Cursos (CS)
CS01 – Reinventando os Clássicos
Aula 1
Título: A Escola de Manchester
Dia 27/10, terça-feira, 20h00 às 21h30. Sala 8 – Hotel Glória
Ministrante - Peter Fry (UFRJ)
Peter Fry após graduar-se em matemática e antropologia na Universidade de Cambridge, Inglaterra, doutorou-se com uma tese sobre religião e política na antiga Rodésia. Foi professor de antropologia no University College, Londres (1966-70), na Unicamp (1970-1983), no Museu Nacional (1983-85) e no IFCS/UFRJ (1993-2010). Entre 1985 e 1993 trabalhou na Fundação Ford no Brasil e em Zimbábue. Desenvolveu pesquisas no Brasil sobre religiões afro-brasileiras, sobre homossexualidade, sobre uma pequena comunidade paulista de negros que fala uma “língua africana,” sobre a “questão racial” no Brasil e sobre Moçambique. Alguns dos resultados aparecem nos livros: Spirits of Protest: Spirit mediums and the articulation of consensus among the Zezuru of Southern Rhodesia (Zimbabwe). Cambridge: Cambridge University Press, 1976; Para Inglês Ver: Identidade e Política na Cultura Brasileira: Zahar Editores, 1982; com Edward MacRae, O que é homossexualidade, Primeiros passos, 81, São Paulo: Brasiliense, 1982; com Carlos Vogt e Robert W. Slenes. Cafundó a África no Brasil: linguagem e socicedade. 2 ed. Campinas: Editora Unicamp, 2013; Moçambique Ensaios (org.), Editora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2001; A persistência da raça: ensaios antropológicas sobre o Brasil e a África austral. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005; e, com Yvonne Maggie, Marcos Maio Chor, Simone Monteiro, and V.Ricardo Santos, eds. Divisões Perigosas: Políticas Raciais no Brasil Contemporâneo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.
Ementa: Ne aula empregarei a técnica da própria Escola de Manchester para discutir as características dela e a sua importância para a antropologia e os antropólogos que pesquisaram na África durante e após a sua formação sob a liderança de Max Gluckman. Partirei de uma situação social muito pessoal: a minha chegada no Departamento de Estudos Africanos da University College of Rhodesia and Nyassaland logo depois de me formar bacharel na Universidade de Cambridge em 1963. A partir dessa situação, que envolveu xingamentos à minha universidade de origem e ordens para me converter à Escola de Manchester, abordarei alguns tópicos, entre eles: as bases de uma aparente ruptura com a antropologia das “ilustrações aptas” dos praticantes do estrutural funcionalismo; situações sociais como método de pesquisa e análise e como “truque de escrita”; a relação entre esta Escola e o interacionismo simbólico (sobretudo Erving Goffman); o etos e postura política da Escola de Manchester e as controvérsias destes decorrentes; porque até muito recentemente penetrou pouco a antropologia no Brasil; uma crítica a posteriori ao anti-culturalismo radical; e, finalmente, a sua relevância (ou não) para os tempos atuais.
Bibliografia da aula:
FELDMAN-BIANCO, Bela (Org.). 2010. Antropologia das sociedades contemporâneas: métodos. 2 ed, Antropologia. São Paulo: Editora Unesp.
GLUCKMAN, Max. 1987 [1940]. Análise de uma situação social na Zululândia moderna. In Antropologia das Sociedades Contemporâneas, ed. B. F. Bianco. São Paulo: Global Universitária.
KUPER, Adam. 1978. Antropólogos e Antropologia, Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora S. A.
MITCHELL, Clyde. 2010. A dança Kalela: aspectos das relações sociais entre africanos urbanizados na Rodésia do Norte. In Antropologia das sociedades contemporâneas: métodos, ed. B. Feldman-Bianco. São Paulo: Unesp.
SCHUMAKER, Lyn. 2001. Africanizing Anthropology: Fieldwork, Networks and the Making of Cultural Knowledge in Central Africa. Durham and London: Duke University Press.
VAN VELSEN, Jaap. 2010. A análise situacional e o método de estudo de caso detalhado. In Antropologia das Sociedades Contemporâneas, ed. B. F. Bianco. São Paulo: Editora Unesp.
