da riqueza” em Campinas/SP. Ao trazer observações e descrições sobre a circulação de rumores e fofocas em portarias e rondas do bairro, o objetivo do trabalho é demonstrar que em condomínios fechados, usualmente vistos como territórios imóveis, segregados e murados, formas dinâmicas como os rumores obrigam o que é fixo a se movimentar. Do mesmo modo, como reorientam os termos das desigualdades expressas no próprio modo de morar e nas relações entre moradores e funcionários; como os rumores enquanto sociotecnologias do controle, desafixam ideias como suspeitas, privacidade e enclave, fazendo das desigualdades a estrutura dos negócios em segurança.
Paolo Targioni (UFSCar) SPG18
Indeterminação e percepção de fronteira na divisa Brasil - Bolívia
A presente comunicação visa apresentar os resultados de uma pesquisa de doutorado sobre fronteira. A partir do conceito de fronteira abordado pela sociologia clássica, que desenvolve timidamente seu trabalho sobre territorialidade e fronteira física, passamos a pesquisar a visão de alguns autores contemporâneos e vimos como os border studies estão hoje despertando cada vez mais interesse na comunidade científica. Esta olha com curiosidade a a maneira como a ação humana cria, desenvolve, destrói, explora, usa, abre e fecha estas fronteiras. A base teórica que sustenta a pesquisa foi construída num percurso cronológico que começa em Simmel, mas a ideia que mais influenciou o trabalho é a noção de border as method (de Sandro Mezzadra e Brett Neilson), ou seja, de uma fronteira como método: uma tentativa de entender a fronteira como perspectiva epistemológica, antes de percebê-la como território o objeto de pesquisa. Este será a base para a aplicação de um survey (que no presente momento está em fase de construção e teste) na região fronteiriça entre o Brasil e a Bolívia que analisaremos nos próximos meses, e cujos primeiros resultados serão apresentados neste congresso.
Patricia Saltorato (UFSCAR), TIiago Fonseca Albuquerque Cavalcanti Sigahi (USP) ST40
Alunos S/A: Investimentos, disputas simbólicas e financeirização das relações sociais no campo das entidades acadêmicas
A associação à entidades estudantis como empresas juniores, liga de mercado financeiro, Enactus, AIESEC etc, tem sido experimentada pelos alunos do ensino superior enquanto oportunidades de empreender investimentos simbólicos e criar valor sobre si mesmos. A sujeição à tal lógica de criação de valor, não se limita aos investimentos tangíveis da participação nas entidades, incluindo a incorporação duradoura de esquemas mentais e corporais de percepção, compreensão e ação (Wacquant, 2007) inscritos em uma lógica de mercado internalizada que vem equiparando as relações sociais entre os mesmos a relações de mercado. Grün (2007) discorre como numa associação nada evidente, a lógica (específica) do mercado financeiro teria se vinculado à positividade atribuída à noção de mercado (em oposição a de hierarquia). Nesse sentido, este artigo visa explorar a atuação discente por meio dessas entidades em uma universidade pública, enquanto espaços de circunscrição de uma crescente influência da esfera das finanças, empregando para isso, a noção bourdieusiana de campos relacionais, destacando um processo de financeirização das relações sociais.
Patricia Sonia Silveira Rivero (UFRJ) ST03
Os valores que sustentam o capitalismo: justificação, crítica e reconhecimento no discurso das empresas de telecomunicações
Este estudo focaliza no estudo dos valores que justificam o engajamento no sistema de gestão do capitalismo informacional (Castells, 1999), cujo valor principal se baseia na geração de conhecimento. Apresenta, a partir da análise de discurso, os principais valores que sustentam as empresas de telecomunicações, assim como as contradições entre estes e a realidade da mão de obra, a partir da análise de entrevistas com os trabalhadores qualificados e dos dados internacionais do setor. Esses valores são analisados à luz das teorias que tratam da reprodução do sistema capitalista, suas lógicas de justificação e absorção da crítica, assim como sua transformação (Boltanski e Chiapello, 1999). Também se articulam as ideias de legitimidade da dominação simbólica dentro do campo do Bourdieu (1989) e a análise da "cultura do novo capitalismo" (Sennett, 2006). Finalmente, utilizam-se os conceitos de crítica estética e social, crítica da exploração e da dominação (Zizek, 2012) e crítica a partir da redistribuição e o reconhecimento (Fraser, 2007) para expor os principais questionamentos ao capitalismo elaborados pelos movimentos sociais.
