O futuro da Amazônia: questões críticas, cenários críticos
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DEBRUÇANDO-SE SOBRE a Amazônia aqui de Berlim, vemos que ela se mostra de maneiras muito diferentes nas escalas local, regional, nacional e global. Em suas raízes - seja no sentido biológico, seja referindo-se às atitudes dos camponeses e agricultores em suas glebas - vemos a forte influência do ecossistema no modo como as fazendas são administradas e os recursos utilizados. No entanto, um exame mais de perto revela que, mesmo em suas "raízes", existe uma intervenção tão premente de vários outros sistemas sociais mais amplos (desde a economia local até a legislação estatal sobre o uso do solo, desde o sistema previdenciário nacional até os incentivos fiscais regionais), que qualquer explicação sobre as decisões dos fazendeiros acerca de sustentabilidade ecológica, lucratividade econômica e estabilidade social mostra-se bastante limitada, ou mesmo totalmente enganosa, se esses contextos maiores e a lógica interna daqueles sistemas forem ignorados. É por isso que o Projeto ENV 44 do Programa SHIFT (1) sempre buscou um equilíbrio entre realizar pesquisas de âmbito estritamente local, próximo à natureza, e analisar os mecanismos sociais maiores (como o programa Avança Brasil e o Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil que, por ter sido uma iniciativa do chamado G7, ainda é conhecido pela sigla PPG7) que norteiam as condições às quais os camponeses têm de se submeter na luta pela sobrevivência.
Além disso, o interesse geral pela Amazônia e pelo seu futuro engendrou diversos modos de participação no processo decisório (por exemplo, serviços de consultoria) e no debate público (seminários, monografias e palestras), dentre os quais a conferência realizada em Berlim de 21 a 23 de janeiro de 1999 sobre "O futuro da Amazônia", que merece uma menção especial, uma vez que eminentes cientistas brasileiros participaram do seminário - entre eles, o decano da geografia amazônica, professor Aziz Ab'Saber, e o coordenador acadêmico do SHIFT, professor Eneas Salati. Pouco antes, e também naquela ocasião, foi apresentado o livro The Amazon: heaven of a new world, editado por Maria de Lourdes Davies de Freitas, propiciando a discussão de toda uma gama de opções e perspectivas sobre a Amazônia. Um projeto para elaborar modelos - ou "cenários" - já havia sido empreendido pelo colaborador do SHIFT, Silvio Andrae, que aprofundou a idéia em sua tese de doutorado e apresentou-a de maneira coerente e estruturada em livro, no ano 2000. O panorama que se segue baseia-se em sua obra, mas acrescenta um "pior cenário possível" ao desenvolver um pouco mais suas idéias. Os resultados das pesquisas de nossos colegas do SHIFT em Belém serão apresentados por eles próprios nesta conferência, de modo que minha palestra (e a bibliografia correlata) restringe-se apenas à equipe de Berlim (Andrae, Kasper, Nitsch, Pingel, Rogge e Schwarzer).
- Manfred Nitsch
- Artigo
- ISSN 0103-4014 versão impressa / ISSN 1806-9592 versão On-line
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