WERBNER, Richard p. 1984. The Manchester School in South-Central Africa. Annual Review of Anthropology.
Aula 2
Título: Conceitos-tendência e mecanismos processuais: dos clássicos ao presente
Dia 28/10, quarta-feira, 19h30 às 21h00. Sala 8 – Hotel Glória
Ministrante - José Mauricio Domingues (Iesp-Uerj)
José Mauricio Domingues atualmente é professor do Iesp-Uerj, para onde migrou o conjunto de professores do antigo Iuperj. Foi professor-pesquisador do Iuperj de 2000 a 2010, do qual foi Diretor Executivo entre 2005 e 2009, do IFCS-UFRJ, e visitante na UFPE, na UNSAM e na UBA (ambas na Argentina), bem como na Universidad Alberto Hurtado (Chile) e na Pontificia Universidad Católica de Medillín (Colombia). É autor dos títulos: 1) O Brasil entre o presente e o futuro. Conjuntura atual e inserção internacional. Rio de Janeiro: Mauad, 2ª. edição, revista e ampliada 2015. 2) Modernidade global e civilização contemporânea. Para a renovação da teoria crítica. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013. 3) Teoria crítica e (semi)periferia. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.
Ementa: Esta aula visa recuperar as discussões clássicas nas sociologia sobre conceitos que identificam tendências de desenvolvimento na modernidade, tais como desenvolvimento do capitalismo em Marx, democratização social em Tocqueville, racionalização em Weber. Diagnosticando um crescente abandono desse tipo de estratégia, ela avançara uma maneira de voltar a tratar a questão. Trata-se de sua compreensão dos processos sociais como conformados por consequências intencionais e não intencionais da ação de indivíduos e o movimento de subjetividades coletivas, bem como pela identificação de mecanismos (gerativos, reiterativos e transformativos), analiticamente concebidos nos quadros de um realismo processual, que presidem ao desdobramento desses processos sociais. Exemplos relativos à economia política e ao estado moderno são aduzidos à exposição, assim como localiza-se as operações metodológicas necessárias à articulação dessa estratégia teórica.
Bibliografia da aula:
BHASKAR, Roy (1975) A Realist Theory of Science. Leeds: Leeds Books.
BOUDON, Raymond. 2004 (1989). La Place du desordre. Paris: Presses Universitaires de France.
DOMINGUES, José Maurício. (2014) “Global modernity, levels of analysis and conceptual strategies”, Social Science Information, vol. 53, no. 2, 2014 (pp. 180-96).
MARX, Karl (1867) O Capital, várias edições.
WEBER, Max (1918) A ciência como vocação, várias edições.
Aula 3
Título: Teoria democrática, representação e participação política
Dia 29/10, quinta-feira, 18h00 às 19h30. Sala 8 – Hotel Glória
Ministrante - Leonardo Avritzer (UFMG)
Leonaro Avritzer é professor titular da Universidade Federal de Minas Gerais. Foi representante de área da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (2005-2011). É membro do Conselho Consultivo da International Political Science Association (IPSA) e atual presidente da Associação Brasileira de Ciência Política (2012-2014). É autor dos seguintes livros: Democracy and the public space in Latin America (2002) e A moralidade da democracia (1996) - prêmio melhor livro do ano (ANPOCS), Participatory Institutions in Democratic Brazil (2009), Los Desafios de la Participación en América Latina (2014).
Ementa: A teoria democrática tem evoluído bastante na maneira como ela relaciona representação e participação. A proposta do curso consiste em oferecer um panorama dessa discussão desde os seus fundamentos, presente em Hobbes e Rousseau, até o debate recente, envolvendo Nadia Urbinati e Pierre Rosanvallon. O objetivo é mostrar que representação e participação estão cada vez mais articulados.
BIbliografia:
HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. São Paulo: Abril Cultural, 1974, 423 p. (Cap. XVI).
PITKIN, Hanna Fenichel. Representação: palavras, instituições e ideias. Lua Nova, v. 67, p. 15-47, 2006.
URBINATI, Nadia. Representative democracy: principles and genealogy. University of Chicago Press, 2006.