Patricia Vieira Tropia (UFU) ST42
O ativismo sindical da alta classe média: auditores fiscais da Receita Federal do Brasil diante dos governos do Partido dos Trabalhadores
O objetivo da comunicação é analisar a atuação do SINDIFISCO NACIONAL, entidade representativa dos auditores fiscais da Receita Federal do Brasil, diante dos governos do Partidos dos Trabalhadores (2003-2015). O SINDIFISCO é ativo no plano político-parlamentar e reivindicativo. No plano parlamentar, a entidade atua enquanto "grupo de interesse" junto ao Congresso Nacional. No plano reivindicativo, o SINDIFISCO volta-se para a valorização salarial e profissional. Os principais eixos reivindicativos do SINDIFISCO na defesa da profissão têm sido: a luta salarial e por carreira; a luta em defesa da autoridade exclusiva de auditores fiscais no exercício das funções fiscais; a intervenção no debate sobre política tributária. A pesquisa revelou que, em determinadas conjunturas, o SINDIFISCO comporta-se como oposição, noutras converge com políticas implementadas, mas não constitui uma força apoio aos governo do PT. As críticas aos governos do PT têm raízes nas reformas previdenciária e tributária, na fusão dos fiscos, nas dificuldades das campanhas salariais e nas políticas que implicaram em desoneração fiscal e perda de "status público" da carreira de auditor fiscal.
Patrícia Castro Mattos (UFSJ) ST03
Feminismo anticapitalista: rearticulando redistribuição e reconhecimento?
Meu objetivo é analisar as relações entre teoria e prática a partir da nova crítica ao capitalismo de Nancy Fraser. Fraser desenvolve sua teoria traçando conexões entre as lutas sociais e a elaboração teórica. A autora publicou junto com Cinzia Arruza e Tithi Bhattacharya Feminismo para os 99% - Um Manifesto, conclamando as feministas não só a articular as relações entre reconhecimento e redistribuição, como também a dialogar com todos os movimentos sociais que lutam contra as diferentes formas de violência na sociedade capitalista, definindo o feminismo combativo como anticapitalista, antirracista, ecossocialista e internacionalista. Sua crítica ao capitalismo está baseada na constatação de que o capitalismo tem tanto contradições institucionais internas, como está intrinsecamente relacionado com as crises na política, na reprodução social e na natureza. Fraser vê na crescente oposição das massas ao neoliberalismo uma oportunidade para a esquerda. Interessa-me discutir as potencialidades de sua crítica ao capitalismo e seus desdobramentos para a reflexão sobre o feminismo, analisando até que ponto a autora consegue articular adequadamente reconhecimento e redistribuição.
Patrícia Oliveira Santana dos Santos (UFCG), Maria de Assunção Lima de Paulo (UFCG) ST16
Da casa de farinha a escola: abordagens etnográficas dos modos de transformação de socialização das crianças rurais de Orobó
Nos propomos neste trabalho discutir, a partir de uma abordagem etnográfica, uma série de mudanças nas vivências da infância, que vem acontecendo na zona rural do pequeno município de Orobó, Agreste pernambucano, a partir da implementação de políticas públicas, sendo a principal delas o Programa Bolsa Família. Tais mudanças se apresentam com maior visibilidade nos modos de vida da atual geração de crianças, principalmente quando vista em paralelo a infância vivenciada por seus pais e avós. Isto porque, os pais e avós da atual geração de crianças apresentam como marcador social da infância o trabalho, em especial o trabalho desenvolvido na roça e na casa de farinha, o que consequentemente, gerou uma ausência total ou parcial da escolarização. Enquanto que a atual geração de crianças traz como marca uma infância mais escolarizada e com uma maior disponibilidade para atividades exclusivamente lúdicas. Nesse sentido, consideramos que esse processo apresenta uma forma de mudança no lugar de socialização da criança na zona rural, onde temos a escola e não mais o roçado e a casa de farinha como o novo lugar de socialização das crianças.
Patrícia Porto de Barros (IESP/UERJ) SPG18
A crise migratória síria e o enrijecimento das fronteiras refletido no acordo de 2016 entre a União Europeia e a Turquia
A guerra civil na Síria ocasionou o deslocamento forçado de milhões de pessoas, tanto interna, quanto externamente. Atualmente, encontram-se em solo turco, mais de 3 milhões de refugiados sírios, sendo a Turquia a maior receptora mundial deste fluxo migratório. Tal situação traz preocupações à União Europeia (UE) relativas à migração irregular através do país vizinho. Esse fator se associa principalmente à securitização da migração, processo que identifica os imigrantes como fatores de insegurança. Nesse contexto, em 2016 foi assinado um acordo entre UE e a Turquia, onde um dos principais objetivos era frear a chegada de imigrantes "indesejados" no território europeu. No bojo desse acordo, a Turquia, ao cumprir com sua parte no acordo, seria compensada financeira e politicamente. Frequentemente, a ajuda externa está condicionada a interesses do doador e neste caso não foi diferente. Por isso, após a análise dos relatórios dos anos de 2016 e 2017 relativos à implementação deste acordo, um dos propósitos desta pesquisa é observar o vínculo do mesmo com o enrijecimento das fronteiras e a securitização da migração na UE, bem como isso tem refletido na vida dos imigrantes.
Paula Ayumi Osakabe (UFMG) SPG13
Estratégias e articulações: ativismo institucional e a Secretaria de Políticas para Mulheres
Em 2014, as eleições trouxeram um cenário de contestação da legitimidade do mandato Dilma Rousseff, bem como das políticas que eram promovidas pelo governo. A partir de um olhar que vem de dentro da SPM e das ativistas institucionais que se encontravam ali, esta pesquisa buscou entender como estas funcionárias reagiram às primeiras transformações institucionais da Secretaria entre o segundo mandato de Rousseff até o governo Temer. Entendendo que as ativistas passaram a enfrentar obstáculos que dificultavam seu trabalho (como a mudança de quadro de funcionárias, fusão com outras secretarias, mudança de valores políticos e alteração das políticas implementadas) e considerando o perfil particular delas, buscamos entender: quais foram as estratégias promovidas pelas ativistas para frear as mudanças institucionais sofridas pela SPM? A partir de seu contato com redes de movimentos da sociedade civil, entendemos que estas ativistas promoveram ações e mobilizações que tentaram conter/minimizar o processo de transmutação pela qual a SPM passava, por meio de mobilização com a sociedade civil ou utilizando seu lugar como burocrata para conter danos a partir de dentro das estruturas estatais.
Paula Dias Dornelas (UFMG), Yulieth Estefani Martinez Villalba (UFMG) SPG18
Caravanas Migrantes e o endurecimento de fronteiras: corpos em movimento, democracia e resistência
RESUMO: o presente trabalho pretende discutir o fenômeno migratório, mais especificamente as Caravanas Migrantes ocorridas em 2018 em alguns países da América Central, rumo aos Estados Unidos e México. A proposta é entender esses movimentos não só como deslocamentos físicos de um grupo de pessoas, mas como formas de resistência e ação política, em que corpos interagem, se unem e estabelecem suas reivindicações no espaço público. Diante de lógicas crescentes de endurecimento de fronteiras - físicas e simbólicas - e uma constante criminalização da migração, o trabalho visa analisar as caravanas como estratégias de mobilidade e resistência, que desafiam mecanismos excludentes. Para tanto, serão realizadas discussões sobre o conceito de "povo", à luz de teorias e análises contemporâneas da democracia, bem como reflexões sobre as particularidades das caravanas. Além disso, será tematizado o papel da mídia e da comunicação nesse processo, tanto para dar visibilidade à mobilização, quanto para veicular discursos anti-imigratórios por parte de agentes estatais. PALAVRAS-CHAVE: Migração; Corpos; Democracia; Mídia; Resistência.
Paulo Augusto Franco de Alcântara (UFRJ) ST13
O Jogo do café. O crédito e a dívida no Caparaó mineiro
O crédito/dívida – como dupla valência – é objeto privilegiado para a compreensão e documentação das dinâmicas de reafirmação do capitalismo no tempo. Neste trabalho, como parte de um estudo maior que visa compreender etnograficamente as recentes mudanças sociais vividas por pequenos cafeicultores do Caparaó mineiro, abordarei o acesso e a prática do crédito subsidiado para a agricultura familiar (PRONAF). Demonstrarei que esses cafeicultores concebem essas mudanças sobretudo como uma entrada no jogo do café, plano onde se pode experenciar a construção da autonomia, ou seja, onde as decisões da gestão da economia e do trabalho são tomadas sem o domínio e/ou intermediação de patrões. No entanto, ao mesmo tempo que isso anuncia novos tempos, também coloca a esses agricultores desafios e tensões constitutivas de um processo de aprendizados junto a sujeitos, artefatos, conceitos ligados direta e/ou indiretamente ao sentido capitalista do mercado, no qual a dívida, na forma de dilemas concretos, é centro do debate crítico. O estudo foi realizado ao longo de mais de três anos de pesquisa de campo, entre 2015 e 2018, no município de Espera Feliz, na Zona da Mata mineira.
Paulo Cesar Oliveira Diniz (UFCG), Christiane Fernandes dos Santos (UFRN), Cimone Rozendo (UFRN) ST32
Política para o futuro? A trajetória do Programa de Cisternas em um contexto de desmonte das políticas públicas no Brasil
Em 2017, o Word Future Council concedeu à ASA Brasil, o Prêmio Prata de Política para o Futuro por seu papel na implementação da Política de Cisternas no semiárido, marcando o coroamento de um reconhecimento. Ademais, com o apoio da FAO, a tecnologia tem sido replicada na região do Sahel, África, como estratégia de Segurança Alimentar e Nutricional. Apesar da sua importância e repercussão, no Brasil, o número de unidades implementadas vem reduzindo sistematicamente, desde 2015, tanto no que se refere às cisternas para consumo humano (P1MC) quanto às de produção (P1+ 2). Ressalta-se que isso vem ocorrendo em um contexto marcado por uma das piores secas enfrentadas pela população da região semiárida, em especial a rural. O artigo pretende fornecer um panorama da implementação das Políticas de Cisternas, no Brasil, a partir de dados secundários, com destaque para os estados do RN e PB. Esse quadro é complementado por entrevistas com atores implicados na implementação da Política, com o objetivo de compreender as relações entre Estado e sociedade civil, quando essa se desloca de suas "trincheiras de resistência" (CASTELLS, 1999) e passa a assumir novos papéis, como nesse caso.
Paulo Edison de Oliveira (PUC-SP) ST02
Racismo e psicanálise: o sentimento inconsciente de pertença a raça e a negação da cor
A proposta é apresentar o primeiro capítulo da pesquisa "Rediscutindo a formação das identidades afro-brasileira e a classificação de cor e raça na perspectiva contemporânea." O conteúdo é a reflexão sobre as implicações do racismo na psique do afro-brasileiro. Temos no ego e, portanto, na teoria psicanalítica, no corpo o território de manifestação da dor. No instante que o indivíduo sente o racismo sua psique inconscientemente nega sua negritude. Isso acontece pelo movimento psíquico que existe em todos os seres humanos, o que Freud nomeou de princípio do prazer, uma busca instintiva de prazer que evita dor e o sofrimento, e deseja satisfazer as necessidades biológicas e psicológicas. Então, como mecanismo de defesa a pessoa se torna incapaz de sentir prazer na sua identificação com os traços da sua negritude. O diálogo entre os conceitos antropológicos e psicanalítico é uma abordagem contemporânea que objetiva contribuir na reflexão sobre a relação entre identidade e as nomeações que constitui o pertencimento e identificação dos indivíduos, por exemplo: pardo, preto, negro ou afro-brasileiro.
Paulo Fernandes Keller (UFMA) ST25
Trabalho artístico musical: nas fronteiras da sociologia do trabalho e da sociologia da arte/música
Este trabalho tem por objetivo apresentar reflexões teórico metodológicas e resultados do projeto de pesquisa: “O trabalho do artista: uma investigação das relações de trabalho na produção musical contemporânea e do mercado de trabalho do músico em São Luís – MA” (Apoio da FAPEMA). Nossas questões centrais de pesquisa indagam: quais as especificidades do trabalho artístico musical? Como se configuram os mundos do trabalho e as formas de organização da produção musical na capital maranhense? A pesquisa tem uma abordagem qualitativa. Promovemos uma pesquisa bibliográfica e documental e concentramos esforços na realização de uma série de entrevistas semidirigidas com músicos e musicistas de diversas gerações e gêneros musicais. Nossos resultados parciais apontam, por um lado, para uma riqueza de talentos e de expressões artísticos musicais, por outro lado, para uma realidade laboral onde músicos e musicistas conjugam suas atividades com um segundo oficio (nem sempre ligado a atividades artísticas ou criativas) e vivem frequentemente a instabilidade e a intermitência.
Paulo Franz Junior (UFPR), Victor Garcia Miranda (UFMS), Adriano Nervo Codato (UFPR) ST27
Condições técnicas e partidárias para nomeação de ministros da área social: um modelo tipológico baseado em QCA
A perícia dos titulares dos postos ministeriais nos regimes democráticos tem sido explorada apenas recentemente pela literatura especializada na área. O objetivo deste trabalho é propor um modelo tipológico baseado no método QCA para um número moderado de casos (61). Estudamos os atributos dos ministros entre os governos Cardoso e Temer (1999 a 2018) para as pastas da área “social” através de duas categorias: 1) expertise na área de ação do ministério -para avaliar as afinidades específicas entre os nomeados e a natureza de seus cargos; e 2) importância relativa dos seus partidos políticos de origem, a partir do tamanho da bancada na Câmara dos Deputados. Nossos achados empíricos indicam que ministros filiados a partidos políticos mais relevantes na Câmara dos Deputados apresentam maiores afinidades com os temas de política de suas pastas, sobretudo as de mais recursos e com mais cargos à disposição. Essas evidências indicam que o conhecimento técnico da equipe de governo depende das estratégias políticas do governo em definir prioridades na formulação de políticas públicas sem perder apoio político da base aliada.
Paulo Nascimento Neto (PUCPR), Janaina Nichele (PUCPR) ST26
Novos contornos para antigos dilemas: financeirização e políticas locais de habitação
A despeito das diretrizes estabelecidas pela Política Nacional de Habitação, a implementação do Programa Minha Casa Minha Vida significou a transformação do direito à moradia em mera possibilidade individual de acesso ao crédito. Este processo encontra ressonância em uma tendência global de financeirização das políticas urbanas, com crescente dominância de atores e práticas de mercado em várias escalas, com reflexos sobre as formas de desenvolvimento urbano e governança. É sobre este prisma que se insere o trabalho, voltando-se à agenda de pesquisa sobre as reconfigurações do poder local. Advoga-se pela necessidade de novos aportes teórico-analíticos que possibilitem a discussão da política habitacional a partir dos contornos que atualmente ela assume. Subsidiando este intento, tem-se por objetivo neste artigo analisar a produção científica nacional e internacional, com vistas a compreender as características da incorporação pela academia das discussões sobre o tema. Estes resultados possibilitam um primeiro aporte em direção à (re)construção do arcabouço teórico-analítico para o campo.
Paulo Ricardo Muller (UFFS) ST33
Soberania e identidade no ativismo Cabinda em mídias sociais
Nesta comunicação apresento um primeiro esboço de análise das articulações entre as noções de soberania e identidade em manifestações de atores sociais que reivindicam a independência da província de Cabinda em relação a Angola em mídias sociais. Cabinda é a província que fica no extremo norte do país, territorialmente apartada do restante do território angolano por uma área pertencente à República Democrática do Congo, o que a caracteriza geopoliticamente como um enclave territorial. Fica em uma região rica em petróleo, cuja extração responde por mais da metade do produto interno bruto angolano. Ao longo do século XX Cabinda foi disputada por movimentos independentistas e o Estado angolano devido ao modo como processou sua transição de uma situação colonial como um protetorado português autônomo para uma situação pós-colonial incorporada ao ordenamento estatal angolano. O contato com a situação de Cabinda por meio de mídias sociais é uma dimensão de um estudo etnográfico concebido mais amplamente, e aborda a especificidade da mediação exercida pelas mídias sociais digitais tanto na relação entre pesquisador e interlocutores quanto na divulgação da causa separatista cabinda.
Paulo Santos Dantas (UERN) ST02
Homens negros e pardos da cidade de Aracaju: expectativas, dúvidas e medos
O presente artigo discute como a identidade negra na cidade de Aracaju se apresenta por meio de recursos estéticos, morais e discursivos, vindo a atualizar e reorientar as expectativas de homens negros em um momento de uma “virada” nas suas trajetórias pessoais. No bojo dessas mudanças, alguns desses sujeitos, socialmente “mestiços” ou “pardos”, viveram o dilema de negociar o seu pertencimento ao movimento histórico que lhes religaria à África, ainda que mítica. O objetivo do trabalho e analisar como, no momento de virada de suas trajetórias, tais sujeitos realizam suas escolhas (re)criam suas visões de mundo. O texto parte de registros etnográficos e dialoga com falas e depoimentos dos sujeitos, que também se reúnem em um pequeno grupo numa rede social – o chamado whatsapp. Conclui-se que a virada nas trajetórias diz respeito à reprodução dinâmica de demandas como a inserção no mercado de trabalho e o casamento, embora tais reproduções tenham como efeito a crítica às condições de participação e ao caráter das desigualdades raciais brasileiras.
Paulo Sergio da Costa Neves (UFS, UFABC) ST33
Nações e memórias em transe: herança colonial confrontada - Africa do Sul, Brasil e Estados Unidos
O objetivo dessa comunicação é compreender três diferentes fenômenos universitários em suas dimensões locais e globais de modo comparado: #RhodesMustFall na África do Sul, o #sittingin Princeton nos Estados Unidos e o movimento por reserva de vagas da Universidade Federal de Goiás. Para tanto, usaremos o expediente clássico da comparação internacional, pondo as realidades brasileira, sul-africana e norte-americana para dialogar entre si. Não pretendemos com isso subsumir qualquer um desses contextos aos outros, mas recorrer a um jogo de espelhos próprios das pesquisas comparadas. Partimos da hipótese, cara a muitos pesquisadores das ciências humanas, como Appadurai e Beck,acerca do modo como certos fenômenos se internacionalizam. Nos três casos em tela, as reivindicações por Justiça aproximam-se daquela discutida por Nancy Fraser, na qual as demandas por reconhecimento se fazem acompanhar por demandas redistributivas e por representação. Essas questões em sua dimensão comparada serão discutidas nesse paper.
Pâmela Daniele Ramos Tuller (UFF) SPG32
Justiçamentos do PCC: composição de conflitos, gestão de ilegalismos e produção da ordem em prisões e periferias do Sul de Minas Gerais
Este trabalho objetiva discutir formas de composição de conflitos, gestão de ilegalismos e produção da ordem por grupos informais, a partir da análise dos “justiçamentos” promovidos pelo Primeiro Comando da Capital. O ponto de partida para a reflexão foi o exame de três casos reais – verificados no interior de Minas Gerais entre 2016 e 2018 –, escolhidos por representarem os principais tipos de justiçamentos observados: para apurar e punir condutas que (1) afrontam regras internas da organização, tendo como destinatários e autores seus próprios membros, (2) implicam conflitos entre criminosos diversos a respeito de atividades ilegais que realizam ou (3) constituam crimes propriamente ditos, dos quais os agentes oficiais poderão não tomar conhecimento. Que atores deles participam? Que conflitos resolvem e de que maneira? Há potencial para ampliação ou redução da violência? Refletem concorrência ou convergência ao Estado? A metodologia adotada consistiu na entrevista a membros da polícia civil estadual que atuam no acompanhamento de escutas telefônicas, bem como na análise de documentos (relatórios de inteligência policial, inquéritos policiais e autos de processos judiciais).
Pedro Barbabela de Mello Vilela (UFMG) SPG10
“La paz es conmigo”: a participação dos movimentos de mulheres e feministas na construção de direitos na Colômbia
Após várias tentativas de se estabelecer a paz na Colômbia, em 2012 foi assinado um acordo de compromisso para pôr fim ao conflito entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (FARC-EP). A reabertura de diálogos entre as partes mostrou-se como uma oportunidade de atuação para os movimentos de mulheres e feministas, que passaram a assumir um papel central ao mobilizar e organizar demandas plurais de diversos segmentos sociais em uma luta conjunta pela garantia de direitos humanos no país. A postura assumida pode ser entendida pela violência desproporcional pela qual as mulheres foram expostas durante o conflito armado. O presente artigo busca, assim, compreender dois fenômenos. Por um lado, a caracterização como violência política das violações de direitos humanos das mulheres durante o conflito; por outro, as diferentes estratégias de ativismo interseccional utilizadas pelos movimentos na construção de direitos para uma uma democracia mais participativa e inclusiva. Para tanto, partiremos de dados secundários produzidos por acadêmicas, ativistas e organizações sobre o tema e analisaremos os documentos a partir de uma perspectiva etnográfica.
Pedro de Barros Correia Amaral (UFPE) SPG27
‘Vai deixar, é?’ Masculinidade e as seduções da provocação
O objeto deste estudo é a provocação como prática interacional de senso comum inerentemente avaliativa de alvos e que visa incitar tipos de respostas emocionais nos participantes, desde vergonha, diversão e ofensa. Entendida como "desrespeito permitido", a provocação envolve ambiguidades entre seriedade e brincadeira, possível fonte de desentendimento sobre o sentido das práticas. Como indicado por Carvalho Franco (1997), desse tipo de interação emerge frequentemente violência física entre homens em resposta às ofensas percebidas, apesar do caráter ordinário das situações e amistoso das relações envolvidas. Assim, o objetivo deste estudo é investigar, através de observação participante em peladas de futebol de homens, como essas interações banais envolvendo pessoas com laços de proximidade e de afeto podem gerar resultados hostis e violentos. Para isso, com uma postura etnometodológica, pretende-se investigar as estruturas das interações, os métodos dos participantes para provocar e responder às provocações e os apelos emocionais envolvidos nessas situações. Posteriormente, pretende-se discutir os achados com a literatura sobre masculinidades hegemônicas e sua realização prática.
Pedro Ernesto Vicente de Castro (USP), Graziele Silotto (USP) ST27
Medindo competição e coordenação em eleições personalistas: uma exploração
Este trabalho propõe medidas para coordenação e competição entre candidatos em sistemas nos quais a dinâmica eleitoral se dá nesse nível – dos candidatos. Coordenação e competição entre candidatos é uma variável central para a literatura que investiga os incentivos para o voto pessoal. Contudo, essa variável costuma ser operacionalizada por alguma proxy para o nível de competição dentro de uma determinada unidade, seja o distrito, o partido ou a coligação. A partir de considerações conceituais sobre o que caracteriza competição e coordenação, e dos achados a respeito da territorialização da disputa eleitoral, propomos novas medidas, que buscam identificar a ocorrência e o nível de coordenação e competição entre candidatos específicos. Para ilustrar a validade e a utilidade de nossas medidas, analisamos os resultados das eleições proporcionais brasileiras entre 1998 e 2014.
Pedro Grunewald Louro (USP) ST41
"Os homens fazem sua própria história": veredas da crítica e justificação em Luc Boltanski
Este artigo visa reconstruir o programa mais geral de Boltanski, analisando o modo como ele examina os momentos negativos e produtivos que constituem os vínculos sociais. De início, partimos dos estágios iniciais da sua trajetória autoral, a saber, a obra De la justification [1991], em que propõe como vínculos sociais são produzidos sem remeter a relações de poder, opondo-se, então, ao modelo de Bourdieu na visada de superar seus déficits normativo e reflexivo. Depois, analisamos como o desenrolar da sua pesquisa empírica fez com que os momentos negativos, tais como as formas de exploração num mundo conexionista e os efeitos da dominação gestionária, viessem à tona, de modo a encampar uma síntese na obra De la critique [2009]. Assim, propomos que tal estágio não se refere só a uma reconciliação com o período colaborativo com Bourdieu, mas sim que se trata de forjar toda uma constelação de conceitos - sobretudo os pares realidade-mundo e violência simbólica-segurança semântica - em direção aos impasses que ele mesmo já havia rastreado naquele período, mas agora situando em condições históricas os aspectos pragmático e gramatical da sua abordagem em torno da crítica e justificação.
Pedro Henrique Aquino de Freitas (USP) SPG16
O Judiciário e a justiça de transição no Brasil: limites da política à responsabilização pelas graves violações de direitos humanos
Nos últimos sete anos, o Brasil vive um período de judicialização sobre os crimes contra a humanidade cometidos durante a ditadura militar. Após sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos que condenou o Brasil no caso Guerrilha do Araguaia, o Ministério Público Federal propôs 39 ações penais contra agentes da ditadura. No entanto, os juízes federais em primeira e segunda instâncias, bem como nos tribunais superiores, têm impedido o andamento dos processos, com base na Lei de Anistia de 1979 e em decisão do STF de 2010 que julgou constitucional a atual interpretação desta Lei. Este trabalho tem por objetivo discutir que fatores explicam a ausência de punições dos crimes da ditadura militar no Brasil, em um modelo de justiça transicional que não incorpora uma norma global de responsabilização penal individual sobre crimes contra a humanidade e descumpre, neste momento, duas sentenças internacionais proferidas no âmbito do sistema regional de direitos humanos ao qual o país aderiu. Argumentamos que o processo político interno e a correlação de forças na sociedade brasileira ao longo das últimas décadas possuem peso preponderante sobre o atual quadro judicial.
Pedro Henrique Coelho Rapozo (UEA) ST07
A Necropolítica dos Conflitos socioambientais: Atos de Estado, institucionalização da violência e as (re)existências dos povos indígenas na tríplice fronteira amazônica Brasil, Colômbia e Peru.
O estudo apresenta uma tipificação da violência resultante dos conflitos socioambientais em terras tradicionalmente ocupadas pelos povos indígenas na região noroeste do Estado do Amazonas. A abordagem metodológica é baseada na pesquisa qualitativa e quantitativa através da construção de mapas situacionais junto aos agentes interlocutores. A região do Alto Solimões, pertencente ao Estado do Amazonas, abrange a tríplice fronteira Brasil, Colômbia e Peru, um território marcado por conflitos entre as sociedades rurais locais e madeireiros, garimpeiros, pescadores comerciais e a presença de uma rede internacional do narcotráfico. Nesta região os conflitos socioambientais podem ser pensados como reflexos das macropolíticas nacionais desenvolvimentistas e pela expansão do capitalismo nas fronteiras da Amazônia ocidental, o que resulta na impossibilidade do reconhecimento dos direitos territoriais dos povos indígenas ainda que estabeleçam formas de re(existir) marcados pela mobilização política. Na medida em que os conflitos se expressam em múltiplas formas, incorrem em processos de desterritorialização e submissão da vida ao poder da morte expressas na institucionalização violência.
Pedro Henrique Lopes Campos (FGV-SP) ST10
Mapeando a autonomia nas Organizações da Justiça: um caso sobre a Justiça Federal
O debate contemporâneo acerca das instituições judiciais tem produzido uma polarização em torno do problema da autonomia, ora encarando-a como algo insuficiente à independência judicial, ora como excessiva e deletéria à sua legitimidade. Em ambos, não há clareza quanto à relação entre autonomia e os problemas observados. Partindo da teoria organizacional, enquadra-se a autonomia como um fenômeno multidimensional, no qual a combinação de poderes decisórios e instrumentos de controle podem se distribuir de maneira heterogênea. Combinando análise documental, dados governamentais e entrevistas, elabora-se uma descrição densa do funcionamento da Justiça Federal da Terceira Região (JF3R), identificando a posição dos poderes decisórios e dos instrumentos de controle nas duas instâncias e na sua relação com os Conselhos de Justiça e o Poder Executivo. Dessa forma, pretende ilustrar como a interação entre as dimensões pode produzir simultaneamente controle e autonomia e realçar as potencialidades de estudos comparados para se identificar tipos de controles e seus possíveis efeitos no funcionamento das organizações.
Pedro Henrique Marques (UFMG) ST06
Determinantes da Consistência Ideológica.
Muitos estudos pesquisado o impacto da ideologia sobre o comportamento político no Brasil e afirmado que o eleitorado brasileiro não se distingue ideologicamente. Porém, quase nada tem sido dito sobre as condições favoráveis para que o eleitor tenha um sistema de crenças estruturado através dos pólos esquerda e direita. Com vistas a suprir essa lacuna e fornecer evidências para se discutir suas implicações normativas, criamos com os dados do LAPOP para o Brasil em 2017 um indicador do grau de estruturação ideológica do sistema de crenças dos cidadãos brasileiros - baseados na coerência ou antagonismo entre suas opiniões em economia e sua autolocalização ideológica -, e testamos, através de alguns modelos estatísticos, algumas hipóteses presentes nesta literatura sobre os condicionantes individuais do grau dessa estruturação. Nossos resultados parciais, revelaram que apenas uma minoria dos eleitores articula opiniões de forma consistente e ideológica. Além disso, estes tendem a ser os mais interessados, escolarizados e integrados no sistema político.
Pedro Jehle de Araujo Gouvea (UFJF), Breno Alexandre Pires Fernandes Alves (UFJF) ST10
O debate sobre candidaturas independentes no Brasil em tempos de crise de representação
O trabalho pretende se aprofundar na discussão sobre a introdução das candidaturas independentes no sistema político brasileiro. A maior parte dos países democráticos permite que cidadãos não filiados a partidos políticos se candidatem a cargos eletivos em diversos níveis de governo. O monopólio da representação pelos partidos no Brasil, à luz da literatura e dos dados disponíveis, parece uma exceção, mesmo na América Latina. O tema das candidaturas independentes pode estar relacionado com a crise de legitimidade das instituições democráticas, em especial dos partidos políticos, que vem se aprofundando nos últimos anos. Esse tipo de candidatura é, não raro, relacionada aos aventureir